quinta-feira, 30 de agosto de 2012

MÉDICO É ASSALTADO E POSTO FECHA

ZERO HORA ONLINE, Sem atendimento30/08/2012 | 11h53

UBS Chácara da Fumaça fecha por dois dias por falta de segurança. Médico do posto foi assaltado na manhã desta quinta-feira


Cartazes anunciam a interrupção das atividades Foto: Carlos Macedo / Especial

Eduardo Torres

O UBS Chácara da Fumaça, no Bairro Rubem Berta, estará fechado nesta quinta e sexta-feira por conta da falta de segurança na região. Nesta manhã, por volta das 6h45min, o médico que atende no local foi assaltado. Os bandidos levaram o veículo e documentos do profissional.

Indignados com a falta de segurança, funcionários suspenderam o atendimento e pedem garantias à Secretaria Municipal de Saúde. A estimativa é de 200 consultas agendadas deixem de ser atendidas.


DIÁRIO GAÚCHO

quarta-feira, 29 de agosto de 2012

ASSISTÊNCIA VIA TRIBUNAL


ZERO HORA 29 de agosto de 2012 | N° 17176

Saúde conquistada na Justiça
Quase metade das ações judiciais com pedidos de medicamentos ou atendimento médico do país se concentra no Estado


Os tribunais são cada vez mais o lugar escolhido pelos brasileiros para conseguir o nem sempre fácil acesso à assistência em saúde. Mais de 240 mil processos judiciais envolvendo pedidos de atendimento, cirurgias, medicamentos ou próteses tramitam nas justiças estaduais e Federal em todo o Brasil.

Oque chama a atenção é que quase a metade dessas ações – 113 mil, o equivalente a 43% – se concentra em um único Estado, o Rio Grande do Sul. É como se todos os habitantes de uma cidade do tamanho de Bento Gonçalves tivessem apelado à Justiça para tentar conquistar benefícios em saúde.

Os dados são do Conselho Nacional de Justiça. O universo de 240 mil ações até não é expressivo, se pinçado dentre os 80 milhões de processos que tramitam hoje no Judiciário. A questão é que a maioria dessas ações envolve urgência, seja para delicados tratamentos, para compra de medicamentos custosos ou para cirurgias que, de outra forma, demorariam anos. Os dados, que são de 2011 (ainda não foi feito balanço em 2012), não incluem informações de três Estados: Paraíba, Pernambuco e Amazonas. Em segundo lugar está São Paulo, com 44.690 processos do gênero.

Não se tem uma ideia de quanto é gasto para atender a essas demandas, em todo o país. A União já informou sua parte: em 2010 foram gastos R$ 144 milhões do orçamento federal para o cumprimento das decisões. Isso representa 64 vezes mais do que o gasto em 2005: R$ 2,24 milhões. A estimativa é de que em 2011 tenha ocorrido um gasto ainda maior, de R$ 260 milhões.

O juiz Martin Schulze, representante do Estado no Fórum Nacional de Saúde do CNJ (que congrega juízes que atuam com muitas ações desse tipo) diz que só em Porto Alegre tramitam mais de 5 mil pedidos judiciais referentes a atendimentos na área de saúde. Metade dessas demandas é composta por reivindicações que o Estado teria obrigação de atender. É o caso de remédios especiais ou controlados, que deveriam ser fornecidos, mas estão faltando nas farmácias estatais.

O restante desses pedidos que o Estado deveria cumprir e não cumpre se referem à espera por internações hospitalares, próteses ou cirurgias, calcula o magistrado.

A outra metade das demandas é composta de pedidos que o Estado não é obrigado a atender, estima Schulze. São medicamentos raros e caros, de última geração, ou então próteses importadas, das quais existem similares nacionais.

Estado já gastou R$ 118 milhões

O governo estadual gastou R$ 118,5 milhões este ano, até agora, em atendimento a ordens judiciais na área de saúde – metade disso com medicamentos especiais (da tabela do SUS) ou excepcionais (via de regra, importados). O valor gasto com demanda judicial representa 7,73% do orçamento da Secretaria Estadual da Saúde (SES), que é de R$ 1,5 bilhão.

Quando não existe no Estado o medicamento solicitado pelo paciente, o governo estadual tem duas opções. Uma delas é abrir licitação internacional, pois, em alguns casos, o medicamento é raro. A entrega da medicação ao doente é feita por meio das centrais de dispensação do próprio Estado.

Quando o medicamento não tem registro na Anvisa, mas mesmo assim a Justiça ordena que seja adquirido, a importação é vetada e resta à SES depositar o dinheiro equivalente ao tratamento – deixando para o paciente a missão de adquirir o remédio.

Menino espera por consulta desde janeiro

No interior de Serafina Corrêa, a 210 quilômetros de Porto Alegre, um casal de agricultores trava uma batalha há oito meses com a Justiça. Jucélia Bidese, 40 anos, e o marido, Valnei De Marco, 39 anos, lutam para que o filho Igor, de um ano e oito meses (foto acima), seja atendido por um médico geneticista na Capital.

Cansados de esperar pela consulta pelas vias comuns, por meio da Secretaria de Saúde do município, o casal entrou com um ação judicial em julho contra o Estado. Só depois de vencido o prazo, no último dia 15, a Secretaria Estadual da Saúde agendou para o dia 10 de setembro a consulta no Hospital de Clínicas.

– Eu até chorei de felicidade. Nenhuma mãe merece esperar tanto tempo para levar o filho doente a uma consulta – desabafou Jucélia.

Segundo a secretaria, a demora no agendamento ocorreu devido às poucas vagas oferecidas para a genética médica pediátrica. São sete consultas nos dois hospitais cadastrados para atendimento do Interior – Santa Casa e Presidente Vargas. Para agilizar o atendimento de Igor, ele foi remanejado para a genética médica geral do Hospital de Clínicas, onde há 23 consultas mensais. De acordo com a secretaria, há 361 pessoas do Interior na fila para esta especialidade.

À espera desde de janeiro, Igor é assistido por um pediatra e uma fisioterapeuta em Serafina Corrêa desde outubro do ano passado, quando a mãe começou a notar que o menino, então com nove meses, não tinha firmeza e nem segurava objetos.

A pedido de um neurologista, Igor fez exames que apontaram um distúrbio denominado erro inato de metabolismo, o que envolve patologias raras e precisa de um diagnóstico especializado.


domingo, 26 de agosto de 2012

FALTAM MÉDICOS




ZERO HORA 26 de agosto de 2012 | N° 17173. SOBRECARGA NO POSTÃO
 
Faltam médicos em Caxias do Sul

CIRO FABRES


O número insuficiente de profissionais compromete o atendimento nas unidades básicas de saúde, o que faz com que os pacientes se concentrem no Pronto-Atendimento 24 Horas. Confira os planos dos cinco candidatos à prefeitura da cidade serrana para resolver o déficit de especialistas e a demora nas consultas.

Secretária da Saúde de Caxias do Sul, Maria do Rosário Antoniazzi admite:

– Falta, sim. Mas não tanto assim.

Refere-se ao problema crucial da saúde pública na cidade, que tem implicações em cascata: a falta de médicos, situação agravada na greve da categoria que se estendeu por mais de 400 dias em 2010 e 2011. Faltam médicos nas Unidades Básicas de Saúde (UBS) e em algumas especialidades.

As consequências passam pelo descrédito no sistema, baseado nas UBS, e no acúmulo de pacientes no Pronto-Atendimento 24 Horas, conhecido como Postão. Essa é a face mais visível da crise da saúde pública, a demora no atendimento, que, em dias mais movimentados, chega a ser de até sete horas.

Para a secretaria, crise é palavra forte. Maria do Rosário lembra que, mesmo com a paralisação dos médicos, Caxias verificou redução significativa no índice de mortalidade infantil. Para a União das Associações de Bairro, Conselho Municipal de Saúde e Sindicato dos Médicos, não há dúvida de que os problemas são grandes. A situação é agravada pela curta jornada de trabalho dos médicos e as não raras ausências nos turnos de trabalho, que impactam o atendimento.

A causa principal para a falta de médicos é a defasagem da remuneração diante dos valores correntes no mercado de trabalho. Atualizar essa relação, que guarda um complicador legal – a isonomia salarial em relação às demais categorias de servidores –, é um dos principais desafios.

Outra alternativa para a descentralização e o desafogamento do Postão é a implantação de Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) em bairros populosos. Uma delas, a da Zona Norte, deve ter ordem de início assinada em setembro. Mesmo assim, Maria do Rosário diz não acreditar no que tem ouvido dos candidatos no que se refere à proposta de implantação de mais UPAs.

Essa descentralização, independentemente do tamanho em que vier a ocorrer, é outra tarefa intransferível para o novo prefeito, que deve se preocupar ainda em atualizar os leitos hospitalares de acordo com os parâmetros estabelecidos pelo governo federal. Hoje, Caxias do Sul conta com 649 leitos, dos quais 71 estão em unidades de tratamento intensivo (UTI). Seriam necessários, de acordo com o Ministério da Saúde, 828 leitos, sendo 83 deles em UTIs. A ambulancioterapia, por ser Caxias uma cidade referência para uma população superior a 1 milhão de pessoas, agrava a situação.

FILAS NOS POSTOS


ZERO HORA 26 de agosto de 2012 | N° 17173

O drama da espera por um especialista


CARLOS ETCHICHURY

ZH mostra a situação dos serviços de saúde nos quatro maiores colégios eleitorais do RS. Nestas duas páginas, veja as propostas dos candidatos a prefeito da Capital para o setor. Na sequência, conheça as alternativas apresentadas pelos candidatos de Caxias do Sul. Na segunda-feira, será a vez de conhecer as ideias dos concorrentes em Pelotas e, na terça, dos de Canoas.

Aos 66 anos, a diarista que criou sozinha três filhas fazendo faxina em casas de família é incapaz de arrumar sua própria cama. Doméstica aposentada, Natalina Fagundes Rosa aguarda, há 15 meses, pela consulta com um ortopedista e por uma cirurgia que corrija uma lesão no ombro direito.

Dona Natalina, como é conhecida na Vila Vargas, uma das áreas mais remotas do bairro Agronomia, exemplifica a lentidão do Sistema Único de Saúde (SUS) num dos gargalos da saúde pública na Capital: o atendimento com médicos especialistas.

O drama de Natalina se iniciou num acidente trivial, na Avenida Salgado Filho, centro de Porto Alegre. Ao desembarcar do ônibus, a aposentada se desequilibrou e caiu para trás, apoiando o peso do corpo no braço direito, deslocando o ombro. No posto de saúde da Vila Cruzeiro, onde recebeu o primeiro atendimento, foi medicada e liberada.

A rotina de Natalina se transformou. O casebre de quarto e sala, na Rua Marcelo Luiz, depende dos netos e das filhas para ser mantido em ordem.

– Não consigo nem estender a roupa no varal. É como se alguém estivesse me fincando uma agulha no ombro – resume a idosa, que conta com o auxílio de uma neta na hora do banho.

Como Natalina, há 75 mil pessoas aguardando pelas consultas com especialistas em Porto Alegre. São pacientes encaminhados pelas Unidades de Saúde da Família e pelas Unidades Básicas de Saúde (UBS). Conforme a Secretaria Municipal da Saúde, patologias que causam perda de função (como catarata e lesões na coluna) ou apresentam risco de morte (nas áreas de oncologia e cardiologia) são atendidas em até 30 dias.

Novo sistema deve garantir agilidade

Nos demais casos, a secretaria não dispõe de um tempo médio para consulta. O banco de dados do órgão revela, entretanto, que há pessoas aguardando há cinco anos na fila: um paciente espera desde 2007 por uma consulta com um ortopedista especializado em coluna.

– O principal problema, nesses casos extremos de demora, é o cadastro desatualizado e a falta de contato com os pacientes – diz o secretário Marcelo Bosio.

Pela versão do órgão, seria o caso de dona Natalina – embora ela resida há mais de uma década no mesmo endereço, conforme apurou a reportagem.

– Ela ainda não teve consulta com especialista, provavelmente, porque não foi localizada. A previsão é de que a consulta seja realizada até o final da semana (a última sexta-feira).

Na sexta, após ter sido procurada por ZH, a secretaria informou que a consulta ficou para terça-feira. Depois da consulta, diz Bosio, a cirurgia deve ser feita em até cinco dias. Segundo ele, está em curso a informatização para interligar a rede, que resultará em maior agilidade para identificar o número de pessoas que aguardam pelas consultas, as especialidades solicitadas e o tempo de espera.


Unidades aceitarão receitas da rede privada

A Secretaria Municipal da Saúde promete uma mudança que deve reduzir a burocracia na retirada de medicamentos com receitas de médicos particulares (ou convênios privados) em farmácias e unidades de saúde. Como consequência, aumentará a oferta de consultas em Unidades Básicas de Saúde (UBS).

Das 8 mil consultas diárias oferecidas para clínicos gerais, pediatras e ginecologistas, cerca de 1,6 mil (20%) são simples trocas de receitas – usuários que vão ao posto com uma receita de médicos privados para obter medicamentos pelo SUS. A partir do mês que vem, prevê o secretário Marcelo Bosio, será possível obter medicações com a apresentação de receitas de médicos privados, sem a necessidade de consulta com um profissional do SUS.

– As consultas apenas para troca de receita deixarão de existir, aumentando a oferta – acredita Bosio.

Outra dificuldade que o prefeito – eleito ou reeleito – terá de enfrentar são as filas nas UBS, que obrigam as pessoas a aguardar noites inteiras, na porta das unidades, pela distribuição de fichas. A principal aposta da atual administração é a informatização e a mudança cultural do atendimento. Hoje, o usuário chega à UBS e, não havendo mais consulta, volta para casa.

– Queremos que o usuário chegue e faça uma triagem, como já ocorre na UBS Bananeiras – complementa.

Via judicial é alternativa

A grande diferença na UBS Bananeiras é a inexistência de fichas. Todas as pessoas que procuram o posto são submetidas a uma avaliação prévia, que determina o grau de urgência do caso. Quem não precisa de atendimento no mesmo dia, já sai do local com a consulta agendada. Das 53 UBS de Porto Alegre, apenas uma funciona assim.

Enquanto a situação não se altera, a via judicial tem sido uma alternativa. De cada 10 pessoas que buscam auxílio na Defensoria Pública na Capital, em assuntos na área da saúde, quatro procuram agilizar consultas.

– Primeiro tentamos resolver na esfera administrativa para, depois, ingressar na Justiça. Acho que falta vontade política para resolver a situação – opina a defensora pública Paula Pinto de Souza, dirigente do Núcleo de Tutela da Saúde da Defensoria Pública do Estado.






sábado, 25 de agosto de 2012

LUTA PELA PREVENÇÃO

ZERO HORA 25 de agosto de 2012 | N° 17172

 

EDITORIAL


Autoridades da área médica têm razão em estarem inconformadas com a decisão do Ministério da Saúde de fechar os olhos às reivindicações dos três Estados mais meridionais, mantendo inalterada a política de prevenção e combate à gripe A no próximo ano. O retrospecto do problema demonstra claramente que, quando a cobertura vacinal foi maior e na época adequada, diminuíram os casos de registro da doença e de óbitos. Se as estatísticas confirmam essa realidade, só pode ser entendida como opção pelo caminho mais fácil e menos oneroso a insistência em manter tudo igual para todos os Estados. A questão é que, na Região Sul, as estações do ano são mais demarcadas e as temperaturas têm oscilações maiores do que no restante do país, favorecendo o registro de casos e as complicações, incluindo mortes que precisam ser evitadas.

Quando as autoridades estaduais de saúde alegam que o Sul registra cerca de 80% dos casos de gripe A e, por isso, deveria ser contemplado com um percentual equivalente de doses para imunizar a população, não estão defendendo um privilégio. O tratamento diferenciado se justifica por razões como as excessivas flutuações climáticas, que contribuem para mais registros de gripe e de infecções respiratórias. Ou, como definiu um dirigente da área médica, é preciso dar uma atenção especial nos locais em que o vírus circula e onde as pessoas acabam perdendo a vida. O inaceitável número de mortes por gripe A nos Estados sulinos torna injustificáveis políticas concebidas em âmbito nacional, exigindo mudanças imediatas com ênfase também na conscientização sobre o problema.

Um ano depois da tragédia provocada pela enfermidade, a ampla vacinação realizada em 2010 acabou reduzindo para zero o registro de casos. No ano passado e no atual, a redução do número de doses coincidiu com o aumento considerável de ocorrências e de mortes, o que é inaceitável. Enquanto uma só vida tiver condições de ser preservada, as autoridades de saúde precisam se esforçar ao máximo para que isso ocorra. O esforço inclui tanto cobertura vacinal quanto campanhas de conscientização, que chamem a atenção para a importância de providências singelas mas eficazes, como a de manter as mãos limpas para evitar o contágio e de procurar ajuda médica em tempo hábil diante dos primeiros sintomas.

O difícil, no caso, é convencer autoridades federais de que as condições climáticas do país e da Região Sul em particular não são exatamente semelhantes às registradas em Brasília. A população e as autoridades de saúde dos Estados sulinos, porém, precisam pressionar por mudanças nas ações contra a gripe A em 2013, para que possam ser colocadas em prática no devido tempo e de acordo com as necessidades da região.

sexta-feira, 24 de agosto de 2012

MINISTÉRIO IGNORA PREVENÇÃO À GRIPE "A"

ZERO HORA 24 de agosto de 2012 | N° 17171

PREVENÇÃO À GRIPE A. Ministério ignora apelo de entidades médicas

Pedido é para que exista um tratamento diferenciado ao Sul, região mais vulnerável ao vírus


ITAMAR MELO

A decisão do Ministério da Saúde de manter inalterada em 2013 a política de prevenção à gripe A no sul do país, tema de reportagem da edição de ontem de ZH, contraria os profissionais mais familiarizados com o assunto: os médicos da região.

Há 10 dias os Conselhos Regionais de Medicina do Rio Grande do Sul e do Paraná (Cremers e CRM) e as Associações Médicas dos dois Estados (Amrigs e AMP) entregaram um documento conjunto ao ministro Alexandre Padilha, no qual alertam para a necessidade de oferecer tratamento diferenciado ao Sul, muito mais vulnerável ao vírus. O documento reivindica que a campanha de vacinação de 2013 ocorra mais cedo e tenha abrangência universal na região.

Até ontem, as entidades médicas não haviam recebido resposta de Padilha, defensor de uma política que, de 2010 para cá, reduziu em 67% as vacinas distribuídas no Estado e viu a quantidade de mortos mais do que quadruplicar em apenas um ano no Estado.

No documento, as entidades médicas baseiam sua argumentação em dados estatísticos. Citam, por exemplo, que os Estados do Sul concentram 74% dos casos confirmados de gripe A de todo o país. Lembram, ainda, que apesar de ter uma população três vezes menor do que a do Sudeste, segunda região com maior incidência, o Sul registra quase o triplo de óbitos por gripe A.

– Pedimos apenas que o ministério leve em conta, na sua política, os locais onde o vírus circula e onde as pessoas morrem – afirma Rogério Wolf de Aguiar, presidente do Conselho Regional de Medicina do Rio Grande do Sul (Cremers).

O presidente do Cremers observa que é fundamental antecipar a campanha de vacinação, que em 2012 começou apenas em maio, porque a partir do outono o sul do Brasil já ingressa em flutuações climáticas que multiplicam as situações de gripe, de bronquite e de tosse.

– Sabemos que, do Rio de Janeiro para o norte, incluindo Brasília, as pessoas não sabem o que é outono ou primavera. Aqui o clima é diferente, não é tropical. A política tem de ser diferente também. As mortes indicam isso – defende Aguiar.

DECLARAÇÃO

Rogério Wolf de Aguiar, presidente do Conselho Regional de Medicina do Rio Grande do Sul (Cremers): "Não faz sentido uma política igual para todo o país. "

- Neste ano, o ministério enviou apenas 1,67 milhão de doses.

- Até a semana passada, 59 pessoas já haviam morrido no Estado.

terça-feira, 14 de agosto de 2012

A DROGA QUE ACORRENTA E FERE POR FALTA DE TRATAMENTO ESPECIALIZADO

14 de agosto de 2012 | N° 17161

DOR EM FAMÍLIA. A droga que acorrenta e fere

Ele já levou tudo o que podia de dentro de casa. Xinga, bate e ameaça de morte a própria mãe. Pela vida do filho, a mulher de 62 anos chegou a vender a casa e entregar todo o dinheiro a traficantes. Agora não sabe mais o que fazer. Depois que o jovem de 25 anos, usuário de crack, perdeu o controle e passou a roubar na rua, a família decidiu acorrentá-lo em casa.

Afamília pediu para ter os nomes preservados. Teme os traficantes, mas quer contar seu drama, porque não sabe mais o que fazer. Depois de passar dois meses no Presídio Central, preso por assalto, o jovem voltou para casa no dia 25. O tempo recluso não resolveu o problema. A cada nova fissura pela droga vem o desespero.

– Eu estou me sentindo humilhado. O que custa me dar R$ 10 para eu fumar e ficar tranquilo? – perguntou o jovem.

Ameaçada de morte, a família não vê alternativa a não ser acorrentá-lo. Desde sábado ele está com a perna esquerda presa a uma corrente cadeada junto a uma grade, em uma peça nos fundos da casa. Descontrolado, ele bate com a cabeça na parede, quebrou a vidraça de uma janela e tentou cortar os pulsos. Nem ele suporta mais viver assim.

– Eu nunca fiz nada para ninguém. Estou me sentindo acabado, sem recurso algum – desabafou o jovem que trabalhava como gari.

O rapaz já passou por dois períodos de desintoxicação, consegue passar meses longe das drogas, mas recai.

– O que adianta ele ir preso e sair pior? Tem de fazer esse presídio novo de uma vez, todos nós estamos correndo perigo – implora a mãe.

O presídio novo a que a família se refere é o projeto anunciado pelos governo: uma casa prisional na qual detentos dependentes químicos passariam por tratamento.

Casa que valia R$ 30 mil foi vendida por R$ 6 mil

A casa de dois pisos, três quartos, mobiliada na zona sul da Capital valia cerca de R$ 30 mil. Mas a urgência para pagar traficantes fez a mãe do jovem se desfazer dela por R$ 6 mil. A casa alugada agora, na Lomba do Pinheiro, já não tem mais móveis. Nada para em casa. Nem as roupas da sobrinha de cinco anos o jovem conseguiu manter intactas.

– Chega a encostar um carro aqui para vir buscar as coisas que ele troca por droga – contou a mãe.

Na semana passada, havia vaga no Hospital Parque Belém, mas o jovem entrou por uma porta e saiu pela outra. A mãe liga para a Brigada Militar, para o Samu, grita por socorro, mas ninguém pode fazer nada.

– Já pensamos em ir embora, abandonar ele, mas não conseguimos. E ainda querem liberar as drogas, né? – ironiza a irmã.

O Estado planeja ter, ainda em 2013, a primeira prisão destinada para detentos dependentes de drogas. Essa é a expectativa do secretário da Segurança Pública, Airton Michels. O projeto foi apresentado na semana passada com a intenção de dar mais eficácia à recuperação de presos viciados, combinando segurança com tratamento.

LETÍCIA BARBIERI

DOR EM FAMÍLIA DIANTE DA FALTA DE VAGAS

ZERO HORA 14 de agosto de 2012 | N° 17161

Final triste para mais um bebê no sul do Estado

JOICE BACELO | PELOTAS/CASA ZERO HORA
 

Após a morte de gêmeos de Piratini que peregrinaram por vagas em UTIs neonatais, o drama se repete no sul do Estado. Menos de uma semana depois é a família de Luiz Lucas Pacheco quem precisa lidar com o triste final da mesma busca por leito. O bebê de dois meses que teve que percorrer 500 quilômetros – de Pelotas até Ijuí – e só conseguiu atendimento porque houve interferência da Justiça não se recuperou dos três dias de espera na emergência do Pronto-Socorro de Pelotas.

Sem condições de custear o transporte do corpo via funerária, a família viajou para casa com o caixão no porta-malas do carro particular.

O óbito foi confirmado na noite de domingo na UTI pediátrica do Hospital de Caridade de Ijuí, no Noroeste, onde o menino esteve internado por três dias. De acordo com o diretor técnico da instituição, Airton Buss, o bebê já havia chegado em estado muito grave e mesmo recebendo o atendimento adequado não conseguiu responder ao tratamento. Não havia mais tempo para curar um quadro de infecção agravado por uma coqueluche. Luiz Lucas acabou morrendo por insuficiência respiratória.

Da liberação do corpo, por volta das 6h de ontem, até a chegada ao no Cemitério da Boa Vista, na zona norte de Pelotas, foram mais de sete horas de viagem. A mãe do bebê, a doceira de 23 anos, Eliana Pacheco, não tem dúvidas ao afirmar que foi o drama da falta de leito que causou a morte do filho. Ela diz que assim que se recuperar da perda do menino entrará com ação judicial contra o Estado.

– Eu trouxe o meu filho para o cemitério por culpa desse governo. Se não tivéssemos que esperar tanto por atendimento, com certeza ele teria sobrevivido. Quando chegamos a Ijuí sabíamos que a situação já era grave – desabafou mãe do menino.

Luiz Lucas foi internado no Pronto-Socorro de Pelotas uma semana antes de morrer. Ele permaneceu na emergência da instituição por três dias, até que a família procurou o Conselho Tutelar e por meio da Justiça conseguiu o encaminhamento imediato para um hospital equipado com UTI pediátrica. O menino viajou os 500 quilômetros entre as duas cidades de avião e teve os custos pagos pela prefeitura de Pelotas, na quinta-feira.

Luiz Lucas completaria três meses no próximo domingo.

O que dizem

- MP e Judiciário – Pelo menos uma vez por semana juízes e promotores do sul do Estado recebem pedidos de internação de bebês em grave situação de saúde. De acordo com o promotor da infância e da juventude de Pelotas, José Olavo Passos, hoje à tarde tem mais uma reunião prevista e a ideia é elaborar uma estratégia de ampliação de leitos em UTIs neonatal e pediátricas e pressionar o Estado para que haja o aumento.

- Simers – De acordo com o presidente do Sindicato Médico do Rio Grande do Sul, Paulo de Argollo Mendes, a entidade apresentou à Secretaria da Saúde um plano de carreira estadual de médicos, para que a busca por profissionais não seja responsabilidade somente dos hospitais.

- Secretaria Estadual da Saúde – A coordenadora da Seção de Saúde da Criança e do Adolescente da SES, Eleonora Walcher, diz que será feita uma análise para quantificar os prematuros nascidos no último ano e a lotação nesse tipo leito.

sábado, 11 de agosto de 2012

MULHER MORRE A ESPERA DE LEITO

ZERO HORA 11 de agosto de 2012 | N° 17158

CRISE NA SAÚDE. Mulher morre à espera de leito em São Leopoldo. Depois de cirurgia, paciente teve de aguardar por vaga de UTI no Centenário

ÁLISSON COELHO 

A espera por um leito de UTI no Hospital Centenário foi longa demais para Eloísa Batista Bueno, 58 anos. Ela morreu por volta das 10h de ontem em São Leopoldo, no Vale do Sinos. Segundo a família, foram três dias na sala de observação do bloco cirúrgico à espera de uma vaga que poderia ter salvo a vida da paciente.

Ohospital contesta e diz que foram menos de 48 horas. Técnica em enfermagem, Eloísa morreu no hospital onde trabalhou por 30 anos. No domingo, ela procurou o local com dores. Segundo a família, exames apontaram uma obstrução no intestino e a necessidade de uma cirurgia. O procedimento ocorreu no dia seguinte e, em seguida, ela iniciou o processo de recuperação no quarto. Na terça-feira, a situação se agravou – uma nova cirurgia teria de ser feita.

– Disseram que o caso era muito grave e que ela teria que ser internada na UTI – afirma o único filho, Juliano Batista Bueno, 30 anos.

Nos dias que se seguiram, a família questionou os médicos sobre a transferência. A resposta era de que não havia leitos no Centenário, e Eloísa havia sido colocada na lista da Central de Leitos do Estado. Enquanto esperava, o quadro se agravava.

– Depois que ela morreu, disseram que haviam conseguido dois leitos em Porto Alegre e outro no Centenário – lamenta Bueno.

Contraponto. O que diz a direção do Hospital Centenário -  A administração do Hospital Centenário afirma que a paciente Eloísa Batista Bueno deu entrada em 6 de agosto com infecção. Com quadro de múltiplas cirurgias abdominais prévias, ela foi submetida a um procedimento cirúrgico chamado laparotomia no mesmo dia. No dia 8, a paciente passou por outro procedimento cirúrgico, sem apresentar melhora no quadro clínico. Por volta das 15h do mesmo dia, a equipe médica solicitou internação em leito de UTI e cadastrou a paciente na Central de Leitos. No dia 10, às 10h50min, ela morreu, vítima de uma infecção generalizada.

VÍTIMAS DO DESCASO

ZERO HORA 11 de agosto de 2012 | N° 17158

ENTREVISTA. “Fomos vítimas do descaso”

Rafael Moreira - Pai dos bebês que nasceram prematuros


Pouco depois de enterrar os gêmeos e sem a presença da mulher, Andrizi, que segue internada em Canguçu, Rafael Moreira conversou com Zero Hora sobre a morte dos dois filhos.

Zero Hora – O senhor acredita que seus filhos poderiam ter sobrevivido se tivessem o atendimento adequado desde o nascimento?

Rafael Moreira – Tudo poderia ser diferente. Se quando os meus filhos nasceram tivessem sido internados direto em uma UTI neonatal poderia ser que eu estivesse voltando para casa com eles nos braços e não em caixões. O governo investe em tantas outras coisas e a saúde, que é o nosso bem maior, está tão precária – hoje (ontem) nós e os meus filhos fomos vítimas do descaso.

ZH – Como você recebeu a notícia da morte dos bebês?

Moreira – Fazia duas horas que eu tinha saído do hospital quando recebi a notícia da morte do primeiro bebê. Quando estava chegando a Piratini, para velar o meu filho, veio mais um telefonema, o outro também não conseguiu resistir. A minha mulher, que continua se recuperando do parto, viu os meninos uma só vez e precisou ser medicada quando soube que não terá uma outra chance. Sabe o que eu fico me perguntando? Por que durante 10 dias a resposta que nos davam é de que não havia leitos e quando eu procurei a Justiça esses dois leitos tão esperados apareceram em menos de 24 horas? Isso me faz acreditar que existiam meios para conseguir essas vagas antes. Estou analisando a possibilidade de entrar com uma ação judicial contra o Estado porque, nesse caso, eles podem ter sido responsáveis pela morte dos meus filhos.

ZH – Depois de passar por essa situação, o que muda para a sua família?

Moreira – Não sei como vai ser daqui para frente. A minha mulher quer que eu desmonte o quartinho deles antes de ela voltar para casa. É o pior momento das nossas vidas e pode mudar tudo para sempre, não sei se conseguiremos pensar em mais filhos daqui para frente.

POUCOS LEITOS, MAIS MORTES

ZERO HORA 11 de agosto de 2012 | N° 17158

UTIS NEONATAIS. Após a morte de gêmeos que nasceram prematuros e tiveram de ser internados inicialmente em UTI improvisada, sindicato dos médicos e Ministério Público prometem pressionar governo estadual por uma solução.

HUMBERTO TREZZI E JOICE BACELO


A batalha pela vida dos bebês recém-nascidos extrapolou o front médico. Após a morte de dois gêmeos de Piratini que peregrinaram por vaga em UTIs neonatais em Canguçu e Bagé, entidades de classe da área da medicina e o Ministério Público exigem providências das autoridades do setor público de saúde.

– As mortes ocorridas eram evitáveis. Aconteceram porque o poder público não contratou médicos em número suficiente, especialmente em Canguçu, onde a UTI Neonatal permanece fechada – critica o presidente do Sindicato Médico do Rio Grande do Sul (Simers), Paulo de Argollo Mendes.

O Simers publica hoje nota de protesto contra as mortes, nos jornais, e pretende pressionar promotores e juízes para que ajam. Argollo diz que existem médicos suficientes nesse tipo de especialidade no Estado. E mesmo o número de leitos está dentro da proporção preconizada pelo Ministério da Saúde. O que é preciso, argumenta o presidente do Simers, é pagar aos médicos salário de mercado e “Competir com o que oferecem as instituições privadas”, sugere. A UTI Neonatal de Canguçu, por exemplo, não abriu porque muitos médicos estariam recusando os vencimentos oferecidos pelo hospital local.

Hoje existem 514 leitos desse tipo no Estado, 370 deles custeados pelo SUS. Isso resulta em mais oferta que o preconizado pelo Ministério da Saúde, que seria de três leitos de UTI para cada mil nascidos vivos. Um dos problemas é a distribuição deles. A Região Metropolitana concentra 57% dessas vagas. Já as duas maiores cidades da Região Sul do Estado, Pelotas e Rio Grande, têm apenas 6% dos leitos.

A falta de leitos em UTIs neonatais em Pelotas motiva reuniões entre o Ministério Público e o Judiciário. É que, pelo menos uma vez por semana, juízes ou promotores locais recebem pedidos de internação de bebês em grave situação de saúde.

– Vamos pressionar pela abertura de leitos. Por meio de inquérito civil público, possivelmente. Se não for possível resolver isso com um termo de ajuste com as secretarias de saúde, vamos partir para uma ação civil pública – anuncia o promotor José Olavo Bueno dos Passos, da Promotoria da Infância e Juventude de Pelotas.

O secretário estadual de Saúde, Ciro Simoni, diz que tem procurado alternativas para minorar a peregrinação em busca de UTIs neonatais. Uma delas é estimular que os hospitais montem UTIs mistas, metade pediátricas, metade neonatais. A outra saída é suplementar o pagamento dos médicos de UTIs neonatais, já que vencimento é um dos fatores problemáticos. Um terceiro fator seria o mais difícil de driblar: a maioria das mortes ocorre com crianças muito abaixo do peso mínimo, de acordo com Simoni.


Mesmo reduzida, havia chance de sobrevivência

 TAÍS SEIBT  

As chances de um bebê nascido com 26 semanas de gestação sobreviver são pequenas, mas existem nas condições ideais de assistência.

– Nascer com 26 semanas não é bom em lugar nenhum. Em se tratando de gêmeos, o risco aumenta ainda mais, mas existem chances – diz o médico neonatologista da UTI do Hospital São Lucas, Humberto Fiori, professor da faculdade de Medicina da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS).

Segundo Fiori, a taxa de sobrevivência entre nascidos nesse período gestacional, não gêmeos, varia entre 20% e 50%. A gemelaridade agrava o quadro porque a gravidez de gêmeos é mais complicada, devido às condições do útero da mãe para o desenvolvimento de dois ou mais bebês. Em casos de prematuridade, os médicos tentam prolongar a gestação até pelo menos a 34ª semana.

Parto deveria ocorrer em local melhor equipado

Com 26 semanas, o bebê ainda não tem as circunvoluções cerebrais, estruturas que permitem o pensamento, o raciocínio lógico e estados subconscientes. Assim, a criança “esquece” de respirar e sofre apneia, sendo necessário o uso do respirador. Como o prematuro é muito frágil, o aparelho causa lesões no pulmão, que podem levar a doenças pulmonares graves. É comum, também, o sangramento do cérebro, que pode causar a morte da criança ou deixar sequelas.

O ideal é que a mãe seja transportada para um local equipado antes de dar à luz. Outra alternativa que reduz as chances de hemorragias cerebrais no recém-nascido é a injeção de corticoide na mãe, antes do parto.

O médico destaca que as condições de sobrevivência de um prematuro não dependem apenas do lugar em que ele nasce, mas de todo o acompanhamento pré-natal e pós-parto.


Enterro comove Piratini


Depois de três dias lutando pela sobrevivência, os gêmeos que receberam atendimento em uma emergência improvisada no Sul não conseguiram resistir. Alerrandro e Aleksander. O pai, Rafael Moreira, levava o corpo de um deles para ser velado em Piratini quando recebeu a notícia de que o outro também estava morto. Eles foram sepultados ontem, no interior do município.

O drama começou quanto Andrizi Quevedo deu entrada no Hospital de Caridade de Canguçu e teve início a peregrinação por instituições de saúde equipadas com UTI neonatal. Os médicos seguraram a gestação até a 26ª semana, porém na segunda-feira ou os bebês nasciam ou os três corriam o risco de perder a vida.

Alerrandro e Aleksander nasceram às 22h30min de segunda-feira, mas a Central de Regulação de Leitos do Estado informou que os bebês poderiam ser encaminhados para a Santa Casa de Caridade de Bagé, onde havia leitos disponíveis, mas no dia seguinte. Os prematuros enfrentaram uma viagem de 200 quilômetros e chegaram já com um dia de vida e menos chances de sobreviver.


Os leitos. Alta concentração na Região Metropolitana é um dos problemas
Fonte: *Neonatal (SUS e privados)

Município - Leitos - UTI
Alegrete 10
Alvorada 10
Bagé 24
Bento Gonçalves 7
Cachoeira do Sul 4
Cachoeirinha 10
Canoas 18
Caxias do Sul 45
Erechim 8
Esteio 5
Estrela 5
Ijuí 8
Lajeado 6
Montenegro 2
Novo Hamburgo 27
Passo Fundo 33
Pelotas 12
Porto Alegre 213
Rio Grande 9
Santa Cruz do Sul 4
Santa Maria 20
Santa Rosa 2
Santo Ângelo 10
São Leopoldo 12
Tramandaí 10
Total no RS 514

SAÚDE SEM MÉDICO

ZERO HORA 11 de agosto de 2012 | N° 17158. ARTIGOS

Paulo de Argollo Mendes*


Zero Hora publicou nesta semana mais um fato envolvendo a UTI neonatal de Canguçu, interditada há seis meses por não ter até hoje contratado médicos. Sem conseguir vagas em outros hospitais, após 10 dias de espera, leitos de UTI para dois recém-nascidos foram improvisados. Mais um capítulo dramático da novela da unidade de Canguçu que deve servir de exemplo do ocaso da assistência, a pública e a privada.

As dificuldades crescentes para usuários de planos acessarem uma simples consulta ou procedimentos têm relação direta com uma constatação: o sistema explodiu, chegando a 47,6 milhões de segurados (25% da população do país) e não houve uma correspondência em aumento de oferta de serviços credenciados, e a que existe, de tão desvalorizada, enfrenta evasão. Este é o quadro na área médica.

E na hora de cobrar pelo atendimento, tanto o gestor público (União, Estados e municípios) quanto as operadoras (reguladas pela Agência Nacional de Saúde Suplementar) deveriam prestar contas, executado o que está na Constituição Federal (SUS) e nos contratos dos planos comprados pelos usuários. São dois extremos: recursos de menos nos governos e mal direcionados, e recursos demais na rede suplementar – a receita das empresas avançou quase 200% (!) entre 2003 e 2011, mas que não foram investidos na melhoria da remuneração dos prestadores. O valor da consulta médica, por exemplo, foi corrigido em apenas 65% no mesmo período.

Na administração do SUS, como em uma empresa, tem a fase do projeto, da aprovação do plano junto aos órgãos da saúde, da obtenção do dinheiro para o projeto e a execução. Em que etapa, houve de forma responsável o dimensionamento do custo de contratação de médicos para assegurar o pleno funcionamento da UTI de Canguçu?

Novamente, cabe alertar que não faltam médicos para atuar nos serviços. O Estado tem o dobro de profissionais de que a população precisa, segundo dados do Ministério da Saúde. O que é insustentável é a conduta irresponsável de administradores públicos, em sua maioria cargos de indicação política (cujos ocupantes mudam a cada quatro anos), na hora de entregar o que a população precisa.

A dificuldade em preencher postos médicos em diversas instituições é hoje o entrave número 1 ao funcionamento dos serviços. Na Capital, na Região Metropolitana ou no Interior, há hospitais com leitos fechados ou subutilizados porque não são contratados especialistas. E a razão é simples e envolve planejamento: o sistema de saúde deve ser dimensionado para dar conta do potencial de demandas dos pacientes. Depois de termos isso, parte-se para montar a rede – da básica ao nível terciário (hospitalar).

Pouco disso tem sido considerado. Senão, como explicar que ao montar as equipes economiza-se exatamente no que é o elemento fundamental do tratamento: o médico? O Estado perdeu 30% das vagas de internação no SUS nos últimos 20 anos, e o que restou opera abaixo da capacidade, sobrecarregando outras estruturas (fenômeno da superlotação das emergências). Por quanto tempo ainda gestores lutarão contra o sentido terapêutico da vida? Não bastam leitos, UTIs, postos e equipamentos sofisticados, se falta o médico. Problema é que querem contratá-lo com propostas que já fracassaram faz tempo.

*MÉDICO, PRESIDENTE DO SINDICATO MÉDICO DO RIO GRANDE DO SUL

quinta-feira, 9 de agosto de 2012

ONDE VÃO PARAR OS ALUNOS DE MEDICINA?

O ESTADO DE SÃO PAULO 09 de agosto de 2012 | 7h 06


João Sobreira de Moura Neto


Entra governo, sai governo, e se mantém o vilipêndio ao ensino médico no Brasil. O Ministério da Educação (MEC) autorizou, em junho, a criação de mais nove cursos de medicina particulares, com 800 vagas no total, sendo 520 nas Regiões Sul e Sudeste, onde hoje já se concentram 72% dos médicos brasileiros. As novas escolas estão nas cidades de Votuporanga (60 vagas) e São José do Rio Preto (160 vagas em dois cursos), no Estado de São Paulo; Belo Horizonte (120 vagas) e Betim (120 vagas), em Minas Gerais; e Londrina (60 vagas), no Paraná. As demais ficam no Recife (120 vagas), Cajazeiras, na Paraíba (60 vagas), e Salvador (100 vagas).

Ao ler esses números, é simples constatar quão infundado se apresenta o argumento de que seriam necessárias mais escolas de medicina porque há cidades e regiões que não contam com esses profissionais. Falácia.

Provavelmente, nenhum dos médicos que vierem a se formar num desses novos cursos privados vai trabalhar numa cidade ou região carente de médicos. Eles farão, sim, parte de um sistema saturado de profissionais de medicina nas instituições de melhor qualidade. Disputarão acirradamente vagas em programas de residência médica e poucos conseguirão ser selecionados. Resistirão a trabalhar na periferia dos grandes centros onde estudaram. Se vierem a fazê-lo, perderão muitas horas de sua vida no trânsito e estarão sujeitos a todo tipo de cobrança e violência nas unidades de saúde. Precisarão fazer muitos e muitos plantões para somar uma remuneração razoável, que nem sequer de longe será suficiente para cobrir, em médio prazo, as altas mensalidades pagas à faculdade. Não se sentirão atraídos a começar a vida profissional num local distante, sem garantias trabalhistas e sem perspectiva de mobilidade, com o tempo, para instituições de sua preferência. Acabarão tendo múltiplos empregos e vínculos, precários, sem conseguirem se dedicar à prática médica da maneira que sonharam. Sem conseguirem estudar de forma continuada. Sem conseguirem cuidar de si mesmos. Esperando que, um dia, o trabalho médico venha a ser valorizado no serviço público e pelos planos de saúde. Sabe-se lá quando...

Se essa é a realidade dos atuais médicos jovens, o que se dirá a respeito dos futuros profissionais? E o MEC foi além: anunciou publicamente que pretende criar mais 2.415 vagas em cursos de medicina já existentes e em outros a serem abertos até 2014. Em defesa da saúde dos cidadãos e da qualidade do exercício da medicina do Brasil, a Associação Médica Brasileira (AMB), a Associação Paulista de Medicina (APM) e o Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp), com apoio das sociedades de especialidade, repudiaram em nota oficial a intenção do ministério.

Atualmente, já temos 196 escolas médicas no País, somando 16.892 vagas. Sete delas foram criadas em 2011, sendo cinco particulares, uma municipal e uma estadual. Este ano, além das nove já mencionadas, foi criada uma federal em fevereiro. No quadro geral, são 82 cursos públicos (federais, estaduais e municipais), ante 114 privados, criados, principalmente, de 1967 a 1970 (auge do período militar), de 1997 a 1999 (segundo mandato do governo Fernando Henrique Cardoso) e desde 2002 até nossos dias (governos Lula e Dilma Rousseff).

No Estado de São Paulo há 36 escolas médicas, sendo a grande maioria particular (26). O total de vagas é de 2.633, o que representa 15,6% do número geral em todo o País. Novamente, a maior parte dessas vagas é privada: 65%. Chama a atenção que esse cenário se tenha agravado nos últimos dez anos, quando foram abertos 12 novos cursos, todos privados, mais que dobrando as vagas particulares existentes até então. A interesses de quem o Executivo se tem empenhado em atender? Os dados estão todos disponíveis no site www.escolasmedicas.com.br.

Além do mais, temos clareza de que uma política de "transbordamento" não será capaz de levar e fixar médicos em regiões periféricas. O caminho, insistentemente ignorado pelos gestores, é a valorização do trabalho médico e a criação de uma carreira de Estado para esses profissionais, nos moldes do Poder Judiciário.

Curioso é que, embora anuncie sem pudor ou justificativa plausível a proliferação de escolas médicas, o MEC não menciona nada sobre o que será feito com os cursos de má qualidade, o que se comprova nas notas do Exame Nacional de Desempenho de Estudantes (Enade). Das 141 instituições avaliadas na última edição, 23 (quase 17%) tiveram notas entre 1 e 2 e nenhuma obteve a nota máxima (5). O ex-ministro da Saúde Adib Jatene, convidado para presidir uma comissão de especialistas responsável por avaliar essas escolas, desistiu após meses e meses de diversas visitas técnicas, pareceres, termos, estabelecimento de critérios e... nenhum avanço.

Por outro lado, o Exame do Cremesp, realizado voluntariamente desde 2005, passa a ser obrigatório já a partir deste ano, por determinação da Resolução n.º 239, recém-publicada. A aprovação ainda não será requisito para que o novo médico obtenha o seu registro profissional e, portanto, possa praticar a medicina. Mas o fato de todos se submeterem à prova será fundamental para que um retrato mais exato da formação médica em São Paulo seja exposto à sociedade.

Desde a fase voluntária, os índices de reprovação já chocavam a opinião pública. Agora teremos mais uma prova de que escolas sem condições mínimas de realmente "formar" médicos representam grave risco para a saúde da população e põem em xeque tanto o sistema público quanto o suplementar.

Assim, o foco da discussão é a qualidade, e não mais apenas a quantidade. É um ato de cidadania cobrar das autoridades competentes uma proposta clara, factível e eficiente para avaliar essas escolas e exigir a estrutura necessária ao ensino/aprendizagem em níveis adequados.

*

OFTALMOLOGISTA EM SANTOS, É DIRETOR DE DEFESA PROFISSIONAL DA ASSOCIAÇÃO PAULISTA DE MEDICINA

terça-feira, 7 de agosto de 2012

FALHAS NA PREVENÇÃO

ZERO HORA 07 de agosto de 2012 | N° 17154

EDITORIAL

Vítima de uma perversa combinação de fatores, a região sul do Brasil transformou-se numa recordista em mortes causadas pela gripe A. Além de os Estados sulinos serem mais suscetíveis ao vírus Influenza A (H1N1), o recrudescimento do problema deixou evidente que o alerta da epidemia de 2009 não resultou numa mudança de comportamento do poder público. Por isso, é mais do que hora de as visíveis falhas na prevenção serem corrigidas, para se evitar que, passado o período de temperaturas mais baixas, o problema volte a cair no esquecimento, até ressurgir no próximo inverno.

Obviamente, nem o Brasil, nem os demais países afetados têm condições de prevenir o problema partindo para uma vacinação abrangente – sem ênfase apenas nos grupos mais vulneráveis, como jovens e idosos. Ainda assim, as proporções assumidas pela doença – superiores até mesmo às registradas em países mais populosos, como a Índia – indicam a necessidade de uma discussão mais ampla sobre a estratégia adotada até agora. Um aspecto que precisa ser levado em conta é se um país com tantas variações climáticas tem como manter uma estratégia unificada de prevenção e combate ao vírus.

Diante de um assunto de tamanha gravidade, é preciso que o poder público enfrente de vez a falta de agilidade da burocracia, que leva os órgãos de saúde a demorarem demais para agir quando a situação se complica. E, obviamente, ainda falta muito para o país corrigir as defi- ciências que persistem no atendimento à saúde de maneira geral.

Nenhuma política de prevenção e combate se mostrará eficaz se não contar com o apoio maciço da população. Por isso, é preciso que a sociedade seja convocada sistematicamente a colaborar com pequenos mas eficazes gestos de prevenção. Uma alternativa são as campanhas didáticas que contribuam de forma permanente para reduzir riscos tão elevados e tão preocupantes para os brasileiros, particularmente os dos Estados sulinos.

Este desafio é também o grande encanto da democracia: todos os indivíduos, famosos ou anônimos, ricos ou pobres, devem ter o direito de se defender de qualquer acusação – assim como devem ser responsabilizados na forma da lei por eventuais delitos que tenham cometido.

segunda-feira, 6 de agosto de 2012

BRASIL CAMPEÃO MUNDIAL EM GRIPE "A"


ZERO HORA 06 de agosto de 2012 | N° 17153

GRIPE A PELO MUNDO. Brasil está entre os campeões de mortes


MARCELO GONZATTO

Com 257 mortes provocadas pela gripe A até a semana passada, concentradas especialmente na Região Sul do país, o Brasil contabiliza uma das mais altas taxas de mortalidade do mundo neste ano em razão do H1N1

Dados preliminares indicam que o Brasil é um dos principais focos da gripe A no mundo hoje.

As 257 mortes registradas até a semana passada colocam o país entre as regiões mais afetadas no planeta pelo vírus Influenza A (H1N1) – em um patamar semelhante ao verificado no México durante o último inverno no Hemisfério Norte e superior ao registrado atualmente em nações muito mais populosas como a Índia.

Os três Estados do Sul concentram a maior parte dos óbitos provocados pela agressividade do vírus, com pelo menos 157 vítimas no Rio Grande do Sul, no Paraná e em Santa Catarina. Esse número poderá aumentar hoje, quando o Estado deve divulgar um novo boletim sobre o avanço da doença. Somente o sul do Brasil, onde vivem 27 milhões de pessoas, supera o número de mortes registradas até a última semana de julho na Índia. Lá, onde vivem 1,2 bilhão de habitantes, foram verificados 122 mortos (veja mapa).

Não há como estabelecer um ranking preciso do impacto do H1N1 no mundo, porque as notificações demoram para chegar à Organização Mundial da Saúde (OMS), os dados dos países do Hemisfério Sul são menos completos do que os do Hemisfério Norte, onde o inverno já acabou, e os padrões de vigilância epidemiológica variam bastante. Porém, as informações disponíveis fazem com que a infectologista Nancy Bellei, professora da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e uma das principais especialistas em Influenza do país, sustente que o Brasil tem uma das piores situações conhecidas em relação ao H1N1 este ano.

– Os dados demoram muito para chegar aos órgãos internacionais, mas a situação mais complicada que vemos hoje é no Brasil, sobretudo no Sul. É importante lembrar que, em 2009, o Paraná já havia registrado a mais alta taxa de mortalidade do H1N1 no mundo. Claro que o clima interfere, mas isso tem de ser melhor estudado porque outros países frios não enfrentam o mesmo cenário – afirma a especialista.

Uma das razões para o Brasil padecer com a gripe A é que outras regiões do Hemisfério Sul, como Argentina, Chile, Austrália ou Nova Zelândia, estão apresentando circulação predominante de outros tipos de vírus Influenza, como o B ou o H3N2. O problema, segundo o epidemiologista gaúcho Jair Ferreira, é que o H1N1 tende a provocar mais danos em suas vítimas.

– Além de a população ser mais suscetível pelo fato de ser um vírus novo, ele também dá mostras de ser mais virulento do que outros tipos de Influenza – avalia o especialista.

Também pela avaliação de especialistas, a falta de uma política de prevenção específica para o sul do Brasil e deficiências no atendimento primário como a demora para a aplicação do antiviral Tamiflu (veja quadro) ajudam a explicar por que o país apresenta uma escalada de mortes superior a outras regiões do globo. Os demais países, como Estados Unidos, Canadá, europeus ou vizinhos como Argentina e Chile utilizam estratégias semelhantes às do Brasil – vacinação de grupos de risco e tratamento com antiviral.

Reforço na educação

Porém, Conforme Nancy, a preocupação em tomar a vacina de forma gratuita ou no setor privado é maior nesses outros países, e a cultura de atendimento está mais adiantada no tratamento precoce com o antiviral. O infectologista da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) Rodrigo Angerami concorda com essa avaliação:

– Acredito que reforçar as medidas educativas, não apenas junto à população, mas em relação aos profissionais da saúde quanto à importância de recomendar a vacinação anual, e incorporar o uso precoce de antiviral quando houver indicação são imprescindíveis.


ENTREVISTA. “A melhor estratégia é vacinação abrangente”. Craig Pringle, especialista em vírus


Moderador da área de virologia do Programa para Monitoramento de Doenças Emergentes (ProMED-mail) da Sociedade Internacional para Doenças Infecciosas, o especialista britânico Craig Pringle ajuda a manter a comunidade médica internacional atualizada sobre o comportamento de males como a gripe A. Em entrevista concedida por e-mail a Zero Hora, ele avalia a situação do vírus Influenza no Brasil e no mundo e as melhores estratégias para combatê-lo:

Zero Hora – O Brasil já registrou mais de 250 mortes pelo vírus H1N1. Há algum outro país que esteja apresentando situação semelhante para esse tipo de Influenza?

Craig Pringle – Não sei dizer se as mortes por A (H1N1) no Brasil são em maior número do que em qualquer outro lugar, seja em comparação com a epidemia passada no Hemisfério Norte ou com a epidemia atual no Hemisfério Sul. O número de vítimas é muito afetado pelo nível de vacinação da população, e pela recepção da vacina por diferentes grupos etários. Não conheço nenhuma evidência que indique uma mudança significativa na virulência do A (H1N1).

ZH – Que razões poderiam explicar o fato de o Brasil apresentar circulação significativa do H1N1, enquanto outros tipos de vírus predominam em países próximos como Argentina ou Chile?

Pringle – É difícil explicar por que o Brasil é afetado pelo A (H1N1), enquanto, na outra extremidade do continente, o Chile é afetado pelo A (H3N2). De qualquer maneira, evidências indicam que a atual estirpe do H3N2 parece ser menos suscetível à atual vacina do que o A (H1N1). Então, em populações menos vacinadas, o vírus predominante poderia ser o A (H1N1), enquanto em populações bastante cobertas pela vacina, o A (H3N2) poderia ser o vírus predominante provocando doença.

ZH – Quais as estratégias mais eficientes utilizadas em outros países para combater a gripe A?

Pringle – A melhor estratégia para se proteger do Influenza, independentemente do tipo antigênico (variação do vírus), é vacinação abrangente de todos os grupos de idade, não somente os jovens e os idosos. Mas isso tem sido difícil de alcançar na maioria dos países.

ZH – O Brasil vacinou grupos de risco e oferece o antiviral Tamiflu para casos com suspeita de infecção – embora em muitos casos isso não ocorra nas primeiras 48 horas. Isso é adequado para combater surtos?

Pringle – Pessoalmente, eu penso que remédios antineuramidase (como o Tamiflu), embora úteis no tratamento, não têm qualquer papel para prevenir a disseminação de infecções.



quinta-feira, 2 de agosto de 2012

GRIPE "A" LONGE DOS PAÍSES VIZINHOS


ZERO HORA 30 de julho de 2012 | N° 17146

SURTOS REGIONAIS. H1N1 longe dos países vizinhos. Variações na circulação do vírus nos últimos anos fazem com que países como a Argentina fiquem livres da contaminação

MARCELO GONZATTO 


Depois de varrer o mundo na forma de uma pandemia, hoje o vírus da gripe A se distribui de maneira irregular, provocando surtos localizados como o que atinge o Rio Grande do Sul. Mesmo tendo tomado medidas semelhantes ou até mais brandas do que os gaúchos, países como a Argentina seguem livres da disseminação da doença.

O mais recente boletim informativo sobre a gripe A do Ministério da Saúde, divulgado semana passada, traz um panorama resumido sobre a situação do H1N1 nos dois hemisférios. No Norte, os Estados Unidos apresentaram somente surtos regionalizados, como no Texas. Na maior parte dos EUA e do Canadá, os vírus predominantes foram de outros tipos, como o A (H3N2) ou o Influenza B – que também provocam gripe, mas com variações em relação ao que já provocou 47 mortes no Estado.

Cenário semelhante se encontra na América do Sul. Por razões de circulação natural do vírus, o H1N1 é preponderante em relação a outras variantes da gripe no Paraguai e na Bolívia. No Brasil, sua ação se concentrou em Estados como Rio Grande do Sul e Santa Catarina. Na Argentina e no Chile, até o momento, ele se manteve praticamente fora de ação.

Contaminações são de outro subtipo do vírus

Conforme o Ministério da Saúde argentino, apenas 0,14% das amostras testadas no país deram positivo para o H1N1. A grande maioria das contaminações ocorreu pelo chamado Vírus Sincicial Respiratório (VSR) e por um outro subtipo de Influenza A.

– A circulação do vírus depende do intercâmbio de pessoas contaminadas. Em 2009, a Argentina enfrentou uma epidemia. Agora, começou por aqui, mas a distribuição do vírus é mais localizada.

Eles não fizeram nada diferente de nós: são variações comuns na circulação dos vírus, segundo o epidemiologista Jair Ferreira.

O fato de o país vizinho ter registrado muitas contaminações há três anos pode ter deixado um maior percentual da população imune à doença. Os critérios de vacinação argentino são mais excludentes do que os gaúchos, e a proporção de doses de vacina é inferior à disponibilizada no Estado.


ENTREVISTA. “A melhor arma que temos ainda é a vacinação”. Gregory Hartl, representante da OMS

Porta-voz da Organização Mundial da Saúde (OMS) na sede da entidade, em Genebra, na Suíça, Gregory Hartl acompanha de perto a evolução do vírus Influenza A(H1N1) desde o seu surgimento, em 2009. Hartl, que também é médico, diz que, devido ao custo e à praticidade, a entidade destina doses da vacina preferencialmente a determinados grupos.

Zero Hora – Como o senhor avalia a situação do vírus Influenza A(H1N1) no mundo hoje?

Gregory Hartl – O H1N1 agora circula como um vírus Influenza sazonal. Espera-se que vejamos casos de H1N1 durante a temporada de Influenza.

ZH – Há orientações gerais para vacinação subscritas pela OMS, como qual deve ser o público prioritário ou a proporção de pessoas da população que deveria receber as doses?

Hartl – A OMS recomenda vacinações anuais para, em ordem de prioridade: residentes de casas de assistência para idosos ou pessoas com deficiência, pessoas com doenças crônicas, idosos e outros grupos como mulheres grávidas, profissionais de saúde, aqueles com funções essenciais na sociedade e crianças com idades de seis meses a dois anos.

ZH – Vacinar toda a população não seria a medida ideal para combater o vírus? Algum país faz isso?

Hartl – Nenhum país jamais fez isso. Não tenho como especular se isso ocorrerá algum dia.

ZH – Por que a vacinação abrangente não tem sido uma opção?

Hartl – Pode ser por uma ou mais razões, incluindo o custo da vacina, a dificuldade de chegar a todas as pessoas de um país, pela relação custo-benefício e pela disponibilidade da vacina. Não tenho como dizer quais dessas razões se aplicam. Certamente, a vacina para Influenza pode ser cara, e os recursos de um país, limitados. Contudo, as autoridades de saúde recomendam que somente aqueles com maior risco sejam vacinados. Quando um vírus novo para o qual ninguém tem imunidade aparece, mais pessoas estão em risco. Mas, repetindo, doses de vacina são limitadas, e o custo é alto. Então cada autoridade de saúde precisa equilibrar essas considerações em relação a quanto risco quer correr e que grupos ela entende que estão sob risco suficiente para serem imunizadas.

ZH – No Rio Grande do Sul, boa parte das vítimas do H1N1 eram adultos que não se encaixavam em grupos de risco candidatos à vacinação gratuita, como menores de dois anos ou idosos acima de 60, por exemplo. Isso não deveria alterar os parâmetros para vacinação?

Hartl – O H1N1 tem sido incomum no sentido de que afeta adultos jovens saudáveis. Essa foi uma das razões pelas quais o H1N1 foi tratado de maneira diferente de outros vírus Influenza e porque foi dada tanta atenção a ele quando surgiu, em 2009. Embora os jovens adultos sem problemas de saúde não sejam uma das prioridades de vacinação da OMS, se um jovem adulto quiser se vacinar, deveria.

ZH – É suficiente ter um bom estoque de antiviral e seguir a recomendação de ministrá-lo nas primeiras 48 horas da doença para evitar mortes?

Hartl – As evidências mostram que a administração precoce de Oseltamivir (Tamiflu) pode reduzir significativamente a progressão da gripe para uma doença mais grave e para a morte, mas o Oseltamivir ou outros antivirais não eliminam completamente o risco de morte. A melhor arma que nós temos contra o Influenza é a vacina.

ZH – Qual sua expectativa para o comportamento do Influenza A(H1N1) nos próximos meses?

Hartl – Vai circular como qualquer outro vírus sazonal de Influenza durante o período da gripe.