sábado, 20 de abril de 2013

ROMBO DE R$ 47,8 MILHÕES EM HOSPITAIS FEDERAIS DO RIO


Investigação constata rombo de R$ 47,8 milhões em seis hospitais federais do Rio. Relatório do Ministério da Saúde mostra uma avalanche de obras e serviços com preços superfaturados. Documento relaciona 36 servidores que responderão a processos disciplinares

ROBERTO MALTCHIK 
O GLOBO 20/04/13 - 7h00



Operação policial. Um agente federal no almoxarifado do Hospital do Andaraí: na unidade, auditores contabilizaram perdas de R$ 1,7 milhão. Médicos denunciaram desvio de remédios 


Gabriel de Paiva / Agência O Globo


RIO - Depois de fazer uma devassa ao longo dos últimos dois anos, o Ministério da Saúde rastreou um rombo de R$ 47,8 milhões provocado por contratos irregulares ou mal gerenciados, firmados entre 2005 e 2011, em seis hospitais federais do Rio de Janeiro. Em relatório cujo conteúdo foi obtido pelo GLOBO com exclusividade, o Departamento Nacional de Auditoria do Sistema Único de Saúde (Denasus) relaciona 36 servidores que responderão a processos disciplinares — há indícios de desvios envolvendo funcionários públicos. O documento cita ainda 35 empresas que terão a conduta investigada e poderão até mesmo perder o direito de participar de novas licitações.

O Denasus, em colaboração com a Controladoria Geral da União (CGU), encontrou uma avalanche de obras e serviços com preços superfaturados nos hospitais de Bonsucesso, do Andaraí, de Ipanema, Cardoso Fontes (Jacarepaguá), da Lagoa e dos Servidores do Estado (Saúde). Ao suspender obras, repactuar contratos e renegociar preços de insumos e medicamentos, a União obteve, a partir de 2011, uma economia de R$ 140 milhões. Apenas com as novas licitações para a aquisição de insumos e medicamentos, a Saúde contabiliza um ganho de R$ 104,2 milhões. A renegociação de contratos de serviços continuados, como limpeza e alimentação, poupou R$ 22 milhões aos cofres federais, informou o ministério.

O rombo apurado nos contratos analisados pagaria a construção e a montagem de cerca de dez Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) 24 horas, iguais à instalada em São Gonçalo, em outubro de 2011, com capacidade para atender até 500 pacientes diariamente, que custou R$ 4,6 milhões. A investida para recuperar o dinheiro desviado começa agora, com a abertura de tomadas de contas especiais que chegarão ao Tribunal de Contas da União (TCU). O desfecho dos processos, porém, com a efetiva devolução de dinheiro, pode levar mais de uma década.

O resultado das auditorias foi encaminhado à Polícia Federal e ao Ministério Público Federal, que já têm ações criminais contra os envolvidos e investigam a atuação das mesmas empresas em centros de atendimento de outros estados.

— Os hospitais federais do Rio estavam totalmente desintegrados do sistema hospitalar estadual. Havia uma total desarticulação. Fomos, inclusive, obrigados a comprometer alguns serviços importantes, como a urgência e a emergência no Hospital de Bonsucesso, por causa da suspensão de contratos. A partir de agora, entramos na terceira fase da reestruturação dos federais do Rio, com as ações de ressarcimento e o novo modelo de gestão — afirmou o ministro da Saúde, Alexandre Padilha.

Empresa vai gerir seis hospitais

Ele anunciou que, até o fim do ano, o Ministério da Saúde passará a gestão das seis unidades federais do Rio para a Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares. A empresa já administra os hospitais universitários em todo o país e terá uma subsidiária no estado.

— Da mesma forma que a regulação de leitos, as compras serão unificadas. Isso permite ganhos importantes de escala e de gerenciamento — completa.

Em 2012, os seis hospitais federais do Rio fizeram, em média, 88.920 atendimentos ambulatoriais e 3.086 cirurgias por mês. A maior unidade, o Hospital dos Servidores do Estado, com 958 médicos e quase 29 mil atendimentos mensais, também concentrou o maior prejuízo aos cofres públicos. Lá, os auditores do ministério exigem o ressarcimento de R$ 21,9 milhões, quase metade da sangria apurada em toda a rede.

Na unidade do Andaraí, onde a Polícia Federal fez uma operação na manhã de ontem, os auditores contabilizaram perdas de R$ 1,7 milhão. Em nota, a PF informou que abrirá inquérito para “verificar a procedência de denúncia formal dos médicos” da unidade, sobre irregularidades como desvio de medicamentos, materiais com prazo de vencimento próximo, estocagem em locais inapropriados e demora na aquisição de insumos.

Ao centralizar as compras dos hospitais federais, o ministério tenta fechar a principal porta para a corrupção e o desperdício: a aquisição de produtos e serviços com preço superfaturado. Os contratos de aluguel de equipamentos, por exemplo, tiveram que ser revistos, após a constatação de valores muito altos. Só com a renegociação dos contratos para locação de máquinas de hemodiálise, a Saúde obteve uma redução de preço da ordem de 40%. Em videocirurgias, a economia chega a 15%.

— Essas constatações nos levaram a encaminhar todo o resultado da investigação à Polícia Federal. Precisamos descobrir se o mesmo problema ocorre em outros serviços, em outras unidades — disse Padilha.

Além dos serviços superfaturados, diversas obras nos hospitais foram classificadas como irregulares. Ao todo, 42 contratos foram suspensos, dos quais seis tiveram que ser cancelados. A renegociação dos preços de apenas quatro obras teve impacto de R$ 8,3 milhões. Só em um caso, no Hospital de Ipanema, o novo contrato provocará uma economia de R$ 4 milhões.

sexta-feira, 19 de abril de 2013

SAÚDE É O MAIOR PROBLEMA DO RS, SEGUNDO PESQUISA

ZERO HORA 19 de abril de 2013 | N° 17407

O PIRATINI ESCUTA

Pesquisa indica saúde como maior problema do Estado. Sondagem mostra também que a criação da EGR recebeu a aprovação de 52,2% dos consultados



Os maiores problemas do Rio Grande do Sul, segundo uma pesquisa de opinião encomendada pelo governo Tarso Genro, concentram-se em duas áreas vitais: a saúde, no topo da lista, e a segurança pública. Com 2,4 mil entrevistados em 60 municípios, o levantamento foi obtido com exclusividade pela Rádio Gaúcha, por meio da Lei de Acesso à Informação.

Elaborado pela Foco Opinião e Mercado, de Santa Catarina, o diagnóstico foi concluído em janeiro e integra um pacote de quatro pesquisas adquiridas pelo Piratini, via pregão, ao custo de R$ 400 mil.

Até então, os dados não haviam sido divulgados. Os resultados para duas perguntas – relacionadas ao governo Yeda Crusius e ao jornal Zero Hora – não estavam no relatório encaminhado pela Secretaria de Comunicação por meio da Casa Civil. ZH obteve os resultados em contato com a Foco Opinião e Mercado (leia mais na página 10).

Para 40,6%, a saúde pública lidera o ranking das preocupações, seguida da segurança – ou da falta dela – e da educação. A escassez de médicos e de remédios, as filas nos hospitais e postos e o combate ao tráfico e ao consumo de drogas aparecem em destaque como prioridades para o governo.

O estudo incluiu ainda a fundação da Empresa Gaúcha de Rodovias (EGR). Criada para administrar o novo modelo de pedágios, a autarquia recebeu a aprovação de 52,2% dos consultados. Além disso, 50,3% disseram acreditar que a iniciativa irá melhorar a conservação das estradas.

Se a EGR ganhou o apoio da maioria, o esforço de Tarso para amenizar os efeitos da estiagem de 2012 foi criticado. Para 40,9%, a atuação ficou “abaixo das expectativas do que se espera de um governador diante desses fatos”. Só 6,6% afirmaram que as ações superaram o esperado.

O chefe da Casa Civil, Carlos Pestana, explicou a importância da pesquisa:

– É um instrumento técnico que nos ajuda a compreender melhor como está sendo visto o governo e aquilo que precisa melhorar.

ÁLVARO ANDRADE


Um sinal de alerta sobre a transparência

A transparência do governo Tarso não obteve bons resultados na pesquisa. Apenas 22,3% dos entrevistados perceberam melhorias nesse aspecto e 53,1% concluíram que “não melhorou nem piorou”.

Já 88% declararam ser “importante” ou “muito importante” a prestação de contas por parte do Executivo. Além disso, 61,5% destacaram ter interesse na prestação de contas do governo.

Por coincidência, no mesmo dia em que a pesquisa veio a público, o chefe da Casa Civil, Carlos Pestana, reafirmou a posição de não divulgar os nomes e salários do funcionalismo estadual.

Na quarta-feira, o Tribunal de Justiça (TJ) afirmou que vai liberar, a partir de maio, a lista identificando servidores e magistrados e os respectivos vencimentos.

O anúncio do Judiciário ocorreu após o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) emitir uma nova determinação exigindo o respeito a uma resolução do próprio órgão. A normativa tem como base a Lei de Acesso à Informação. Ontem, a Associação dos Juízes do RS (Ajuris) recorreu ao STF contra a divulgação da lista.

Amparados por uma lei estadual, TJ, Assembleia Legislativa, Ministério Público, Tribunal de Contas do Estado (TCE) e Piratini haviam feito um acordo de não tornar públicos os nomes dos funcionários junto a seus vencimentos.



A DOR TRANSFORMADA EM LUTA

ZERO HORA 19 de abril de 2013 | N° 17407

MORTE DE BEBÊ. Depois de ver o filho de dois dias morrer enquanto esperava vaga em UTI, casal se mobiliza para evitar que o drama se repita


Aos 32 anos, casada e com um filho de 11 anos, Adriana Bender Leste voltou a morar com os pais. Desde domingo, quando o filho de apenas dois dias de vida morreu em um hospital de Campo Bom, à espera de um leito em UTI neonatal, a vendedora não consegue voltar para a própria casa. A dor da mãe, no entanto, está sendo usada como alavanca para encampar uma mobilização.

Chamada de “Passeata pela vida”, a manifestação que ocorre sábado no município do Vale do Sinos tem objetivo de pedir justiça pela morte do filho Bernardo, mas, segundo Adriana, também tem uma causa maior. É um alerta para a falta de leitos em UTIs neonatais no Estado, um problema crônico que atormenta gestantes:

– Queremos abrir os olhos da sociedade e das autoridades. Não podemos esperar para abrir o jornal e ver mais notícias de que bebês morreram por negligência. Nenhuma família merece passar pelo que estamos passando agora.

O filho de Adriana com o marido Jéferson José Leste, 31 anos, que moram em Sapiranga, nasceu às 15h30min da última sexta-feira no Hospital Dr. Lauro Réus, em Campo Bom. A cesariana foi feita pela rede privada.

Medindo 49 centímetros e pesando 3,8 quilos, Bernardo teria nascido saudável mas, por ser “gordinho”, como a mãe relata ter ouvido dos médicos, teve de ser levado à incubadora, a fim de normalizar os batimentos cardíacos.

– Nem peguei ele no colo, só deu tempo de fazer carinho nele e já o levaram, com a promessa de que isso era normal e que sábado de manhã ele já estaria comigo – conta a mãe.

No entanto, o prazo não foi cumprido. Angustiado, Jéferson passou a exigir informações. No fim da tarde de sábado, os pais receberam a notícia de que o bebê estaria com problemas pulmonares e precisaria ser internado em uma UTI neonatal, serviço que o hospital de Campo Bom não oferece.

VANESSA KANNENBERG

quarta-feira, 17 de abril de 2013

UM GRITO DE SOCORRO

ZERO HORA 15 de abril de 2013 | N° 17403 ARTIGOS


Paulo Brossard*



Faz um mês, pouco mais, escrevi artigo cujo título diz quase tudo: “O endividamento das santas casas”; pelos dados conhecidos, essas entidades, da mais alta benemerência, caminhavam para o cemitério e a causa desse desastre humano e social era simples e sabida: o SUS – Serviço Único de Saúde – pagava 65% dos custos dos serviços médicos ou farmacêuticos prestados pelas santas casas e hospitais filantrópicos, de modo que, dia a dia, mês a mês, ano a ano, aquelas instituições acumulavam prejuízos; e não era preciso ser gênio para antever o desfecho inelutável.

Passaram-se 40 dias e dois dos maiores jornais do país estamparam em suas colunas notícia original: no dia seguinte, com exceção do pronto-socorro, as santas casas e os hospitais filantrópicos suspenderiam, por 24 horas, todos os seus serviços para divulgar a todos os segmentos sociais sua real situação, morrendo dia a dia, até que ocorresse o inevitável. Um dos maiores jornais de São Paulo, onde se localiza grande parte dos leitos destinados à faixa humana, 46 mil em um universo de 154 mil, noticiou singelamente, “as mais de 2 mil santas casas e hospitais filantrópicos do país deram ontem um prazo de 60 dias para o governo federal reajustar os valores de tabela de procedimentos do SUS, sob o risco de reduzirem o atendimento ou até mesmo fecharem postos”. Como se vê, não foi uma ameaça, mas um patético grito de socorro!

Mas há um dado que é dramático, 56% das santas casas e dos hospitais filantrópicos se localizam em cidades com até 30 mil habitantes, o que importa dizer que as populações dessas áreas ficarão ao desamparo na medida em que se consuma a calamidade iminente. Outros dados são altamente ilustrativos, como os preços que o SUS paga em relação aos pagos pelos planos de saúde, mas quero fugir dessas comparações e em lugar delas e por todas, repetirei uma só frase: “As santas casas e os hospitais filantrópicos acumulam um déficit de R$ 5 bilhões por ano”. Não há necessidade de dizer mais.

Ainda a propósito do endividamento, o provedor da Santa Casa de São Paulo, a maior do país, com 100% de atendimento pelo SUS, declarou que há cerca de dois anos já havia sinais de colapso com a ameaça de fechar o seu pronto-socorro; a dívida acumulada então era de R$ 120 milhões; hoje, “a dívida já está na casa dos R$ 250 milhões. Não temos mais fôlego!”.

Não tenho mais nada a dizer, a não ser que escrevi o artigo com tristeza. Corrijo, ou melhor, tenho um adendo. A senhora presidente criou mais um ministério e poderá criar mais outro, e estando empenhada em aumentar o número de “partidos” que a apoiam, e já possuía 17 em 30 e tantos, para ganhar mais uns minutos no rádio e na televisão, ela que, vezes por dia, usa esse incomparável meio de comunicação falando sobre tudo, mas, obviamente, a serviço de sua reeleição. Pois tudo isso pode virar em água de barrela, se não for dado um basta, de verdade, no que vem acontecendo no setor da saúde pública, sob uma regência macabra.

*JURISTA, MINISTRO APOSENTADO DO STF

POR QUE FALTAM MÉDICOS NO INTERIOR

ZERO HORA 17 de abril de 2013 | N° 17405 ARTIGOS

Fernando Weber Matos*



Aremuneração por tabela do SUS, com baixos valores – desatualizada há mais de 10 anos –, e a contratualização dos serviços hospitalares com repasses cada vez mais defasados aumentam o prejuízo econômico na área da saúde e provocam uma série encadeada de problemas que atingem o atendimento médico-hospitalar no Rio Grande do Sul.

O desestímulo à abertura de novos hospitais e a degradação dos existentes no Estado, além de equipes de saúde reduzidas em número e com menor habili- tação técnica, são fatores determinantes para diminuir a qualidade da assistência, praticamente inviabilizando o trabalho médico.

Os municípios pequenos desativam leitos, reduzem os exames diagnósticos, equipes de saúde e médicos na tentativa de se viabilizarem economicamente, o que sabemos ser impossível. Ocorre constante falta de medicamentos, materiais, equipamentos e meios de diagnóstico, tornando inviável o atendimento digno e com qualidade da população, o que é um dever constitucional do Estado.

A oferta de serviços nos municípios de menor porte se faz apenas no sentido das doenças de baixa complexidade, sendo transferidos para centros maiores os casos de média complexidade, o que explica a superlotação dos serviços médicos das cidades maiores, em especial de Porto Alegre.

Os médicos, principalmente especialistas, necessitam, para exercer seu trabalho com mais eficácia, de uma boa infraestrutura hospitalar, meios de diagnóstico e equipe auxiliar treinada e com boa qualificação. Infelizmente, a má remuneração desses profissionais provoca demissões e alta rotatividade, o que acaba dificultando o treinamento e aprimoramento de ações para o sucesso de atendimento médico especializado.

Atualmente, os médicos, de modo geral, são contratados de maneira informal, sem vínculo empregatício, sem segurança de manutenção do emprego, e em geral são surpreendidos pelo descumprimento dos acordos verbais, em relação tanto ao trabalho proposto quanto ao salário prometido.

Na verdade, municípios e Estado não promovem concursos públicos e, quando o fazem, apresentam salários risíveis e indignos para a responsabilidade que cerca o trabalho médico, fato agravado pela inexistência de plano de carreira para o profissional médico do sistema público de saúde.

Este contexto piora com a ausência de condições mínimas hospitalares e de equipes de saúde de apoio, meios de diagnóstico e tratamento. Esse conjunto de fatores associados aumenta cada vez mais o desinteresse dos jovens médicos em trabalhar e se fixar no Interior.

*VICE-PRESIDENTE DO CREMERS

sexta-feira, 12 de abril de 2013

HOSPITAIS NA EMERGÊNCIA


ZERO HORA 12 de abril de 2013 | N° 17400


EDITORIAIS


O colapso da rede hospitalar da Capital, que de alguma forma se reproduz, com as particularidades do interior do Estado, na grande maioria das instituições do setor de todo o Rio Grande do Sul, amplifica um alerta que já foi acionado no país. Entidades seculares enfrentam o estrangulamento das suas emergências, e algumas delas decidem tornar pública uma situação que envergonha seus dirigentes e alarma a população, como ocorreu esta semana com a Santa Casa de Misericórdia. Sem condições de receber pacientes, a direção do hospital divulgou uma nota na qual recomenda aos que precisarem de atendimento de urgência que procurem outros prestadores de serviço. É a admissão do desespero em meio ao agravamento da tensão na recepção dos hospitais, sem quaisquer indicativos de solução, pois todas as emergências estão superlotadas.

O diagnóstico do mal que atormenta a Capital e o Interior é conhecido de todos, mesmo que algumas abordagens possam divergir em relação a detalhes das causas da crise. Sabe-se, por exemplo, que Porto Alegre há muito recebe pacientes que poderiam ser tratados em suas cidades, se estas fossem capazes de atender até mesmo a demanda de baixa e média complexidade. As deficiências nos serviços básicos acabam por transferir doentes para a Capital, sobrecarregando não só os hospitais públicos. As dificuldades agravaram-se nas entidades filantrópicas e, ultimamente, contaminaram os hospitais privados gaúchos, desafiados, em apenas meia década, por um aumento de 35% na clientela dos planos de saúde.

Tal quadro faz com que nem mesmo os que se dispõem a pagar pela assistência têm garantia de que serão atendidos no curto prazo por especialistas ou que encontrarão leitos para intervenções de emergência ou para procedimentos seletivos. É evidente, no entanto, que os mais penalizados são os que dependem do SUS, até porque a baixa remuneração – a profissionais e aos serviços hospitalares –, assegurada pelo setor público, obriga as instituições a ampliarem o atendimento à clientela de institutos de previdência e de planos particulares. O cidadão que não consegue pagar por um plano privado e por isso depende exclusivamente do Sistema Único de Saúde é cada vez mais um paciente de segunda categoria.

A proximidade do período de baixas temperaturas faz prever o que espera os gaúchos na porta dos hospitais. Deficiências administrativas e desvios de verbas, inclusive em hospitais públicos universitários, como os recentemente denunciados pelo Tribunal de Contas da União em Estados do Norte e do Centro, não são suficientes para explicar o caos, ou seremos forçados a concluir que poucos sabem gerir a área da saúde no país. O cenário generalizado de desolação nas filas de espera, que se apresenta como o maior drama brasileiro hoje, é consequência do descaso das políticas governamentais. Saúde pública no Brasil continua sendo um tema propício a retóricas, como as difundidas com alarido pelo atual governo federal, mas raramente traduzidas em medidas efetivas.

quinta-feira, 11 de abril de 2013

DOENTIO O PREÇO DO ESTACIONAMENTO EM HOSPITAIS

ZERO HORA 11 de abril de 2013 | N° 17399

PAULO SANT’ANA

Preço exagerado

Quando estava terminando o século passado, escrevi aqui que os dois maiores negócios do mundo no século 21 seriam venda de água e aluguel de estacionamento.

Não deu outra: os donos de estacionamentos em Porto Alegre estão ficando milionários.

*

Ontem, paguei por duas horas de estacionamento no Hospital Moinhos de Vento R$ 18.

Chegou ao ponto em que os hospitais de Porto Alegre estão lucrando mais com seus estacionamentos do que com as cirurgias.

*

Alguém vai ter de pôr cobro às cobranças exageradas por estacionamentos em Porto Alegre. Não discuto que seja um negócio lícito, apenas pediria que certos estacionamentos tivessem a gentileza de cobrar preços que fossem negocial e capitalisticamente aceitáveis.

*

Os diretores de um certo hospital de Porto Alegre ficaram furiosos quando escrevi que eles estavam cobrando no nosocômio taxa de estacionamento até para carro fúnebre, que, como se sabe ronda, os hospitais.

*

Eu gostaria de ser proprietário de um estacionamento aqui na Capital.

É um negócio como outro qualquer, uma atividade comercial digna. Mas, se eu fosse dono, juro-lhes, cobraria por meu serviço taxas bem menores do que algumas extorsivas que estão sendo cobradas na cidade.

A taxa que paguei ontem, de R$ 18, eu cobraria somente R$ 12 e teria grandes lucros. Há gente que cobra em torno de R$ 12 aqui em nossa cidade e prova que é um preço compensador.

*

Mas também me sinto autorizado a me referir sobre isso porque tenho aqui em minha mesa inúmeras manifestações de leitores que se dizem espoliados por alguns estacionamentos. Estou, assim, sendo veículo das queixas deles.

E também me animo a escrever assim porque estacionamento é um negócio de tanta utilidade numa cidade, que adquire até uma certa índole pública, tais as características desse negócio e, em face da inexistência de garagens públicas no nosso meio e da dificuldade terrível que as pessoas têm para estacionar nas ruas.

Eu peço a todos os que negociam nesse ramo que passem a cobrar, os que ainda não o fazem, preços mais humanos e suportáveis.

*

Tenho mais um pedido ao Hospital Moinhos de Vento.

No estacionamento da Rua Ramiro Barcelos, os carros são entregues na saída aos clientes no subsolo 3.

Ali, quase sempre há fila para receber-se o carro, que é buscado lá atrás, longe.

Pois bem, frequentemente há uma demora compreensível para a entrega do carro.

E no local não existe nenhuma cadeira ou banco para as pessoas sentarem.

Pior: em hospital, grande parte dos clientes é de idosos ou de doentes. E eles são obrigados a esperar de pé, na fila, enquanto há fartos lugares para se colocarem assentos.

Sobre isso, tenho certeza de que o Hospital Moinhos de Vento vai me atender.

Seria humano.

SUPERLOTADA, SANTA CASA LANÇA O ALERTA

ZERO HORA 11 de abril de 2013 | N° 17399

CAOS NA SAÚDE. Nem mesmo a emergência para convênios e particulares dá conta da demanda de pacientes


Depois do drama de um pai que perdeu o filho antes de conseguir um leito emergencial em Porto Alegre provocar uma corrente de solidariedade e indignação ao ser contado nas páginas de Zero Hora, um novo sintoma do caos da saúde veio a público, ontem. Com a emergência para convênios e particulares superlotada, a Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre divulgou um comunicado para aconselhar a população adulta a procurar outro serviço nas próximas 48 horas.

Oalerta expõe a extensão de um problema crônico, que vem se agravando nos últimos anos: a falta de capacidade da rede, que já contaminou o setor privado. Ontem à tarde, 31 pacientes ocupavam a emergência adulta para convênios da Santa Casa, que dispõe de 14 leitos. Com a chegada incessante de pacientes, o prazo de espera não raramente passava de quatro, seis, até oito horas. O local foi um dos procurados pelo consultor Vladimir Duarte Dias em busca de atendimento para o filho, Luiz Marcelo, que sofria com um mieloma múltiplo e morreu na madrugada de segunda-feira, depois de tentar vaga pelo IPE em cinco hospitais, mas se assustou ao encontrar uma placa informando que o prazo de espera era de sete horas.

– Já passou do limite. Chegou a um ponto de risco institucional. E o quadro, pelo que a gente ouve, é global – justificou o chefe do serviço de emergência do complexo hospitalar Santa Casa, Leonardo Martins Fernandez.

A multiplicação do número de pacientes com convênio, fruto do crescimento econômico do Brasil nos últimos anos, é um dos fatores que ajudam a explicar a sobrecarga da rede. Entre 2001 e 2011, o registro de beneficiários saltou 92,9% no Rio Grande do Sul, quase o dobro da média nacional do mesmo período, e chegou a mais de 2,5 milhões de pessoas. Na Capital, a quantidade de habitantes com plano de saúde passa de 710 mil pessoas, o que já representa mais da metade da população, de 1,4 milhão. Só que a rede não acompanhou a expansão. Enquanto a clientela de operadoras de saúde no RS cresceu 35% nos últimos cinco anos, as vagas desvinculadas do SUS nos hospitais cresceram apenas 7,5%.

LETÍCIA DUARTE

SOBRECARGA

Ter convênio deixou de ser garantia de acesso rápido a emergências de Porto Alegre. Assim como a Santa Casa, outras instituições encontram-se no limite da capacidade. Confira a situação em dois hospitais privados:

- Moinhos de Vento: 100% dos leitos de emergência lotados ontem à tarde. A capacidade é para 175 pacientes por dia, mas a média de atendimento em abril tem chegado a 220 e 250 pacientes.

– Estamos preocupados porque o inverno não chegou ainda, a tendência é piorar – diz o superintendente executivo do Hospital Moinhos de Vento, Fernando Torelly.

- Mãe de Deus: dos 23 leitos de emergência, 22 estavam ocupados às 16h30min de ontem. Apenas duas das 20 poltronas utilizadas para medicação estavam livres. Segundo o coordenador médico da emergência, Marcelo Fagundes, a média é de 150 atendimentos por dia.

O CALVÁRIO DOS ENFERMOS

ZERO HORA - 11 de abril de 2013 | N° 17399

EDITORIAIS


Tornaram-se cada vez mais frequentes os dramas enfrentados por cidadãos a quem os governos sonegam o direito de acesso aos recursos da saúde pública. É a banalização de um mal que contribui para a morte de pessoas em filas de emergências, de consultas especializadas, de cirurgias ou de uma vaga num hospital. A mais recente tragédia familiar, mostrada ontem por Zero Hora, teve como protagonistas um pai e um filho que percorreram os labirintos da estrutura hospitalar de Porto Alegre, até fracassarem na busca por leito em uma instituição habilitada a aplacar um sofrimento. O filho que morreu sem assistência é mais uma vítima da degradação do Sistema Único de Saúde, provocada por um conjunto de fatores compartilhados por União, Estados e municípios.

Uma tentativa de explicação apressada poderia atribuir aos hospitais a culpa por não terem socorrido o homem que enfrentava uma doença em estágio terminal. Os hospitais, sobrecarregados, são a ponta frágil de um sistema abalado não só por falta de recursos, mas por deficiências de gestão e também por corrupção. O que ocorre no setor é decorrência do descaso que começa com a insuficiente dotação de verbas federais. Na sequência, agregam-se às causas do descaso a não inclusão da saúde entre as reais prioridades de governadores e prefeitos. Falham, em conjunto, todos os entes que, por obrigação prevista pela Constituição, deveriam ser parceiros solidários no suporte de todas as etapas da assistência integral à saúde.

O que se vê, ao contrário, é a transferência de responsabilidades, com o agravamento de um quadro há muito tempo desalentador. O cidadão que morreu no domingo sucumbiu ao calvário a que milhares de brasileiros já se submeteram e que outros tantos terão de enfrentar, enquanto a saúde pública fracassar por incompetência das políticas públicas. Com a demora na implantação das redes de pronto atendimento, os hospitais continuarão superlotados e sem condições de pelo menos assegurar aos segurados um final de vida digno.

quarta-feira, 10 de abril de 2013

O CALVÁRIO E A EXPLICAÇÃO DA SANTA CASA

ZERO HORA 10 de abril de 2013 | N° 17398

PAULO SANT’ANA


Recebo de um setor da Santa Casa de Misericórdia uma explicação sobre a cirurgia que não se realiza nunca num menino paralítico, e a crítica é feita em todas as edições do Teledomingo:

“Caro Paulo Sant’Ana: são 6h e acabei de ler, como faço todas as manhãs, em primeiro lugar, a penúltima página da Zero Hora: ‘O menino paralítico’.

Não vou conseguir trabalhar sem tentar responder em poucas linhas a sua crônica, pois ela atinge profundamente o âmago das nossas vidas: ser médico!

Quem lê a crônica e está alheio aos problemas da saúde desconhece o principal conflito, diário, corriqueiro e terrível do médico no atual sistema: sua impotência diante da incapacidade de atender à imensa demanda.

O menino Cláudio, citado na sua crônica, está sendo avaliado periodicamente e seu caso é eletivo. O tipo de cirurgia que ele necessita – artrodese em cifoescoliose grave –, no Rio Grande do Sul, só é realizado na Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre, pois são necessários no mínimo dois ortopedistas pediátricos altamente treinados e qualificados para fazer esse procedimento de grande risco, pois o paciente pode ficar paraplégico. A cirurgia pode demorar mais de 12 horas e exige uma equipe multidisciplinar especializada: além dos ortopedistas, anestesista pediátrico, cirurgião torácico pediátrico, neurologista pediátrico, neurofisiologista, pediatra, UTI pediátrica especializada, fisioterapia pediátrica etc. É por tais razões que um ortopedista de adultos não pode realizar a cirurgia. Seria o mesmo que um motorista comum pilotar um avião.

Cláudio é o 34º a ser operado na lista da Santa Casa. Na verdade, temos dezenas iguais a ele. Será justo operá-lo em detrimento de outras crianças, em igual ou piores condições?

Essa é uma opção inaceitável. Mas, conforme o senhor escreveu, ‘os responsáveis pelo SUS (governos federal, estadual e municipal) não se sentem responsáveis’.

Por reconhecer o cronista como um dos maiores defensores da saúde dos gaúchos e saber do imenso impacto da sua coluna, envio esta resposta, na qual aponto distorções que merecem ser conhecidas, divulgadas e, o mais importante, corrigidas. Abraços. (ass.) Carlos Roberto Schwartsmann, chefe do Serviço de Ortopedia e Traumatologia da Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre”.

*

Agradeço a resposta, no entanto nela não foi dito quando o garoto infausto será operado.

E prossegue o calvário de uma criança provocado por um arcaico sistema de saúde e pela insensibilidade de todas as esferas de poder.

Enquanto isso, viva a farra dos gastos bilionários para a Copa do Mundo e a Olimpíada!

MEDIDAS AINDA NÃO ALIVIAM EMERGÊNCIAS


ZERO HORA 10 de abril de 2013 | N° 17398

CAOS NA SAÚDE

As medidas apresentadas há quase um ano pelas secretarias da Saúde do Estado e da Capital para desafogar os hospitais estão em fase de implantação, mas ainda não foram capazes de trazer alívio à sobrecarregada rede de atendimento de Porto Alegre. Um levantamento realizado em quatro das principais emergências hospitalares demonstra que elas operavam, em média, com praticamente o dobro da capacidade ontem à tarde.

Nos hospitais de Clínicas, Santa Casa, São Lucas e Conceição havia 270 pacientes internados em locais com condições adequadas para receber 138 pessoas – ou 95,6% acima da quantidade de leitos disponível. A pior situação foi verificada no Clínicas, onde havia 139 doentes ocupando um espaço onde deveria haver apenas 49 usuários do SUS. Em nenhum dos estabelecimentos existiam vagas sobrando ou em número igual à necessidade. Segundo as assessorias de imprensa dos hospitais, essa situação é constante.

Em maio passado, em meio a uma crise nos setores de urgência, os gestores do SUS em Porto Alegre e no Estado elencaram medidas destinadas a desinflar a ocupação nos estabelecimentos. Entre elas, implantação de mais unidades de atendimento, hospitais regionais e criação de novos leitos para o SUS.

Foram implantadas, até o momento, seis Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) de um total de pelo menos 30 previstas (veja quadro). Dos três novos hospitais regionais que devem estar funcionando até o final do ano que vem, apenas o de Santa Maria está em obras. Conforme a Secretaria Estadual da Saúde, os demais estão em fase de projeto ou definição do local onde deverá ser erguido.

É preciso mais investimentos

A assessoria de imprensa da Secretaria Municipal da Saúde de Porto Alegre informa que um terço dos 1.077 leitos a serem entregues até o final do ano foram incorporados ao sistema público de saúde até agora. Na avaliação do presidente do Sindicato Médico do Estado, Paulo de Argollo Mendes, essas iniciativas ainda não foram suficientes para provocar um efeito positivo na rede hospitalar, defende mais investimento nos postos de saúde.

– Precisamos aumentar a resolutividade na rede básica, onde há poucos médicos porque as condições de trabalho são ruins – avalia.

MARCELO GONZATTO



HOSPITAIS SUPERLOTADOS - Situação, ontem, em algumas das emergências adultas na Capital:

São Lucas da PUCRS
13 leitos
24 pacientes
184,6% da capacidade

Conceição
50 leitos
76 pacientes
152% da capacidade

Clínicas
49 leitos
139 pacientes
283,7% da capacidade

Santa Casa
26 leitos
31 pacientes
119,2% da capacidade


A SUPERLOTAÇÃO TIROU O FILHO DA FAMÍLIA

ZERO HORA 10 de abril de 2013 | N° 17398

CAOS NA SAÚDE

 Um muro de dor

LETÍCIA DUARTE

Durante três dias, um pai enfrentou um calvário em busca de atendimento de emergência para o filho. Mas a morte chegou antes do leito, em mais um sintoma da crônica superlotação da rede

Com cinco recibos de ambulância sobre a mesa, empilhados sobre os exames que na quinta-feira passada diagnosticaram um mieloma múltiplo avançado em seu filho de 52 anos, o consultor em investimento e comércio exterior Vladimir Duarte Dias, 80 anos, remói o sentimento de impotência de quem enfrentou o calvário em busca de um leito de emergência na rede de saúde. E perdeu.

Entre quinta e domingo, a família apelou para uma dúzia de médicos conhecidos, telefonou para quatro hospitais credenciados ao IPE, passou cinco horas com o filho em frente ao Hospital de Clínicas. Mas a morte chegou antes do atendimento que buscavam.

A peregrinação, que revela mais um capítulo da crônica superlotação da rede, começou no dia 11 de março. Como Luiz Marcelo Dias andava apático e quase não comia, o pai decidiu buscar ajuda. Embora tomasse medicação contínua para esquizofrenia, o morador do bairro Petrópolis mantinha um quadro estável nos últimos oito anos, o que fez o pai desconfiar de que algo mais estava acontecendo. A primeira tentativa de atendimento foi na Santa Casa. Ao chegar à emergência do Hospital Dom Vicente Scherer, o consultor desanimou ao ver uma placa avisando que o tempo mínimo de espera era de sete horas.

Não havia leito disponível

Para ganhar tempo, optou por interná-lo no Hospital Espírita, em uma ala psiquiátrica. Paralelamente, agendou a realização de exames pelo IPE, o plano de saúde da família, no Hospital da PUCRS. Diante da descoberta de que o filho estava com metástase nos ossos, na coluna e no quadril, com diagnósticos obtidos entre quinta e sexta-feira, se intensificou a busca por atendimento especializado. Como Marcelo estava fraco, gemia de dor e já não comia, a orientação dos médicos do Hospital Espírita era de que precisava ser transferido para uma emergência. Só que não havia leito disponível.

Durante três dias, a família recorreu a todos os caminhos conhecidos para tentar a transferência. Em vão. Nas ligações para Santa Casa, Hospital da PUCRS, Hospital Conceição e Hospital Ernesto Dorneles, ouviram a mesma resposta: todos estavam lotados. Superlotados. No domingo, com o agravamento do caso, o médico plantonista no Hospital Espírita ligou ele mesmo para o Clínicas, que teria concordado em receber o paciente. O pai contratou uma ambulância particular para transportá-lo, testemunhando os gemidos de dor do filho até o destino.

– Nem olharam o meu filho. Disseram que aqueles não eram os papéis adequados, que não tínhamos passado pela regulação do Samu – lamenta.

Depois de cinco horas de espera, sem que os contatos telefônicos resolvessem a situação, o paciente acabou devolvido para o Hospital Espírita. Oito horas mais tarde, o pai recebeu o telefonema com a notícia que tanto temia.

– Ele só voltou para morrer – chora o pai, que enterrou o filho às 17h de segunda-feira.


Pai percebe “estado de guerra”

Formado em ciências políticas e atuariais, com pós-graduação em Desenvolvimento Econômico e Social pela Comissão Econômica para a América Latina da ONU, Vladimir Duarte Dias têm ciência de que a morte do filho era um destino previsível diante da gravidade do câncer descoberto repentinamente.

Mas não se conforma em tê-lo perdido antes mesmo de conseguir um leito.

– Nessas horas não adianta ter conhecimento, recurso. O problema é estrutural.

Dias credita que a situação da saúde pública precisa ser encarada como um cenário de guerra pelas autoridades. Gostaria de ver as Forças Armadas agindo com hospitais:

– Estamos em um estado de guerra, não pode ser tratado de forma convencional.

Autor de livros como Genealogia da Liberdade, também reflete sobre a ganância que teria feito muitos médicos acastelarem-se em “casulos de suas fortalezas de alto padrão e clientes de grande poder econômico e político”. Mas considera que a principal responsabilidade é do poder público, que não tem plano de ação e age tentando tapar furos.

– Não adianta brigar com ninguém no balcão, a responsabilidade pelo que aconteceu está nos palácios, e eles não vão ouvir.

Apesar de tudo, diz que não sente raiva.

– A raiva não ultrapassa um metro. O amor é capaz de dar a volta ao mundo.


CONTRAPONTOS

O QUE DIZ O HOSPITAL DE CLÍNICAS  - A assessoria de imprensa informou que não foi localizado registro da passagem do paciente pela instituição no domingo. O hospital confirma que a emergência costuma superlotar, mas a orientação vigente é internar todo paciente com risco iminente de morrer. Na situação específica de Luiz Dias, seria necessário saber com mais detalhes como o caso foi apresentado na emergência a fim de apurar o que pode ter ocorrido.

O QUE DIZ O HOSPITAL ESPÍRITA - Procurado no final da tarde, o diretor médico da instituição, Pedro Ortiz, informou que não conseguiu acesso ontem às informações do prontuário e da tentativa de transferência do paciente, e só poderia se manifestar hoje.

O QUE DIZEM OS OUTROS HOSPITAIS - Outras instituições que teriam sido procuradas pela família do paciente, a Santa Casa e o São Lucas da PUCRS, afirmam que as emergências costumam lotar, mas os casos graves são atendidos quando chegam ao local.

O QUE DIZ O IPE - A assessoria de comunicação do IPE sustenta que a transferência do paciente deveria ter sido precedida de uma alta hospitalar e de um acerto com o estabelecimento para onde ele seria levado, o que não teria ocorrido. Admitiu que pode haver falta de leito para transferência em determinados períodos, mas que a situação costuma ser temporária.


COMENTÁRIO DO BENGOCHEA - Enquanto isto sobram recursos para a saúde vip e indenizações dos parlamentares. Enquanto o povo pena na fila de postos de saúde e em ambulatórios superlotados, a máquina pública gasta fartamente em privilégios, emendas eleitoreiras, cargos comissionados sem concurso e salários extravagantes para os altos cargos do poder. O pior é ainda ver as pessoas do povo buscarem a solução nas forças armadas como se o Brasil fosse governado por um regime de exceção, descrentes da justiça, do parlamento e do executivo, poderes criados para governar democraticamente e em harmonia para garantir direitos ao seu povo, principalmente o direito de viver.


segunda-feira, 8 de abril de 2013

PROTESTO DOS HOSPITAIS FILANTRÓPICOS PARALISA 5 MIL ATENDIMENTOS

ZERO HORA 08 de abril de 2013 | N° 17396

HOSPITAIS FILANTRÓPICOS

Segundo organizadores, pacientes que teriam procedimentos pelo Sistema Único de Saúde (SUS) no Estado foram comunicados


Pelo menos 5 mil procedimentos deixarão de ser realizados pelo Sistema Único de Saúde (SUS) no Rio Grande do Sul, hoje, devido a um protesto nacional dos hospitais filantrópicos contra a baixa remuneração que o governo federal oferece pelos serviços. Segundo a federação que congrega 245 estabelecimentos desse tipo no Estado, os pacientes afetados pela mobilização foram informados com antecedência sobre a remarcação de consultas, exames e cirurgias. Quem não foi avisado ou precisar de auxílio emergencial deverá ser atendido.

A defasagem na tabela da União para remunerar o trabalho dos filantrópicos – hospitais sem fins lucrativos com pelo menos 60% de vagas destinadas ao SUS – é o principal motivo da paralisação em todo o país. Segundo o presidente da Federação das Santas Casas e Hospitais Beneficentes, Religiosos e Filantrópicos do Estado, Julio Dornelles de Matos, para cada R$ 100 que as instituições gastam para atender pacientes, recebem apenas R$ 65 do Ministério da Saúde.

– Este será um dia de alerta nacional à população e aos gestores do SUS, feito pelos 2,1 mil hospitais filantrópicos do país – sustenta Matos.

As instituições já acumulam uma dívida superior a R$ 11 bilhões com bancos, fornecedores e a própria União pelo atraso no pagamento de tributos. O temor é de que, até o próximo ano, esse rombo chegue perto de R$ 16 bilhões. Os principais problemas se concentram em quatro áreas de baixa e média complexidade que respondem por cerca de 80% dos atendimentos feitos pelo sistema público no país: clínica médica, cirurgia geral, pediatria e ginecologia e obstetrícia.

O secretário-adjunto da Saúde, Elemar Sand, afirma que o governo estadual aumentou os repasses nos últimos anos. O volume destinado aos hospitais era de R$ 61 milhões em 2010, passou para R$ 150 milhões em 2011 e chegou a R$ 283 milhões em 2012.

– Com isso, os filantrópicos recebem o previsto pela tabela do SUS mais 30% acima dela. Mas a tabela está realmente defasada – afirma Sand.

A federação garante que, para evitar transtornos, todo paciente que teve o atendimento adiado foi avisado previamente da nova data. Nos casos em que não foi possível entrar em contato, o compromisso fica mantido para hoje – assim como todos os procedimentos de caráter emergencial.

MARCELO GONZATTO

sexta-feira, 5 de abril de 2013

DOR NO BOLSO



ZERO HORA 05 de abril de 2013 | N° 17393


Limite não segura alta de remédios

Consumidor pode encontrar reajustes acima do teto determinado por fórmula do governo


CAIO CIGANA

Apesar da confirmação, ontem, de que o aumento anual dos remédios será de até 6,31%, na prática os consumidores podem encontrar reajustes bem acima do índice. A possibilidade decorre da fórmula empregada pelo governo. A correção se refere ao valor máximo que pode ser cobrado nas farmácias, normalmente acima dos valores cobrados no varejo.

Para o Instituto de Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec), o fato de os medicamentos serem vendidos por preços em alguns casos bem abaixo do teto, principalmente nas maiores cidades, indica a existência de uma grande margem de lucro nas indústrias farmacêuticas e, ao mesmo tempo, uma metodologia de reajuste equivocada por não refletir a situação verificada nos balcões das farmácias. A situação foi constatada por ZH na quarta-feira. Um medicamento subiu 70%, mas mesmo assim ficou abaixo do teto.

– O preço máximo ao consumidor (PMC) é meramente ilustrativo. Está descolado da realidade – afirma a economista Ione Amorim, do Idec.

O outro lado da moeda, lembra a economista, é que em pequenas cidades, onde a concorrência é menor, o preço acaba tabelado pelo teto. Para o Idec, uma fórmula de reajuste mais justa teria de levar em conta o preço praticado pelo mercado.

A conclusão de que o teto é elevado, entende o Idec, é sustentada pelo resultado de uma pesquisa divulgada ontem pela entidade. O levantamento abrangeu 40 medicamentos – de referência, genéricos e similares – em farmácias da cidade de São Paulo. Com base no mesmo trabalho realizado em 2009, concluiu que 13 tiveram reajuste acima da inflação do período. Ou seja, subiram mais do que deveriam se seguissem à risca a fórmula do governo federal.

Outros 14 diminuíram de valor nas farmácias, indicando a existência de margens de lucro mesmo quando o que é cobrado fica aquém do PMC. Para o Idec, a existência de grande diferença entre os preços reais e o teto abre espaço para reajustes elevados, com forte impacto para os usuários.

Critério adotado também desagrada aos fabricantes

Para o Sindicato da Indústria de Produtos Farmacêuticos no Estado de São Paulo (Sindusfarma), o percentual deveria ser maior. “Mais uma vez, o governo aplicou um discutível cálculo de produtividade que reduz o índice de reajuste e prejudica muitas empresas”, disse a entidade, em nota. De acordo com o Sindusfarma, o setor sofre com pressão de custos com pessoal, insumos e matérias-primas. Alega ainda que a situação vai afetar a saúde financeira das empresas e pode comprometer investimentos e lançamento de produtos inovadores.




PAULO SANT’ANA

Dolo ou culpa

Zero Hora de ontem anunciou que em breve será publicada a portaria do governo federal que reajustará os preços dos medicamentos. E a reportagem explicita que os aumentos nos remédios irão de 2,7%, passando por 4,5%, e subindo até o máximo de 6,31%. No entanto, afirma o nosso jornal que em seu trabalho flagrou aumento de espetaculares 70% no anticoncepcional Ciclo 21. Mas como? Será que não há controle? Há tabelamento e não há controle? Não é nada igual aos combustíveis, mas tem uma certa parecência: o preço da gasolina é liberado, mas os postos combinam entre si o que vão cobrar e todos fixam o mesmo preço, muitas vezes sem sequer um centavo de diferença, o que se constitui entre nós em um vergonhoso e escarrado cartel.

Este nosso Hospital de Pronto Socorro municipal é mesmo o campeão da eficiência. Ontem, acordei-me pela madrugada, às 4h30min, com uma violenta dor no olho direito, que impedia até que eu mexesse a cabeça. Corri de táxi ainda na alta madrugada para o HPS, onde tive um tratamento sacerdotal do oftalmologista Nelson Telichevesky, que constatou que havia subido a pressão do meu globo ocular, medicando-me depois de minuciosos exames. Saí de lá orgulhoso do nosso querido Pronto Socorro.

quinta-feira, 4 de abril de 2013

MEDICAMENTO JÁ ESTÁ MAIS CARO


ZERO HORA 04 de abril de 2013 | N° 17392

Medicamento já está mais caro

Farmácias da Capital se antecipam à publicação de portaria sobre aumento, e consumidores enfrentam falta de produtos



Apesar de ainda não ter sido publicada a portaria que confirmará os percentuais máximos para o reajuste do teto do preço dos remédios, nas farmácias o consumidor já encontra valores maiores em relação aos da semana passada. Ao revisitar ontem duas farmácias da Capital, onde foram pesquisados 13 produtos, Zero Hora constatou que 10 tiveram aumento – enquanto três seguem com problemas de abastecimento, outro tormento para os consumidores.

A tradicional pomada Hipoglós – e somente em uma das lojas – ficou com preço estável. Mas, no caso do anticoncepcional Ciclo 21, a alta chegou a 70%.

A portaria, que segundo o Ministério da Saúde será publicada ainda nesta semana, deve confirmar aumento de até 6,31% para os remédios, sem ultrapassar a inflação de 12 meses até fevereiro conforme o IPCA. A alta nas farmácias da Capital, porém, não significa irregularidade. Como o que é controlado pela Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos (CMED) é o teto dos preços, os remédios poderiam estar sendo vendidos a valores bem inferiores ao máximo permitido e, mesmo com o reajuste no varejo, não extrapolarem o limite.

A demora da CMED em publicar a portaria, após a resolução do dia 8 de março que definiu a fórmula do reajuste, gera divergências. De um lado, entidades como a Associação Brasileira de Atacado Farmacêutico (Abafarma) defendem que o primeiro documento, ao estabelecer os critérios, também autorizou o aumento a partir do dia 30 de março. Segundo a associação, a indústria já está cobrando preços novos. É o mesmo entendimento do Sindicato do Comércio Varejista de Produtos Farmacêuticos no Rio Grande do Sul (Sinprofar).

– As farmácias já podem praticar os preços novos – sustenta o secretário executivo da entidade, Guilherme Leipnitz.

O Ministério da Saúde, no entanto, esclarece: como ainda não foi publicada a portaria confirmando os percentuais, o aumento dos preços – por indústrias e farmácias – não pode exceder 5,85%, percentual de reajuste definido na revisão anual de 2012. Também há a expectativa de que, mesmo com a publicação com atraso, os índices de reajuste sejam retroativos a 30 de março.

Indústrias estariam atrasando entregas para esperar reajuste

Nas farmácias, os gerentes confirmam que os novos pedidos, aos poucos, vêm chegando com preços mais altos. Para o consumidor, outra dor de cabeça é a falta de remédios. Uma das explicações é que as indústrias estariam atrasando a reposição à espera do reajuste.

O problema foi enfrentado ontem pelo consultor em segurança do trabalho Dagoberto Lorenzo, 54 anos. Há seis anos ele compra, duas vezes por mês, o colírio Systane. Lorenzo utiliza o produto de forma contínua, mas ontem teve grande dificuldade em encontrar o medicamento.

– Procurei antes em sete farmácias. Alguma coisa há – estranhou Lorenzo, que teve a sorte de achar o colírio na oitava tentativa.

CAIO CIGANA

Os índices - Quanto deverá ser o aumento

- de até 6,31% para medicamentos com maior concorrência
- de até 4,51% para remédios com concorrência considerada média
- de até 2,7% para produtos com pouca ou nenhuma competição