sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

A FILA DA ORTOPEDIA

ZERO HORA 24 de janeiro de 2014 | N° 17683


EDITORIAIS


A assombrosa constatação de que 14 mil pessoas aguardam por uma consulta ortopédica somente em Porto Alegre, o que, no ritmo atual, exigiria 10 anos para zerar a fila de pacientes, escancara uma falha inaceitável do Sistema Único de Saúde na Capital. E ressuscita episódios que já pareciam relegados ao folclore do sistema público de saúde, como a chamada de pacientes para consultas agendadas anos atrás, caso da professora de piano que solicitou atendimento em 2010 e teve a consulta confirmada para este início de ano.

Ainda assim, para se fazer justiça a um sistema universal que vem se aperfei- çoando a cada dia, é preciso reconhecer que a chamada gestão plena do SUS e o agendamento de consultas pela internet deram mais agilidade às operações. Na maioria das especialidades, a espera é pequena ou inexistente. Porém, enquanto houver demoras de meses ou anos para qualquer paciente, o sistema continuará sendo rotulado de ineficiente.

De acordo com os gestores do Sistema Municipal de Saúde, somente três especialidades entre as 170 atendidas exigem espera de mais de um ano: ortopedia, proctologia e urologia. Pode parecer pouco para quem administra, mas é muito – e inaceitável – para os pacientes que necessitam de atendimento. E pode ser fatal para quem tem algum problema grave.

O SUS está longe de ser o melhor sistema de saúde do mundo, como bravateou certa vez o ex-presidente Lula, mas consegue atender de forma satisfatória um contingente enorme de pessoas. Até por isso, deformações como a fila da ortopedia precisam ser corrigidas com a maior urgência.

quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

ORTOPEDISTAS DENUNCIAM FILAS DE ATÉ CINCO ANOS PARA CIRURGIA



SBOT diz que filas são provocadas pela falta de estrutura

ASPIMED. Data de publicação: Quarta, 26/06/2013, 10:16h.


Internet




A Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia – SBOT denunciou na segunda-feira (24) que em todos os grandes hospitais brasileiros persistem filas de até cinco anos para que um paciente do SUS seja operado para receber uma prótese. "As filas existem não por falta de médicos, mas porque o governo não financia a infraestrutura, não dá condições de trabalho, principalmente na área de urgência e emergência e faltam salas cirúrgicas, ambulatórios, equipamentos para anestesia, aparelhos para exames de imagem, material e financiamento", afirma a entidade.

Ao anunciar total apoio da SBOT ao manifesto “A Saúde Pública e a Vergonha Nacional”, divulgado pelas principais entidades médicas nacionais, o presidente da entidade, Flávio Faloppa, garantiu que “os 10 mil ortopedistas brasileiros são mais que suficientes para atender a toda a população necessitada, eliminar as filas nos hospitais, desde que sejam dadas a eles as mínimas condições necessárias”.

Enquanto essas condições não são garantidas e o governo federal engana a população, dizendo que basta trazer médicos de fora para resolver o problema, “há dezenas de milhares de vítimas de acidentes de trânsito, de motocicleta, principalmente, incapacitados de trabalhar porque não há condições de infraestrutura para promover a cirurgia reparadora”, insiste Faloppa, para quem o mais grave problema do setor é a falta de atendimento decorrente da carência de meios, não de médicos.

Segundo o especialista, o símbolo dessa carência de infraestrutura pode ser visto toda manhã nas estradas por onde trafegam dezenas de ambulâncias vindas das cidades do interior para descarregar os pacientes nos poucos hospitais das capitais que têm infraestrutura, como o equipamento adequado para atender a um politraumatizado ou a um idoso que sofreu uma fratura decorrente da osteoporose.

Flávio Faloppa, que integra os quadros do Hospital São Paulo, pertencente à Unifesp, exemplifica dizendo que no hospital em que trabalha, um dos melhores do Brasil, a fila para colocar uma prótese de quadril, de joelho ou para uma revisão – substituição da prótese após uma década de uso – é de cinco anos. “Mas eu tenho médicos, pós-graduandos, professores, anestesistas e pessoal de enfermagem mais que suficiente para zerar essa fila em pouquíssimo tempo, se houvesse recursos para fazer mais de duas próteses por semana, que é o número que nossa equipe está autorizada a fazer. Temos depoimento de dezenas de ortopedistas, os quais, idealistas, foram trabalhar em cidades pequenas, logo depois de se formarem, e acabaram voltando”, diz ele, “porque o médico é o elo final de uma corrente que precisa preexistir, ou então o profissional se torna inútil”.

EXAME RIGOROSO É ABSOLUTAMENTE NECESSÁRIO

A SBOT lembra também que um médico formado no Brasil só recebe o título de Ortopedista depois de passar pelo TEOT, um exame muito rigoroso, que só na parte teórica tem 200 perguntas e demora quatro horas para ser feito, depois do qual o candidato a ortopedista precisa examinar uma pessoa que faz o papel de paciente na frente de um grupo de professores.

Para Faloppa, a Medicina e em especial a Ortopedia, evolui tão rapidamente que, mesmo os ortopedistas formados no Brasil, onde o curso dura seis anos, depois dos quais fazem dois anos de residência médica, seguindo-se a especialização de pelo menos mais um ano, precisam se submeter à Educação Continuada oferecida pela SBOT, para acompanhar o “estado da arte” na Ortopedia. “E não tem cabimento algum que o Brasil importe como ‘médicos’ pessoas que se formaram nas mesmas Faculdades cubanas das quais dezenas de brasileiros escolhidos por sua filiação partidária vieram recentemente diplomados, mas incapazes de passar num exame para validação dos seus conhecimentos o qual, no ano passado, teve mais de 92% de reprovados”, disse.

Para concluir, o presidente da Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia afirmou que, “como sempre, o Governo acena com uma solução milagrosa, tenta mostrar que basta trazer alguns milhares de médicos do exterior e o problema estará resolvido, porque essa decisão demagógica é muito mais barata e mais visível do que o trabalho necessário e inadiável, de melhorar a infraestrutura de saúde do Brasil”.


Fonte: AMB

14 MIL NA FILA DE ORTOPEDIA

ZERO HORA 23 de janeiro de 2014 | N° 17682


LENTIDÃO NO SUS



Nesta semana, 14.006 pessoas aguardavam por consulta em ortopedia em Porto Alegre. É, de longe, a especialidade médica em que o gargalo por atendimento está mais estreito. E a perspectiva não é das mais animadoras – a estimativa da Secretaria Municipal de Saúde é de que 1.557 pacientes sejam atendidos ao longo de 2014. Ou seja, levaria 10 anos, nesse ritmo, para zerar a fila de pacientes com queixas de problemas nos membros superiores e inferiores e na coluna.

A segunda maior demanda é por proctologista, onde existem 5.942 pessoas na espera. E a terceira é por urologia, com 849.

Por incrível que pareça, os números têm melhorado, assegura a SMS. A situação já foi bem pior, antes da implementação do sistema Aghos, com consultas computadorizadas. Com gestão plena do Sistema Único de Saúde (SUS), Porto Alegre vem diminuindo a fila e o tempo de espera por especialistas. Das 170 especialidades bancadas pelo SUS, apenas 20% têm tempo de espera superior a 30 dias, asseguram autoridades municipais da saúde. E só três especialidades têm espera de mais de um ano: as já citadas ortopedia, proctologia e urologia. Os pedidos mais antigos estão datados de 2011.

Para traumatologia, por exemplo, a SMS garante que o tempo de espera não supera uma semana, já que são casos de suspeita de fratura. É que existem pelo menos dois hospitais que atendem isso em ritmo de urgência (Hospital de Pronto Socorro e Hospital Cristo Redentor). A área de ortopedia pediátrica também está satisfatória, com sete casos apenas superando um mês de espera.

Não existem filas, diz a SMS, para consultar hematologistas, cardiologistas, pneumologistas, infectologistas, otorrinolaringologistas de adultos, gastroenterologistas e oncologistas pediátricos. Fila, no caso, é considerada a espera por mais de 30 dias.

A SMS explica que a maior dificuldade é que poucos especialistas se interessam em atuar para o município. O prefeito José Fortunati se tornou um dos maiores defensores nacionais do programa Mais Médicos após constatar que os especialistas têm recusado salários de R$ 10 mil mensais para jornadas de 40 horas semanais de trabalho. Muitos exigem R$ 20 mil pela jornada. Isso fez com que, em 2013, faltassem 371 médicos nos postos municipais, cerca de 52% do total de vagas previstas.


MAIS CONCORRIDAS
Fonte: Secretaria Municipal de Saúde

Especialidade  - Pacientes
- Ortopedia  - 14.006
- Proctologia -  5.942
- Urologia -  849
- Ortopedia pediátrica -  7
- Hematologia, cardiologia, pneumologia, infectologia, gastroenterologia e otorrinolaringologia - nenhum



QUATRO ANOS A ESPERA DE CONSULTA

ZERO HORA 23 de janeiro de 2014 | N° 17682

HUMBERTO TREZZI

LENTIDÃO NO SUS

Professora da Capital é surpreendida por correspondência informando o agendamento com um ortopedista, solicitado em 2010



Professora de piano e acordeão, Ione Gutierrez, 70 anos, não conseguia atendimento médico e recorreu até a sessões espíritas para aliviar uma dor na coluna. Foi surpreendida, na semana passada, por uma carta na caixa postal. Um documento da Secretaria Municipal de Saúde (SMS) de Porto Alegre a avisava para comparecer às 15h de 20 de janeiro no Hospital Independência. Indignada, Ione não foi e postou no Facebook o motivo de sua ira: solicitara a consulta em 8 de fevereiro de 2010.

– Graças a Deus, estou bem. Seria de chorar se não estivesse. Se fosse questão de vida ou morte, eu teria morrido – desabafa.

Moradora da Vila Floresta, zona norte da Capital, Ione sofre de dores crônicas na coluna, possivelmente derivadas da atividade musical (inclinada sobre o teclado ou com a “cordeona” pendurada a tiracolo). Chegou a fazer cirurgia de hérnia de disco, há duas décadas, mas o problema continuou. Em uma das crises, compareceu ao posto de saúde do Grupo Hospitalar Conceição (GHC) na Rua Conselheiro D’Avila, perto de casa. Foi atendida pela médica da família Miriam Trahtman, que lhe recomendou consultar um especialista.

Ao receber a correspondência da prefeitura, quase caiu para trás. Fotografou a autorização de 2014, juntou a cópia do encaminhamento feito pela médica em 2010 e publicou os dois documentos na rede social.

– Agora confirmei que muitos no Brasil recebem confirmação de consulta após morrerem – constata.

Ione só não reclama em voz mais alta porque as dores não têm aparecido. Graças a uma cirurgia espiritual, acredita ela, adepta dessa crença.

A SMS informa que o pedido para consulta ortopédica feito pela professora deu entrada no sistema informatizado Aghos apenas em 16 de junho de 2012 e reconhece que há congestionamento na espera por essa especialidade. Antes dessa data, não há registro do pedido da paciente.

Já o GHC admite que o pedido de Ione foi feito em 2010 e ressalta que isso foi antes da existência do sistema informatizado. O que funcionava era a discagem telefônica incessante.

– Os funcionários do posto tentaram, durante semanas, marcar a consulta na Central de Consultas administrada pela prefeitura, mas não conseguiram. Acreditamos que, por excesso de demanda, não se conseguia contato – diz o assessor de comunicação social do GHC, Alexandre Costa.

Por falta de atendimento ao telefone ou de médico, Ione esperou quatro anos e desistiu daquele que, ironiza, “é tido como o melhor sistema de saúde do mundo”. Avisou, no posto, que dispensaria a consulta agendada e cogita, agora, pagar para um médico particular se as dores voltarem.

– Isso nem tem explicação. É brincadeira de mau gosto que fazem com a gente – afirma Ione.




terça-feira, 21 de janeiro de 2014

UTI NEONATAL E PEDIÁTRICA FECHAM O ANO COM GRANDE VITÓRIA

UM OÁSIS NO MEIO DO CAOS

FOLHA DO NOROESTE, segunda-feira, 20 de janeiro de 2014 17:14

As unidades foram reformadas para adequar os espaços de acordo com as exigências do Ministério da Saúde.


O ano de 2013 foi de muitas comemorações nas UTI infantis do Hospital Vida & Saúde. O serviço que começou 2012 com a insegurança de garantir os dois atendimentos, em função de nova regulamentação do Ministério da Saúde, acabou o ano com a boa notícia de que a Instituição terá 20 leitos infantis.

Em função disso, as UTIs Neonatal e Pediátrica foram reformadas para adequar os espaços de acordo com as exigências do Ministério. Também ficou garantida a futura ampliação de leitos. Hoje o hospital tem 4 leitos Neonatal e 6 Pediátricos. Assim que a obra da nova UTI for finalizada, será realizada a ampliação para 10 leitos Pediátricos e 10 Neonatal. De acordo com o presidente Anderson Mantei, “Essa foi uma vitória para a região. Esses pacientes de risco podem ter a garantia de que receberão o tratamento adequando no Vida & Saúde, sem precisar se deslocar para outra região.

Além dessa importante conquista, 2013 foi de muitas outras vitórias, com mais de 190 atendimentos. As causas da maioria das internações foram: prematuridade, pneumonias, bronquiolites, icterícia e crise convulsiva. Muitos dos prematuros têm pneumonias e permanecem longo período de internação, com isso cria-se um vínculo da equipe com os familiares. Os meses com mais internações foram julho e dezembro, com cerca de 19. De acordo com a Enfermeira responsável, Patrícia Frizzo, “Foi um ano positivo, pois a equipe aumentou devido as mudanças nos leitos. Conseguimos desenvolver nosso trabalho com qualidade salvando muitas vidas. Ocorreram melhorias no setor trazendo benefícios para pacientes, equipe, familiares e para a região de abrangência, já que o hospital é referência para a região. Também ficamos muito felizes com a ida do Daniel para casa para continuar o tratamento ao lado da família e ter uma qualidade de vida melhor”.

Outra novidade de 2013 que proporcionou muitos benefícios no tratamento, e repercutiu entre os familiares, foi a implantação das redes para os prematuros. Os recém-nascidos que não necessitam de oxigênio, e que estão com quadro estável, são colocados em redes dentro das incubadoras, melhorando a qualidade do sono, acalmando a criança e auxiliando no desenvolvimento dos nenês. O método permite ainda que as crianças deixem o hospital mais rapidamente.






quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

RS LIDERA ESTATÍSTICAS DE SUICÍDIO NO PAÍS


FOLHA.COM, 15/01/2014 11h39


FELIPE BÄCHTOLD
ENVIADO ESPECIAL A VENÂNCIO AIRES (RS)15/01/2014 11h39


Mais opções



Estado entre os melhores do país em indicadores sociais, o Rio Grande do Sul lidera estatísticas em uma área que preocupa governos e intriga pesquisadores: o de recordista em taxas de suicídio.

Órgãos de saúde do Estado tentam quebrar o silêncio sobre um tema sempre delicado e ampliar o atendimento a pacientes que consideram em situação de risco. Os gaúchos têm índices que atingem o dobro da média nacional.

Entre 2007 e 2010, o Estado teve 10,2 mortes por suicídio a cada 100 mil habitantes – valor próximo ao de países europeus como Suécia e Noruega, que já foram conhecidos por índices elevados desse tipo de morte.

Dados do Ministério da Saúde tabulados pela Folha com cidades brasileiras acima de 50 mil habitantes apontou que, no período de 2007 e 2011, estão no Rio Grande do Sul 9 das 20 cidades que proporcionalmente tiveram mais casos.

O epicentro do fenômeno no Estado está no vale do Rio Pardo, região conhecida como um polo mundial da produção de fumo.

Um dos municípios mais ricos do Estado, Venâncio Aires teve 79 casos em cinco anos (o equivalente a 23,1 casos para cada 100 mil habitantes).

Na cidade de 69 mil habitantes a 127 km de Porto Alegre, o tema é um tabu. A explicação comum é a forte influência da cultura alemã e seus padrões de auto exigência.

Cerca de 10% dos leitos do principal hospital local são destinados à psiquiatria. Nos últimos anos, a prefeitura começou a investir em um programa de prevenção baseado em internações e grupos de ajuda.

O delegado Felipe Cano diz que os casos na localidade são tão numerosos que não é possível traçar um perfil dos mortos: há de pobres a ricos, jovens e idosos, moradores do centro e da área rural.

"Todo mundo sabe de uma história com um vizinho, um conhecido. E é uma coisa que não se divulga justamente para não fomentar", afirma.

Enquanto a cidade possui taxas de criminalidade baixas, na delegacia há centenas de fotos de investigações de suicídios, que precisam ser apurados até que a hipótese de crime seja descartada.

A enfermeira Cristina Teles, que atua na prevenção no município, diz que uma possível causa é um efeito de repetição. "A pessoa pensa: `meu pai fez isso, meu avô fez isso'. Em um momento de crise, cogita também fazer."

FUMO

Nos anos 90, uma pesquisa da Universidade Federal do Rio Grande do Sul levantou uma hipótese que associa a alta dos suicídios ao uso de agrotóxicos chamados organofosforados nas plantações de fumo. O trabalho apontava a possibilidade de o produto gerar efeitos comportamentais no agricultor.

O debate sobre o assunto fez com que até um projeto de lei fosse encaminhado no Congresso banindo o uso esses produtos. A proposta segue parada desde 2011.

A Associação dos Fumicultores, porém, rechaça essa relação e diz que hoje o composto é pouco usado. Uma pesquisa da Unicamp e de uma universidade local sobre o tema apontou que não havia relação entre as mortes e o uso do material na lavoura.

QUESTÃO DE HONRA

O psiquiatra Ricardo Nogueira, que estudou em mestrado as taxas de suicídio no Rio Grande do Sul, vê "múltiplos fatores" no fenômeno e cita a questão da "honra" na tradição gaúcha como uma das causas.

"Vejo uma coisa em comum entre gaúchos e japoneses. É a questão da dignidade, de não poder ser traído, de não levar desaforo."

Até a influência do Uruguai, onde os índices são muito superiores aos do Brasil, foi posta como hipótese.

O doutor em ciências médicas pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul Jair Segal cita a predominância na região de pequenas propriedades familiares, frequentemente afetadas por dívidas ou perdas com o clima.

"Há quem veja a morte como uma saída pela vergonha de perder a propriedade."

quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

DESINTERESSE POR VAGAS DE MÉDICO

ZERO HORA 09 de janeiro de 2014 | N° 17668


PÁGINA 10 | ROSANE DE OLIVEIRA


A lista preliminar dos candidatos do concurso da Secretaria Estadual da Saúde mostra o pouco interesse dos médicos pelas vagas oferecidas, na comparação com outras profissões. Ao todo, são 202 vagas para 26 especialidades médicas, com 1,2 mil concorrentes. A densidade média é de seis candidatos por vaga.

Para as especialidades de epidemiologia e médico sanitarista, há mais vagas do que candidatos. Nos demais cargos, há alguma concorrência, mas ela é menor do que nas demais posições. No concurso para três vagas de jornalista, por exemplo, 483 pessoas se inscreveram.

Veja a densidade calculada a partir das informações do site da Fundatec:

Jornalista: 161 candidatos/vaga

Psicólogo: 99 candidatos/vaga

Assessor jurídico: 86 candidatos/vaga

Biólogo: 76 candidatos/vaga

Enfermeiro: 51 candidatos/vaga

Arquiteto: 34 candidatos/vaga

Médico: 6 candidatos/vaga

O salário inicial para cargos de nível superior é de R$ 3,1 mil para um regime de 30 horas de trabalho semanais. Se o profissional optar por trabalhar 40 horas, o salário dobra em um ano e seis meses.

UPAS, UM PRESENTE GREGO

ZERO HORA 09 de janeiro de 2014 | N° 17668

ARTIGOS

 POR FERNANDO WEBER MATOS


No segundo mandato do presidente Lula, o Brasil foi informado, com a devida fanfarra, de que o problema da superlotação das emergências dos hospitais estava acabando. O governo federal lançava em todo o país a pouco mais de um ano da eleição um programa de atendimento de urgência e emergência em locais estratégicos das cidades brasileiras, construindo as chamadas Unidades de Pronto Atendimento, conhecidas como UPAs.

Como sempre, a propaganda nos meios de comunicação foi intensa, alardeando que em poucos meses o sistema estaria funcionando a pleno. Nesse programa, o governo exigia dos municípios um terreno, e se comprometia a pagar os custos da construção, cedendo também ambulância para transporte dos pacientes que precisassem de atendimento mais complexo.

Os equipamentos para as UPAs e a ambulância, funcionários de todos os níveis, médicos, equipe de enfermagem, assistente social, segurança, motoristas, medicamentos e manutenção da estrutura teriam um aporte de verbas para auxiliar as prefeituras. Como sempre: teoricamente, um programa perfeito.

Os gestores municipais, mal-informados, logo trataram de anunciar adesão ao projeto, surgindo manifestações em todas as cidades no sentido de que os problemas do atendimento nas urgências estavam com os dias contados. Programa eleitoralmente correto, os frutos políticos foram colhidos por todos que a ele anunciaram adesão, em especial por quem o lançou. Passados seis anos, porém, o projeto das UPAs revelou-se, na prática, um desastre.

Com as UPAs sendo entregues, surgiram os verdadeiros custos do empreendimento. Valores impraticáveis, impossíveis de serem bancados pelos cofres dos municípios. Ao governo federal caberiam 50% dos custos, ficando 25% para os Estados e 25% para os municípios. Tudo justo e perfeito, não fosse por um pequeno, sutil e ardiloso detalhe: as verbas de auxílio dos governos federal e esta- duais foram calculadas em 2007. Montante que permanece congelado até hoje.

Os gestores municipais somente agora começaram a se dar conta desse fato. Reproduzo a manifestação do secretário da Saúde de um município do interior do RS: “Na lei, o modelo é uma maravilha, mas na prática acaba sobrando tudo para os municípios”.

Infelizmente, tenho que concordar com as queixas dos municípios que aderiram ao projeto, porque a realidade é que eles receberam, de fato, um presente grego.

*Presidente do Cremers