domingo, 30 de março de 2014

FALTA MUITA COISA NO SUS


O ESTADO DE S.PAULO 30 de março de 2014 | 2h 05

OPINIÃO



Faltam leitos, faltam profissionais de saúde, faltam medicamentos e insumos hospitalares, faltam equipamentos - e, quando há, podem estar obsoletos ou sem manutenção -, a estrutura física muitas vezes é inadequada e os recursos de tecnologia de informação são insuficientes. Estes são alguns dos "problemas graves, complexos e recorrentes" detectados por uma auditoria inédita do Tribunal de Contas da União (TCU) sobre a assistência hospitalar no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS). Os brasileiros que precisaram recorrer aos serviços do SUS conhecem alguns desses problemas, mas o levantamento feito por auditores do TCU mostra com precisão numérica a real situação desses hospitais.

Em 2013, ano em que foi feito o levantamento, existiam 5.208 hospitais gerais e 417 prontos-socorros gerais ligados ao SUS. A pesquisa abrangeu 116 unidades (2% do total), distribuídas por todos os Estados e pelo Distrito Federal. Como a pesquisa foi concentrada nos hospitais maiores, o número de leitos da amostra (27.614) corresponde a 8,6% do total disponível no SUS (321.340 leitos).

A redução do número de leitos por habitante vem ocorrendo em boa parte do mundo. Esse fenômeno está sendo registrado também no SUS. Mas, ao contrário do que ocorre nos países industrializados, onde a redução não resulta em piora do atendimento da população, aqui ela torna piores os índices que já eram ruins.

Em 1995, o Brasil tinha, em média, 3,22 leitos hospitalares por 1.000 habitantes, mas em 2010 o índice tinha caído para 2,63. Também o índice médio dos países da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) vem caindo (de 5,4 em 2000 para 4,6 em 2010). Na OCDE, porém, a redução se deveu em parte ao avanço da tecnologia, que permitiu o aumento do número de procedimentos que não necessitam de internação.

A consequência mais óbvia da redução do número de leitos no Brasil é a superlotação de boa parte dos hospitais, especialmente do setor de emergências. Dirigentes de 64% dos hospitais avaliados pelo TCU informaram que há superlotação nas emergências. Pacientes atendidos ou internados em corredores, em macas, em cadeiras e em bancos não são cenas raras nesses hospitais.

A falta de articulação entre os programas públicos de saúde e a provável ineficácia de alguns deles acabam empurrando mais pacientes para a área de emergência, tornando mais grave o problema da superlotação. Com dificuldade de acesso aos serviços de atenção básica, que não cobrem todo o País, parte da população procura os serviços de emergência. Dirigentes de 58% dos hospitais informaram que mais da metade dos pacientes atendidos na emergência apresenta problemas de baixa gravidade ou urgência.

Mais da metade dos estabelecimentos apresentou, em 2012, taxas de ocupação superiores a 85%, fato que se repetiu no primeiro semestre do ano passado. É um índice superior ao considerado desejável pelo Ministério da Saúde (de 80% a 85%), o que pode indicar superlotação. Das 116 instituições fiscalizadas, 94 (ou mais de 80%) não tinham o quadro profissional completo. A falta de pessoal resulta na não realização de procedimentos necessários, ou sua realização em padrões inferiores, e até no bloqueio de leitos, que já são escassos.

A falta de medicamentos e insumos foi apontada como problema por 25 hospitais avaliados. Mas não é improvável, segundo os auditores do TCU, que outros hospitais venham utilizando medidas paliativas, como a substituição de materiais por outros menos adequados para determinados procedimentos ou tratamentos.

Quanto a equipamentos, 89 hospitais careciam de algum aparelho. Por falta de equipamentos mínimos para seu funcionamento, 251 leitos estavam bloqueados. Quanto à estrutura física, 85 hospitais disseram que é inadequada, por causa do mau estado de conservação, projeto arquitetônico ruim ou defasado e utilização de imóvel projetado para outras finalidades. Em plena era do computador, 11% dos hospitais visitados disseram não possuir sistema informatizado.

sexta-feira, 28 de março de 2014

SAÚDE PÚBLICA DO PAÍS SOFRE DE MÁ GESTÃO


Paciente aguarda com a família atendimento no hospital de Base de Brasília
Foto: Givaldo Barbosa / Arquivo Globo - 01/07/2011

Saúde pública do país sofre de má gestão. Auditoria do TCU em hospitais é um roteiro eficaz para se estudar com as lentes da realidade, e não da ideologia, as causas da crônica crise no setor


EDITORIAL
O GLOBO 28/03/14 - 0h00


Tão feia e preocupante quanto o crônico caos na saúde pública do país é a radiografia do sistema feita pelo Tribunal de Contas da União (TCU), a partir de uma auditoria em 116 hospitais gerais e prontos-socorros nos estados e no Distrito Federal. Divulgado no GLOBO de ontem, o levantamento é uma chave essencial para ajudar a entender as razões que levam os brasileiros a penar em corredores, ambulatórios e enfermarias do Sistema Único de Saúde (SUS). Num quadro em que se misturam mau atendimento, déficit de profissionais, desleixo e leniência, revela-se uma realidade inquestionável: talvez mais do que a falta de verbas, alegação sempre presente quando se trata de “justificar” a ineficiência da rede oficial, a estrutura sofre do mal generalizado de gestão inepta.

O diagnóstico do TCU se baseia em exemplos absurdos, que revelam nítidos problemas de administração — como a destinação inadequada de equipamentos. Há casos como o de um hospital do Rio em que aparelhos de ultrassonografia permaneciam encaixotados, portanto sem uso, na ocasião da visita dos auditores do TCU; ou de uma máquina de endoscopia inativa porque a unidade hospitalar (em Mato Grosso do Sul) não dispunha de uma sala onde a pudesse instalar; ou ainda (em Mato Grosso) o de um aparelho também inoperante à espera da ampliação da rede de energia e, no Maranhão, de dois hospitais que receberam equipamentos sem necessidade.

São evidências gritantes de inaptidão gerencial, que se juntam a demandas crônicas — algumas até ditadas por problemas de verbas, principalmente por sua má aplicação — como déficit de pessoal (em 81% dos hospitais), redução acentuada do número de leitos oferecidos pelos SUS (somente na gestão da presidente Dilma Rousseff, em torno de 3,2%). É bem verdade que, neste quesito, o fenômeno não está circunscrito ao Brasil, mas o fato é que, em comparação com nações europeias, é desabonador o perfil do país, à frente apenas da Turquia na relação leitos/população. Há outros dados igualmente preocupantes, como superlotação das emergências em 64% das unidades e a anômala situação de haver uma concentração de leitos de UTI fora do SUS, num país em que a maioria da população é usuária do sistema público.

O levantamento é eficaz roteiro para que sejam estudadas as mazelas do SUS com as lentes da realidade de uma rede pública em sua maioria ineficiente, desmontando a ideia de que mais verba seria uma panaceia, quando o que se tem é uma falência múltipla de gerenciamento. Governos, principalmente os que se alinham com Brasília, rebarbam a opção por gestões baseadas em metas, em vez de ideologia, e com cobrança de produtividade. Caso, por exemplo, da administração de hospitais por organizações sociais — experiência que se mostrou acertada onde foi implantada. A auditoria do TCU ajuda a dar a medida do custo social dessa insensibilidade.

quinta-feira, 27 de março de 2014

SAÚDE, UM DIREITO SOCIAL CARO E PRECÁRIO



 


ZERO HORA 27 de março de 2014 | N° 17745

NO SEU BOLSO

Remédio sobe até 5,68% na segunda

Governo federal autoriza aumento no preço de cerca de 9 mil medicamentos em todo o país



Preços de cerca de 9 mil medicamentos estão autorizados a subir a partir da próxima segunda-feira até 5,68%. Em média, o reajuste permitido aos fabricantes será de 3,35%.

O aumento foi definido pela Câmara de Regulação do Mercado de Medicamento. O percentual é um teto. O ajuste pode alterar o preço máximo de fábrica, mas não impacta diretamente no valor pago pelo consumidor, uma vez que muitas empresas adotam descontos na comercialização dos produtos em razão da concorrência.

Os reajustes são autorizados em três níveis, conforme o perfil de concorrência dos produtos. Na primeira faixa, com maior participação de genéricos, o aumento poderá chegar a 5,68%. Na segunda, até 3,35%, e na terceira, 1,02%.


terça-feira, 25 de março de 2014

SAUDÁVEL REVISÃO DO IPE







ZERO HORA 25 de março de 2014 | N° 17743


EDITORIAIS

SAUDÁVEL REVISÃO


Depois de conhecer o relatório do Tribunal de Contas do Estado sobre a péssima situação financeira do IPE-Saúde e sobre indícios de irregularidades na instituição, o deputado Paulo Odone resolveu voltar atrás no seu projeto de estender os benefícios do plano estatal para familiares de servidores. É uma exemplar correção de rumo. Diante dos problemas apontados pela inspeção extraordinária do TCE, o parlamentar abandona uma iniciativa claramente populista e alinha-se aos inte-resses maiores da sociedade, que são a apuração imediata das deformações e a construção de um modelo viável e justo de atendimento dos servidores.

Felizmente, o governo anuncia que seguirá o mesmo caminho. O projeto do Executivo havia sido formulado para atenuar os efeitos da proposta do parlamentar e também tinha como propósito fazer média com os servidores, empurrando o problema para regulamentação futura, condicionada a cálculos atuariais. Estes, sim, precisam ser realizados, com urgência, para que o sistema de saúde volte a ser sustentável. Urgente, também, é a apuração dos absurdos constatados na inspeção do TCE, entre os quais o registro de atendimento de pessoas mortas, o caso do médico que fez quase 200 consultas num só dia e também os milhares de segurados com o mesmo e fictício RG. São evidências de descontrole administrativo que explicam a situação falimentar do IPE-Saúde e que precisam ser corrigidas antes que seja tarde.

O momento é propício a uma tomada de decisão, para que todo o sistema de Previdência do Estado, e não só a assistência médica e hospitalar, seja enfrentado com determinação pelo governo, pela Assembleia e pelos servidores. Há um desequilíbrio estrutural na área previdenciária do Estado, que sucessivos governos, parlamentares e inclusive o Judiciário se negam a enfrentar. É lamentável que até agora o temor com desgastes políticos – manifestado especialmente pelos parlamentares estaduais – seja mais forte do que a obrigação de buscar soluções.

sábado, 22 de março de 2014

MEDICINA DE MÃOS DADAS COM O DR. GOOGLE



Busca por conhecimento de saúde na internet modificou maneira como médicos e pacientes se relacionam, mas é preciso saber como procurar

MARIA CLARA SERRA
O GLOBO
Publicado:22/03/14 - 14h00


Casa do Saber O GLOBO. A médica Beatriz Vicent (esquerda) ao lado da editora Ana Lucia Azevedo, do coordenador Claudio Domênico e da especialista na internet Rizzoleta Miranda Mônica Imbuzeiro


RIO - Em apenas um dia, são três bilhões de buscas e 20 bilhões de páginas analisadas, além de 60 trilhões de endereços vasculhados na internet a cada palavra colocada no buscador. A avalanche de impressionantes números do Google atingiu a medicina em cheio. Pesquisa recente do Grupo de Experiências em Saúde do departamento Nuffield, da Universidade de Oxford, na Inglaterra, sugere que as pessoas hoje compreendem e se relacionam com a saúde de uma maneira totalmente diferente, tudo por causa da internet.

A utilização do “Dr. Google“ em grande escala é percebida mundialmente e foi o tema do primeiro Encontros O GLOBO Saúde e Bem-Estar do ano. Sob a mediação da editora de O GLOBO Ana Lucia Azevedo, a médica e doutora em Saúde Pública pela Ensp-Fiocruz Beatriz Vincent e a diretor da agência FSB Digital, Rizzoleta Miranda, debateram as melhores maneiras de usar a web como fonte de conhecimento de qualidade.

- A boa informação é a melhor forma de prevenir e tratar doenças - ressaltou o cardiologista Claudio Domênico, coordenador da séria de debates que acontece uma vez ao mês na Casa do Saber O GLOBO. - Nova pesquisa do Ibope (publicada este mês) mostrou que o brasileiro passa mais tempo na internet do que vendo televisão ou ouvindo rádio. E gasta grande parte deste tempo procurando por temas relacionados com a saúde. Por isso, o médico tem que saber como lidar com o assunto, para não acabar quebrando a relação com o paciente.

De acordo com o estudo de Oxford, ao facilitar a divulgação do conhecimento, a internet pode ajudar a minimizar as desigualdades na saúde. Mas não somente de coisas boas vive a relação do homem com a web. Divulgada em meados de 2013, pesquisa liderada por Natália Monerat, do Grupo de Estudo em Tecnologia e Informação em Comunicação Médica (Geticmed), do Centro Universitário de Volta Redonda, analisou 1.152 endereços de sites e vídeos postados no YouTube relacionados a problemas cardiovasculares. Ela constatou que apenas 4,3% tinham informações corretas.

- É preciso bom senso. É interessante e bom para todo mundo que o paciente chegue ao consultório médico com questões para o especialista. E a internet fez bem à medicina no momento em que obrigou os profissionais de saúde a se atualizarem, pois hoje podem ser questionados pelo paciente - defendeu Beatriz. - Mas a gente não pode ficar em dúvida e decidir sozinho. Temos que procurar um especialista e acreditar nele para que ele possa nos ajudar.

A internet é veloz, assim como a medicina. Por isso, alertou Beatriz, na hora da busca é preciso procurar, principalmente, por um conteúdo atualizado.

- Um caso clássico aconteceu comigo - contou a médica. - Fiquei grávida e ganhei um desses livros para mães de primeira viagem, que na época era um best-seller. Mas lá ensinava a colocar o bebê para dormir de uma maneira perigosa, que já havia sido relacionada com o mal súbito. A informação era antiga, mas ainda pode estar circulando na internet, além dos exemplares vendidos no mundo. O conhecimento da saúde é provisório, contestável, por isso é preciso saber como se informar.

Fontes devem ser confiáveis

Algumas dicas podem ajudar nessa hora: use a busca avançada do Google para encontrar um conteúdo mais específico; verifique se o site tem o contato de algum responsável; cheque se há alguma instituição ou patrocinador financiando a página; veja se há data de publicação e prefira informações recentes; e opte por aqueles endereços mais confiáveis, como instituições de pesquisa conhecidas e órgãos federais.

- O Google é um vírus que contaminou o mundo todo - brincou Rizzoleta. - Ele possui um código genético que nos interessa muito, e tentamos o tempo todo decifrá-lo. Para chegar mais perto do objetivo, é preciso saber como os buscadores funcionam. O que aparece nas primeiras páginas, por exemplo, são links patrocinados ou os conteúdos mais lidos, que não necessariamente possuem a informação mais responsável.

Apesar de o Google mudar seu algoritmo de busca duas vezes ao dia, na tentativa de encontrar o melhor conteúdo nos 60 trilhões de endereços, a melhor maneira de se informar é utilizando a combinação entre internet e medicina.

- A minha dica principal para o paciente é nunca parar de buscar informação, mas conferir a fonte e não deixar de conversar com o médico. Já para os profissionais de saúde, acho importante que eles se incluam no mundo virtual e procurem publicar conteúdo relevante na internet - disse Rizzoleta.


COMENTÁRIO DO BENGOCHEA - Diante da dificuldade em acessar a saúde pública, da morosidade e do custo que isto envolve, os pacientes buscam alternativas mais rápidas, apesar de menos confiáveis. Até o mercado negro dos remédios é favorecido. 

sábado, 15 de março de 2014

SAÚDE FRAUDADA DE NOVO E RESISTENTE A PUNIÇÕES



ZERO HORA 15 de março de 2014 | N° 17733

CAIO CIGANA E FERNANDA DA COSTA


REPORTAGEM ESPECIAL. Fraude resistente a punições


Na quarta etapa da Operação Leite Compen$ado, um empresário foi preso suspeito de adicionar formol ao leite e 15 caminhões foram apreendidos ontem. Cerca de 300 mil litros do produto com problemas teriam sido enviados para São Paulo e Paraná. Depois de 10 meses da ofensiva, já são 20 prisões, com penas somadas de 60 anos. No entanto, a fraude continua, admite o promotor Mauro Rockenbach

A descoberta de mais um grupo que usava produtos químicos para adulterar leite no Estado leva a uma conclusão perturbadora: mesmo após série de detenções nas três operações anteriores do Ministério Público Estadual (MPE), a condenação de seis envolvidos a penas de até 18 anos e seis meses de prisão, fraudadores seguem agindo.

– A fraude prossegue. É desanimador, é preocupante, mas eu não posso enganar o consumidor. Temos outros casos sendo investigados – admite o promotor Mauro Rockenbach, à frente da Operação Leite Compen$ado desde 2013.

Ontem, foram cumpridos mandados de busca e apreensão nos seguintes municípios: Condor, Bossoroca, Vitória das Missões, Tupanciretã, Panambi, Santo Augusto, Capão do Cipó e Ijuí. Odir Pedro Zamadei, dono da Laticínio O Rei do Sul, em Condor, foi preso preventivamente, acusado de receber leite adulterado, armazenar o produto e distribuí-lo.

– Sou inocente. Eu nunca adulterei leite – afirmou.

Na operação, 600 quilos de soda cáustica foram apreendidos na empresa. Zamadei, que já responde por um caso de adulteração de leite, segundo o MPE, disse que usava o produto para limpar os caminhões. Também foram apreendidos 15 caminhões e documentos em duas cooperativas, quatro empresas e duas residências.

Além disso, cerca de 300 mil litros com problemas teriam sido remetidos para São Paulo e Paraná pela empresa LBR. O recolhimento do produto ainda está em curso, segundo o Ministério da Agricultura.

Para Rockenbach, a persistência da fraude é resultado de uma série de fatores. Primeiro, a ganância de quem coloca o lucro criminoso acima do risco de ser pego e ignora o efeito pedagógico das prisões anteriores. Depois, a falta de legislação mais rigorosa sobre os elos da cadeia, principalmente o transportador, figura recorrente nas adulterações. Por último, fiscalização insuficiente para o tamanho do desafio.

Por corte de recursos no ministério para combustível e diárias, só metade das denúncias de irregularidades são averiguadas, revela João Becker, delegado sindical da Associação Nacional dos Fiscais Agropecuários no Estado. Questionado, o ministério respondeu apenas que “a destinação de recursos para a fiscalização é uma prioridade da pasta” e que todos os Estados receberam integralmente os recursos solicitados.

Fiscalização limitada

Para o secretário estadual da Agricultura, Luiz Fernando Mainardi, a melhor fórmula para evitar a fraude é banir a figura do transportador que compra o leite do produtor e revende à indústria. Mas o programa de coleta a granel que elimina a figura do atravessador ainda não foi implementado e é pouco abrangente – limitado a unidades sob inspeção estadual.

Depois de o leite com formol ter sido entregue à unidade da LBR em Tapejara, no norte do Estado, a empresa remeteu o produto para ser industrializado em Guaratinguetá (SP) e Lobato (PR). O leite adulterado enviado para São Paulo, 100 mil litros, foi embalado com a marca Parmalat. No Paraná, foram cerca de 200 mil litros, com a marca Líder. A empresa não informou ao MP a numeração dos lotes distribuídos ao comércio.

– Esse leite chegou à indústria, mas estranhamente o formol não foi constatado no laboratório da empresa – relata Rockenbach.

Inicialmente, a indústria se recusou a fazer o recall do produto. Após ação judicial, aceitou.


DISPUTAS E CARÊNCIAS. Pendências que afetam a qualidade do leite

- O Instituto Gaúcho do Leite, que deveria ser responsável por planejar o setor no Estado, nasceu sob polêmica. Farsul e Sindilat, que reúne as grandes empresas, não querem participar.

- A criação de novo tributo para custear o Fundo de Desenvolvimento da Cadeia Produtiva do Leite encareceria e retiraria competitividade do leite gaúcho.

- Há falta de legislação específica para normatizar o trabalho dos transportadores, que costumam comprar o produto dos criadores e revender para a indústria. A prática abre brecha para artifícios para aumentar o volume entregue ou mascarar produto deteriorado.

- Das 55 indústrias fiscalizadas pelo Estado no programa de coleta a granel, apenas 22 apresentaram seus planos, que recém estão sendo analisados.

- Faltam recursos para fiscalização. Dinheiro usado para diárias e combustíveis de fiscais vem sendo contingenciado pelo governo federal.

- São apenas seis técnicos atuando na fiscalização de laticínios sob inspeção federal.



Na unidade de resfriamento em Condor foi encontrada soda cáustica em um galpão, o que gerou suspeita ainda não comprovada de uso do produto no leite


Dono de posto de resfriamento, Zamadei foi detido e levado a uma prisão em Ijuí


LBR reincide em falha


A LBR – Lácteos Brasil tornou-se reincidente com a descoberta de que cerca de 300 mil litros de leite das marcas Parmalat e Líder foram contaminados com formol. Em maio do ano passado, no início da Operação Leite Compen$ado, já fora envolvida em fraudes com lotes da Líder e Bom Gosto.

Apresentando-se como a maior empresa privada do país no ramo de laticínios, a LBR produz mais seis marcas de leite – nenhuma delas sob suspeita –, além de queijos, manteigas e derivados. A companhia está em recuperação judicial desde fevereiro de 2013, com dívidas de R$ 1,1 bilhão junto a 2,7 mil fornecedores. No ano passado, quase foi vendida ao grupo francês Lactalis. Para tentar se equilibrar, está se desfazendo de indústrias pouco rentáveis – já teve unidades em 11 Estados.

Sem detectar “anormalidade”

Na tarde de ontem, a LBR lançou nota sobre o caso. Garantiu que realizou baterias de testes no leite, sem detectar “nenhuma anormalidade”. Julgando que estava apropriado, enviou o alimento in natura da fábrica gaúcha de Tapejara para as unidades de Lobato (Paraná) e Guaratinguetá (São Paulo). Também informou que recolheu os lotes apontados como impróprios pelo Ministério da Agricultura, por cautela, mesmo acreditando não haver “anormalidades”.

A LBR foi criada em 2010, fruto da união das empresas LeitBom (controlada pela Monticiano Participações, que tem como acionista a dona da Parmalat no Brasil) e a gaúcha Bom Gosto, do empresário Wilson Zanatta, de Tapejara. O novo grupo conseguiu que o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) aportasse R$ 700 milhões na fusão.

Zanatta é o atual presidente do Sindicato da Indústria de Laticínios e Produtos Derivados do Estado (Sindilat). Ele não se manifestou sobre a reincidência da LBR em adulteração de leite, mas o Sindilat divulgou nota lamentando a ocorrência de novo episódio e pedindo que seja esclarecido.

Já o presidente da Associação Gaúcha de Laticinistas e Laticínios (AGL), Ernesto Krug, destacou que chegou o momento de separar o “joio do trigo”, extirpar do mercado os fraudadores que prejudicam o trabalho de empresas sérias e tradicionais.

– Que se tire uma lição. É lastimável que ações isoladas afetem a cadeia produtiva – criticou Krug.

NILSON MARIANO

QUASE UM ANO DE FLAGRANTES - A operação já te quatro etapas contra adulteração de leite

PRIMEIRA FASE

- Quando: 8 de maio de 2013
- Onde: Ibirubá, Ronda Alta, Boa Vista do Buricá, Horizontina e Guaporé
- Fraude: adição de água e ureia com formol

SEGUNDA FASE
- Quando: 22 de maio de 2013
- Onde: Rondinha, Boa Vista do Buricá e Horizontina
- Fraude: adição de água e ureia com formol

TERCEIRA FASE
- Quando: 7 de novembro de 2013
- Onde: Três de Maio
- Fraude: adição de água oxigenada

QUARTA FASE
- Quando: 14 de março de 2014
- Onde: Condor, Bossoroca, Vitória das Missões, Tupanciretã, Panambi, Santo Augusto, Capão do Cipó, Ijuí e Entre-Ijuís
- Fraude: adição de água e ureia com formol e suspeita de soda cáustica


Mais imagens da quarta fase da Operação Leite Compensado


COMENTÁRIO DO BENGOCHEA - A lei deveria ser ainda mais rigorosa contra este tipo de crime, pois é um atentado contra a saúde da população, um terrorismo que atinge principalmente as crianças. Caberia uma longa pena e trabalhos forçados, sem direito a progressão de regime e redução da penalidade. Mas como vivemos num país onde as penas não passam de 30 anos e o bandido, após cumprir  apenas um 1/6 dela, já tem direito a condicional e outros benefícios e auxílios pecuniários.

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quarta-feira, 12 de março de 2014

A ESPERA AGONIZANTE POR CIRURGIAS NO SUS


ZERO HORA 12 de março de 2014 | N° 17730

MANUELA TEIXEIRA | PIONEIRO

FILAS SEM FIM. 
A espera agonizante por cirurgias no SUS


Pacientes aguardam até um ano por procedimentos em Caxias do Sul


Quem conheceu Arceno Corrêa não encontra mais a mesma vitalidade no aposentado de Caxias do Sul que, mesmo com 73 anos, fazia comida, limpava a casa, cuidava da horta e da mulher, vítima de um AVC que a deixou com parte do corpo paralisado. Assim como ele, milhares de pessoas têm a expectativa de ver o seu nome vencer a lista conhecida entre os pacientes como a “fila da morte”.

Há mais de um ano, Arceno aguarda a marcação de uma cirurgia pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Em 2012, procurou o posto de saúde do bairro Cruzeiro, onde mora, pela primeira vez. Consultou um traumatologista e, em fevereiro de 2013, veio o resultado dos primeiros exames que, segundo o filho Adilson, teriam apontado para uma inflamação que rompe as fibras e nervos do braço e pode levar à perda de movimento. A cirurgia no antebraço foi recomendada.

– Me disseram para ficar em casa, que ligariam do posto de saúde para agendá-la, mas nunca entraram em contato – conta Arceno.

Cidade referência na região sofre com a grande procura

Enquanto aguarda, ele precisa de injeções de calmantes e anti-inflamatórios para conter a dor. Usa uma tipoia improvisada com um lençol. À família, a ouvidoria da Secretaria de Saúde teria informado que em 2014 seriam feitas as cirurgias agendadas para o final de 2012.

O exemplo de Arceno é semelhante ao de dezenas de pessoas que enfrentam a longa fila na região. Caxias do Sul paga o preço por ser referência em saúde pública para 1,1 milhão de habitantes de 49 municípios da Serra.

A Secretaria de Saúde, com a justificativa de que faz uma recontagem, não divulgou o tamanho da lista de espera. Sabe-se que, em outubro de 2011, mais de mil pessoas aguardavam por procedimentos em 11 especialidades.

– Não é que não se queira fazer, mas não há capacidade instalada em leitos, profissionais, cirurgiões e anestesistas para atender 49 municípios. Eles se habituaram a trazer a demanda para cá – justifica a secretária Dilma Tessari.


Traumato-ortopedia tem a situação mais crítica

A secretária da Saúde Dilma Tessari admite que a traumato-ortopedia é o grande gargalo das filas por cirurgia. A alternativa encontrada para reduzir o problema foi um pacto, em 2013, entre as Comissões Intergestores Regionais, para a redistribuição dos procedimentos de média complexidade entre hospitais da região.

A finalidade é desafogar Caxias do Sul e concentrar na cidade procedimentos de alta complexidade, que representam 20% do total das cirurgias feitas.

A traumato-ortopedia é que tem maior tempo de espera e também o maior número de pacientes na fila. Uma cirurgia de joelho, por exemplo, pode levar até 11 meses para ser autorizada.

segunda-feira, 10 de março de 2014

REMÉDIOS DE PONTA SÃO PARA POUCOS



ZERO HORA 09 de março de 2014 | N° 17727


LARISSA ROSO


COMBATE AO CÂNCER


Pesquisas clínicas permitem o acesso de pacientes aos mais avançados experimentos da ciência. No Brasil, o desenvolvimento e a aprovação de novas drogas contra o câncer, doença que deve se tornar epidêmica em até 15 anos, esbarram em obstáculos como burocracia e falta de investimentos. O sinal verde das autoridades para o início de um novo estudo leva até quatro vezes mais tempo do que nos EUA e na França.

Seguidor de uma rotina regrada, livre de maus hábitos ou excessos, Afonso Celso Haas se confrontou com o veredicto de câncer de pulmão em estágio avançado há dois anos. Abatido por perspectivas desalentadoras, submeteu-se a uma quimioterapia convencional pouco antes de ter a oportunidade de se voluntariar para o teste de um novo medicamento. A cada duas semanas, o comerciante de Ijuí comparece à Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), uma das mais de 20 instituições participantes de uma pesquisa internacional, para a aplicação de nivolumabe, um dos remédios mais avançados da oncologia atual. Ainda em fase de avaliação, a droga não é comercializada em lugar algum do mundo, mas permite que alguns pacientes desfrutem de excelentes resultados e contribuam com o avanço da ciência.

– Sou um privilegiado. Isso me dá força e vontade de viver. Levo uma vida normal – comemora Haas.

Hoje o quadro está estabilizado, e o comerciante, aos 58 anos, investe o fôlego vigoroso da sobrevida no trabalho, na família e na mobilização por mudanças no cenário pouco produtivo da pesquisa clínica no país. A partir de uma iniciativa dele, o Senado promoverá audiência pública no dia 18 para discutir os processos regulatórios que engessam o setor. Para que mais pacientes tenham acesso a tratamentos de ponta, é preciso multiplicar o número de estudos – na última semana, o Brasil aparecia em apenas 2,3% dos 162 mil projetos cadastrados no site www.clinicaltrials.gov, banco de dados do governo americano que disponibiliza informações globais. Com 46,4%, os Estados Unidos lideram o ranking.

Um dos principais entraves é a morosidade dos trâmites burocráticos. Enquanto um projeto é avaliado pelas autoridades americanas, britânicas e francesas em três a quatro meses, no Brasil o prazo médio salta para 10 a 14 meses, para que só então, no caso de aprovação, a convocação de participantes possa começar. Como muitas vezes as pesquisas congregam entidades de diversos países, o Brasil é privado da chance de embarcar em iniciativas importantes. Quando está, finalmente, autorizado a prosseguir, os parceiros estrangeiros já avançaram muito. De acordo com a Interfarma – Associação da Indústria Farmacêutica de Pesquisa, o Brasil perdeu, nos dois últimos anos, 64 estudos, 23 deles relacionados a patologias com risco de morte, como o câncer. Estima-se que mais de 3 mil pessoas deixaram de ser favorecidas.

– Quanto mais dificuldades se impõem, menos estudos vêm para cá, menos pacientes têm acesso à medicação, menos instituições têm oportunidade de se qualificar, menos investigadores têm acesso à tecnologia. O nosso potencial é muito maior do que estamos mostrando agora – avalia Gustavo Werutsky, oncologista do Hospital São Lucas e diretor científico do Grupo Latino-Americano de Pesquisa em Câncer.

Segunda causa de morte no mundo, atrás somente dos problemas cardiovasculares, o câncer deve atingir o status de epidemia em um período de 10 a 15 anos, estabelecendo-se na primeira colocação. Enquanto nações desenvolvidas exibem um melhor desempenho no combate à enfermidade, colhendo benefícios dos incentivos à pesquisa e de sistemas de saúde melhor estruturados, os países em desenvolvimento podem se tornar responsáveis por dois terços dos óbitos de origem cancerígena.

Inovação chega por último ao SUS


Uma pesquisa clínica com medicamentos surge para verificar a eficiência de uma droga nova em comparação a outra já existente. Pode abranger milhares de voluntários, selecionados com base em características do quadro clínico (nem todos os candidatos são elegíveis para as vagas), e se estender por até 10 anos. Ao final da investigação, caso o remédio A se prove superior ao B, encaminha-se um pedido de registro aos órgãos competentes, que avaliam a eficácia e a segurança do produto. O primeiro lugar a liberar a comercialização costuma ser os Estados Unidos, por meio da Food and Drug Administration (FDA).

No Brasil, a encarregada é a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Se há demora ou o registro é negado, pacientes com recursos recorrem ao Exterior, o que pode significar um investimento de milhares de dólares por mês. Quando a droga é aprovada, fica acessível primeiro aos clientes da rede privada e dos planos de saúde, quando há cobertura para tal. O Sistema Único de Saúde (SUS) é o último destino – enquanto não podem receber os remédios mais avançados, muitos usuários da rede pública os requisitam por via judicial. Celeridade nas deliberações e mais clareza para os critérios que determinam a aprovação e a recusa de registros são duas reivindicações frequentes entre a classe médica.

– O melhor que se tem no mundo não está disponível pelo SUS – constata Carlos Barrios, diretor do Instituto do Câncer do Hospital Mãe de Deus. – Quem participa da pesquisa clínica vai ter acesso ao melhor tratamento possível. Quanto mais estudos tivermos, mais pessoas serão beneficiadas. Os avanços tecnológicos entram nos países desenvolvidos rapidamente e demoram a estar disponíveis nos países em desenvolvimento. Pessoas morrem por causa disso – acrescenta.

Gilberto Schwartsmann, chefe do Serviço de Oncologia do Hospital de Clínicas de Porto Alegre, considera que atrasos e pouca eficiência estão entre “nossas dores do subdesenvolvimento”, mas enxerga progressos em duas décadas:

– É a estrutura de saúde de um país de terceiro mundo: tem burocracia, tem qualidades, tem defeitos. Está muito longe de ser o que a gente gostaria, mas já melhorou muito.

Ana Krepsky, 39 anos, usa gratuitamente o crizotinib, droga não autorizada pela Anvisa. Diagnosticada com câncer de pulmão há três anos, a cardiologista segue tomando os comprimidos mesmo após a conclusão do estudo do qual fez parte porque continua se beneficiando da terapia. A alternativa seria a importação, com custo estimado em R$ 8 mil a R$ 10 mil mensais. O laboratório fabricante deve ingressar com outro pedido de avaliação na agência governamental.

– A gente não tem muita coisa a perder. Os efeitos colaterais são mínimos. É a única maneira de conseguir o remédio que está me mantendo aqui, superbem – diz Ana.



Ser “cobaia” é uma bênção


Há precisamente um ano, em um 9 de março como hoje, os médicos da Santa Casa extirparam meu rim esquerdo, tomado que estava por um tumor maligno. Dias depois, saía do hospital sem o rim, mas repleto de ilusões. Como estava enganado a respeito de tudo, como era ignorante acerca do que acontecera e aconteceria comigo.

Minha maior decepção foi descobrir que, a despeito de todo o desenvolvimento da medicina moderna, não existe controle absoluto sobre o câncer. Alguns podem se curar, alguns podem morrer em semanas, alguns podem conviver pacificamente por anos com a doença, alguns podem sofrer muito por sua causa. É impossível saber ao certo.

Mas os médicos lutam. Isso testemunhei. Os médicos lutam. Há cientistas que consomem dois terços de suas vidas estudando uma única molécula que, um dia, depois de 20 ou 30 anos de pesquisas, resultará em uma droga que proporcionará mais conforto aos pacientes. São heróis. São homens que salvam vidas.

Essas pesquisas são criteriosas e se dão, quase todas, no eixo Europa Ocidental-Estados Unidos. Depois de algumas fases, quando os remédios finalmente são testados em seres humanos, é porque estão em fase adiantadíssima, prestes à aprovação. Ser, digamos, “cobaia” de uma dessas pesquisas é uma bênção, porque o paciente terá acesso ao que há de mais avançado na ciência e será tratado mediante um protocolo empregado nos centros mais modernos do mundo. O desempregado que mora nos confins de Alvorada e que leva duas horas de ônibus para chegar a um hospital de Porto Alegre será tratado com o mesmo desvelo que o empresário japonês multimilionário que está pagando em dólares por um tratamento nos Estados Unidos.

Por isso, me inscrevi num desses protocolos, que estava em desenvolvimento no Hospital de Caridade de Ijuí. Consistia numa comparação: uma droga novíssima versus outra já disponível no mercado. Havia 50% de chances de eu pegar a droga nova, dependia de uma espécie de sorteio, uma randomização feita por computador. Era uma ou outra. E eu peguei... a outra. A droga mais antiga. Quer dizer, “perdi”. Mesmo assim, continuei no protocolo, usei a droga à disposição (que, aliás, é caríssima) e, por um tempo, deu certo. Participar daquela pesquisa foi muito bom para mim. Agora, pretendo participar de outra. E, aí, quem sabe, tenho mais sorte. Quem sabe me torno uma feliz cobaia desses paladinos da ciência.

DAVID COIMBRA

CONTRAPONTOS

O que diz a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) - Sobre o tempo médio para aprovação de um novo medicamento, a agência informou que “cada processo tem características específicas, que alteram o tempo de análise”. “O tempo pode ser influenciado por fatores como exigência de novos dados ou estudo, tempo de resposta da empresa e as próprias indicações e perfil de risco do produto. Outro fator importante é a priorização em casos como medicamentos de interesse do SUS, para mercados em que não há genéricos. Consultoria externa indicou que até 40% do tempo de análise pode estar associado a questões de responsabilidade da empresa que solicitou o registro”, diz o texto. A Anvisa destacou que precisa “assegurar a eficácia e segurança do medicamento”, o que demanda “uma série de requisitos e estudos”.

O que diz a Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (Conep) - O órgão não respondeu aos pedidos de entrevista.



E OS 12% PARA A SAÚDE PÚBLICA, ONDE ESTÃO?

ZERO HORA 10 de março de 2014 | N° 17728

ARTIGOS

por Lucio Barcelos*




O governador Tarso Genro anunciou em prosa e verso que o seu governo aplicaria 12% da arrecadação de impostos do Estado, deduzidas as transferências para os municípios, na área da saúde pública do Rio Grande do Sul, em 2013.

Aplicou? Não. Conforme dados e informações do Conselho Estadual de Saúde, o governo do Estado aplicou 8% do Orçamento em saúde. E para 2014 a previsão de investimento é de 10%. Bem entendido, é uma previsão. Executar esses 10%, mesmo em ano eleitoral, são outros quinhentos. O mais interessante deste fato é que ninguém fala dessa defasagem. Eram 12%, mas aplicaram 8%. E daí. Fica por isso mesmo. É, no mínimo, estranho que ninguém se manifeste. Ou melhor, não é estranho. A chamada oposição ao atual governo, seguramente, deverá dar continuidade à mesma política de privatização. Portanto, melhor calar.

Na verdade, fica difícil falar em saúde pública, no Rio Grande do Sul, considerando que 84% dos leitos hospitalares são privados (filantrópicos – 245 instituições, ou privados puros) e somente 16% são leitos públicos. E, neste cálculo, não estou considerando os 120 leitos do Hospital de Clínicas que são reservados para pacientes detentores de planos privados ou para quem pode pagar do próprio bolso os recursos financeiros necessários para uma internação privada.

Na área de exames complementares mais sofisticados – como tomógrafos e ressonâncias magnéticas, existe uma disponibilidade de sete a 10 vezes mais aparelhos no setor privado do que no setor público.

O mesmo fenômeno ocorre com os demais exames complementares. Existem, em Porto Alegre 56 mamógrafos em uso. Desses, somente 18 estão disponíveis para o SUS. Ultrassonografia é igual. De 190 equipamentos em uso, somente 44 estão disponíveis para a clientela SUS. Dá-se o mesmo com os Equipamentos Odontológicos Complementares. De 886 em uso, somente 89 estão disponíveis para o SUS.

Ocorre o mesmo com a cobertura da Atenção Básica (ESF mais Unidades Básicas Tradicionais). A cobertura, em 2012, era de 53%. Em relação à Estratégia de Saúde da Família, era de 40%. Isso depois de 25 anos de existência do SUS. Como é possível. Simples. Existe uma política determinada de privatização da Saúde, que vem desde o governo federal, passando pelos governos estaduais e a maioria dos Municipais, de privatização da saúde no Brasil.

Deve-se combinar isso, com uma gestão incompetente, na área da saúde. Tanto o secretário que saiu como a secretária que assumiu são pessoas periféricas ao SUS, que não o conhecem e não querem conhecer. Afinal, não estão na direção da Secretaria Estadual da Saúde para construir o SUS. Mas sim, para satisfazer os interesses dos entes privados e intensificar o processo de privatização da saúde.

A reversão desse quadro, inconstitucional e extremamente danoso para os 76% da população que depende do SUS, só se dará através de grandes movimentos sociais, exigindo essas mudanças. Não existe outra alternativa.

*MÉDICO SANITARISTA


COMENTÁRIO DO BENGOCHEA - As leis existem, mas não são executadas, fiscalizadas, aplicadas e responsabilizadas suas violações e omissões.

sexta-feira, 7 de março de 2014

O DILEMA DO IPE



ZERO HORA 07 de março de 2014 | N° 17725


EDITORIAIS



A polêmica em torno do IPE-Saúde, diante da perspectiva de ampliação dos benefícios aos pais e mães dos segurados, evidencia o risco de o poder público gaúcho enfrentar um impasse financeiro de consequências imprevisíveis. Mesmo com esse grau de dificuldades, e sem perspectivas de resolvê-las de imediato, o Estado dispersa hoje energia no debate de uma proposta que, na hipótese de ser aprovada, tende a frustrar os beneficiários, além de prejudicar ainda mais as contas públicas. Por isso, o debate precisa ser conduzido com bom senso, especialmente se considerarmos que este é um ano de campanha eleitoral.

Uma das iniciativas sobre o tema, do deputado Paulo Odone, prevê a ampliação dos benefícios do IPE-Saúde aos familiares dos segurados sem qualquer contrapartida. A proposta do Piratini, encaminhada em regime de urgência, abre a possibilidade de o plano ser estendido mediante pagamento suplementar. Especialistas alertam que o primeiro projeto é demagógico; o segundo, inviável. E ambos ameaçam a sobrevivência do sistema de saúde dos servidores estaduais. Por isso, a discussão não pode ficar restrita aos interessados e ao parlamento, precisando se estender a toda a sociedade.

Como ano eleitoral é propício a demagogias, os contribuintes precisam acompanhar com atenção os movimentos da Assembleia. O poder público gaúcho está diante da iminência de déficits crescentes daqui para a frente, ao mesmo tempo em que se esgotam fontes alternativas de recursos, como a do caixa único, e que não serão resolvidos com uma eventual renegociação da dívida. O momento, portanto, deve ser visto pelo governo como de austeridade, não de atos que, no final, podem agravar ainda mais as finanças, sem a garantia de que irão satisfazer os servidores.

PÁGINA 10 | ROSANE DE OLIVEIRA

Odone defende projeto do IPE-Saúde

Em uma carta de 30 linhas, o deputado Paulo Odone (PPS) contesta a interpretação da coluna de que o projeto de sua autoria que permite a inclusão de pais e mães como dependentes no IPE-Saúde ameaça a sobrevivência do plano.

“Se hoje a saúde financeira do IPE inspira cuidados, é porque o Estado não repassa a totalidade de sua cota patronal. De acordo com o Tribunal de Contas do Estado, de 2011 a 2013 o governo deixou de repassar ao IPE-Saúde R$ 149.296.690. São quase R$ 150 milhões! O que o ameaça, então, não é o meu projeto, mas uma gestão temerária do Fundo de Assistência à Saúde”, diz um trecho da carta.

BLOG DA ROSANE - 06 de março de 2014


Odone defende o projeto de inclusão de pai e mãe no IPE-Saúde


Em uma carta de trinta 30 linhas, o deputado Paulo Odone (PPS) contesta a minha interpretação de que o projeto que permite a inclusão de pais e mães como dependentes no IPE Saúde ameaça o futuro do plano de saúde e equivale a “vender ilusões”. Colo aqui a íntegra da carta:

“Prezada Rosane,

Como sempre, comecei meu dia hoje lendo a tua coluna em Zero Hora e te ouvindo no Atualidade. Para contribuir no debate sobre o projeto do IPE-Saúde, é salutar alguns esclarecimentos.

O projeto é de 2011, foi debatido em três comissões, com pedidos de vista e audiências públicas. A direção do IPE se comprometeu a apresentar um estudo da situação financeira e o impacto da aprovação do projeto em suas contas. Isso jamais foi feito.

O texto está pronto para ser votado desde junho de 2013. Segurei-o para negociar com o governo os dispositivos que pudessem afetar as finanças do IPE-Saúde. Novamente, não recebi respostas. Agora fui surpreendido com o pedido de urgência ao projeto do governo e com esse discurso simplista de que a iniciativa pode falir o IPE.

Há uma premissa falsa nesse debate: a de que 77% dos servidores poderão incluir os ascendentes sem contrapartida. O projeto tem um limitador: os pais dos servidores não podem ter renda superior ao piso regional, hoje R$ 1,1 mil. A verdade é que ninguém sabe, dentro desses 77%, quantos possuem pai e mãe com renda inferior a R$ 1,1 mil. Portanto qualquer afirmativa sobre uma eventual “quebra” do IPE é mera especulação.

Se hoje a saúde financeira do IPE inspira cuidados, é porque o Estado não repassa a totalidade de sua cota patronal. De acordo com o Tribunal de Contas do Estado, de 2011 a 2013 o governo deixou de repassar ao Ipe-Saúde R$ 149.296.690. São quase R$ 150 milhões! Ademais, de 2004 a 2012, o IPE-Saúde foi superavitário. O que o ameaça, então, não é o meu projeto. Mas sim uma gestão temerária do Fundo de Assistência à Saúde.

Rosane, sou um homem de poucas leis. Quando apresento um projeto, tenho obediência máxima pelo bem social que ele deve provocar. O IPE, como um plano de saúde voltado ao servidor público, precisa ter um viés humanitário, sobretudo àqueles que têm remuneração mais baixa. Se for necessário pagar R$ 400 para incluir o pai, é melhor o servidor recorrer aos planos privados. Além disso, já aprovamos uma proposta do Executivo que incluía maridos e companheiros homoafetivos, ambos sem contribuição, e ninguém no governo fez esse alerta de falência do IPE.

Como sempre, estou aberto ao diálogo, a discutir a melhor proposta, com eventuais alterações no texto original. Se há alguém “engambelando” os servidores, não sou eu. Tampouco posso aceitar que, às vésperas da votação, informações equivocadas, análises precipitadas e um claro movimento governamental para implodir o meu projeto resulte numa alternativa que não atende às expectativas do funcionalismo.

Com os meus elevados votos de consideração e apreço

Paulo Odone”


quinta-feira, 6 de março de 2014

MEDICINA BASEADA EM PESSOAS


ZERO HORA 06 de março de 2014 | N° 17724

ARTIGOS

por Flavio José Kanter*



Tornou-se comum o uso do computador na área da saúde. Acessam-se protocolos baseados no conhecimento científico comprovado e atual, que sugerem como investigar e tratar pacientes. Há diretrizes para tratar e monitorar doenças crônicas. Praticamos medicina baseada em evidências, em que se decide apoiado no melhor conhecimento vigente. Há consensos que reúnem a informação disponível e recomendam as melhores práticas.

Prontuário eletrônico organiza e disponibiliza informação de forma ágil e eficiente. Decidi que não o usaria em meu consultório há anos. Um colega informatizou o consultório. É competente em sua área, temos vários pacientes em comum. Quando ele foi um dos primeiros a usar prontuário eletrônico, achei que deveria fazer o mesmo. Logo, porém, um paciente que atendíamos contou que a consulta com o colega havia mudado: “...ele quase não me olhou, só olhava a tela e digitava no computador”. Essa observação gerou a dúvida. Aos poucos, firmei a ideia de não usar computador nos atendimentos. Esse instrumento entrou em nossa vida e trabalho. Em muitas ocasiões o utilizo para buscar informação, mesmo durante atendimentos. Mas não mudei, o foco da consulta é e tem que ser na pessoa. Se algo puder interferir na atenção, temos que evitar. Há quem utilize prontuário eletrônico sem desviar o foco. Esse não tem que mudar.

Há dias, uma senhora sentiu-se tonta ao levantar, caiu, bateu a cabeça. Buscou atendimento no único hospital da cidade onde estava. Foi colocada no protocolo de infarto do miocárdio, embora faltassem muitos elementos para pensar em infarto. Após horas repetindo exames, já cansada e sentindo-se bem, retirou-se sob o protesto da equipe técnica, pois pelo protocolo faltava mais uma bateria de exames. Protocolos e computadores mal utilizados não ajudam, podem atrapalhar.

Atendimento médico é único e individual, não há dois iguais, cada pessoa é única, cada caso é peculiar. O encontro da pessoa com o médico não se repete nem se padroniza. Se o foco for o meio (o registro) ao invés da finalidade (o atendimento), perde-se qualidade.

Pacientes perguntam por vezes se não vou aderir ao prontuário eletrônico. Conto-lhes a história do colega que deixou de olhar para os pacientes, e invariavelmente ouço situações vividas por eles que confirmam o desvio do foco. Isso acho inaceitável. O foco do médico continua e não pode deixar de ser na pessoa.

*MÉDICO

NOVOS DEPENDENTES DO IPE

ZERO HORA 06 de março de 2014 | N° 17724



PAIS E FILHOS. 
Novos dependentes só com contribuição, diz IPE

Para o governo, oferecer assistência sem custo para pais de servidores coloca plano de saúde em risco



No embate sobre a proposta de ampliação do rol de beneficiados pelo IPE-Saúde, a presidência do Instituto de Previdência do Estado afirma que a medida só será possível se houver contrapartida dos servidores para todos os novos segurados. O presidente do IPE, Valter Morigi, também admite que o valor a ser pago pelo funcionário para a inclusão de pai e mãe no plano de saúde pode ficar muito alto, a ponto de frustrar a expectativa de adesões.

O tema está em debate na Assembleia Legislativa por meio de dois projetos de lei. O mais antigo é do deputado Paulo Odone (PPS) e prevê a aceitação dos pais como dependentes no IPE-Saúde sem exigência de contribuição mensal para 77,1% dos servidores. Embora evite a crítica aberta, o governo Tarso Genro considera a proposta insustentável. Por isso, encaminhou seu próprio projeto ao parlamento. O texto prevê a cobrança de contrapartida do funcionário.

Os dois projetos, no entanto, carecem de projeções e cálculos que possam avaliar a quantidade de eventuais novos segurados e o impacto de sua entrada na plano. Em 2012, o IPE fez uma pesquisa com a participação de 10% dos segurados titulares, o equivalente a 32,9 mil pessoas. Desse total, 95% foram favoráveis à inclusão dos pais como segurados.

Morigi assume que o governo desconhece o tamanho da demanda que pode buscar o benefício. Ainda assim, ele diz que a rede de assistência médica tem capacidade para novos beneficiados, mas pondera que talvez o benefício se torne caro para servidores que teriam de arcar com a parcela para dependentes com mais idade, um quesito que encarece planos de saúde.

A proposta de Odone está apta a ser votada desde 18 de fevereiro e só depende de uma sessão com quórum, o que pode ocorrer na terça-feira. Diante desse cenário, na semana passada, o Piratini pediu regime de urgência para sua proposta, o que torna obrigatória a votação até dia 29. Caso contrário, o texto passa a trancar a pauta.

Ex-presidente do IPE, Otomar Vivian vê com bons olhos a ampliação, mas faz uma ressalva:

– Quanto maior o número de pagantes, mais forte se torna um plano de saúde. A estratégia de aumentar a massa é correta, mas é preciso garantir que essa receita vai mesmo ingressar para o IPE. Se isso não ocorrer, vai acelerar a fragilização do IPE-Saúde.




VALTER MORIGI PRESIDENTE DO IPE

ENTREVISTA

“Não sabemos se ficará acessível”




O presidente do IPE, Valter Morigi, garante que a rede tem capacidade para suportar novos segurados, desde que cada inclusão esteja acompanhada de contrapartida.

Zero Hora – Como o senhor avalia a possibilidade de ampliação de beneficiários do IPE-Saúde?

Valter Morigi – Encaminhamos esse projeto a pedido do governo, que prevê a ampliação mediante o cálculo atuarial, o que significa que podemos ter acréscimo de beneficiários, mas precisamos ter contrapartida financeira. Todo novo ingresso com uma nova contribuição financeira. O projeto do Odone não prevê contrapartida.

ZH – Prevê contrapartida de quem recebe acima de R$ 4,4 mil.

Morigi – Mesmo no projeto dele não temos dados concretos para avaliar qual é o universo de pais.

ZH – Mas esse dado, sobre o tamanho da demanda, não é importante também para o governo?

Morigi – No projeto do governo, toda entrada de segurado é feita com cálculo atuarial individual. Então, não importa. Para dimensionarmos o que seria a questão financeira no projeto dele, precisaríamos ter esse dado.

ZH – São comuns queixas de que a rede do IPE-Saúde já está esgotada. Há capacidade de ampliação?

Morigi – Temos na rede 7.665 médicos, 304 hospitais, 530 clínicas e 592 laboratórios. São mais de 9 mil instrumentos de atendimento.

ZH – Sem saber qual é o montante de pais e mães que podem ingressar, não é arriscado dizer que a rede ainda tem capacidade?

Morigi – Partimos do pressuposto de que hoje eles já são atendidos, senão na mesma rede, em algum local. O médico que é credenciado conosco, atende SUS, Unimed, talvez essa pessoa que viria a ser nova segurada já esteja sendo atendida no mesmo local.

ZH – O governo não corre o risco de aprovar o projeto e depois descobrir que não tem como atender?

Morigi – A expectativa é de que com o cálculo atuarial os ingressos não serão uma enxurrada. Será feito cálculo individual, e não sabemos se o valor de contribuição ficará acessível. Hoje, nos planos privados, o atendimento para pessoas de mais idade tem a contribuição mais elevada. Peguemos o caso de um PM ou professor que hoje contribui com R$ 30, R$ 40. Digamos que, para o pai, a contribuição fique como a de um dos planos da Unimed, que cobra R$ 200 por pessoa. Ele talvez não tenha condições de colocar o pai como dependente.



VACINA PARA PREVENIR O HPV


ZERO HORA 06 de março de 2014 | N° 17724


LETÍCIA DUARTE E TAÍS SEIBT


SAÚDE. Prevenção ao HPV. Uma vacina em discussão



Esperança e questionamentos marcam a inclusão do Brasil, a partir da próxima segunda-feira, no crescente clube de países que estão adotando a vacinação maciça de meninas como forma de prevenir o HPV. Somente no Rio Grande do Sul, a meta é imunizar 258 mil garotas de 11 a 13 anos contra o vírus causador do câncer de colo de útero, o terceiro mais frequente no país.

A estratégia é imunizar antes do início da vida sexual, como prevenção. Para facilitar o acesso, as injeções serão aplicadas nas escolas das redes pública e privada, em calendário que se estende até 10 de abril. Até agora, as doses só estavam disponíveis em laboratórios privados, por cerca de R$ 300 a aplicação (a recomendação tradicional é de três doses). Apesar do alto custo, a procura pela vacina em clínicas particulares é grande. Em uma da Capital, a imunização de HPV representa 50% do total de vacinas aplicadas mensalmente, abrangendo pessoas de nove a 50 anos.

Ao mesmo tempo em que é aprovada pela Organização Mundial da Saúde (OMS), saudada por pesquisadores e adotada em países como Canadá, Estados Unidos, México e Austrália, a vacinação sofre críticas. Relatos de efeitos colaterais adversos, como infertilidade e falência ovariana, chegaram a provocar a suspensão da vacina em países como o Japão. Além disso, a vacina só protege contra quatro tipos de HPV, enquanto existem mais de cem deles.

No Brasil, uma instituição que se posicionou contra a estratégia foi a Sociedade Brasileira de Medicina de Família e Comunidade (SBMFC), que divulgou carta questionando o procedimento e afirmando que a vacina “expõe adolescentes a risco de supermedicação desnecessária”.

– Não há evidências de que a vacinação seja mais eficaz do que a estratégia atual, por meio do Papanicolau – preocupa-se o diretor da Sociedade, Ademir Lopes.

Os argumentos são contestados por um pioneiro da pesquisa sobre HPV no país, o professor de ginecologia da UFRGS Paulo Naud, consultor da OMS.

– A vacina tem se mostrado segura e eficaz. Agora a mulher tem a chance de ter uma vacina contra uma doença que é um problema de saúde pública – entusiasma-se.

A importância da prevenção é reforçada pela secretária estadual da Saúde, Sandra Fagundes. Ela lembra que a vacina não dispensa realização de outros exames preventivos:

– A vacina foi adotada pela rede pública porque está comprovado que previne o HPV. Entre os efeitos adversos e o grau de proteção, é muito maior o grau de proteção.

Com a iniciativa deflagrada na próxima semana, o país vai difundir uma prática já adotada no município de Farroupilha desde o ano passado. A cidade da Serra foi precursora ao oferecer a vacina em todas as escolas, para meninos e meninas de 12 e 13 anos. A campanha, que começou nas aulas de biologia e em palestras para os pais, atingiu 90% de cobertura. Não houve caso de reação adversa.

– Com o trabalho feito antes, as pessoas entenderam a importância da vacina – diz a coordenadora operacional da Secretaria da Saúde de Farroupilha, Tatiane Crippa.

Embora o tratamento convencional preveja a administração das três doses num intervalo de seis meses, na rede pública o cronograma será diferente: a segunda dose será aplicada num intervalo de seis meses, e a terceira, daqui a cinco anos. Segundo Rosana Richtmann, da Sociedade Brasileira de Infectologia, o Brasil fez essa opção seguindo pareceres da Organização Panamericana de Saúde. Estudos indicaram que a resposta imunológica das adolescentes que receberam as duas primeiras doses é semelhante à das que receberam três. Suíça, Colômbia, Canadá e México seguem o mesmo calendário adotado pelo SUS.

Apesar da oferta feita pela rede pública nas escolas, ninguém será obrigado a imunizar-se. Pais que não quiserem vacinar suas filhas poderão assinar um termo de recusa.

5,2 milhões é o número da população feminina de 11 a 13 anos estimado pelo Ministério da Saúde como público-alvo da campanha de vacinação no Brasil

80% é a meta de vacinação esperada para 2014

258 mil é o número de meninas-alvo da vacina no Rio Grande do Sul em 2014

3º é o lugar ocupado pelo câncer de colo de útero entre a população feminina do país, atrás do câncer de mama e do colorretal, e a quarta causa de morte de mulheres por câncer no Brasil





Nas escolas de Farroupilha, a imunização é oferecida gratuitamente desde o ano passado

VENDEDORES DE ILUSÕES



ZERO HORA 06 de março de 2014 | N° 17724


PÁGINA 10 | ROSANE DE OLIVEIRA




Um plano de saúde em que se possa incluir pai e mãe pagando uma contribuição irrisória só é possível de ser comprado no mercado de ilusões. Por isso, convém os funcionários públicos não se empolgarem com o projeto do deputado Paulo Odone (PPS), que está para ser votado na Assembleia, nem com a proposta alternativa do governo, que deve ser apreciada em regime de urgência nas próximas semanas. Seria ótimo se fosse viável, mas não é.

Se o projeto de Odone for aprovado, o governador Tarso Genro ficará com o ônus de vetá-lo, alegando vício de origem: a Assembleia não pode criar despesa sem indicar a fonte de receita. O projeto de Odone diz que todos os servidores com salário inferior a R$ 4,4 mil poderão incluir pai e mãe como dependentes, desde que a renda de cada um não seja superior a R$ 1,1 mil. Ora, se 77,1% dos servidores ganham abaixo de R$ 4,4 mil, significa que pouquíssimos pagarão alguma coisa para ter os pais como dependentes.

O governo só pediu urgência na votação do seu projeto para não ser acusado de malvadeza com os servidores se simplesmente vetar a proposta de Odone. Vende a ilusão de que está abrindo as portas do IPE-Saúde para os pais dos funcionários públicos, mas deixa a contribuição para ser definida mais tarde, com base em cálculos atuariais. Na prática, o servidor poderá colocar os pais como dependentes, mas a contribuição será quase tão elevada quanto a de um plano privado.

Os deputados têm dificuldade para votar contra um projeto popular, porque quase todos são candidatos à reeleição, mas os partidos que têm projeto de poder deveriam avaliar o risco de o IPE-Saúde quebrar com a inclusão de novos dependentes na faixa etária que mais precisa de médicos, exames e internações. Isso é matemática: não existe plano de saúde grátis.

Em 2012, o IPE fez uma consulta extraoficial aos servidores para saber se tinham interesse em incluir os pais como dependentes, pagando alguma contribuição. Cerca de 30 mil responderam que sim, mas não se falou de quanto seria a contrapartida. O IPE chegou a iniciar um estudo atuarial sobre a contribuição necessária para incluir dependentes já na terceira idade. Os dados preliminares chegaram a um valor entre R$ 300 e R$ 400. O Conselho Deliberativo concluiu que era inviável, e o assunto ficou congelado.

O presidente do IPE, Valter Morigi, calcula que o plano de saúde quebraria em, no máximo, seis meses se fossem incluídos dependentes sem contribuição ou com a cobrança de uma taxa apenas dos servidores com salários acima de R$ 4,4 mil. Se um dia o IPE-Saúde se tornar inviável, os servidores serão empurrados para o SUS.


ALIÁS

Os pré-candidatos a governador deveriam analisar os projetos em discussão na Assembleia para inclusão de pai e mãe como dependentes do IPE-Saúde e orientar a votação da bancada levando em conta o risco de o sonho virar pesadelo.

AMPLIAÇÃO DO CLÍNICAS EM POA É APROVADA



ZERO HORA 06 de março de 2014 | N° 17724

HELOISA ARUTH STURM


SEM ENTRAVES

Ampliação do Clínicas é aprovada

Após ser ameaçada por impasses arquitetônico e ambiental, obra deve começar ainda em março



Por 30 votos a favor e uma abstenção, a Câmara de Vereadores aprovou ontem o projeto de lei do Executivo que autoriza a ampliação do Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA). O empreendimento, que chegou a ser ameaçado por entraves urbanístico, arquitetônico e ambiental, permitirá aumentar em 70% a capacidade de atendimento da instituição. A previsão é de que as obras tenham início dentro de duas a três semanas. A reforma deve ser concluída em até quatro anos.

– O resultado maior é a saúde que ganha. É um hospital universitário que vai ter sua área física ampliada, com uma tecnologia de ponta ofertada aos pacientes do SUS. No sul do Brasil não há um projeto em andamento dessa magnitude. Já temos a licitação, temos a verba, e a ideia é que a gente possa entregar esse produto para a população em 36 a 48 meses – afirma a vice-diretora do Hospital, Nadine Clausell.

A discussão precisou ser levada ao Legislativo municipal depois que a Comissão de Análise Urbanística e Gerenciamento (Cauge) da prefeitura emitiu parecer apontando que os dois prédios anexos previstos na ampliação poderiam alterar o paisagismo da área. O órgão sugeriu transferir a construção para outro local. Como o projeto dos dois edifícios contíguos à estrutura original infringe duas leis municipais – do Plano Diretor e do Inventário referente ao Patrimônio Histórico –, os vereadores precisariam aprovar uma lei complementar que abrirá uma brecha para a edificação.

O pedido foi protocolado em regime de urgência no dia 18 de fevereiro. Na votação desta Quarta-Feira de Cinzas, apenas cinco dos 36 vereadores não participaram da sessão, que durou quase três horas. Cinco emendas ao projeto foram apresentadas, sugerindo dispositivos como a utilização dos novos leitos de forma exclusiva por pacientes do SUS, a contratação de novos funcionários na mesma proporção da ampliação e procedimentos para a compensação ambiental, já que 240 árvores existentes no terreno deverão ser cortadas para dar lugar à obra.

O plenário aprovou apenas a emenda apresentada pelo vereador Delegado Cleiton (PDT), que prevê que tal compensação seja feita no mesmo imóvel ou bairro do empreendimento.

Serão investidos R$ 408 milhões para construção da obra e aquisição de equipamentos, com recursos integralmente pagos pelo governo federal – via Ministério da Educação, por se tratar de um hospital universitário.

Agora, o projeto deve seguir a tramitação legal e receber a sanção do prefeito José Fortunati.


Prioridade a pacientes de alta complexidade


As novas instalações do Hospital de Clínicas permitirão que recursos sejam melhor aproveitados para o atendimento a casos complexos, como acidente vascular cerebral, dor torácica de origem cardíaca e insuficiência respiratória. Desde 2012, a instituição vem implementando uma mudança conceitual do Serviço de Emergência, priorizando pacientes de alta complexidade. Com o novo redesenho operacional, as equipes deverão trabalhar de forma mais dinâmica.

O Protocolo de Manchester, sistema de classificação de risco e triagem, atribui graus de complexidade aos doentes com base em uma escala de cores: dos menos graves aos mais graves, variando entre o branco e o vermelho. Em 2013, 85% dos atendimentos do setor corresponderam às categorias laranja e amarela (urgências).

Por isso, o novo layout decorrente da ampliação será modificado para acomodar esses casos. Com a construção dos anexos, a área total passará de 1,7 mil para 5.159 metros quadrados, abrigando três grandes unidades: observação breve, observação 24 horas e graves. O número de leitos no Centro de Tratamento Intensivo irá dobrar, a ala de recuperação pós-anestésica passará dos atuais 22 leitos para 90 leitos e 60 poltronas de recuperação, e o Centro Cirúrgico contará com 41 salas, em vez das 28 atuais.


EDITORIAIS

Decisão sensata


Como era previsível, a Câmara Municipal de Porto Alegre decidiu autorizar, por 30 votos e uma abstenção, o projeto de ampliação do Hospital de Clínicas, que esbarrava em minúcias do Plano Diretor, da Lei do Inventário e num certo ranço de grupos ambientalistas e defensores do patrimônio histórico. Por conta de entraves fundamentados em boas causas, mas nem de longe mais importantes do que a saúde pública, o início das obras do complexo hospitalar estava suspenso desde 2012. Este ano, porém, a questão ganhou urgência porque termina o prazo legal para a utilização dos recursos já liberados pelo Ministério da Educação. Se a obra não for iniciada em 2014, o dinheiro terá que ser devolvido.

Tão logo o debate veio a público, a população passou a manifestar-se majoritariamente favorável ao posicionamento do comando do hospital, ainda que a construção do anexo pretendido desrespeite o Plano Diretor em relação ao número de vagas para o estacionamento e exija o corte de 240 árvores. Sem desconsiderar a importância da preservação ambiental e do cumprimento da legislação, essas exigências tornam-se insignificantes no confronto com a ampliação da capacidade de atendimento do hospital em 70%, quando a obra estiver concluída.

Agiu, portanto, com sensatez a Câmara Municipal, ao decidir sobre esta polêmica procurando conciliar, por meio do diálogo, questões que dizem respeito à saúde da população sem ignorar as relacionadas ao meio ambiente. A partir de agora, é importante que a sociedade continue se valendo das instituições democráticas para assegurar que as obras possam ser levadas adiante com o devido rigor em relação a aspectos como custos e prazos.


ESTUPIDAMENTE NÃO SE CONSTROEM MAIS HOSPITAIS EM PORTO ALEGRE

ZERO HORA 06 de março de 2014 | N° 17724


PAULO SANT’ANA



Atendimento médico



Noto alguns sinais de melhorias em hospitais de Porto Alegre.

Na verdade, não bastam. O que bastaria seria a construção de novos hospitais na Capital, que, como se sabe, é centro de atendimento médico que serve a todo o Estado.

Mas estupidamente não se constroem novos hospitais em Porto Alegre há décadas.

*

Por exemplo, votava-se ontem na Câmara de Vereadores a ampliação em 60% da capacidade física do Hospital de Clínicas, o que fará daquele local um dos mais prósperos recintos de atendimento médico do Brasil.

*

Vi com meus olhos e percebi com meus sentidos, ontem, as excelentes instalações do setor de emergência do Hospital Moinhos de Vento. Fui atendido lá e pude notar a ampliação daquele setor, além, é claro, da proverbial atenção que os enfermeiros, médicos e outros atendentes dão aos pacientes. E sei que seguidamente lotam aquelas dependências, sendo noticiado várias vezes que o Moinhos de Vento pede socorro aos outros hospitais quando está lotado.

*

Calculei que pela manhã haveria menor demanda de pacientes no Moinhos de Vento e estava certo. Fui alvo de excelente atendimento a uma obstrução intestinal que me causou constipação.

A doutora Magda e seus colegas me prestaram excelente serviço, pelo que pude ainda ocupar o resto da manhã em escrever esta coluna.

Muito obrigado, mais uma vez, aos médicos e enfermeiros que me ampararam em mais esse transtorno.

*

Noto, pela correspondência que recebo, que um dos mais candentes agradecimentos que produzem os gaúchos é quando são bem atendidos em hospitais, muitas vezes pelo SUS, talvez até pelos efeitos verdadeiramente terroristas que o noticiário veicula nos órgãos de comunicação sobre os hospitais, principalmente no que se refere às vagas para pacientes.

São comoventes os agradecimentos quando acontece uma excelente prestação de serviços médicos.

É que costumam os noticiários sobre atendimento de saúde frisar somente a precariedade dos serviços hospitalares, deixando de lado o atendimento proverbial que hospitais e postos de saúde prestam à população gaúcha.

Realmente, uma das maiores satisfações e consequente alegria do povo é ser bem atendido em hospitais. Nada mais realiza uma pessoa do que sentir que uma equipe médica cuidou de sua saúde de forma humana e técnica invejáveis.

Hosanas!

quarta-feira, 5 de março de 2014

O CERTO X O CERTO


ZERO HORA 05 de março de 2014 | N° 17723


MARTHA MEDEIROS


Sofrer dá mais dignidade à existência do que alegrar-se. Chorar causa uma comoção que o sorrir nem de longe atinge. Tudo o que impede a felicidade possui uma fleuma poética e é mais respeitado, pois provoca introspecção, exige o pensar-se. O.k., mas desde que não se prolongue o coitadismo. O que tenho visto já é exagero. As pessoas têm tido uma propulsão a emperrar, complicar e outras atitudes que interrompem o andamento do curso da vida. E nessas atitudes não reside poesia alguma.

Tão mais simples seria cooperar. Abrir caminho. Facilitar.

Se as coisas estão nebulosas, converse. Se há dúvida no ar, explique. Se há mágoas se acumulando, dissolva-as. É básico. Só que muitos pensam que viver dessa forma é falta de imaginação. Não concebem a rotina sem uma complicaçãozinha. Se limparem a área, o que farão? Como ocuparão seu vazio?

Enquanto essa postura de autoboicote se restringir à vida pessoal de cada um, vá lá. Não há como impedir alguém de ser infeliz, se é esse o projeto para o qual a criatura tem vocação. Mas, em termos sociais, é nosso dever colaborar.

Poderia dar inúmeros exemplos, mas fico com um atual, o da ampliação do Hospital de Clínicas de Porto Alegre. Entendo a preocupação dos ambientalistas em relação às 240 árvores que deverão ser cortadas para erguer os dois novos prédios. Tenho certeza de que eles não são contra a população que será beneficiada com mais leitos e com um ambulatório maior. Apenas estão fazendo a parte deles, sendo coerentes com sua ideologia. Mas nem sempre o certo e o errado estão em discussão. Às vezes é o certo x o certo, como neste caso. Quem não seria a favor da natureza? Árvores geram vida também. Quem deve ceder quando duas posturas positivas entram em choque?

Da mesma forma, os embates amorosos quase sempre são a luta de um certo contra outro certo. Ambos têm suas razões para ser como são, pensar como pensam, acreditar no que acreditam. E, no entanto, um dos dois terá que baixar a guarda para dar continuidade à relação – no caso de haver o desejo mútuo de dar continuidade à relação, óbvio.

Enfrentamentos nunca são fáceis. No caso do hospital, parece claro que a palavra que decide o caso é emergência. Saúde é um dos problemas mais graves do Estado. Há dinheiro em caixa para o início da obra, o que é um luxo neste país em que tudo é desviado para o bolso de alguns poucos. As condições são propícias e a necessidade urge. É um acerto maior versus um acerto menor. Cooperação é tudo o que se espera para que a cidade possa ir adiante.

Aquele que cede pensa que perde. Mas não perde nada. Contribuirá à sua maneira (não atrapalhar é contribuir) e exercitará a flexibilidade, que sempre é sinal de inteligência.

domingo, 2 de março de 2014

PACIENTES SÃO ATENDIDOS NO CHÃO DE HOSPITAL

PORTAL R7 - DISTRITO FEDERAL - 9/1/2014 às 15h59


Pacientes são atendidos no chão de hospital público do DF. Unidade está superlotada e diversos atendimentos estão sendo cancelados

Do R7, com a TV Record Brasília


Vários pacientes ficam deitados nos cantos do hospital aguardando por um atendimentoReprodução / TV Record Brasília


Os pacientes do HRAN (Hospital Regional da Asa Norte), um dos principais da capital federal, estão sendo atendidos no chão da unidade. Eles ficam em colchões jogados pelos cantos e não recebem os devidos cuidados.

Um cinegrafista amador, que acompanhava um parente, sentiu na pele o problema e decidiu registrá-lo com o celular. As imagens foram gravadas esta semana em um dos corredores do hospital. Com os leitos completamente lotados, os pacientes são atendidos no chão da unidade. Do lado de fora, o clima é de revolta.

A reportagem da TV Record Brasília não teve autorização para entrar na unidade, mas a movimentação é intensa. Aldenir Batista, por exemplo, mora em Águas Lindas de Goiás (GO), região do Entorno do DF, e está com o filho internado com fortes dores abdominais desde o último dia 03. Inclusive, a criança foi atendida no corredor porque não havia leito disponível.

— É um descaso muito grande. Desde o dia 03 estamos esperando uma tomografia com contraste e os médicos só dizem que vão fazer o pedido, mas até agora não fizeram nada. Enquanto isso meu filho fica sentindo dores e a gente nem sabe o que ele tem. Pode ser vesícula e até mesmo apendicite, que pode ser fatal.

Quem está sendo atendido no HRAN garante que o local está muito cheio. Além disso, segundo acompanhantes e pacientes, muitos atendimentos também estão sendo cancelados sem qualquer justificativa. A comerciante Jéssica Alcântara tem diabetes tipo 1 e precisa diariamente de insulina.

Há um ano recebia o medicamento no HRAN, mas recebeu a informação de que o atendimento foi cancelado.

— Negligência total. Estou revoltada e nem posso ficar nervosa. Pago todos os meus impostos e parece que não adianta nada. Para que estou aqui mendigando meus remédios, sendo que é uma coisa minha, direito meu. Trouxe tudo o que eles pediram e agora não tenho nada. Vou comprar? Se pudesse não estaria aqui, meu remédio custa R$ 350 uma ampola com 3ml. A enfermeira olhou para mim com cara de quem não comeu nada e me tratou super mal.

A dona de casa Francisca de Souza também vive um drama parecido. O filho de 11 anos estava sendo atendido por um neurologista, porque a criança sente fortes dores na cabeça diariamente e chega a desmaiar. O tratamento, que completaria um ano, foi interrompido nesta quinta-feira (9) porque a médica responsável viajou para o exterior.

— Fiquei triste porque não pode parar o tratamento, ele é só uma criança.

A professora Rosângela da Costa também não está feliz. Ela está acompanhando a sogra, que sofre com cirrose, desde o dia 28 de dezembro. Para piorar a situação, a sogra dela também deve um derrame no pulmão e precisa com urgência de uma vaga na UTI, mas até agora nada.

Para tentar agilizar o processo, Rosângela chegou a entrar com um pedido na Justiça, que foi deferido.

— O juiz aprovou a liberação do leito, mas ninguém deu qualquer posicionamento até agora. Enquanto o governo está preocupado com a Copa do Mundo a saúde fica como está. Minha sogra passou a vida toda pagando os impostos e quando precisa de ajuda não a recebe. Descaso total.

A reportagem da TV Record Brasília tentou falar com a assessoria de imprensa e direção do hospital, mas sem sucesso.

Por meio de nota, a Secretaria de Saúde do DF informou que estão sendo feitos diversos investimentos na saúde e que a demanda que vem do Entorno está cada vez maior, mas garantiu que isso não prejudica o atendimento.


R7 - 28/11/2013 às 18h07

Relatório aponta falta de equipamentos e superlotação no Hospital de Base. HBDF foi vistoriado pela OAB, CFM e Câmara dos Deputados

Do R7, com TV Record Brasília



HBDF foi um dos oito hospitais vistoriados no BrasilR7

O CFM (Conselho Federal de Medicina), a OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) e a Câmara dos Deputados organizaram uma comissão pra avaliar as condições de oito hospitais do País. Um deles foi o HBDF (Hospital de Base do DF).

— O que choca a tosos é um cenário de guerra, afirmou o vice-presidente do CFM, Aloísio Tibiriçá.

A declaração foi dada após visita à emergência do HBDF. No entanto, em todos os hospitais vistoriados foram encontrados os mesmos problemas: falta de equipamentos, superlotação e profissionais sobrecarregados.

Segundo o relatório, no Hospital de Base são atendidas doze mil pessoas todos os dias. Cerca de 500 só na emergência. Muitos deles nem deveriam ser atendidos no HBDF, mas nas unidades de atendimento básico.

O levantamento foi realizado durante um ano e meio. A intenção do relatório é apontar os problemas e cobrar dos responsáveis mais investimentos na área da saúde.

GESTANTES E RECÉM NASCIDOS NO CORREDOR DO HOSPITAL

PORTAL R7 - DISTRITO FEDERAL 27/2/2014 às 11h36

Paciente flagra gestantes e recém-nascidos em macas no corredor de hospital público do DF. Por falta de vagas, os pacientes precisaram aguardar atendimento fora dos leitos

Gustavo Frasão, do R7


Cena flagrada no Hospital Regional de Samambaia por um internauta do R7 que não quis se identificarInternauta R7

Um morador do Distrito Federal, que pediu para não ser identificado, flagrou gestantes e bebês recém-nascidos internados no corredor do Hospital Regional de Samambaia (DF). O problema teria acontecido por falta de vagas na unidade e seria recorrente no local.

Na foto tirada pelo internauta, é possível ver que pelo menos dez pacientes aguardavam atendimento médico. Algumas mulheres estavam amamentando os filhos recém-nascidos.

— Fiquei assustado quando vi aquilo e quis registrar o momento para cobrar providências das autoridades. Esse tipo de coisa é muito comum lá, não apenas para as gestantes, como para outros tipos de pacientes também.

Procurada para comentar o assunto, a Secretaria de Saúde do DF reconheceu o problema, mas disse que apenas em casos emergenciais os pacientes são realocados em outros setores até que os leitos dos quartos sejam desocupados, uma vez que 50% dos atendimentos do Hospital Regional de Samambaia seriam oriundos de regiões do Entorno do DF.

A pasta esclareceu que o Centro Obstétrico da Unidade possui sete leitos e, neste momento, apenas dois estão ocupados. Na maternidade, que possui 28 leitos, 27 estão com ocupação, mas há previsão de alta para 19 pessoas nas próximas horas.

A secretaria também esclareceu que todas as gestantes que precisam de emergência nesta unidade hospitalar são atendidas e que o problema pontual, relatado nesta reportagem, já foi normalizado.

Para desafogar as emergências dos hospitais da capital federal, a Secretaria de Saúde também inaugurou quatro UPAS (Unidades de Pronto Atendimento), incluindo uma em Samambaia. A previsão é que até o fim do ano, outras 11 sejam entregues em todo o Distrito Federal.