sexta-feira, 20 de março de 2015

MAIS MÉDICOS, SÓ PARA SOCIALIZAR


Coluna do Augusto Nunes 18/03/2015 às 16:23 \ Opinião


VLADY OLIVER


Autoexplicativa, a matéria sobre o programa Mais Médicos veiculada pela Band e reproduzida no vídeo acima mostra como foram os bastidores da armação internacional que permitiu tanto o trabalho escravo em terras brasileiras, bem debaixo dos narizes daqueles togados que não vêem uma quadrilha onde já há um exército, quanto o financiamento da ditadura cubana por parte da pobre e espoliada democracia brasileira. Mais uma vez fomos feitos de otários. Mais uma vez um governo atende os próprios interesses em detrimento das liberdades democráticas, das liberdades individuais e do mínimo de decência necessário a que passemos a uma nação soberana, de um ajuntamento de bandidos.

É estarrecedor. É é também esclarecedor vermos como se move nas sombras essa religião caquética que tem por finalidade ludibriar o povo brasileiro. “Só pra socializar” é muito bom. É um escárnio. É outra prova de que esses aviõezinhos de um partido de pulhas e carcamanos a serviço de uma causa que rouba deslavadamente o erário brasileiro já são parte integrante e atuante de um anedotário intergaláctico. São piadas macabras e de mau gosto. Essa, por exemplo, foi proferida antes de “socializar” a mensagem do boca podre, afirmando que a ditadura cubana amealhará 60% dos proventos de seus escravos alocados para trabalharem por aqui.

Nenhuma manifestação do Congresso, nenhum panelaço a denunciar as condições sub-humanas a que um contingente de coitados é obrigado a se submeter para o financiamento de uma ditadura asquerosa. Urge abrir a caixa do BNDS, meus caros congressistas. Se sem ela o PT já é execrado por aqui, ao tornar públicas as vigarices cometidas por este governo para mandar nosso dinheiro para aquelas múmias de Lênin, quero ver com que meios se sustentará essa organização “socializada” e pilantra.

Já disse aqui que trata-se de uma mentalidade. O país está doente dessa nojeira. Dessa gente que acha que pode tirar um naco para si, em meio a toda essa sabujice. A reação dos atuais congressistas não me agrada. Parece um show de vigaristas tentando mostrar quem sobrevive por mais tempo fingindo-se de democrata, quando na verdade é socialista ou carcamano mesmo. A política está coalhada de gente que não está nem aí para os preceitos democráticos. Que zomba do clamor da sociedade. O que aqui é denunciado é um crime contra a humanidade, meus caros. É pouco?

Não entenderam ainda nossos políticos que o próximo passo é a insubordinação civil ─ e ela já está à caminho. Não entenderam que os “carecas do subúrbio” foram enquadrados imediatamente na manifestação de domingo. Se quiserem a tal “guerra”, terão. Neste estado de coisas, muito melhor seria que a Justiça e o Poder Legislativo dessem ao cidadão garantias de que não serão acobertadores de toda essa empulhação a que nos submeteram. No momento, minhas armas de guerra são minha indignação e o meu sapato, nessa ordem. Os caras, no entanto, não parecem dispostos a entregar a rapadura, diante de tamanha agremiação de calhordas.

Terão de ser coagidos a fazê-lo. Acho que o país vai perdendo a paciência numa escalada de indignação cívica. Será didático apear essa gente do poder pela lei. Se não for assim, aprenderão com quantos porretes se faz uma turba enfurecida. Desce daí, poltrona!!! Me parece que nossos ilustres togados e congressistas querem mesmo encher nossa paciência. Onde está a Isabel para promulgar uma nova Lei Áurea por aqui? Acordem, congressistas. Vocês ainda tem um país para legislar. Aproveitem enquanto é tempo.

terça-feira, 17 de março de 2015

FALTA DE REPASSE PARALISA A SAÚDE NO RS

ZERO HORA 16/03/2015 | 18h43

Saúde pede socorro. Falta de repasse a municípios paralisa serviços de saúde pública no Estado. Famurs afirma que passivo é de quase R$ 209 milhões, relativo à gestão Tarso Genro, e o atual governo não tem previsão de quitar o valor


por Vanessa Kannenberg



UTI móvel de Venâncio Aires pode paralisar atendimento a moradores e nas rodovias estaduais Foto: Divulgação / Prefeitura de Venâncio Aires

Após ameaça de paralisar o atendimento de três ambulâncias de suporte avançado (UTI móvel) do Samu, que atendem 13 municípios gaúchos e também rodovias administradas pela EGR, o governo estadual se mobilizou e chamou prefeituras para dialogar.

Com débito total de R$ 2 milhões, Venâncio Aires, Santa Cruz do Sul e Rio Pardo paralisariam o serviço nesta segunda-feira, mas as duas últimas voltaram atrás após reunião nesta tarde, que terminou com a promessa do Estado de "tentar" atualizar parte da dívida. O prefeito de Venâncio Aires e presidente da Associação dos Municípios do Vale do Rio Pardo (Amvarp), Airton Artus, disse que a situação é "inaceitável" e que o município estuda manter a UTI móvel na garagem. Uma decisão deve sair até quinta-feira.

No entanto, não é só Venâncio Aires que cogita ou que já está reduzindo atendimento na saúde pública por falta de repasse do Estado. Levantamento da Federação das Associações de Municípios do Rio Grande do Sul (Famurs) indica que um terço das regiões gaúchas estão com serviços ameaçados pelo mesmo motivo.


O maior problema é que a ferida não tem previsão de ser fechada: as atividades estão suspensas ou reduzidas por tempo indeterminado. Isso porque o passivo de R$ 208,925 milhões, segundo dados da Famurs, é referente a 2014 — ou seja, da gestão Tarso Genro. E a atual, encabeçada por José Ivo Sartori, já anunciou que não tem previsão de quitar a dívida com as prefeituras. Vale ressaltar que o valor não inclui a dívida com os hospitais.

Conforme a Secretaria Estadual da Saúde (SES) o valor pendente é um pouco menor do que a entidade diz. Seria de R$ 196,9. O que não diminui o problema, que já atinge nove das 27 regiões consideradas pela Famurs. Entre os serviços mais afetados estão a distribuição de medicamentos, a oferta de consultas e o deslocamento de ambulâncias.


De acordo com o secretário da Saúde, João Gabbardo, todas as despesas de dezembro de 2014, janeiro e fevereiro de 2015 estão em dia – o que é confirmado pela Famurs —, mas não existe nenhuma previsão quanto ao pagamento dos meses anteriores. Em reunião com secretários municipais de Saúde em fevereiro, Gabbardo disse que sequer seria possível divulgar um calendário para pôr em dia os dividendos.

O não pagamento de recursos para a Saúde, segundo o especialista em Direito Administrativo, professor da PUCRS e da UFRGS Juarez Freitas, é irregular:

— Os repasses de recursos para a saúde são obrigatórios e absolutamente prioritários. Não importa se os atrasos ocorreram em governo anterior, pois o compromisso é do Estado com esse dever constitucional.

Conforme Freitas, nos termos da Lei Complementar 141, é vedada a limitação de empenho e de repasses que comprometa o cumprimento dos recursos mínimos para saúde. Se for o caso, havendo queda de arrecadação ou outro fator circunstancial, o Estado tem de cortar despesas não essenciais — por exemplo, enxugando secretarias, cargos políticos ou alienando ativos. Descumprir a Lei Complementar pode levar a uma pena de enquadramento como improbidade administrativa.

— Ainda que o Tribunal de Contas e o Ministério Público sejam compreensivos com os gestores municipais, que não possuem culpa, e ofereçam tempo razoável aos gestores estaduais que recém assumiram, é fundamental tomar atitude de imediato e firme para garantir proteção da saúde pública — concluiu Freitas.


A polêmica das ambulâncias no Vale do Rio Pardo

As três ambulâncias de suporte avançado do Samu que ameaçaram interromper atendimento nesta segunda-feira têm como base as cidades de Venâncio Aires, Santa Cruz do Sul e Rio Pardo, todos no Vale do Rio Pardo. No entanto, as UTIs móveis são responsáveis por atender, ao todo, 13 municípios da região e uma população total de cerca de 330 mil habitantes.

Mais do que os moradores locais, essas ambulâncias fazem parte do atendimento às rodovias estaduais administradas pela Empresa Gaúcha de Rodovias (EGR). A EGR, inclusive, foi procurada pela associação regional para participar do rateio das despesas do serviço, mas negou o pedido.


Os débitos do governo do Estado com as prefeituras chegam a R$ 2 milhões – R$ 1,2 milhão só para Rio Pardo. Cada ambulância de suporte avançado conta com seis médicos, cinco enfermeiros e cinco condutores. Os custos de manutenção são divididos entre as prefeituras e o governo do Estado, que necessita repassar R$ 90 mil mensais para manter cada ambulância. A prefeitura de Venâncio Aires informou que já notificou o Ministério Público.

Diante da ameaça, o governo do Estado se comprometeu a pagar para Rio Pardo, R$ 450 mil referente à manutenção do Samu nos meses de janeiro, fevereiro e março e a tentar pagar parte da dívida deste ano com Santa Cruz do Sul e Venâncio Aires. Mais uma vez, o Executivo disse que não seria possível pagar o montante do governo anterior.

Além disso, o diretor do Departamento de Atenção Hospitalar e Ambulatorial da Secretaria da Saúde, Alexandre Brito, disse à Rádio Gaúcha, que o governo quer “readequar” o número de ambulâncias, a fim de diminuir os gastos da região. Uma das extintas pode ser a de Venâncio Aires.

— A gente faz a lição de casa, presta um bom atendimento e é penalizado por isso. Vamos buscar nossos direitos e tentar saber quanto que cada município está recebendo — criticou Artus.

Em nota, a Secretaria Estadual da Saúde informou que, em relação ao serviço do Samu, neste ano, já foram repassados aos municípios um total de R$ 6.245.746,59. O valor corresponde ao exercício de janeiro de 2015 de todas as bases do serviço no Estado. Disse ainda que o mês de fevereiro será pago no próximo dia 25, seguindo o calendário normal – da competência de um mês sendo paga até o final do mês seguinte.


ZERO HORA  16/03/2015 | 19h10


por Lizie Antonello


Hospital de Caridade suspende atendimento em oncologia pelo SUS
. Medida segue orientação da Secretaria de Saúde do Estado, diz provedoria




Foto: Jean Pimentel / Agencia RBS


O Hospital de Caridade Astrogildo de Azevedo suspendeu o atendimento em oncologia pelo Sistema Único de Saúde (SUS) nesta segunda-feira. Cerca de 200 pacientes deverão ser encaminhados para o Hospital Universitário de Santa Maria (Husm).

O Caridade diz que, em setembro do ano passado, a Secretaria Estadual de Saúde (SES) credenciou o hospital para começar a prestar atendimento na área pelo SUS. Desde então, o hospital passou a atender os pacientes em radioterapia, quimioterapia e cirurgias oncológicas, mas nunca teria recebido pelo serviços, porque eles não foram habilitados pelo Ministério da Saúde.

Em reunião com o atual secretário de Saúde do Estado, João Gabbardo dos Reis, na última sexta-feira, o Caridade foi recomendado a suspender o atendimento. A explicação, segundo o secretário, estaria em uma advertência feita pelo Tribunal de Contas do Estado (TCE) ao governo de que o credenciamento seria irregular e que, portanto, o Estado não poderia pagar pelos serviços já prestados.

_ A Secretaria de Saúde (do Estado) recomendou que parássemos o atendimento, o que fizemos a partir de hoje. Enviamos uma relação com os nomes de cerca de 200 pacientes que estavam em tratamento para a 4ª Coordenadoria Regional de Saúde (4ª CRS) que terá de encaminhar as pessoas para outro local para continuarem os seus tratamentos. É uma lástima que tenhamos um serviço ocioso por burocracia do Estado.

Os pacientes que estão internados no Hospital Alcides Brum, que faz parte do complexo hospitalar do Caridade (entre sete e nove pessoas), permanecerão recebendo tratamento. O Caridade não descarta entrar na Justiça para tentar receber o valor devido pelo Estado.

Além do Caridade, o serviço de radioterapia, quimioterapia e cirurgia oncológica pelo SUS é ofertado no Hospital Universitário (Husm). A quimioterapia é ofertada também em clínicas particulares no município.

A coordenadora regional de Saúde, Lenir da Rosa, disse que não foi informada oficialmente pelo Caridade, mas que os pacientes podem ficar tranquilos que eles serão encaminhados ao Husm para seguir com os tratamentos.

Sem previsão para receber R$ 16 milhões

Segundo o provedor Walter Jobim Neto, Gabbardo disse que não tem previsão de pagamento da dívida de R$ 16 milhões do Estado com o hospital. A dívida é referente a atendimentos e compras de leitos pelo SUS até dezembro de 2014. Os valores referentes a janeiro e fevereiro foram pagos. Os serviços de oncologia estão incluídos no montante da dívida.

Ainda conforme Jobim Neto, o secretário teria orientado o hospital a não vender mais leitos de Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) quando solicitado pelo Estado. A orientação deve ser seguida pelo hospital, que manterá apenas serviços de baixa e média complexidade pelo SUS.


O "Diário" fez contato telefônico com a secretaria estadual de Saúde por volta das 17h30min e, às 17h46min desta segunda-feira, encaminhou as perguntas por e-mail. Em seguida, a reportagem obteve o retorno da assessoria de imprensa da pasta, por telefone, de que, por uma questão de horário e de tempo, as respostas do órgão serão encaminhadas ao jornal nesta terça-feira.








segunda-feira, 16 de março de 2015

CLUBE DO CARIMBO DA AIDS ATERRORIZA A SAÚDE

G1 FANTÁSTICO Edição do dia 15/03/2015


Grupos compartilham técnicas de transmissão do vírus da Aids. Polícia já investiga o chamado "clube do carimbo". "Carimbar" significa passar o vírus da Aids sem o conhecimento e permissão do parceiro.





Durante quase dois meses, o Fantástico investigou um tipo de crime assustador. Dá para acreditar que existe gente que transmite o vírus da Aids de propósito para os parceiros? Na gíria dessas pessoas, contaminar alguém é chamado de "carimbar". Nossa equipe ficou frente a frente com dois homens que dizem fazer exatamente isso. A reportagem sobre o chamado "clube do carimbo" é de Augusto Medeiros e Rodrigo Vaz.

O homem mostrado no vídeo acima diz que tem o vírus da Aids.

“Está bem controlado, tudo. Mas eu sei que eu tenho o HIV”, diz o homem.

É funcionário público e não sabe que a conversa está sendo gravada.

Homem: Eu não faço sexo com camisinha com ninguém. Não faço.
Fantástico: Mas aí você não fala que é HIV?
Homem: Não, não falo.

A polícia já investiga esse tipo de comportamento sexual. Grupos secretos usam as redes sociais para marcar encontros e espalhar o vírus de propósito. É o chamado "clube do carimbo".

"Carimbar" é uma gíria usada por algumas pessoas portadoras do vírus da Aids e pode levar o carimbador para a cadeia. Significa passar o vírus da Aids sem o conhecimento e a permissão do parceiro.

“Evidentemente, há a prática do crime. Não há dúvida a respeito disso”, destaca Alamiro Velludo Netto, professor de Direito Penal da USP.

E a pena pode ser de 2 a 8 anos de cadeia.

“Lesão corporal grave. Grave porque há uma agressão à saúde que aparece por meio de uma enfermidade incurável”, destaca o professor de direito penal.

Em quase dois meses de investigação jornalística, o Fantástico esteve em lugares frequentados por pessoas que se declaram "carimbadores". Também fizemos contato pela internet com homens que dizem transmitir a Aids de propósito. E para isso, criamos uma história. Sem nos identificar como jornalistas, simulamos interesse no assunto e assim, conseguimos entrar em grupos secretos nas redes sociais.

Primeiro, os carimbadores mandaram mensagens. Quem é portador do vírus também se identifica como "vitaminado". Um deles disse que "ama" passar o HIV. Um outro revela que engana os parceiros tirando a camisinha, sem a pessoa perceber. Foi com esse carimbador que marcamos um encontro no Largo do Arouche, Centro de São Paulo. Ele diz que é professor de geografia e quem tem o vírus.

Fantástico: Já carimbou muita gente?
Professor: Isso.

Diz ainda que alguns parceiros pedem pra ele tirar o preservativo, achando que ele não tem a doença.

Professor: Tem gente que na hora que curte com camisinha. Depois pede para tirar.
Fantástico: Onde é mais comum a galera estar carimbando?
Professor: Na sauna.

Um rapaz, de 25 anos, luta contra a disseminação da Aids e o preconceito. Há sete anos, o então namorado dele não contou que estava doente.

“Ele sabia do diagnóstico dele, da serologia dele e acabou insistindo várias vezes: ‘vamos fazer sem camisinha’”, conta Diego Callisto, ativista de direitos humanos.

Diego contraiu o vírus, e recentemente, denunciou o clube do carimbo.

“Nós estamos falando de determinado recorte de soropositivos que adotam tal prática. Achei uma realidade muito estarrecedora porque eu vi pessoas soropositivas dentro do grupo e falando de ter relações sem camisinha: ‘ah, eu vou carimbar’. Nenhum momento falaram: ‘olha, eu sou soropositivo e eu quero transar sem camisinha’”, conta o ativista.

O psiquiatra Alexandre Saadeh da USP, especialista em sexualidade, afirma: “Entre os heterossexuais, também acontece essa contaminação deliberada”.

E quem comete um crime desse tipo pode ter transtorno de personalidade antissocial.

“Vai desde alguém que burla as regras, que não respeita o outro, que não sente culpa até chegar num criminoso. Alguém que deliberadamente contamina o outro com um vírus, com uma doença, não dá para dizer que não seja um criminoso”, diz o psiquiatra.

O funcionário público que mostramos no início da reportagem assumindo que é um carimbador, que transmite Aids de propósito contou que ele próprio foi contaminado porque quis.

Homem: Era tudo o que eu mais queria. Era ser soropositivo.
Fantástico: Por que você quis ser carimbado?
Homem: Pelo prazer que eu tinha de ser carimbado. Eu não sei te explicar.

O encontro com o funcionário público aconteceu em Campinas. Antes, a conversa tinha sido pela internet. Ele contou que tem Aids há 10 anos, e vive bem porque toma o coquetel de remédios. Depois, pessoalmente, deu mais detalhes.

Fantástico: Onde que você já carimbou? Os lugares?
Homem: Via de regra, é na minha casa.
Fantástico: Quantos você já carimbou?
Homem: Olha, eu vou ser sincero. Eu carimbei 1, 5, 10, não. Não foram. Foram muito mais.

Ele sabe que passar a doença de propósito dá cadeia.

“Você é contaminado e essa pessoa registra uma ocorrência falando: ‘foi o cara que me contaminou’. Isso é crime”, conta o homem.

Mas ele não se arrepende e até ri.

Fantástico: Depois você não fica pensando isso não?
Homem: Com drama de consciência? Não. Eu não. Na minha cabeça? Nem passa isso.

O Fantástico preservou a identidade dos dois homens que se dizem "carimbadores" porque eles, e pessoas próximas a eles, poderiam sofrer alguém tipo de represália. Mas, como se trata de um crime, encaminhamos as imagens originais e as informações para o Ministério Público do estado de São Paulo.

“É uma situação gravíssima. O Ministério Público vai identificar essas pessoas e consequentemente vai instaurar um procedimento investigatório criminal para apurar a conduta de cada um deles”, diz o Cássio Conserino, promotor de Justiça.

Um rapaz descobriu que contraiu o vírus há 5 meses. Ele tem certeza que foi vítima de um carimbador. “Eu queria entender por que que uma pessoa faz uma coisa dessas. Eu não sei se é prazer ou se é raiva”, conta o rapaz. No caso dele, o parceiro não contou que tinha a doença e a relação sexual foi sem camisinha. “Se eu tivesse usado, seria diferente a minha vida hoje”, lamenta o rapaz.

Segundo o Ministério da Saúde, entre 2009 e 2013, em média, por ano, 39 mil e 700 brasileiros contraíram o vírus.

“O que temos que fazer é sempre usar o preservativo. Existe também a profilaxia pós-exposição, que é - em 72 horas após a exposição ao risco pode-se buscar também o posto de saúde e buscar esse tratamento que evita a infecção”, destaca Georgiana Braga-Orillard, diretora do Unaids.

“A gente consegue viver com mais qualidade de vida. Porém, isso não é motivo para se banalizar a transmissão do HIV e achar que viver com Aids é tudo muito tranquilo, porque não é”, alerta o ativista Diego Callisto.

segunda-feira, 2 de março de 2015

PRESO DAVA GOLPE EM PESSOAS INTERNADAS

G1 FANTASTICO Edição do dia 01/03/2015


Homem se passa por médico para tirar dinheiro de pessoas internadas. Estelionatário chegou a arrecadar R$ 200 mil por mês com golpes em famílias de pessoas doentes. Mesmo preso desde 2012, ele continua agindo.





Um golpista frio, que se aproveitava de pessoas que estavam fragilizadas pela doença de algum parente para tirar dinheiro delas. E mais: ele não se importava de debochar de suas vítimas.

“Basicamente o Valfrido é um artista. É aquele criminoso sedutor”, conta o delegado Wellington de Oliveira.

“São inumeráveis golpes, são incontáveis”, afirma Valfrido.

Valfrido Gonzales Filho, 36 anos, não é um estelionatário comum.

“Muito coerente a história, muito bem contada, uma pessoa muito boa de lábia”, diz uma vítima.

Articulado e simpático, escolhe suas vítimas entre doentes e parentes de doentes que estão internados em hospitais.

“Nesta modalidade, golpe da desgraça se passando por médicos, o Valfrido é um dos mais avançados”, diz o delegado Wellington de Oliveira.

O golpe da desgraça, citado pelo delegado, é a especialidade de Valfrido. Ele finge ser médico e tenta arrancar dinheiro das vítimas. Mesmo preso desde 2012, em Mato Grosso do Sul, continua agindo. São mais de 40 golpes aplicados de dentro da prisão.

“Ele arrecada pelo menos, R$ 200 mil por mês com estes golpes”, diz o delegado.

A filha de Rosemari da Silveira, de nove anos de idade, estava internada para uma cirurgia em Joaçaba, Santa Catarina. O telefone tocou no quarto do hospital:

“Eu preciso que a senhora me deposite um dinheiro pra um remédio, um medicamento que a gente está em falta no hospital. Eu preciso te dar alta, mas eu dependo desse medicamento”, conta a dona de casa Rosemari da Silveira.

Ela depositou R$ 1,2 mil para o falso médico. Tirou o dinheiro da poupança.

"Você está ali, a tua filha quer sair do hospital, quer ganhar alta. Você vai fazer o que a pessoa está pedindo", conta Rosimari.

Em São Paulo, até uma maternidade entrou para a lista do bandido.

“No segundo dia do nascimento da nossa filha, houve uma ligação no quarto. Ele pediu para falar comigo. Ele falou: "Nós fizemos a biópsia, não é C.A. mas tem que tomar um remédio. Quando ele falou C.A, é uma linguagem que médico usa até para não falar câncer. Você fica nervoso, como assim né, você está num momento de ampla felicidade e descobre aquilo”, contou uma vítima.

O estelionatário se aproveita da situação e indica os remédios.

“São 3 medicamentos e a representante do laboratório está aqui no meu consultório e 2 caixas ela já me conseguiu, mas tem um terceiro que vocês precisam comprar, e levo daqui a pouco no hospital, porque o plano de saúde reembolsa”, contou a vítima.

E consegue arrancar R$ 4 mil desta família. A maternidade Pro Matre, onde aconteceu o caso, diz que orientou o casal a fazer um boletim de ocorrência e que desde o final de 2013, alerta seus pacientes sobre trotes telefônicos.

A polícia já tem relatos de golpes aplicados por Valfrido em pacientes internados em hospitais de pelo menos 5 estados. Ele está preso na Penitenciária Estadual de Dourados, a 230 quilômetros de Campo Grande e vive isolado dos outros detentos.

O Fantástico entrevistou Valfrido no Fórum da cidade.

“Eu minto desde os 14 anos de idade. Meu primeiro golpe foi que eu enganei o dono da empresa de ônibus para me dar uma vaga de emprego, porque tinham 40 pessoas na frente e eu havia ligado lá, me identificado como juiz, uma autoridade e por ele ser envolvido no meio político, ele acabou concedendo a vaga, me colocando então à frente daquelas 40 pessoas. Mas eu fiquei 7 dias trabalhando lá. Me deu uma dor na coluna, até hoje eu tenho a dor na coluna, você acredita? O golpe do hospital eu ligava lá na recepção. Pegava o nome do paciente e o nome do médico e o número do apartamento e ligo e me passo como médico e vendo remédio”, conta Valfrido.

Um dos golpes mais recentes foi no final do mês de janeiro, contra uma família de São Paulo. A esposa, de um homem - que prefere não se identificar - estava internada no Hospital Paulistano, quando começou a receber telefonemas.

“Eu não tive dúvidas que se tratava de um profissional e fui envolvido a um convencimento de adquirir os medicamentos que seriam realmente a salvação para uma pessoa que está internada sem diagnóstico, sem expectativa de tratamento”, conta a vítima.

Foram 20 ligações, durante dois dias. A vítima fez quatro depósitos, somando pouco mais de R$ 8,6 mil.

“Já se passou praticamente um mês da ocorrência, embora tenha sido muito bem atendido, não sinto do hospital o interesse de fazer este ressarcimento”, desabafa a vítima do Hospital Paulistano.

O Fantástico procurou o Hospital Paulistano que disse que não vai comentar o caso, mas que passou a alertar os pacientes, médicos, visitantes e funcionários sobre riscos de práticas ilegais no setor de internação.

Em Campo Grande, a polícia foi atrás de Lúcio Peres de Almeida, dono de uma das contas bancárias que receberam os depósitos da vítima do Hospital Paulistano. Lúcio prestou depoimento e disse que conheceu Valfrido quando foi visitar o pai que estava preso junto com o estelionatário.

“Ele pediu, falou que ia depositar um dinheiro que era para se manter e ia me dar "cinquentão" só e eu não tinha conhecimento que era de crime nem nada”, conta Lúcio de Almeida.

Em um organograma, feito pela equipe de investigação, aparecem alguns dos cúmplices do criminoso.

“Valfrido é o mentor intelectual dos golpes, mas tem também aquela pessoa que fornece a conta, tem a pessoa que saca o dinheiro, tem a pessoa que lava o dinheiro, ou seja, a gente está trabalhando com a ideia de organização criminosa”, diz o delegado Wellington.

“Isto é devaneio do doutor Wellington. Ele fica com este devaneio, esta fantasia, este sonho de uma noite de verão na mente dele, porque este negócio de quadrilha não existe. Como que eu vou comandar uma quadrilha dentro de um presidio isolado?”, rebate Valfrido

Para um especialista em comportamento criminal, cometer golpes, como faz Valfrido, pode ser um sinal de doença. “Esses indivíduos mentirosos patológicos têm alterações funcionais cerebrais. A vítima não é vista pelo estelionatário como alguém que vai sofrer, que tem sentimentos. Porque o ganho dele é superior a isto”, analisa Danilo Baltieri, professor de psiquiatria.

“Do leigo ao mais culto, todos são sujeitos a ser enganados” afirma Valfrido.

“Quanto mais crimes ele repete, maior é a chance deste indivíduo apresentar descontrole impulsivo, impulsividade motora e maior chance desse indivíduo apreciar este tipo de ato”, explica Danilo.

“Este povo dá tanto dinheiro por telefone e não chega e diz vou dar R$ 10, 15 mil pro Valfrido parar de mentir.”, diz Valfrido.

A grande dificuldade que nós temos hoje é combater essa situação de entrada de celulares dentro do sistema penitenciário. É uma transgressão da disciplina o preso ter um celular dentro do sistema penitenciário. É obvio que isso aí não pode ficar da transgressão da disciplina. Isso aí tem que ser crime”, afirma o delgado Wellington de Oliveira.

POSTOS DE SAÚDE PRECÁRIOS EM TODO O BRASIL

G1 FANTASTICO Edição do dia 01/03/2015


Fantástico mostra situação alarmante dos postos de saúde brasileiros. Milhões de pessoas enfrentam a triste realidade de quem é obrigado a usar postos de saúde no país: faltam equipamentos, estrutura e remédios.




Como estão funcionando os postos de saúde Brasil afora? Fiscais dos Conselhos Regionais De Medicina saíram em busca dessa resposta. Visitaram mais de dois mil desses postos. E a situação é alarmante: falta remédio, falta equipamento. Às vezes, falta até estrutura. É essa a triste realidade que milhões de brasileiros enfrentam todos os dias.

O martírio de quem usa os postos de saúde no Brasil, muitas vezes começa antes mesmo da porta de entrada. Doze degraus separam a calçada da porta do posto onde pacientes com dificuldade de locomoção buscam ajuda.

“É difícil mas quem não tem tu, o que é que faz? Vai tu mesmo”, lamenta uma senhora.

O Fantástico entrou em diversos postos de saúde pelo país para mostrar a situação precária, caótica e escandalosa sofrida por milhões de brasileiros que dependem do atendimento do SUS - o Sistema Único de Saúde.

Nossa primeira parada é no estado do Rio de Janeiro. No município de São Gonçalo, existe um posto que não tem nem placa na porta.

“Parece uma casa abandonada. Ninguém diz que isso aqui é um posto de saúde”, diz uma mulher.

Na verdade, essa é só a primeira coisa que o posto não tem. Então, seja bem-vindo ao: Posto ‘não tem’. Paciente? Tem sim, doutor. Mas o resto...

Homem: Odontologia aqui não tem, não.
Fantástico: Há quanto tempo não tem raio-X?
Homem: Aqui tem mais de 2 anos.
Senhora: Os funcionários não têm água.
Fantástico: A senhora trouxe a água?
Senhora: Eu trouxe.
Mulher: Não tem água, não tem banheiro, falta mais médico.
Funcionária: Não temos enfermeira no posto. Não temos sala de medicação.
Fantástico: Você não consegue fazer um curativo aqui?
Funcionária: Não tem condição.
Fantástico: Tem uma seringa aqui?
Funcionária: Não tem nada. Não temos nada.

E para quem trabalha ali.

“Aqui tem caracterização de um pós-guerra. Parece que jogaram uma bomba e as pessoas retiraram e nós entramos para trabalhar”, revela uma médica.

Mas não é apenas no posto "não tem" que falta tudo isso. O Fantástico teve acesso com exclusividade a um levantamento feito pelo Conselho Federal de Medicina sobre a situação dos postos de saúde em todo o Brasil. E o diagnóstico não é nada bom.

Ao todo, 52% dos postos não tem negatoscópio, aquelas máquinas luminosas que o médico usa para ver o raio X. E 29% não tem estetoscópio. Em outros 32%, o que falta é aparelho para medir a pressão. E de cada quatro postos pesquisados, um não tem esterilização de materiais.

“O posto de saúde é um local de mais fácil acesso à comunidade, onde essa comunidade e os seus cidadãos podem ser atendidos em diagnósticos mais simples, em tratamentos mais simples e, se nós tivéssemos um sistema de atenção primária, ou seja de postos de saúde, onde a prevenção fosse eficaz, nós teríamos 80% dos casos da saúde resolvidos nesse sistema, evitando naturalmente a superlotação dos hospitais do SUS”, afirma o presidente do Conselho Federal de Medicina, Carlos Vital.

A segunda parada da equipe do Fantástico é no norte do país, no Pará. E tem uma coisinha que acontece nessa região, que todo mundo que vive aqui sabe bem.

“A chuva quando vem, vem do nada, a gente tem que estar preparada”, conta uma mulher.

Por isso que é ainda mais revoltante que nesse local, onde chove todo dia, a gente encontre o próximo posto dessa reportagem, que vamos chamar de: "Posto cachoeira".

“Está correndo o risco de perder a medicação antes mesmo daquela validade que está escrita na medicação. Acaba sendo entregue uma medicação que a gente coloca em dúvida a sua eficácia”, afirma Jorge Tuma, do Conselho Regional de Medicina do Pará.

E os funcionários sabem bem porque a situação chegou a esse ponto. “Esse prédio tem 10 anos. Nunca foi feito nenhuma manutenção”, conta um funcionário.

No mesmo estado, só que agora na periferia da capital, Belém, encontramos o que seria o: "Posto mágico".

Ao todo, 1,2 mil famílias são atendidas neste posto, mas nada é o que parece. A geladeira é estante. O freezer? Caixa de correio. A maca virou mesa e por último, o grande truque: a cozinha e o quintal se transformam em consultórios.

Enfermeira: Quando estão os médicos um dia eu atendo na sala e o médico atende aqui fora
Fantástico: Aqui fora onde?
Enfermeira: Aqui fora um dia é eu, um dia é ele. A gente reveza

Fantástico: Você já foi atendida lá na cozinha?
Mulher: Já. É bicho que está passando, a gente tem medo.
Fantástico: Que bicho você já viu ali dentro?
Mulher: Barata. É um constrangimento para gente que somo pobre. Tem tantas coisas que não são prioridade no nosso país, a saúde que tinha que ser prioridade não é.

Um outro posto tem um problema sério: ele fecha muito cedo. Então, poderia ser conhecido como: "Posto vapt-vupt". Ao todo, 900 famílias dependem desse posto de saúde mas o atendimento lá...

Enfermeira: Aqui a gente começa 7h15.
Fantástico: E vai embora que horas?
Enfermeira: Aqui a gente fica até 12h, 12h15.

Dona Maria Carmen Carvalho mora em frente ao posto. Com 68 anos, precisa se cuidar. Tem pressão alta e diabetes. Por isso tem em casa tudo para não depender do posto de saúde e controlar a quantidade de açúcar no sangue.

“Tá alta. Agora eu tenho que tomar a insulina”, diz a aposentada ao medir a quantidade de açúcar no sangue.

Maria Carmen: O problema é que não tem quem me aplique. Eu não sei me aplicar.
Fantástico: Por que não procura o posto do outro lado da rua?
Maria Carmen: Porque só funciona de manhã.

Uma das opções para dona Carmem seria ir a outro posto, mas fica longe e não tem transporte público. E aqui, a situação também não é das melhores.

Um dia o povo não aguentou a falta de remédios e ameaçou agredir quem trabalha na farmácia. Assim nasceu o: "posto blindado".

"Eu já fui quase agredida. Porque aqui era vidro e tinha esse buraco aqui era maior. Isso aqui é um papelão que nós botamos. Aí um senhor veio meio perturbado, não tinha o medicamento dele. Tinha um bocado de papel na mão, ele meteu, jogou na cara da outra minha colega que estava aqui sentada, a auxiliar, aí quis me pegar por aqui. Os meus superiores me pediram para cobrir para pessoa só pegar mesmo o medicamento e não olhar para cara da gente, só passar o medicamento e pronto", conta uma farmacêutica.

Mesmo assim a falta de remédios continua.

“Anti-inflamatório infantil não tem nenhum”, diz uma farmacêutica ao paciente.

Esse é justamente o remédio que o filho do Seu Silva precisava. “Eu estava correndo atrás da galinha eu furei o meu pé no quintal. O prego estava no pneu, furei”, conta o filho de Seu Silva.

O pai, preocupado, levou o menino até o posto. O médico receitou o remédio. Mas: “apenas não tem. Só isso que eles dizem. Não tem e não tem. Tem que comprar, tem que desembolsar, com o pouco que a gente ganha. Na realidade eu tinha R$ 5 mas aí eu comprei o analgésico anti-inflamatório aí sobrou R$ 2 de troco e o mototaxi não quis levar por R$ 2. A corrida é R$ 3”, lamenta o cabeleireiro Benizaire Silva.

Fantástico: E você mora perto do posto?
Benizaire Silva: Eu moro cerca de uns 3 quilômetros. Eu me sinto constrangido, me sinto humilhado.

O que o Seu Silva não sabe é que ele pagou duas vezes por esse remédio. Quem explica isso é o professor Ricardo Gomes, da Universidade de Brasília.

“O dinheiro sai do bolso do Seu Silva em termos de pagamentos de impostos e esse recurso vai para a União, vai para o Estado e vai para o Município. Ele é encaminhado para financiar o Sistema Único de Saúde e esse recurso é gerenciado pelas prefeituras e ele vai ser aplicado no posto de saúde e uma pessoa que pagou o imposto tem o direito de ir ao posto de saúde e ter o seu atendimento realizado porque ele pagou os impostos e ele participou desse processo todo”, ressalta o professor.

Em Maceió, o posto está fechado para reformas, e assim, o povo precisou de ajuda divina. “Há uns quatro meses a gente está aqui nessa igreja, que doou para a gente espontaneamente, sem cobrar custo nenhum”, conta a dentista Adeane Loureiro. Este é o: “Posto dos milagres”.

Os médicos, dentistas e enfermeiros fazem seus atendimentos nas salas e corredores do templo, mas a falta de equipamentos impede diagnósticos mais apurados. O que resta é a boa vontade dos funcionários, à espera de uma luz.

“A gente não pode fazer mais do que a gente está fazendo. A gente vem aqui todos os dias, a gente vai, sabe da real situação deles, tenta encaminhar para outro canto, mas fica de coração partido porque não tem como fazer”, afirma a dentista Adeane Loureiro.

Também em Maceió, existe um posto que parece ter saído de historinha para fazer criança dormir. É o: "Posto faz de conta"

Todo posto de saúde precisa enviar ao Ministério da Saúde um cadastro com o seu número de profissionais, a sua estrutura e tudo mais que tem no posto. Esse cadastro é chamado de CNES, que significa "Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde".

Nesse posto, o diretor administrativo faz de conta que tem tudo que tem no CNES. Faz de conta que tem raio X, que tem mamógrafo. E também faz de conta que tem 136 médicos trabalhando, mas na verdade só tem 63.

Fantástico: Quantos médicos tem aqui?
Cesar Oliveira, diretor administrativo: 63.
Fantástico: Esse aqui é o cadastro do CNES que eu imprimi ontem. Aqui está a data de atualização. Dia 2 de fevereiro. Está diferente do que você falou. Aqui diz médicos:135 profissionais.
Cesar Oliveira, diretor administrativo: 135 profissionais. Mas não tem isso tudo não. O CNES não está atualizado ainda.
Fantástico: Mas aqui diz que está atualizado no dia 2 de fevereiro.
Cesar Oliveira, diretor administrativo: Mas a gente não deu baixa. Em alguns médicos então não foi dado baixa.
Fantástico: Então mais da metade dos médicos já saíram e não está atualizado?
Cesar Oliveira, diretor administrativo: É.

O problema não é só o número menor de profissionais trabalhando. Há uma outra questão envolvida: a quantidade dinheiro que o governo federal repassa aos municípios.

“Você tem um controle de verbas que são repassadas da federação, da União aos estados e municípios e que são verbas repassadas com base exatamente nos números de profissionais que estão ali lotados, que estão cadastrados dentro do próprio CNES”, ressalta o presidente do CFM, Carlos Vital.

Em todos os postos que o Fantástico visitou nessa reportagem, o que estava no cadastro enviado ao governo não era o que de fato se via nos locais. Mas o Ministério da Saúde nega que o cadastro seja usado para calcular o repasse de verbas.

“Ele é um cadastro nacional de estabelecimentos. Isso que é o CNES. Ele não é base para o financiamento federal para a rede básica. Portanto ele não interfere na definição do financiamento federal para a rede básica”, destaca a secretária de Atenção à Saúde, Lumena Furtado.

Já a Controladoria-Geral da União, a CGU, afirma que sim, existe relação entre o cadastro do CNES e o repasse de verbas destinadas à atenção básica de saúde do governo federal para os municípios. Em 2014, a verba em questão foi de R$ 20 bilhões.

No meio desse disse me disse do governo, quem espera sofrendo é a população. E em uma comunidade, no interior do Espírito Santo, o povo ficou cansado de esperar.

“Vamos pegar, um pouco vem aqui vamos peneirar areia e quatro já vai mexendo aquela masseira lá e mais um pouco vão lá dentro começar a fazer o piso e botar a porta, tem que botar no lugar”, ordena um homem à um grupo.

O posto de saúde de lá mal saiu do papel. Há dez anos a prefeitura começou a construção. Cinco anos depois, o posto ainda não estava pronto e a obra foi abandonada.

“Aí a comunidade se reuniu e decidiu, ou vamos derrubar o posto ou vamos terminar ele. Aí optamos para terminar”, conta Edilson Gotardo, agricultor e organizador do mutirão.

Posto: "Faça você mesmo"

“Hoje a gente só tem o sábado para trabalhar porque a maioria do povo trabalha na roça aqui, de semana, então a gente se reúne no sábado. Nem tudo conseguiu doação, então eu já dei o cheque lá na barra, ele me deu uns dias de prazo, para gente poder estar juntando dinheiro, arrecadando para poder está pagando isso aí. A gente não desiste fácil não”, afirma Edilson, organizador do mutirão.

E esse lugar onde é o povo que usa as próprias mãos para construir um posto de saúde, tem um nome que serve de inspiração para todos: Distrito Novo Brasil.

“Então agora com o postinho a gente vai ver se consegue maca, essas coisas, para poder está sendo digno, dignidade”, completa Edilson, organizador do mutirão.

Procuradas pelo Fantástico, todas as secretarias municipais de Saúde responsáveis pelos postos mostrados nesta reportagem responderam por notas.

A Secretaria do Rio de Janeiro, responsável pelo posto que não tem rampa de acesso na entrada, disse que a reforma está programada para começar em seis meses.

Com relação ao posto que chamamos de “não tem”, a Prefeitura de São Gonçalo alegou que o que falta no posto está disponível em outras unidades do município.

A Secretaria de Marituba, no Pará, responsável pelo posto com goteiras, disse que o teto vai ser reformado.

Em Belém, estão os postos chamados de “mágico”, “vapt-vupt” e “blindado”, a prefeitura afirmou que instaurou procedimentos administrativos para apurar todos os problemas.

Em Maceió, a prefeitura afirmou que vai resolver os problemas no cadastro do posto chamado de “faz de conta”. Em relação aos funcionários que atendem em uma igreja, informou que as obras do posto onde eles deveriam trabalhar serão concluídas em até 40 dias.

E no Espírito Santo, onde a população constrói o próprio posto, a prefeitura de Governador Lindenberg afirmou que vai terminar a obra até o ano que vem e que os moradores não têm autorização para fazer o trabalho por conta própria.