ZERO HORA 26 de julho de 2013 | N° 17503
LUTA PELA VIDA - Recém-nascido espera há quatro dias por um leito
Família peregrina por hospitais em busca de vaga para bebê, diagnosticado com problema cardíaco
Desde domingo, a família de Kaiki Cimirro dos Santos bate, de porta em porta, nos hospitais de Porto Alegre em busca de uma chance de vida para o recém-nascido. O menino veio ao mundo, na sexta-feira passada, com um problema cardíaco que requer cirurgia urgente.
Como não há leitos pós-operatórios disponíveis, a criança está há mais de 90 horas em coma induzido – com ajuda de aparelhos e de medicamentos. E, ainda que a Justiça tenha concedido liminar à família, obrigando o Estado a providenciar uma vaga, até as 21h de ontem, não havia perspectiva de solução para o problema.
– Poucas horas depois (de mãe e filho terem alta), tivemos de voltar ao hospital porque o Kaiki estava ofegante e com a boquinha branca. Chegando lá, logo foi internado. Pediram para que eu não saísse de lá, porque a situação era grave – explica o pai, o motorista Christian dos Santos, 28 anos.
Kaiki nasceu no Hospital Conceição e, segundo a mãe, Patrícia Cimirro, 29 anos, a enfermeira que lhe entregou o filho após o parto disse que os batimentos cardíacos estavam alterados.
– Ela disse que era normal, que 99% dos bebês nascem com essa alteração. Só que meu filho faz parte daquele grupo que deveria ter tido o problema diagnosticado antes de ter de voltar ao hospital quase morto – alega a mãe.
Quando passou mal, em casa, no domingo à noite, Kaiki foi levado até o Hospital da Criança, que também integra o Grupo Hospitalar Conceição. De acordo com o que médicos explicaram ao pai, a criança nasceu com hipoplasia no ventrículo esquerdo – este lado do coração não se desenvolveu totalmente. E não pode bombear sangue suficiente para atender às necessidades do corpo da criança.
– É uma cirurgia complicada. Os médicos disseram que só pode ser feita no Hospital Santo Antônio ou no Instituto de Cardiologia – diz o pai.
Nem mesmo ordem judicial ajudou na busca por hospital
Segundo o gerente de internação do Hospital da Criança Conceição, Lauro Luís Hagemann, a hipoplasia ocorre devido à diferença nas circulações fetal e pós-natal do bebê. Ou seja, a criança pode nascer sem ter o problema, que é detectado quando ocorre o fechamento da circulação fetal, podendo acontecer em até 15 dias após o nascimento. Por isso a doença foi percebida somente após a alta hospitalar. O problema poderia ter sido antecipado por meio de ecocardiografias durante a gestação, mas é um procedimento caro e faltam aparelhos e profissionais. O chamado “Teste do Coraçãozinho” também poderia antever a doença. Porém, detecta a hipoplasia em apenas um terço dos casos.
Na segunda-feira, a família recorreu à Justiça e conseguiu uma ordem judicial para obter um leito para o bebê. A documentação foi entregue apenas no Hospital de Cardiologia. De acordo com o pai, a médica que atende Kaiki no Hospital da Criança teria informado que o responsável pelos leitos do Hospital Santo Antônio não estava em Porto Alegre, e que, infelizmente, nesta semana, restaria somente uma opção para o recém-nascido.
A ordem judicial venceu na terça-feira sem que o bebê conseguisse leito.
– A gente sabe que não é culpa dos hospitais. Dizem que não há leitos e que tem, inclusive, outros bebês na fila. Enquanto isso, rezamos para que ele resista. A nossa vida tem sido dentro do hospital – lamenta a mãe.
*Colaborou Lara Ely
BRUNA SCIREA*
CONTRAPONTOS
O que diz a chefia da UTI pediátrica do Hospital de Cardiologia - O atendimento está sendo feito acima da capacidade. Há 10 leitos na unidade. Mas 12 crianças já estão sendo atendidas.
O que diz o Hospital da Criança Santo Antônio, por meio de assessoria - Não há vagas porque os 30 leitos da UTI pediátrica estão lotados. Neste caso, não há lista de espera. A lista é apenas para internação em quarto. A cirurgia de Kaiki depende da alta de um paciente, o que pode ocorrer a qualquer momento, como pode demorar.
O que diz a Central de Regulação de Leitos de UTI do Estado - O nome de Kaiki não está cadastrado na na Central de Regulação. A disponibilidade de leitos para um caso como o dele não é informado, apenas de médico para médico.
O que diz a Central de Leitos do Município - Confirma que não há leitos disponíveis no momento e que a situação do menino, que é estável, está sendo monitorada.
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