ARTIGOS
Paulo de Argollo Mendes*
Em ano de Copa do Mundo e eleições, é emblemático que a saúde se mantenha como o assunto de uma quase unanimidade. A recente pesquisa Ibope indicando que 77% dos brasileiros desaprovam a condição da assistência pública no governo Dilma Rousseff é uma clara mensagem de que os governos não estão entregando o que prometeram e que as prioridades estão no lugar errado. O maior emblema, por exemplo, de protestos contra a Copa é a frase queremos saúde padrão Fifa.
O que não é nenhum exagero, considerando que aos trancos e barrancos, 12 estádios foram, ou estão em vias, de ficarem prontos para os jogos. Nove novos e três reformados entre 12 arenas, cujos gastos superam R$ 7 bilhões, entre caixa público e financiamentos, estes aportados mediante juros subsidiados graças ao Tesouro Nacional. E se um cidadão doente batesse no banco atrás de empréstimo para fazer cirurgia ou comprar remédio que o SUS não está fornecendo? Todos sabemos que juro seria apresentado.
O fato é que a Copa mostrou que quando um governo quer, move mundos, e fundos, por uma causa. Também no governo do Rio Grande do Sul e na prefeitura de Porto Alegre observamos diligência e êxito para viabilizar o palco da Copa. Recentemente, a Assembleia Legislativa deu aval a incentivo fiscal para comprar geradores, aparelhos de raios-X e outros componentes das estruturas temporárias para o Beira-Rio. A Capital rapidamente se habilitou a mais de R$ 800 milhões para obras. Por que na saúde o Brasil do Futebol parece uma outra nação?
Opta-se por perpetuar emergências superlotadas e desmontar o HPS e o Hospital Presidente Vargas em Porto Alegre. Na Capital, verifica-se ainda uma incompetência risível para informatizar a marcação de consultas (impondo anos de espera a pacientes), que contrasta com investigações e denúncias de irregularidades, alvos de CPI na Câmara de Vereadores e processos no Tribunal de Contas do Estado.
O governo estadual surpreende reduzindo vagas na residência de psiquiatria no Hospital São Pedro, em plena epidemia de crack. Após pressão de médicos e usuários, duas vagas em psiquiatria infantil foram reabertas, mas três de psiquiatria clínica (adultos) continuam fechadas e são insubstituíveis, devido à tradição de décadas do hospital em formar especialistas. No IPE, com mais de 1 milhão de segurados, o gestor estadual não repassa R$ 2,9 bilhões, o que pode quebrar a instituição.
No Ministério da Saúde, permite-se formar acordos internacionais, com flagrante desonra a princípios e direitos trabalhistas, para trazer médicos de fora, quando o Brasil amplia ano a ano a formação e ultrapassa a oferta de 350 mil médicos, o dobro do preconizado pelo próprio Ministério. A torcida dos pacientes e dos médicos brasileiros no Dia Mundial da Saúde, 7 de abril, é por mais investimento e menos demagogia.
*MÉDICO E PRESIDENTE DO SINDICATO MÉDICO DO RIO GRANDE DO SUL
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