CRISTINA GRILLO
RIO DE JANEIRO - A morte do fotógrafo Luiz Cláudio Marigo, de infarto, na porta do Instituto Nacional de Cardiologia, infelizmente, é mais uma na rotina de descaso com aqueles que buscam atendimento em hospitais públicos.
Marigo sentiu-se mal dentro de um ônibus e foi levado pelo motorista Amarildo Gomes para o hospital, em greve. Apesar dos pedidos do motorista e de passageiros, não recebeu nenhuma atenção dos funcionários do hospital. Segundo testemunhas, sob a alegação de que lá não há emergência. Morreu uma hora depois, estirado no corredor do ônibus.
Em entrevista à TV Globo, a diretora médica do hospital, Cynthia Magalhães, disse não ter havido negligência, já que, segundo ela, médicos e enfermeiros não foram avisados da situação de Marigo. "Não foi passado para o segurança a gravidade do que estava acontecendo", disse.
Entende-se, então, que a responsabilidade pela morte do fotógrafo foi de quem tentava ajudá-lo, o motorista Gomes e os passageiros.
Seguindo nessa linha de raciocínio, também seria culpado o segurança que, na porta do hospital, faz a triagem de quem deve ser atendido ou não, cena comum em hospitais públicos do Rio.
Não se pode fugir à responsabilidade pela morte de Marigo jogando-a sobre um segurança que, sem formação para isso, tem a incumbência de avaliar a gravidade de um caso. Menos ainda jogando-a sobre o motorista e os passageiros que, em um gesto de solidariedade e compaixão a cada dia mais raros, tentaram ajudar de todas as formas um desconhecido que passava mal.
"Prometo solenemente consagrar a minha vida ao serviço da humanidade" e "exercerei minha arte com consciência e dignidade" são duas frases do juramento prestado por todo médico ao se formar.
Hipócrates, o autor do juramento, deve ter ficado envergonhado.
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