domingo, 1 de junho de 2014

NASCE UM HOSPITAL NA RESTINGA EM POA


ZERO HORA 01 de junho de 2014 | N° 17815


HUMBERTO TREZZI


COM AS OBRAS em fase final e previsão de ser inaugurada nos próximos dias, unidade localizada na Zona Sul é a primeira construída nas últimas quatro décadas em Porto Alegre, que terá atendimento 100% pelo SUS



O barulho de furadeiras e martelos é música para os ouvidos dos moradores que passam ao lado de um prédio de três andares em processo de acabamento, no coração do bairro Restinga, um dos mais populosos de Porto Alegre. Está por nascer ali o Hospital da Restinga, sonho acalentado há décadas por mais de 100 mil habitantes da zona sul da Capital. A inauguração deve ocorrer no dia 6, e depende apenas de detalhes: um deles é espaço na agenda da presidente Dilma Rousseff, que faz questão de estar presente. Apesar da cerimônia, o atendimento ao público começará mais tarde, provavelmente depois do dia 20.

A construção não é obra do governo. O hospital foi erguido, mediante programa de isenções fiscais, pela Associação Hospitalar Moinhos de Vento, responsável pela unidade de mesmo nome no bairro Moinhos de Vento. Mas o governo federal será responsável por 50% das verbas para manutenção. O Estado arcará com 25% e o município, com os 25% restantes. A estimativa é de que sejam investidos na unidade, por mês, entre R$ 3,8 milhões e R$ 4,1 milhões.

O Hospital da Restinga está todo pintado em tons claros. Na ala das crianças, em cores vivas, também deve haverá decoração com personagens de histórias infantis, para alegrar os pequenos. Em nada lembra os estabelecimentos de saúde do início do século 20, que eram cinzentos, lúgubres e tristes.

O início da construção foi dado em 2010. A inauguração estava prevista para o fim do ano passado, mas atrasos na obra e indefinições sobre o modelo de gestão adiaram o término para maio e, agora, junho. Há quatro décadas que um hospital com atendimento gratuito não é construído na Capital – embora dois que chegaram a fechar tenham sido reabertos recentemente, o Independência e a Unidade Álvaro Alvim (ambos ex-Ulbra).

A diferença em nascer do zero é que o hospital pretende ter equipamentos modernos e novos conceitos de atendimento. A unidade integra o Sistema Regional de Saúde Restinga e Extremo Sul, que prevê atendimento da atenção básica até especialidades.

Isso inclui equipes de estratégia da saúde (para serviço de atenção básica), de família (com visitas a pacientes em casa), emergência e um centro de especialidades médicas.



Meta é contratar funcionários criados na própria comunidade


Prestigiar a prata da casa deve ser mantra no Hospital da Restinga. Tanto que 110 técnicos de enfermagem oriundos do bairro e já treinados pela Escola de Gestão do grupo Moinhos de Vento serão deslocados para atuar no hospital, perto de casa.

– Nossa ideia é trabalhar para a comunidade e também pela comunidade, contratando prioritariamente gente da Restinga – resume o médico Luiz Antonio Mattia, do grupo Moinhos.

Além desses 110 profissionais, estão em andamento oito turmas de técnicos de enfermagem e de formados em outras disciplinas, como nutricionistas, camareiros e cuidadores – pessoas especializadas em tomar conta de idosos doentes, algo muito requisitado na Restinga. Os estudantes são transportados em ônibus custeados pelo grupo Moinhos.

A Escola de Gestão funciona no colégio Bom Conselho, no mesmo quarteirão do hospital. O auxiliar de cozinha Maurício dos Santos Duarte, 29 anos, é um dos que se formou ali e agora trabalha no hospital Moinhos. Por pouco tempo. Assim que inaugurarem a unidade da Restinga, ele será transferido para o bairro onde vive há 20 anos:

– Melhor, impossível. Moro a um quarteirão do hospital.

Duarte pega hoje um ônibus e percorre 30 quilômetros de distância, na ida e na volta, para chegar ao hospital Moinhos. Agora, trabalhará “praticamente sem sair de casa”. Ele diz que não pretende ficar a vida toda cuidando da comida dos pacientes. Ainda neste ano, quer começar, na Escola de Gestão, o curso de técnico em enfermagem. Fará isso assim que conseguir o diploma de Ensino Médio, pré-requisito para essa função.

– E, quem sabe, um dia ser médico? – cogita.




Diagnóstico compartilhado via internet e respeito ao ambiente



O equipamento de raios X e o tomógrafo do Hospital da Restinga são digitais, como a maioria dos aparelhos disponíveis na recém-criada estrutura.

A grande vantagem disso é que os exames feitos pelos pacientes poderão ser transmitidos via internet para verificação de especialistas situados a quilômetros de distância. Alguns deles estarão no Hospital Moinhos de Vento, localizado a 30 quilômetros da Restinga. Outros poderão estar ainda mais distantes, em outros Estados ou até diferentes países. Um conforto que nasce junto com o hospital.

A diretoria promete também cuidados especiais com o ambiente. O estabelecimento terá estação de tratamento de esgoto (ETE), sistema de coleta de água da chuva para uso nos sanitários e energia solar captada por painéis. O telhado, aliás, deverá ser no estilo ecológico, com cobertura feita de plantas.



ESTRUTURA E FUNCIONAMENTO

-O que: Hospital da Restinga, administrado pela Associação Hospitalar Moinhos de Vento.
-Endereço: Avenida João Antonio da Silveira, 3.330, na Restinga.
- Atendimento: 100% pelo SUS.
-Capacidade: 168 leitos (nem todos abrirão agora). Deve começar com 24 leitos de observação e 30 de internação (20 adultos e 10 pediátricos).
-Especialidades: a meta é oferecer de imediato serviços de emergência e médicos de família. Depois, há previsão de começar a oferta de outros atendimentos, de obstetrícia, cirurgia e odontologia.



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