Acerto de contas do tráfico em hospitais preocupa autoridades no RS. Em menos de um ano, três homens foram vítimas de atentados em instituições de saúde da Região Metropolitana
Carlos Wagner e Eduardo Rosa
Nos últimos 11 meses, aconteceram três atentados a bala contra pacientes de hospitais da Região Metropolitana. O último ocorreu no início da noite de domingo, no Hospital de Caridade, centro de Viamão. Por se tratar de fatos incomuns no país, a Federação dos Hospitais e Estabelecimentos de Saúde do Rio Grande do Sul (FehoSul) solicitou um estudo.
— Esse tipo de acontecimento é muito comum na Colômbia e no México, locais onde há confrontos de traficantes. Pelas informações que temos, o que aconteceu aqui tem ligação com tráfico de drogas. Mandamos fazer um estudo para saber se estamos entrando em uma nova era — comentou Cláudio Allgayer, presidente da FehoSul.
Uma vez por mês, os estabelecimentos do setor têm uma reunião nacional. Conforme Allgayer, são raros os relatos sobre atentados a pacientes, mesmo em regiões conflagradas, como o Rio de Janeiro. Para Paulo de Argollo Mendes, presidente do Sindicato Médico do Rio Grande do Sul (Simers), a situação também é preocupante.
Os três atentados não têm ligação entre si — em comum, há a disputa por pontos de drogas. No caso de Viamão, o delegado Carlos Henrique Wendt, da Delegacia de Polícia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DPHPP), disse que há dois suspeitos. A polícia não divulgou o nome da vítima da tentativa de homicídio, que não chegou a ser atingida. Trata-se de um homem de 39 anos, com longa ficha criminal, hospitalizado depois ser baleado.
— Acreditamos que o atentado tenha relação com a disputa por pontos de drogas — afirmou delegado.
Os outros dois atentados
O atentado mais emblemático ocorreu em 23 de agosto de 2013, dentro do Hospital Cristo Redentor, na zona norte de Porto Alegre. Tiago Diogo Gonçalves se recuperava após ter sido alvo de disparos no dia anterior. Um homem teria aproveitado o horário de visitas, entrado no quarto onde estava Gonçalves, atirado com arma de fogo várias vezes e fugido. Nove dias depois, já em casa, na Vila Respeito, bairro Sarandi, Gonçalves foi executado com um tiro na cabeça por um conhecido.
Em consequência do atentado, medidas adicionais de segurança foram tomadas. Conforme a gerente de Administração da instituição, Marinéia Roldão da Rocha, uma das providências foi a colocação de segurança 24 horas no quarto andar — no local, ficam pacientes que se recuperam de ferimentos de armas de fogo e branca. Também foram pedidas mais câmeras e ampliação de acessos apenas com uso de crachá.
— Estamos estudando o uso de catracas como é no Hospital de Clínicas. A pessoa (visitante) se identifica, passa com crachá e devolve na saída — afirma Marinéia.
Menos de um ano depois, caso semelhante ao do Cristo Redentor voltou a ocorrer. Desta vez, em São Leopoldo. Saul de Almeida Gonçalves, 30 anos, foi executado no Hospital Centenário, no início da noite de 12 de junho. Conforme a Polícia Civil, o atirador teria pulado a janela que dava acesso direto ao quarto onde a vítima se recuperava de uma cirurgia. No dia anterior à sua morte, Gonçalves havia sofrido uma tentativa de assassinato no Loteamento Chácara dos Leões, bairro Santos Dumont.
— Os autores já foram identificados. Há um preso e outro com mandado de prisão preventiva decretado — relatou o delegado regional de São Leopoldo, Leonel Carivali.
ZERO HORA
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