LARISSA ROSO
Uma bombinha que gera controvérsias
Dois medicamentos para asmáticos são comumente administrados por meio da popular bombinha: o broncodilatador, a que se recorre em momentos de crise, e o corticoide inalado, para controlar a doença de forma preventiva. Para apreensão dos pais, o corticoide inalado tem sido associado a problemas no crescimento das crianças em estudos científicos.
Pesquisa publicada pelo New England Journal of Medicine em 2012 revelou que a substância poderia fazer com que o paciente tivesse uma redução de até 1,2 centímetro na estatura final em comparação a quem não o utilizou.
Duas revisões recentes divulgadas pela Biblioteca Cochrane também se dedicaram à análise do tema. A primeira, realizada por professores da Universidade Federal do Rio Grande (Furg), apontou diminuição de 0,5 centímetro na taxa média de crescimento do grupo durante o primeiro ano de tratamento – nos anos seguintes, não se observou alteração significativa. A segunda revisão, de uma pesquisadora do Canadá, concluiu que doses baixas da droga melhoraram o crescimento em 0,25 centímetro.
– A pequena redução na altura é muito bem compensada por imensos efeitos benéficos na diminuição de sintomas e do risco de óbito. Vale a pena o uso do corticoide inalado. Esperamos que nosso trabalho ajude a reduzir o temor dos profissionais e das famílias – afirma o chinês Linjie Zhang, professor da Faculdade de Medicina da Furg.
De acordo com o o pneumologista pediátrico Paulo Márcio Pitrez, o ideal é optar pela menor quantidade possível.
– Quando usado de forma adequada, prescrito por profissionais capacitados, é um tratamento absolutamente seguro e eficiente – garante Pitrez. – A asma não tratada pode resultar também em déficit de crescimento e riscos à saúde – adverte o médico.
COMO TRATAR A DOENÇA NA INFÂNCIA
SAÚDE PROBLEMA CRÔNICO
PORTO ALEGRE ESTÁ entre as grandes cidades brasileiras com mais crianças asmáticas. Pesquisa mostra que cerca de 20% dos estudantes de 11 anos convivem com a doença e metade não a controla, sofrendo com os sintomas
Ao avaliar alunos de escolas públicas da Capital, o estudo ProAsma, conduzido pelo Centro Infant do Instituto de Pesquisas Biomédicas da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), chegou a uma constatação alarmante: duas em cada 10 crianças sofrem de asma. Metade desses pacientes não tem a doença controlada, apresentando sintomas como tosse, chiado no peito e falta de ar, e apenas 30% deles dispõem de prescrição médica para uso de remédios. Os dados colocam a cidade junto ao topo do ranking de incidência da enfermidade no mundo, equiparando-a a grandes metrópoles brasileiras e de países como Estados Unidos, Inglaterra, Austrália e Nova Zelândia.
– É um número altíssimo para uma doença crônica, nos impressionou muito. Estamos em uma “epidemia” – comenta o pneumologista pediátrico Paulo Márcio Pitrez, professor da Faculdade de Medicina da PUCRS e pesquisador responsável pelo levantamento.
Pitrez explica que é difícil apontar com exatidão os motivos pelos quais a capital gaúcha ostenta esses índices. De origem genética, a asma é influenciada por fatores ambientais, como a presença de infecções respiratórias (circulação de vírus), poluição e fumaça de cigarro. Características da vida das famílias contribuem de forma decisiva para a piora do quadro: 60% das crianças são sedentárias, passam muito tempo na frente da televisão e do computador, 60% dos pais admitem esquecer de dar a medicação, e há fumantes em 55% das casas. É comum também que os adultos se apeguem a crenças infundadas: 30% acreditam que a atividade física é maléfica para o asmático, e 50% pensam que o uso da bombinha faz mal ao coração.
– A asma é uma doença crônica, mas tem tratamento. A grande maioria consegue levar uma vida normal se fizer o tratamento adequado. A doença não controlada se traduz em qualidade de vida muito comprometida, perda escolar, hospitalizações, múltiplas consultas. É uma falha do sistema de saúde pública, a prevenção está falhando – diz o autor da pesquisa.
As conclusões do ProAsma serão encaminhadas pelas sociedades estaduais de Pediatria e de Pneumologia e Tisiologia à administração pública. De acordo com João Antônio Bonfadini Lima, pneumologista pediátrico da Secretaria Municipal de Saúde, o programa de atenção à asma, criado em 1997, está obsoleto e vem passando por reformulação. Médicos e enfermeiros da rede estão participando de cursos de capacitação. Todos os postos, segundo Lima, possuem a medicação básica para o tratamento, e, nos próximos meses, a previsão é de que sejam comprados remédios de melhor qualidade e oferecidos os itens exigidos pelos casos mais severos.
PORTO ALEGRE ESTÁ entre as grandes cidades brasileiras com mais crianças asmáticas. Pesquisa mostra que cerca de 20% dos estudantes de 11 anos convivem com a doença e metade não a controla, sofrendo com os sintomas
Ao avaliar alunos de escolas públicas da Capital, o estudo ProAsma, conduzido pelo Centro Infant do Instituto de Pesquisas Biomédicas da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), chegou a uma constatação alarmante: duas em cada 10 crianças sofrem de asma. Metade desses pacientes não tem a doença controlada, apresentando sintomas como tosse, chiado no peito e falta de ar, e apenas 30% deles dispõem de prescrição médica para uso de remédios. Os dados colocam a cidade junto ao topo do ranking de incidência da enfermidade no mundo, equiparando-a a grandes metrópoles brasileiras e de países como Estados Unidos, Inglaterra, Austrália e Nova Zelândia.
– É um número altíssimo para uma doença crônica, nos impressionou muito. Estamos em uma “epidemia” – comenta o pneumologista pediátrico Paulo Márcio Pitrez, professor da Faculdade de Medicina da PUCRS e pesquisador responsável pelo levantamento.
Pitrez explica que é difícil apontar com exatidão os motivos pelos quais a capital gaúcha ostenta esses índices. De origem genética, a asma é influenciada por fatores ambientais, como a presença de infecções respiratórias (circulação de vírus), poluição e fumaça de cigarro. Características da vida das famílias contribuem de forma decisiva para a piora do quadro: 60% das crianças são sedentárias, passam muito tempo na frente da televisão e do computador, 60% dos pais admitem esquecer de dar a medicação, e há fumantes em 55% das casas. É comum também que os adultos se apeguem a crenças infundadas: 30% acreditam que a atividade física é maléfica para o asmático, e 50% pensam que o uso da bombinha faz mal ao coração.
– A asma é uma doença crônica, mas tem tratamento. A grande maioria consegue levar uma vida normal se fizer o tratamento adequado. A doença não controlada se traduz em qualidade de vida muito comprometida, perda escolar, hospitalizações, múltiplas consultas. É uma falha do sistema de saúde pública, a prevenção está falhando – diz o autor da pesquisa.
As conclusões do ProAsma serão encaminhadas pelas sociedades estaduais de Pediatria e de Pneumologia e Tisiologia à administração pública. De acordo com João Antônio Bonfadini Lima, pneumologista pediátrico da Secretaria Municipal de Saúde, o programa de atenção à asma, criado em 1997, está obsoleto e vem passando por reformulação. Médicos e enfermeiros da rede estão participando de cursos de capacitação. Todos os postos, segundo Lima, possuem a medicação básica para o tratamento, e, nos próximos meses, a previsão é de que sejam comprados remédios de melhor qualidade e oferecidos os itens exigidos pelos casos mais severos.
Uma bombinha que gera controvérsias
Dois medicamentos para asmáticos são comumente administrados por meio da popular bombinha: o broncodilatador, a que se recorre em momentos de crise, e o corticoide inalado, para controlar a doença de forma preventiva. Para apreensão dos pais, o corticoide inalado tem sido associado a problemas no crescimento das crianças em estudos científicos.
Pesquisa publicada pelo New England Journal of Medicine em 2012 revelou que a substância poderia fazer com que o paciente tivesse uma redução de até 1,2 centímetro na estatura final em comparação a quem não o utilizou.
Duas revisões recentes divulgadas pela Biblioteca Cochrane também se dedicaram à análise do tema. A primeira, realizada por professores da Universidade Federal do Rio Grande (Furg), apontou diminuição de 0,5 centímetro na taxa média de crescimento do grupo durante o primeiro ano de tratamento – nos anos seguintes, não se observou alteração significativa. A segunda revisão, de uma pesquisadora do Canadá, concluiu que doses baixas da droga melhoraram o crescimento em 0,25 centímetro.
– A pequena redução na altura é muito bem compensada por imensos efeitos benéficos na diminuição de sintomas e do risco de óbito. Vale a pena o uso do corticoide inalado. Esperamos que nosso trabalho ajude a reduzir o temor dos profissionais e das famílias – afirma o chinês Linjie Zhang, professor da Faculdade de Medicina da Furg.
De acordo com o o pneumologista pediátrico Paulo Márcio Pitrez, o ideal é optar pela menor quantidade possível.
– Quando usado de forma adequada, prescrito por profissionais capacitados, é um tratamento absolutamente seguro e eficiente – garante Pitrez. – A asma não tratada pode resultar também em déficit de crescimento e riscos à saúde – adverte o médico.
COMO TRATAR A DOENÇA NA INFÂNCIA
-Seguir à risca o tratamento prescrito por um pneumologista pediátrico ou alergista diminui a incidência das crises e permite que a criança leve uma vida normal. A administração do remédio é responsabilidade dos adultos, e as doses não podem ser esquecidas.
-Incentivar a prática de exercícios físicos. Se o paciente sente algum desconforto, não precisa parar de fazer – nesse caso, o médico deve orientá-lo para que os sintomas desapareçam.
-Limitar o tempo passado diante da televisão e do computador – se o seu filho fica duas horas diárias entretido nessas atividades, já é um sinal de alerta.
-Viver em um ambiente livre do tabagismo. A fumaça do cigarro faz muito mal ao asmático, induzindo sintomas e crises e dificultando a resposta ao tratamento.
A ASMA
-Também conhecida popularmente como bronquite alérgica ou asmática, a asma é uma doença crônica de origem genética com influência ambiental.
-Quando as vias aéreas entram em contato com vírus, mudanças de temperatura, cigarro, poluição e cheiros fortes, podem ser desencadeados sintomas como tosse, falta de ar, chiado e aperto no peito. Os sinais surgem de dia, à noite ou durante a prática de exercícios físicos.
-O componente hereditário sempre está presente. Uma criança com pais asmáticos corre risco maior de ter a doença, mas a que não tem pais asmáticos também pode desenvolvê-la. Nesses casos, há um parente próximo com a enfermidade, como avós ou tios.
-É mais comum que se manifeste ainda na infância, mas há situações em que os sintomas surgem na adolescência ou na vida adulta.
-Não existe cura, apenas controle com tratamento. Há pacientes que experimentam uma considerável diminuição de intensidade dos sintomas com o passar do tempo.
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