ZERO HORA 05 de fevereiro de 2015 | N° 18064
POR JOÃO CARLOS GUARAGNA*
O arsenal terapêutico da cardiologia atual, composto por medicamentos, “stents”, marca-passos e cirurgia, além de salvar muitos pacientes, tem prolongado suas vidas com qualidade. Entretanto, um procedimento pode terminar mal, mesmo com profissionais competentes, devido a sua complexidade ou pela gravidade da doença. Mas o intolerável é o uso eticamente incorreto da medicina colocando em risco a segurança do paciente.
Em nosso Estado, é elevado o nível dos cardiologistas, tanto pela formação acadêmica quanto pela experiência adquirida. A diferença é o médico que demonstra interesse genuíno na saúde do seu paciente. Geralmente, é o cardiologista clínico quem estabelece um forte vínculo com os pacientes, baseado na confiança, que é fundamental no momento de graves decisões. É esse cardiologista quem deve centralizar a indicação de procedimentos invasivos.
Os custos da cardiologia intervencionista são elevados e, se o lucro for o foco principal, o médico perde sua autonomia e o paciente deixa de desfrutar de outras opções terapêuticas eficazes.
Procedimentos realizados com superfaturamento e a utilização de propinas trazem prejuízo à economia da saúde, atingindo o paciente, as seguradoras e os médicos que trabalham com honestidade. Esse desvio financeiro faz com que a consulta médica ambulatorial, as visitas hospitalares e a hora-plantão em emergências e UTIs tenham seus valores subvalorizados, reduzindo o interesse de profissionais por essas atividades.
É necessário mudar isso! Não é papel apenas do governo e das seguradoras. Os hospitais podem conter essa prática, assumindo o controle econômico dos procedimentos invasivos e exigindo a aplicação das diretrizes médicas. Os casos duvidosos devem ser discutidos por um Time do Coração formado por cardiologistas da clínica, da hemodinâmica, da eletrofisiologia e um cirurgião cardíaco. O médico que faz procedimentos contraindicados visando a sua meta financeira, além de demonstrar profundo desprezo pelo ser humano e pela profissão que exerce, comete um crime e como tal deve ser tratado.
Professor da Faculdade de Medicina da PUC/RS e chefe do serviço de cardiologia do Hospital São LucasJ
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