Emergências lotadas - Editorial Zero Hora, 10/12/2010
A superlotação dos hospitais de Porto Alegre deixou de ser um evento pontual para se transformar numa situação crônica, com todos os componentes de dramaticidade sempre presentes quando o cenário é o da saúde. A informação de que sete hospitais da Capital enfrentam atualmente o mesmo problema é quase a banalização de uma notícia que se repete cada vez com maior frequência, sem que se vislumbrem soluções concretas. Apesar da formação de comissões de gestores e profissionais da área, da retórica de autoridades e da amplificação dos clamores da população, adia-se há tempo a execução de ações capazes de atenuar sofrimentos.
O diagnóstico da situação das emergências é consenso entre órgãos públicos, instituições e profissionais. A superlotação, que atinge especialmente os grandes hospitais públicos de Porto Alegre, tem na sua origem as reconhecidas deficiências no atendimento primário da população. Falham, assim, os sistemas de acolhimento a pacientes com problemas de fácil resolução. Também é inquestionável que, a partir do não atendimento de casos menos complexos por postos e ambulatórios, os hospitais são pressionados pelas demandas desses pacientes, que passam a competir com outros cujas situações exigem internações. Estrangula-se, ano a ano, o gargalo que amontoa gente em corredores.
São conhecidos os dados de entidades do setor segundo os quais nos últimos 16 anos o Estado perdeu mais de 3 mil leitos do SUS. Sabe-se que, com a baixa remuneração pelos serviços públicos, hospitais e médicos são desestimulados a prestar atendimento a pacientes que, constitucionalmente, têm direito de acesso à saúde, sem discriminação. Constata-se também, depois da identificação de tantas causas, que a falta de recursos não pode ser a única geradora de tantas deficiências. O próprio setor admite a falta de sintonia entre as esferas federal, estadual e municipal, que se agrega às limitações de gestão. Na essência, no entanto, o que falta mesmo é vontade política para que a saúde seja, na prática, a prioridade sempre presente em discursos e promessas não cumpridas.
No Brasil, a saúde pública é tratada com descaso, negligência e impostos altos em remédios e tudo o que faz bem à saúde. Médicos e agentes da saúde são poucos e mal pagos; As pessoas sofrem e morrem em filas, corredores de ambulatórios e postos de saúde; As perícias são demoradas e burocracia exagerada; Há falta de leitos, UTI, equipamentos, tecnologia, hospitais e postos de saúde apropriados para a demanda; A impunidade da corrupção desvia recursos e incentiva as fraudes.
sexta-feira, 10 de dezembro de 2010
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