ZERO HORA, 16 de junho de 2012
Gaúchos são os que mais morrem da doença, intimamente ligada ao fumo
Gaúchos são os que mais morrem da doença, intimamente ligada ao fumo
O câncer de pulmão mata pelo menos 2.843 pessoas por ano, entre homens e mulheres, no Rio Grande do Sul. O número (registrado pelo Ministério da Saúde em 2009) é 40,4% maior do que de mortes causadas por acidente de trânsito (2.025, em 2011) e 71,5% maior do que de homicídios (1.657, também no ano passado).
No mundo, as estatísticas são ainda mais alarmantes. Por dia, o equivalente a toda a população de Porto Alegre – cerca de 1 milhão e meio de pessoas – perdem a vida pelo mesmo motivo.
O Rio Grande do Sul lidera o ranking brasileiro de casos, sendo o estado com maior números de mortes – 23 por cada cada 100 mil habitantes.
O oncopneumologista Guilherme Costa, coordenador da Comissão de Câncer de Pulmão da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia (SBPT) afirma que uma das prováveis causas para os altos índices seja o clima frio da região sulista.
– Em baixas temperaturas, é comum que as pessoas procurem formas de se aquecer, e o fumo é uma delas – diz o especialista.
O presidente da Fundação Sul-Americana para o Desenvolvimento de Novos Medicamentos Contra o Câncer e vice-presidente da Sociedade Latino-Americana de Cancerologia, Gilberto Schwartsmann, concorda que a relação com o fumo é responsável pela esmagadora maioria dos casos diagnosticados, e que há um forte apelo da indústria tabagista para banir as campanhas de conscientização.
– A indústria do tabaco faz um forte lobby e subsidia uma série de ações em Brasília para neutralizar as campanhas – afirma.
Considerada rara no início do século vinte, a doença tornou-se um grave problema de saúde pública nos últimos 50 anos. O impacto é tanto que leva o estado brasileiro a investir, por ano, quase R$ 21 bilhões. A conclusão é da pesquisadora Márcia Pinto, da Fiocruz, que fez um estudo mapeando os custos de doença relacionadas ao tabaco. A pesquisadora explica que esse valor é financiado pela sociedade, com o pagamento de seus impostos:
– Esses custos são financiados por quem fuma e quem não fuma. Esse valor poderia ser investido, por exemplo, na ampliação do acesso das crianças a vacinas ou na compra de quimioterápicos para o SUS.
Como o estudo é pioneiro no país, não há comparativo local para saber se o valor é elevado demais. Sabe-se apenas que, em países como China e Estados Unidos, os investimentos são próximos a US$ 30 bilhões por ano.
Impacto na saúde e na economia
A expectativa da pesquisadora é de que o governo possa dar seguimento à pesquisa e invista na atualização dos dados. Outra proposta é incluir na próxima pesquisa os custos indiretos do tabagismo, relativos à perda da produtividade do fumante ou ex-fumante no mercado de trabalho.
– O fumante que se aposenta precocemente, ou sai do mercado, ou deixa de produzir riqueza para o país – explica Márcia.
A pesquisadora também concorda que a forte presença da indústria do tabaco no Rio Grande do Sul pode ter influência na adoção de medidas de controle anti-tabagismo. Porém, apesar das estatísticas negativas, é preciso considerar o fato de que, com as medidas de controle como a proibição de publicidade na televisão e no verso das carteiras de cigarro, bem como a restrição do fumo em locais fechado, fez cair o número de fumantes no Brasil.
Segundo dados do Instituto Nacional do Câncer (Inca), nos anos 80, 32% dos adultos fumavam, e em 2007, esse número caiu para 17%. A expectativa é que a cada ano baixe 0,3% o numero de fumantes.
– Isso vai fazer que tenha uma redução importante nos casos de câncer de pulmão, se as pessoas continuarem aderindo as campanhas – alerta Schwartsmann.
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