LEITE ADULTERADO
Fraudadores lucraram R$ 6 milhões. Estimativa do Ministério Público foi feita a partir de aumento de 10% no volume do leite depois do acréscimo de água e ureia
A fraude que indignou os gaúchos por acrescentar água e ureia no leite agora traz um número impactante. Estima-se que os três núcleos de fraudadores investigados pelo Ministério Público tenham lucrado cerca de R$ 6 milhões no último ano com a adulteração.
O cálculo foi feito a partir da quantidade de leite cru movimentado pelos transportadores investigados. A conta é baseada na estratégia de adulteração do leite: o aumento de 10% no volume, com adição de água e ureia, garantia lucro na mesma proporção.
Como o MP estima que cerca de um terço do leite transportado nos caminhões não era adulterado – para driblar a fiscalização era comum um dos três tanques dos caminhões levar leite não batizado –, o lucro com a fraude se daria com base em dois terços do produto enviado às empresas. Isso resultaria em cerca de 66 milhões de litros repassados a indústrias por R$ 0,95 o litro.
– Pela apuração que fizemos até agora, o lucro com as fraudes superou os R$ 6 milhões. Isso já podemos dizer – adianta Alcindo Luz Bastos Filho, promotor da área de Defesa do Consumidor.
Número de denunciados chega a 15 e poderá aumentar, diz MP
Com os depoimentos e análises de documentos apreendidos durante a operação da semana passada, a quantidade de suspeitos envolvidos na adulteração do leite cru a serem denunciados já chega a 15. Conforme o promotor Mauro Rockenbach, o número pode aumentar nos próximos dias.
– Estamos analisando a participação de familiares de envolvidos na adulteração, pessoas que participavam da adição do produto ou faziam a compra da ureia. Como temos suspeitos presos, em dois casos precisamos encaminhar rapidamente a denúncia – afirma.
Ainda de acordo com Rockenbach, o MP irá pedir a prisão temporária de outros investigados.
– Nesta semana, irei apresentar a denúncia dos réus que já foram presos. A partir da próxima semana , iremos pedir novas prisões. Estamos montando o quebra-cabeças da operação – explica.
E a Promotoria de Defesa do Consumidor do MP pedirá o bloqueio dos bens dos envolvidos na adulteração do leite cru. Com isso, o promotor Alcindo pretende garantir, no futuro, o pagamento de eventuais multas decorrentes das ações a serem ajuizadas.
– Vamos terminar de ouvir algumas pessoas e vamos ingressar com as ações. O valor da multa será repassado ao Fundo Estadual de Defesa do Consumidor – explicou.
Quanto às indústrias, o caminho deve mesmo passar por um acordo. A ação judicial está praticamente descartada. Com o termo de ajustamento de conduta (TAC), o promotor pretende estabelecer regras mais rigorosas de controle das empresas sobre a cadeia do leite. As indústrias terão de aumentar a fiscalização sobre os transportadores e ampliar o número de análises.
– Será fixada ainda uma multa pelo prejuízo que possa ser causado pela fiscalização falha. O TAC vai prever multas também em caso de descumprimento – explica Alcindo.
FRANCISCO AMORIM
Fórmula química custou R$ 10 mil
Apesar de os grupos investigados não agirem de forma associada, o Ministério Público acredita que estivessem utilizando uma mesma fórmula química, fornecida por uma única pessoa, com conhecimento técnico necessário para garantir que a adição do produto não fosse facilmente rastreada. A receita teria sido vendida por R$ 10 mil.
– Já temos algumas informações sobre a venda dessa fórmula – confirma o promotor Mauro Rockenbach.
Conforme o promotor, a fórmula teria chegado ao Estado há pouco mais de um ano. Além de ser vendida para fraudadores nos municípios investigados, teria sido repassada a adulteradores em outras regiões. Por isso, apesar de a operação ter sido deflagrada na semana passada, suspeitas de adulteração em outros pontos seguem sendo investigadas.
– A fórmula se espalhou. Com a ação, no entanto, acreditamos ter intimidado seu emprego – avalia Rockenbach.
A partir das escutas de suspeitos, os promotores também acreditam que parte do leite cru batizado tenha sido levado para indústrias do Paraná, em Londrina e Pato Branco, e também de São Paulo, em Guaratinguetá.
– Avisamos o Ministério da Agricultura sobre essas informações – completa o promotor Alcindo.
Conforme a investigação do Ministério Público Estadual, tornada pública na quarta-feira passada, a adulteração era feita por atravessadores que buscam leite nas propriedades e entregam para as indústrias. A operação foi intitulada Leite Compen$ado.
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