sexta-feira, 4 de outubro de 2013

O DRAMA NAS EMERGÊNCIAS


ZERO HORA 04 de outubro de 2013 | N° 17573

ITAMAR MELO E ROBERTO AZAMBUJA


Até quando?

A falta de estrutura na rede de saúde da Capital é apontada como uma das causas da superlotação



O drama das emergências superlotadas virou doença crônica nos principais serviços do SUS em Porto Alegre. Enquanto as promessas das autoridades não viram realidade, hospitais operam dia após dia acima de suas capacidades. Ontem, o que o Hospital Conceição e o Hospital de Clínicas tinham a oferecer para dezenas de doentes necessitados de leitos era apenas uma cadeira desconfortável, improvisada em algum canto apertado da emergência.

O Conceição, que pela manhã acomodava 129 pacientes em um espaço destinado a receber 50, já acumula três meses operando todos os dias com pelo menos duas vezes mais doentes do que as vagas disponíveis. No Clínicas, a situação era ainda pior. A emergência do hospital está equipada com 49 leitos, mas acolhia 157 pessoas – mais do que o triplo da capacidade.

– As condições são precárias. Temos de 20 a 25 pacientes sentados e muitos outros em macas. Não há privacidade. Vivemos em um turbilhão, do ponto de vista emocional. Nossa equipe, mesmo com muita sobrecarga, consegue atender até 80 pessoas – descreveu o gerente operacional da emergência adulta do Clínicas, José Pedro Prates.

Tempo médio de espera por um leito é de três dias

A situação do hospital agravou-se por causa de um vazamento na enfermaria da unidade Álvaro Alvim, o que impossibilita o uso de 16 dos 30 leitos disponíveis. O problema deve persistir por pelo menos mais uma semana.

A falta de estrutura na rede de saúde da Capital é apontada por Prates como uma das causas da superlotação. Ele lembra que o perfil da emergência do Clínicas é de atendimento a pacientes de alta complexidade. Conforme a classificação de risco adotada no hospital, pacientes que recebem cor azul ou verde, de menor gravidade, são orientados a procurar outras unidades de atendimento. No hospital, são recebidas apenas pessoas com classificação vermelha – com risco iminente de vida.

A emergência do Hospital Conceição, por sua vez, mantém as portas abertas a pacientes com todos os tipos de classificação. Quem necessita apenas de uma consulta tem um tempo de espera médio de 45 minutos – uma das razões para a agilidade foi a abertura da Unidade de Pronto Atendimento (UPA) da Zona Norte, que reduziu a média de atendimentos diários no hospital de cerca de 500 para a faixa de 300. Mas os casos mais graves, que exigem internação, continuam indo parar na emergência do hospital. O resultado é que o serviço funciona muito além dos limites há anos, sem que as autoridades consigam oferecer uma solução.

A grande dificuldade é que os pacientes deveriam ser encaminhados para um leito, mas faltam vagas no SUS. Enquanto aguardam, recebem cuidados na emergência atravancada. O tempo médio de espera até surgir uma vaga é de três dias. Nesse período, o paciente pode ter de esperar em uma cadeira. Vão para as macas os pacientes mais idosos ou mais debilitados.

– Um problema é a falta de conforto e comodidade. Temos 50 pacientes sentados em cadeiras ou poltronas, que foram colocadas na sala de medicação e no corredor da emergência – relata Juliana Sommer, coordenadora da emergência do Conceição.

Segundo a médica, é comum na emergência pacientes que foram recusados em outros serviços da Capital ou que vieram de outras cidades.

– A rede básica de saúde está deficiente, com muitos postos sem médico. Acabamos sentindo as consequências desse problema aqui – observa.


Promessas do Estado não serão cumpridas


O governo do Estado não conseguirá cumprir no prazo algumas de suas principais promessas para aliviar a sobrecarga nas emergências, mas o secretário em exercício da Saúde, Elemar Sand, afirma que as melhorias serão percebidas no futuro.

Em maio do ano passado, quando as emergências da Capital enfrentavam situação similar à atual, a secretaria anunciou que, até o final deste ano, estariam implantadas 30 UPAs e seriam abertos hospitais regionais em Palmeira das Missões e no Vale do Gravataí. Com essa oferta, a demanda pelos serviços oferecidos em Porto Alegre seria aliviada.

No momento, no entanto, há apenas sete UPAs em operação, com previsão de inauguração de mais uma dezena em 2014. Os dois hospitais ainda não começaram a ser construídos.

– A execução de serviços pelo setor público exige muitos trâmites. A solução que encontramos foi fortalecer os hospitais que já existem nas regiões. Em dois anos, criamos neles mais de cem leitos de UTI adultos – afirma Sand.

Depois de passar um período prolongado na condição de Estado que menos investia em saúde, o Rio Grande do Sul elevou consideravelmente as aplicações no setor nos últimos dois anos. Sand diz que os resultados vão aparecer gradativamente:

– Os resultados não surgem de imediato, porque havia uma enorme demanda reprimida. Foram anos e anos em que bilhões de reais deixaram de ser investidos.


CONTRAPONTO

O que diz a Secretaria de Saúde de Porto Alegre, responsável pela gestão do SUS na cidade - O secretário da Saúde, Carlos Henrique Casartelli, não concedeu entrevista, mas afirmou, por meio de sua assessoria de imprensa, que houve melhoria em relação ao leitos de retaguarda e que serão implantados nos hospitais núcleos internos de regulação de leitos, para melhorar o fluxo de saída dos pacientes das emergências.



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