sábado, 22 de março de 2014

MEDICINA DE MÃOS DADAS COM O DR. GOOGLE



Busca por conhecimento de saúde na internet modificou maneira como médicos e pacientes se relacionam, mas é preciso saber como procurar

MARIA CLARA SERRA
O GLOBO
Publicado:22/03/14 - 14h00


Casa do Saber O GLOBO. A médica Beatriz Vicent (esquerda) ao lado da editora Ana Lucia Azevedo, do coordenador Claudio Domênico e da especialista na internet Rizzoleta Miranda Mônica Imbuzeiro


RIO - Em apenas um dia, são três bilhões de buscas e 20 bilhões de páginas analisadas, além de 60 trilhões de endereços vasculhados na internet a cada palavra colocada no buscador. A avalanche de impressionantes números do Google atingiu a medicina em cheio. Pesquisa recente do Grupo de Experiências em Saúde do departamento Nuffield, da Universidade de Oxford, na Inglaterra, sugere que as pessoas hoje compreendem e se relacionam com a saúde de uma maneira totalmente diferente, tudo por causa da internet.

A utilização do “Dr. Google“ em grande escala é percebida mundialmente e foi o tema do primeiro Encontros O GLOBO Saúde e Bem-Estar do ano. Sob a mediação da editora de O GLOBO Ana Lucia Azevedo, a médica e doutora em Saúde Pública pela Ensp-Fiocruz Beatriz Vincent e a diretor da agência FSB Digital, Rizzoleta Miranda, debateram as melhores maneiras de usar a web como fonte de conhecimento de qualidade.

- A boa informação é a melhor forma de prevenir e tratar doenças - ressaltou o cardiologista Claudio Domênico, coordenador da séria de debates que acontece uma vez ao mês na Casa do Saber O GLOBO. - Nova pesquisa do Ibope (publicada este mês) mostrou que o brasileiro passa mais tempo na internet do que vendo televisão ou ouvindo rádio. E gasta grande parte deste tempo procurando por temas relacionados com a saúde. Por isso, o médico tem que saber como lidar com o assunto, para não acabar quebrando a relação com o paciente.

De acordo com o estudo de Oxford, ao facilitar a divulgação do conhecimento, a internet pode ajudar a minimizar as desigualdades na saúde. Mas não somente de coisas boas vive a relação do homem com a web. Divulgada em meados de 2013, pesquisa liderada por Natália Monerat, do Grupo de Estudo em Tecnologia e Informação em Comunicação Médica (Geticmed), do Centro Universitário de Volta Redonda, analisou 1.152 endereços de sites e vídeos postados no YouTube relacionados a problemas cardiovasculares. Ela constatou que apenas 4,3% tinham informações corretas.

- É preciso bom senso. É interessante e bom para todo mundo que o paciente chegue ao consultório médico com questões para o especialista. E a internet fez bem à medicina no momento em que obrigou os profissionais de saúde a se atualizarem, pois hoje podem ser questionados pelo paciente - defendeu Beatriz. - Mas a gente não pode ficar em dúvida e decidir sozinho. Temos que procurar um especialista e acreditar nele para que ele possa nos ajudar.

A internet é veloz, assim como a medicina. Por isso, alertou Beatriz, na hora da busca é preciso procurar, principalmente, por um conteúdo atualizado.

- Um caso clássico aconteceu comigo - contou a médica. - Fiquei grávida e ganhei um desses livros para mães de primeira viagem, que na época era um best-seller. Mas lá ensinava a colocar o bebê para dormir de uma maneira perigosa, que já havia sido relacionada com o mal súbito. A informação era antiga, mas ainda pode estar circulando na internet, além dos exemplares vendidos no mundo. O conhecimento da saúde é provisório, contestável, por isso é preciso saber como se informar.

Fontes devem ser confiáveis

Algumas dicas podem ajudar nessa hora: use a busca avançada do Google para encontrar um conteúdo mais específico; verifique se o site tem o contato de algum responsável; cheque se há alguma instituição ou patrocinador financiando a página; veja se há data de publicação e prefira informações recentes; e opte por aqueles endereços mais confiáveis, como instituições de pesquisa conhecidas e órgãos federais.

- O Google é um vírus que contaminou o mundo todo - brincou Rizzoleta. - Ele possui um código genético que nos interessa muito, e tentamos o tempo todo decifrá-lo. Para chegar mais perto do objetivo, é preciso saber como os buscadores funcionam. O que aparece nas primeiras páginas, por exemplo, são links patrocinados ou os conteúdos mais lidos, que não necessariamente possuem a informação mais responsável.

Apesar de o Google mudar seu algoritmo de busca duas vezes ao dia, na tentativa de encontrar o melhor conteúdo nos 60 trilhões de endereços, a melhor maneira de se informar é utilizando a combinação entre internet e medicina.

- A minha dica principal para o paciente é nunca parar de buscar informação, mas conferir a fonte e não deixar de conversar com o médico. Já para os profissionais de saúde, acho importante que eles se incluam no mundo virtual e procurem publicar conteúdo relevante na internet - disse Rizzoleta.


COMENTÁRIO DO BENGOCHEA - Diante da dificuldade em acessar a saúde pública, da morosidade e do custo que isto envolve, os pacientes buscam alternativas mais rápidas, apesar de menos confiáveis. Até o mercado negro dos remédios é favorecido. 

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