ZERO HORA 16/04/2014 | 06h07
Projetos de lei buscam implementar pets para o tratamento de pacientes. Presença de animais de estimação em hospitais é comum em países como Estados Unidos e Inglaterra
Seco aguardou Lauri da Costa em frente a casa de saúde até poder ver o donoFoto: Luis Iarcheski / Especial
Jaqueline Sordi
A angustiante espera de Seco, cachorro que desde 31 de março está em frente ao Hospital da Cidade de Passo Fundo aguardando o dono, comoveu funcionários. Como não era permitida a entrada do cão no local, o encontro ocorreu assim que as visitas foram liberadas, mas somente no pátio da instituição.
A presença de animais em hospitais como parte no tratamento de pacientes, comum em países como Estados Unidos e Inglaterra, ainda engatinha no Brasil, mas já há projetos de lei tentando mudar esta realidade.
Em âmbito federal, um projeto de lei para regulamentar o uso de Terapia Assistida por Animais (TAA) no Sistema Único de Saúde (SUS), e outro foi protocolado na Câmara de Vereadores de Porto Alegre para autorizar a presença de animais em hospitais. Enquanto isso, pets só do lado de fora.
Poucas instituições no país têm certificação internacional que autorize a entrada de pets nesses estabelecimentos. Um deles, o Hospital Albert Einstein, de São Paulo, passou por três anos de testes e treinamentos com equipes para conseguir a liberação para a visita de animais de estimação aos pacientes, mesmo àqueles internados em unidades semi-intensivas.
Contando com a certificação Planetree (organização americana que reconhece o atendimento de saúde humanizado), a instituição começou a contar com a frequente entrada de cachorros, gatos e até mesmo de pássaros. A motivação para implantar as visitas veio a partir da demanda dos próprios pacientes, afirma Rita Grotto, gerente de atendimento do hospital:
– Muitas pessoas que estavam internadas pediam para ver seus animais, que, às vezes, são considerados verdadeiros membros da família. Desde que implantamos o sistema, percebemos que aqueles que recebem os animais apresentam uma melhora significativa no quadro, e muitos, inclusive, recebem alta mais rápido.
Melhora de pressão sanguínea e bem-estar dos proprietários
Os benefícios da relação entre homens e animais para a saúde não é novidade para a ciência. Conforme Joice Peruzzi, veterinária responsável pela Associação Gaúcha de Atividade e Terapia Assistida por Animais (Agata), estudos que vêm sendo realizados desde a década de 1960 indicam que o contato do paciente com o seu animal de estimação, ou até mesmo com um animal desconhecido, pode trazer melhoras de saúde e qualidade de vida, que vão desde a redução na pressão sanguínea e nos batimentos cardíacos até a sensação de felicidade e relaxamento.
– Os contatos com os animais estão associados à redução de estresse (avaliado a partir dos níveis de hormônio cortisol) e ao aumento de bem-estar relacionado à liberação de ocitocina (hormônio que protege contra o estresse) em tutores de cães, gatos e outros animais. Esses benefícios, muitas vezes, surgem pela simples observação de um animal, como um aquário, tática utilizada em alguns consultórios médicos e odontológicos, para ajudar a relaxar o paciente – explica.
A entrada de animais em hospitais é vista com bons olhos pelo médico e diretor científico da Associação Médica do Rio Grande do Sul (Amrigs), Antonio Carlos Weston, que destaca o reforço afetivo proporcionado por esses encontros durante a recuperação de pacientes. O especialista, entretanto, ressalta que os cuidados prévios são fundamentais para evitar riscos:
– É imprescindível que o animal esteja limpo e com as vacinas em dia, pois eles são potenciais transmissores de doenças aos humanos. Se não apresentar riscos, as visitas trazem benefícios na área emocional. O contato com o animal melhora o astral do paciente, e isso é muito importante na recuperação – complementa.
Ânimo em afago canino
Encarar os efeitos colaterais das sessões de quimioterapia ficou um pouco mais fácil para o advogado paulista Ennio Araújo, 72 anos. Diagnosticado com câncer na bexiga em 2001, ele passou a ser um paciente frequente do Hospital Albert Einstein, em São Paulo, contabilizando mais de 30 internações. Desde 2011, quando começou a receber as visitas da cadela de estimação Clara, da raça fila, no jardim da instituição, ganhou um novo ânimo para combater a doença.
– Tenho três cachorros, que são como meus filhos. A Clara é como uma pessoa da família, ela é muito querida. As visitas que recebo dela me ajudam muito no tratamento. Passar as tardes com ela é uma verdadeira terapia – diz o paciente.
A ideia de trazer Clara para o hospital veio de sua mulher, a advogada Marla Araújo, 33 anos. Ela conta que, quando Araújo começou a fazer quimioterapia, só pensava em voltar para casa e ficar deitado com os cachorros. Atualmente, quando precisa ficar internado mais de quatro dias, as visitas de Clara são uma regra. Assim que o advogado dá entrada no hospital, a cadela vai a pet shop se preparar para o encontro.
Pet terapia no Albert Einstein
Diversas espécies podem entrar no hospital, e as visitas mais comuns são de gatos, pássaros e cachorros
Requisitos:
- Para a entrada ser autorizada, é necessário seguir um protocolo rígido, baseado em normas da Organização Mundial da Saúde (OMS).
- Entre elas, a autorização do médico, laudo veterinário atestando boas condições de saúde do animal, carteira de vacinação atualizada e comprovação de que o bicho tomou banho nas últimas 24 horas.
Onde ocorre o encontro:
- O ambiente é determinado de acordo com a situação do paciente e o porte e comportamento de cada animal
de estimação.
- Alguns podem visitar seus donos no próprio quarto onde o doente está internado.
- Para os de grande porte, os encontros são realizados em um jardim do hospital. Ainda não há casos de permissão de visitas dentro da UTI.
Projetos de lei buscam implementar pets para o tratamento de pacientes. Presença de animais de estimação em hospitais é comum em países como Estados Unidos e Inglaterra
Seco aguardou Lauri da Costa em frente a casa de saúde até poder ver o donoFoto: Luis Iarcheski / Especial
Jaqueline Sordi
A angustiante espera de Seco, cachorro que desde 31 de março está em frente ao Hospital da Cidade de Passo Fundo aguardando o dono, comoveu funcionários. Como não era permitida a entrada do cão no local, o encontro ocorreu assim que as visitas foram liberadas, mas somente no pátio da instituição.
A presença de animais em hospitais como parte no tratamento de pacientes, comum em países como Estados Unidos e Inglaterra, ainda engatinha no Brasil, mas já há projetos de lei tentando mudar esta realidade.
Em âmbito federal, um projeto de lei para regulamentar o uso de Terapia Assistida por Animais (TAA) no Sistema Único de Saúde (SUS), e outro foi protocolado na Câmara de Vereadores de Porto Alegre para autorizar a presença de animais em hospitais. Enquanto isso, pets só do lado de fora.
Poucas instituições no país têm certificação internacional que autorize a entrada de pets nesses estabelecimentos. Um deles, o Hospital Albert Einstein, de São Paulo, passou por três anos de testes e treinamentos com equipes para conseguir a liberação para a visita de animais de estimação aos pacientes, mesmo àqueles internados em unidades semi-intensivas.
Contando com a certificação Planetree (organização americana que reconhece o atendimento de saúde humanizado), a instituição começou a contar com a frequente entrada de cachorros, gatos e até mesmo de pássaros. A motivação para implantar as visitas veio a partir da demanda dos próprios pacientes, afirma Rita Grotto, gerente de atendimento do hospital:
– Muitas pessoas que estavam internadas pediam para ver seus animais, que, às vezes, são considerados verdadeiros membros da família. Desde que implantamos o sistema, percebemos que aqueles que recebem os animais apresentam uma melhora significativa no quadro, e muitos, inclusive, recebem alta mais rápido.
Melhora de pressão sanguínea e bem-estar dos proprietários
Os benefícios da relação entre homens e animais para a saúde não é novidade para a ciência. Conforme Joice Peruzzi, veterinária responsável pela Associação Gaúcha de Atividade e Terapia Assistida por Animais (Agata), estudos que vêm sendo realizados desde a década de 1960 indicam que o contato do paciente com o seu animal de estimação, ou até mesmo com um animal desconhecido, pode trazer melhoras de saúde e qualidade de vida, que vão desde a redução na pressão sanguínea e nos batimentos cardíacos até a sensação de felicidade e relaxamento.
– Os contatos com os animais estão associados à redução de estresse (avaliado a partir dos níveis de hormônio cortisol) e ao aumento de bem-estar relacionado à liberação de ocitocina (hormônio que protege contra o estresse) em tutores de cães, gatos e outros animais. Esses benefícios, muitas vezes, surgem pela simples observação de um animal, como um aquário, tática utilizada em alguns consultórios médicos e odontológicos, para ajudar a relaxar o paciente – explica.
A entrada de animais em hospitais é vista com bons olhos pelo médico e diretor científico da Associação Médica do Rio Grande do Sul (Amrigs), Antonio Carlos Weston, que destaca o reforço afetivo proporcionado por esses encontros durante a recuperação de pacientes. O especialista, entretanto, ressalta que os cuidados prévios são fundamentais para evitar riscos:
– É imprescindível que o animal esteja limpo e com as vacinas em dia, pois eles são potenciais transmissores de doenças aos humanos. Se não apresentar riscos, as visitas trazem benefícios na área emocional. O contato com o animal melhora o astral do paciente, e isso é muito importante na recuperação – complementa.
Ânimo em afago canino
Encarar os efeitos colaterais das sessões de quimioterapia ficou um pouco mais fácil para o advogado paulista Ennio Araújo, 72 anos. Diagnosticado com câncer na bexiga em 2001, ele passou a ser um paciente frequente do Hospital Albert Einstein, em São Paulo, contabilizando mais de 30 internações. Desde 2011, quando começou a receber as visitas da cadela de estimação Clara, da raça fila, no jardim da instituição, ganhou um novo ânimo para combater a doença.
– Tenho três cachorros, que são como meus filhos. A Clara é como uma pessoa da família, ela é muito querida. As visitas que recebo dela me ajudam muito no tratamento. Passar as tardes com ela é uma verdadeira terapia – diz o paciente.
A ideia de trazer Clara para o hospital veio de sua mulher, a advogada Marla Araújo, 33 anos. Ela conta que, quando Araújo começou a fazer quimioterapia, só pensava em voltar para casa e ficar deitado com os cachorros. Atualmente, quando precisa ficar internado mais de quatro dias, as visitas de Clara são uma regra. Assim que o advogado dá entrada no hospital, a cadela vai a pet shop se preparar para o encontro.
Pet terapia no Albert Einstein
Diversas espécies podem entrar no hospital, e as visitas mais comuns são de gatos, pássaros e cachorros
Requisitos:
- Para a entrada ser autorizada, é necessário seguir um protocolo rígido, baseado em normas da Organização Mundial da Saúde (OMS).
- Entre elas, a autorização do médico, laudo veterinário atestando boas condições de saúde do animal, carteira de vacinação atualizada e comprovação de que o bicho tomou banho nas últimas 24 horas.
Onde ocorre o encontro:
- O ambiente é determinado de acordo com a situação do paciente e o porte e comportamento de cada animal
de estimação.
- Alguns podem visitar seus donos no próprio quarto onde o doente está internado.
- Para os de grande porte, os encontros são realizados em um jardim do hospital. Ainda não há casos de permissão de visitas dentro da UTI.
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