G1 FANTASTICO Edição do dia 01/03/2015
Homem se passa por médico para tirar dinheiro de pessoas internadas. Estelionatário chegou a arrecadar R$ 200 mil por mês com golpes em famílias de pessoas doentes. Mesmo preso desde 2012, ele continua agindo.
Um golpista frio, que se aproveitava de pessoas que estavam fragilizadas pela doença de algum parente para tirar dinheiro delas. E mais: ele não se importava de debochar de suas vítimas.
“Basicamente o Valfrido é um artista. É aquele criminoso sedutor”, conta o delegado Wellington de Oliveira.
“São inumeráveis golpes, são incontáveis”, afirma Valfrido.
Valfrido Gonzales Filho, 36 anos, não é um estelionatário comum.
“Muito coerente a história, muito bem contada, uma pessoa muito boa de lábia”, diz uma vítima.
Articulado e simpático, escolhe suas vítimas entre doentes e parentes de doentes que estão internados em hospitais.
“Nesta modalidade, golpe da desgraça se passando por médicos, o Valfrido é um dos mais avançados”, diz o delegado Wellington de Oliveira.
O golpe da desgraça, citado pelo delegado, é a especialidade de Valfrido. Ele finge ser médico e tenta arrancar dinheiro das vítimas. Mesmo preso desde 2012, em Mato Grosso do Sul, continua agindo. São mais de 40 golpes aplicados de dentro da prisão.
“Ele arrecada pelo menos, R$ 200 mil por mês com estes golpes”, diz o delegado.
A filha de Rosemari da Silveira, de nove anos de idade, estava internada para uma cirurgia em Joaçaba, Santa Catarina. O telefone tocou no quarto do hospital:
“Eu preciso que a senhora me deposite um dinheiro pra um remédio, um medicamento que a gente está em falta no hospital. Eu preciso te dar alta, mas eu dependo desse medicamento”, conta a dona de casa Rosemari da Silveira.
Ela depositou R$ 1,2 mil para o falso médico. Tirou o dinheiro da poupança.
"Você está ali, a tua filha quer sair do hospital, quer ganhar alta. Você vai fazer o que a pessoa está pedindo", conta Rosimari.
Em São Paulo, até uma maternidade entrou para a lista do bandido.
“No segundo dia do nascimento da nossa filha, houve uma ligação no quarto. Ele pediu para falar comigo. Ele falou: "Nós fizemos a biópsia, não é C.A. mas tem que tomar um remédio. Quando ele falou C.A, é uma linguagem que médico usa até para não falar câncer. Você fica nervoso, como assim né, você está num momento de ampla felicidade e descobre aquilo”, contou uma vítima.
O estelionatário se aproveita da situação e indica os remédios.
“São 3 medicamentos e a representante do laboratório está aqui no meu consultório e 2 caixas ela já me conseguiu, mas tem um terceiro que vocês precisam comprar, e levo daqui a pouco no hospital, porque o plano de saúde reembolsa”, contou a vítima.
E consegue arrancar R$ 4 mil desta família. A maternidade Pro Matre, onde aconteceu o caso, diz que orientou o casal a fazer um boletim de ocorrência e que desde o final de 2013, alerta seus pacientes sobre trotes telefônicos.
A polícia já tem relatos de golpes aplicados por Valfrido em pacientes internados em hospitais de pelo menos 5 estados. Ele está preso na Penitenciária Estadual de Dourados, a 230 quilômetros de Campo Grande e vive isolado dos outros detentos.
O Fantástico entrevistou Valfrido no Fórum da cidade.
“Eu minto desde os 14 anos de idade. Meu primeiro golpe foi que eu enganei o dono da empresa de ônibus para me dar uma vaga de emprego, porque tinham 40 pessoas na frente e eu havia ligado lá, me identificado como juiz, uma autoridade e por ele ser envolvido no meio político, ele acabou concedendo a vaga, me colocando então à frente daquelas 40 pessoas. Mas eu fiquei 7 dias trabalhando lá. Me deu uma dor na coluna, até hoje eu tenho a dor na coluna, você acredita? O golpe do hospital eu ligava lá na recepção. Pegava o nome do paciente e o nome do médico e o número do apartamento e ligo e me passo como médico e vendo remédio”, conta Valfrido.
Um dos golpes mais recentes foi no final do mês de janeiro, contra uma família de São Paulo. A esposa, de um homem - que prefere não se identificar - estava internada no Hospital Paulistano, quando começou a receber telefonemas.
“Eu não tive dúvidas que se tratava de um profissional e fui envolvido a um convencimento de adquirir os medicamentos que seriam realmente a salvação para uma pessoa que está internada sem diagnóstico, sem expectativa de tratamento”, conta a vítima.
Foram 20 ligações, durante dois dias. A vítima fez quatro depósitos, somando pouco mais de R$ 8,6 mil.
“Já se passou praticamente um mês da ocorrência, embora tenha sido muito bem atendido, não sinto do hospital o interesse de fazer este ressarcimento”, desabafa a vítima do Hospital Paulistano.
O Fantástico procurou o Hospital Paulistano que disse que não vai comentar o caso, mas que passou a alertar os pacientes, médicos, visitantes e funcionários sobre riscos de práticas ilegais no setor de internação.
Em Campo Grande, a polícia foi atrás de Lúcio Peres de Almeida, dono de uma das contas bancárias que receberam os depósitos da vítima do Hospital Paulistano. Lúcio prestou depoimento e disse que conheceu Valfrido quando foi visitar o pai que estava preso junto com o estelionatário.
“Ele pediu, falou que ia depositar um dinheiro que era para se manter e ia me dar "cinquentão" só e eu não tinha conhecimento que era de crime nem nada”, conta Lúcio de Almeida.
Em um organograma, feito pela equipe de investigação, aparecem alguns dos cúmplices do criminoso.
“Valfrido é o mentor intelectual dos golpes, mas tem também aquela pessoa que fornece a conta, tem a pessoa que saca o dinheiro, tem a pessoa que lava o dinheiro, ou seja, a gente está trabalhando com a ideia de organização criminosa”, diz o delegado Wellington.
“Isto é devaneio do doutor Wellington. Ele fica com este devaneio, esta fantasia, este sonho de uma noite de verão na mente dele, porque este negócio de quadrilha não existe. Como que eu vou comandar uma quadrilha dentro de um presidio isolado?”, rebate Valfrido
Para um especialista em comportamento criminal, cometer golpes, como faz Valfrido, pode ser um sinal de doença. “Esses indivíduos mentirosos patológicos têm alterações funcionais cerebrais. A vítima não é vista pelo estelionatário como alguém que vai sofrer, que tem sentimentos. Porque o ganho dele é superior a isto”, analisa Danilo Baltieri, professor de psiquiatria.
“Do leigo ao mais culto, todos são sujeitos a ser enganados” afirma Valfrido.
“Quanto mais crimes ele repete, maior é a chance deste indivíduo apresentar descontrole impulsivo, impulsividade motora e maior chance desse indivíduo apreciar este tipo de ato”, explica Danilo.
“Este povo dá tanto dinheiro por telefone e não chega e diz vou dar R$ 10, 15 mil pro Valfrido parar de mentir.”, diz Valfrido.
A grande dificuldade que nós temos hoje é combater essa situação de entrada de celulares dentro do sistema penitenciário. É uma transgressão da disciplina o preso ter um celular dentro do sistema penitenciário. É obvio que isso aí não pode ficar da transgressão da disciplina. Isso aí tem que ser crime”, afirma o delgado Wellington de Oliveira.
Homem se passa por médico para tirar dinheiro de pessoas internadas. Estelionatário chegou a arrecadar R$ 200 mil por mês com golpes em famílias de pessoas doentes. Mesmo preso desde 2012, ele continua agindo.
Um golpista frio, que se aproveitava de pessoas que estavam fragilizadas pela doença de algum parente para tirar dinheiro delas. E mais: ele não se importava de debochar de suas vítimas.
“Basicamente o Valfrido é um artista. É aquele criminoso sedutor”, conta o delegado Wellington de Oliveira.
“São inumeráveis golpes, são incontáveis”, afirma Valfrido.
Valfrido Gonzales Filho, 36 anos, não é um estelionatário comum.
“Muito coerente a história, muito bem contada, uma pessoa muito boa de lábia”, diz uma vítima.
Articulado e simpático, escolhe suas vítimas entre doentes e parentes de doentes que estão internados em hospitais.
“Nesta modalidade, golpe da desgraça se passando por médicos, o Valfrido é um dos mais avançados”, diz o delegado Wellington de Oliveira.
O golpe da desgraça, citado pelo delegado, é a especialidade de Valfrido. Ele finge ser médico e tenta arrancar dinheiro das vítimas. Mesmo preso desde 2012, em Mato Grosso do Sul, continua agindo. São mais de 40 golpes aplicados de dentro da prisão.
“Ele arrecada pelo menos, R$ 200 mil por mês com estes golpes”, diz o delegado.
A filha de Rosemari da Silveira, de nove anos de idade, estava internada para uma cirurgia em Joaçaba, Santa Catarina. O telefone tocou no quarto do hospital:
“Eu preciso que a senhora me deposite um dinheiro pra um remédio, um medicamento que a gente está em falta no hospital. Eu preciso te dar alta, mas eu dependo desse medicamento”, conta a dona de casa Rosemari da Silveira.
Ela depositou R$ 1,2 mil para o falso médico. Tirou o dinheiro da poupança.
"Você está ali, a tua filha quer sair do hospital, quer ganhar alta. Você vai fazer o que a pessoa está pedindo", conta Rosimari.
Em São Paulo, até uma maternidade entrou para a lista do bandido.
“No segundo dia do nascimento da nossa filha, houve uma ligação no quarto. Ele pediu para falar comigo. Ele falou: "Nós fizemos a biópsia, não é C.A. mas tem que tomar um remédio. Quando ele falou C.A, é uma linguagem que médico usa até para não falar câncer. Você fica nervoso, como assim né, você está num momento de ampla felicidade e descobre aquilo”, contou uma vítima.
O estelionatário se aproveita da situação e indica os remédios.
“São 3 medicamentos e a representante do laboratório está aqui no meu consultório e 2 caixas ela já me conseguiu, mas tem um terceiro que vocês precisam comprar, e levo daqui a pouco no hospital, porque o plano de saúde reembolsa”, contou a vítima.
E consegue arrancar R$ 4 mil desta família. A maternidade Pro Matre, onde aconteceu o caso, diz que orientou o casal a fazer um boletim de ocorrência e que desde o final de 2013, alerta seus pacientes sobre trotes telefônicos.
A polícia já tem relatos de golpes aplicados por Valfrido em pacientes internados em hospitais de pelo menos 5 estados. Ele está preso na Penitenciária Estadual de Dourados, a 230 quilômetros de Campo Grande e vive isolado dos outros detentos.
O Fantástico entrevistou Valfrido no Fórum da cidade.
“Eu minto desde os 14 anos de idade. Meu primeiro golpe foi que eu enganei o dono da empresa de ônibus para me dar uma vaga de emprego, porque tinham 40 pessoas na frente e eu havia ligado lá, me identificado como juiz, uma autoridade e por ele ser envolvido no meio político, ele acabou concedendo a vaga, me colocando então à frente daquelas 40 pessoas. Mas eu fiquei 7 dias trabalhando lá. Me deu uma dor na coluna, até hoje eu tenho a dor na coluna, você acredita? O golpe do hospital eu ligava lá na recepção. Pegava o nome do paciente e o nome do médico e o número do apartamento e ligo e me passo como médico e vendo remédio”, conta Valfrido.
Um dos golpes mais recentes foi no final do mês de janeiro, contra uma família de São Paulo. A esposa, de um homem - que prefere não se identificar - estava internada no Hospital Paulistano, quando começou a receber telefonemas.
“Eu não tive dúvidas que se tratava de um profissional e fui envolvido a um convencimento de adquirir os medicamentos que seriam realmente a salvação para uma pessoa que está internada sem diagnóstico, sem expectativa de tratamento”, conta a vítima.
Foram 20 ligações, durante dois dias. A vítima fez quatro depósitos, somando pouco mais de R$ 8,6 mil.
“Já se passou praticamente um mês da ocorrência, embora tenha sido muito bem atendido, não sinto do hospital o interesse de fazer este ressarcimento”, desabafa a vítima do Hospital Paulistano.
O Fantástico procurou o Hospital Paulistano que disse que não vai comentar o caso, mas que passou a alertar os pacientes, médicos, visitantes e funcionários sobre riscos de práticas ilegais no setor de internação.
Em Campo Grande, a polícia foi atrás de Lúcio Peres de Almeida, dono de uma das contas bancárias que receberam os depósitos da vítima do Hospital Paulistano. Lúcio prestou depoimento e disse que conheceu Valfrido quando foi visitar o pai que estava preso junto com o estelionatário.
“Ele pediu, falou que ia depositar um dinheiro que era para se manter e ia me dar "cinquentão" só e eu não tinha conhecimento que era de crime nem nada”, conta Lúcio de Almeida.
Em um organograma, feito pela equipe de investigação, aparecem alguns dos cúmplices do criminoso.
“Valfrido é o mentor intelectual dos golpes, mas tem também aquela pessoa que fornece a conta, tem a pessoa que saca o dinheiro, tem a pessoa que lava o dinheiro, ou seja, a gente está trabalhando com a ideia de organização criminosa”, diz o delegado Wellington.
“Isto é devaneio do doutor Wellington. Ele fica com este devaneio, esta fantasia, este sonho de uma noite de verão na mente dele, porque este negócio de quadrilha não existe. Como que eu vou comandar uma quadrilha dentro de um presidio isolado?”, rebate Valfrido
Para um especialista em comportamento criminal, cometer golpes, como faz Valfrido, pode ser um sinal de doença. “Esses indivíduos mentirosos patológicos têm alterações funcionais cerebrais. A vítima não é vista pelo estelionatário como alguém que vai sofrer, que tem sentimentos. Porque o ganho dele é superior a isto”, analisa Danilo Baltieri, professor de psiquiatria.
“Do leigo ao mais culto, todos são sujeitos a ser enganados” afirma Valfrido.
“Quanto mais crimes ele repete, maior é a chance deste indivíduo apresentar descontrole impulsivo, impulsividade motora e maior chance desse indivíduo apreciar este tipo de ato”, explica Danilo.
“Este povo dá tanto dinheiro por telefone e não chega e diz vou dar R$ 10, 15 mil pro Valfrido parar de mentir.”, diz Valfrido.
A grande dificuldade que nós temos hoje é combater essa situação de entrada de celulares dentro do sistema penitenciário. É uma transgressão da disciplina o preso ter um celular dentro do sistema penitenciário. É obvio que isso aí não pode ficar da transgressão da disciplina. Isso aí tem que ser crime”, afirma o delgado Wellington de Oliveira.
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