ZERO HORA 15 de abril de 2015 | N° 18133
CLEIDI PEREIRA
SAÚDE. Estado descartou 8,4 toneladas de medicamentos no ano passado
VOLUME EQUIVALE A R$ 3,2 MILHÕES, conforme dados obtidos via Lei de Acesso à Informação. Apesar de alto, o desperdício foi menor do que em 2013, segundo a Secretaria Estadual da Saúde
No ano passado, 8,4 toneladas de medicamentos comprados com dinheiro público tiveram como destino aterros da Região Metropolitana. O motivo? Como não foram distribuídos a tempo, o prazo de validade expirou, fazendo com que 23 quilos de remédio fossem descartados diariamente. O volume é 8,8% menor do que o registrado em 2013, quando 9,2 toneladas foram parar no lixo.
Conforme dados obtidos via Lei de Acesso à Informação, o valor das medicações descartadas em 2014 equivale a R$ 3,2 milhões. A Secretaria da Saúde pondera que a cifra representou 0,53% da verba investida pela União e pelo Estado na aquisição de fármacos, que alcançou R$ 606,2 milhões.
O valor – embora seja 32% inferior ao de 2013 – é maior que o total gasto no ano passado com programas como o RS na Paz (R$ 3 milhões), que objetiva reduzir a violência no Estado, e corresponde ao triplo do que foi investido em 2014 em ações de prevenção e enfrentamento da violência contra as mulheres (R$ 970 mil), e seis vezes mais do que a verba aplicada no projeto de acesso e garantia à universalidade dos direitos das pessoas com deficiência.
Segundo Francisco Bernd, chefe de gabinete do secretário João Gabbardo, as rotinas da pasta estão sendo revistas, mas dificilmente será possível zerar o volume. Em três meses, a nova equipe pode constatar o superdimensionamento de programas. O trabalho, nesses casos, será de readequação.
– Não tem sentido descartar o que tem valor, mas, em algumas situações, fica difícil. Vamos tentar reduzir ao máximo – diz Bernd.
ESPECIALISTA SUGERE NOVO FOCO PARA A SAÚDE PÚBLICA
De acordo com o professor Aragon Dasso Júnior, do curso de Administração Pública e Social da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, são inúmeras as variáveis que podem levar ao descarte de fármacos. Entre as quais, o gerenciamento inadequado e o fato de o repasse de medicamentos não ser fracionada – ou seja, o usuário recebe mais do que o necessário, o que acaba impactando nas compras e estoques. Para Dasso Júnior, é possível reduzir o volume descartado anualmente, e a solução passa por um acompanhamento mais eficaz, além de uma mudança no foco das políticas públicas na área da saúde.
– O sistema privilegia a cura em detrimento da prevenção. Não deveria ser a lógica do SUS. O sistema preventivo, inegavelmente, gera menos lucro para a indústria farmacêutica, e essa é a questão. Em tempo de dificuldades financeiras, não adianta só pensar em arrecadação. O segredo é diminuir despesas – avalia o professor.
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