PÁGINA 10 | ROSANE DE OLIVEIRA - ZERO HORA 02/11/2011Com Letícia Duarte
É em momentos como a doença de uma pessoa famosa que a pequenez se revela em toda a sua extensão nas redes sociais. Tão logo foi divulgada a notícia do câncer do ex-presidente Lula, a internet foi inundada por mensagens preconceituosas, raivosas, desumanas, torpes mesmo. Seria o caso de simplesmente ignorar, deletar ou dar unfollow (no Twitter), mas é difícil calar diante da estupidez humana.
É um direito de qualquer cidadão criticar o governo Lula, a forma como ele lidou com o mensalão, as alianças espúrias que fez para governar. Exultar com a desgraça de Lula ou de qualquer pessoa que receba um diagnóstico de câncer é fazer uma declaração pública de falta de sensibilidade. Tanto rancor destilado nas redes sociais contra um presidente que deixou o governo há quase um ano com índices recordes de popularidade merece um estudo psicanalítico.
Além das mensagens bizarras de gente que se satisfaz com a desgraça alheia, o que mais se vê na internet são sugestões para que Lula faça o tratamento pelo SUS para saber o que o povo passa nas filas. Se o ex-presidente seguisse esse conselho, não faltaria quem o acusasse de estar tirando a vaga de um pobre que só pode fazer diagnóstico por imagem, quimioterapia e radioterapia (tratamentos caríssimos) na rede pública. Lula tem plano de saúde, como a maioria das pessoas de classe média e alta, pôde fazer um pé-de-meia nos últimos oito anos em que teve casa, comida e roupa lavada. Não recebe pensão, como os ex-governadores do Rio Grande do Sul, mas vinha ganhando muito bem – R$ 200 mil em média – para fazer palestras. Pode, portanto, se tratar em um hospital de elite como o Sírio-Libanês, um dos preferidos dos ricos e famosos.
Lula está sendo cobrado por ter dito, em 2006, na inauguração das novas instalações da emergência do Hospital Conceição, que o SUS estava próximo da perfeição. Exagero, naturalmente, porque os problemas do SUS são conhecidos e imensos, mas nem por isso é razoável achar que, cinco anos depois, ele não pode escolher onde quer ser tratado – se o plano de saúde cobrir ou se puder pagar. O SUS está longe da perfeição, mas salva milhares de vidas diariamente e banca serviços de alta complexidade, como transplantes, que a maioria dos planos privados não cobre.
Mendes volta para hospital
Depois de sentir um desconforto, ontem, em Porto Alegre, o ministro da Agricultura, Mendes Ribeiro, viajou para São Paulo para realizar novos exames no Sírio-Libanês. De acordo com a assessoria de imprensa do hospital, o ministro ingressou às 12h16min. Até o fechamento desta edição ele continuava internado.
Como o paciente e a família não autorizaram a divulgação de informações, o hospital não revelou o motivo da internação. A coluna apurou que Mendes fez novos exames e os médicos aproveitaram para retirar os pontos da cirurgia realizada em 14 de outubro. O procedimento estava previsto para o dia 7, data em que há uma revisão marcada.
No Brasil, a saúde pública é tratada com descaso, negligência e impostos altos em remédios e tudo o que faz bem à saúde. Médicos e agentes da saúde são poucos e mal pagos; As pessoas sofrem e morrem em filas, corredores de ambulatórios e postos de saúde; As perícias são demoradas e burocracia exagerada; Há falta de leitos, UTI, equipamentos, tecnologia, hospitais e postos de saúde apropriados para a demanda; A impunidade da corrupção desvia recursos e incentiva as fraudes.
quarta-feira, 2 de novembro de 2011
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