Jaqueline Sordi
Cada vez mais, o crowdfunding ajuda a romper barreiras para custear tratamentos de saúde
Foi com uma rosa na mão e ansiedade em grau máximo que Pedro, quatro anos, conheceu sua irmã Beatriz. E não foi em um hospital. O encontro com a caçula da família ocorreu em uma movimentada tarde no aeroporto Salgado Filho, em Porto Alegre, mais de 40 dias depois do nascimento da mana. E tudo graças a uma vaquinha feita na internet, que arrecadou o dinheiro para salvá-la.
Meses antes, ainda na barriga da mãe, a enfermeira Tatiane Batschauer, 35 anos, Beatriz havia sido diagnosticada com truncus arteriosus tipo 1, uma má formação no coração. Se não realizasse um procedimento cirúrgico logo após o parto, a menina não sobreviveria. A melhor opção era ganhar o bebê na Espanha e permanecer por lá até a recém-nascida se recuperar da cirurgia, mas o custo de tudo isso era alto. Depois de pensar em vender a casa, o carro e pedir um empréstimo, veio a ideia de fazer um financiamento coletivo.
Vaquinhas para salvar vidas não são novidade. Seja pelo boca a boca, por meio de cartazes colados em postes ou folderes distribuídos nas ruas, a arrecadação de recursos para a saúde há tempo mobiliza parentes, amigos e até desconhecidos. Mas só recentemente ganhou um novo rumo: quando a tecnologia veio ao encontro da solidariedade.
O mecanismo de financiamento coletivo online é uma daquelas boas ideias que só prosperaram graças ao potencial ilimitado da internet. Popularizado no início dos anos 2000, o crowdfunding, em sua modalidade clássica, atende pessoas, grupos e empresas que divulgam um projeto à rede e solicitam doações para colocá-lo em prática.
Sites organizam as arrecadações
Nos últimos cinco anos, a utilização do serviço para questões de saúde vem conquistando espaço. Organizações não governamentais (ONGs), entidades e famílias passaram a realizar as vaquinhas online, seja por sites especializados ou pelas redes sociais, para salvar crianças, captar recursos para campanhas de doações e até para financiar pesquisas científicas.
Conforme Fabrício Milesi, sócio-fundador do site vakinha.com.br, um dos maiores portais de financiamento coletivo do Brasil, as vaquinhas voltadas à saúde representam mais de 30% dos projetos do site e são os que movimentam as maiores quantias de dinheiro:
– Muitas pessoas ficam sabendo da necessidade das famílias pelas redes sociais e se solidarizam, se comovem com as histórias e acabam doando mesmo sem conhecê-las pessoalmente.
A família da pequena guerreira Sophia, cinco meses, já conseguiu a metade dos R$ 2 milhões que precisa para realizar um transplante de três órgãos nos Estados Unidos. Isso graças a uma campanha na internet.
– Me informaram que o governo pagaria a cirurgia, mas tive de entrar na Justiça e ainda não tenho resposta. Entrei em contato com uma tia para pedir ajuda. Ela me indicou a possibilidade de financiamento coletivo – conta a mãe, a paulista Patrícia de Lacerda, 27 anos.
Dias após nascer, Sophia foi diagnosticada com uma síndrome rara que impossibilita o funcionamento normal do estômago, intestino e bexiga. Até realizar o transplante, vive sob risco de morte e sem poder comer. Angustiados mas esperançosos, os pais aguardam um final feliz como o de Beatriz e sua família.
ZERO HORA
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