REVISTA ISTO É N° Edição: 2315 | 04.Abr.14
"O Mais Médicos é maravilhoso, mas fui enganada". Maior símbolo contra o programa, a médica cubana Ramona Rodrigues fala à ISTOÉ sobre seu futuro nos EUA e, agora, elogia a iniciativa federal
"O Mais Médicos é maravilhoso, mas fui enganada". Maior símbolo contra o programa, a médica cubana Ramona Rodrigues fala à ISTOÉ sobre seu futuro nos EUA e, agora, elogia a iniciativa federal
Raul Montenegro (raul.montenegro@istoe.com.br)
Na noite de 1º de abril, a médica cubana Ramona Rodrigues, 51 anos, divulgou um vídeo seu nos Estados Unidos, onde havia chegado na manhã do dia anterior. Ela se tornou símbolo contra o Mais Médicos ao abandonar o programa e pedir abrigo ao deputado oposicionista Ronaldo Caiado (DEM-GO) no Congresso. Depois, ficou hospedada no apartamento de outro parlamentar democrata antes de ser empregada pela Associação Médica Brasileira (AMB), também contrária à iniciativa do governo. Na semana passada, de Miami, falou à ISTOÉ sobre sua nova vida em solo americano.
RECOMEÇO
Ramona, em Miami:
"Estou muito feliz"
VIDA EM MIAMI
“É a primeira vez que vou aos Estados Unidos. Estou muito feliz, a vida está apenas começando. Quero trabalhar, vou buscar opções e fazer cursos. Eu gostaria de ser médica aqui, porque essa é a minha profissão. Vivo agora em um país seguro, livre, estou muito bem. Tenho teto graças à ajuda de amigos cubanos. Passo dois dias na casa de um, três na de outro. Ficarei assim até conseguir um local fixo onde possa viver.”
ACUSAÇÕES
“Não fui ao Brasil apenas para fugir. Já trabalhei como médica em outro país, a Bolívia, e se quisesse ir para os Estados Unidos teria feito isso antes. Também não tenho namorado em Miami, como disseram para me desacreditar. Nem familiares. Sou divorciada e tenho uma filha e uma neta, que estão em Cuba. O deputado federal José Geraldo (PT-PA) disse em plenário que eu era vista embriagada em Pacajá (PA), onde trabalhava, e que, por isso, nem os outros médicos cubanos me queriam na cidade. Isso também foi uma manobra para me desmoralizar. Eu não bebo, jamais bebi. É uma mentira, e muita gente lá saiu em minha defesa.”
FUGA
“Decidi abandonar o Mais Médicos porque estava inconformada com o nosso pagamento. Nosso salário era de R$ 2.300 – poderíamos usar R$ 900 no Brasil e o restante iria para uma conta em Cuba –, enquanto os demais médicos estrangeiros recebiam R$ 10.500. Me senti enganada porque nós, cubanos, temos a mesma capacidade de qualquer outro. Tive, então, o auxílio de amigos brasileiros – pacientes – que me ajudaram a ir de Pacajá a Marabá, também no Pará. Demorei quase nove horas porque estava chovendo muito e a estrada ficou completamente enlameada. De lá, peguei um avião até Brasília.”
GRAMPO
“Em Brasília, minha primeira opção foi pedir asilo à embaixada dos Estados Unidos. Dias depois, fui ao Comitê Nacional para os Refugiados pedir ajuda, mas eles nunca me responderam. Eu estava em Brasília quando fui comunicada pelos meus amigos de que a Polícia Federal havia ido à casa onde eu morava, em Pacajá, para me deportar. Eles também grampearam as chamadas. Foi quando falei com um médico cubano que eu conheço, residente no Brasil. Ele recorreu ao deputado Caiado, que me deu a proteção que eu precisava. Se não fosse por isso, eu já teria ido embora há muito tempo. Depois, trabalhei na AMB fazendo traduções e ajudando no serviço administrativo até que a embaixada americana me concedeu o asilo através de um programa destinado a acolher médicos cubanos trabalhando fora do país.”
USO POLÍTICO
“Não acho que o deputado Caiado ou a AMB tenham me usado politicamente. Não posso responder por eles, mas ideia minha não foi. Eu simplesmente procurei por pessoas que pudessem me proteger. Sou uma médica e meu interesse não é fazer política, só desejo minha liberdade. Foi minha única opção, eu nunca quis fazer esse barulho.”
MAIS MÉDICOS
“O Mais Médicos é uma grande medida. É um programa belo, maravilhoso, que leva a saúde pública aos rincões mais distantes do Brasil. Eu nunca tive nada contra o programa, mas contra as diferenças que existem para os profissionais cubanos. Decidi aceitar a missão no Brasil porque em Cuba há muita necessidade, e essa era uma forma de ganhar dinheiro para manter minha família bem. Eu prefiro morar em Miami, mas só quero viver em liberdade, seja onde for. Não tenho isso em Cuba. Seria bom se o governo do meu país se aproximasse do governo dos Estados Unidos.”
Na noite de 1º de abril, a médica cubana Ramona Rodrigues, 51 anos, divulgou um vídeo seu nos Estados Unidos, onde havia chegado na manhã do dia anterior. Ela se tornou símbolo contra o Mais Médicos ao abandonar o programa e pedir abrigo ao deputado oposicionista Ronaldo Caiado (DEM-GO) no Congresso. Depois, ficou hospedada no apartamento de outro parlamentar democrata antes de ser empregada pela Associação Médica Brasileira (AMB), também contrária à iniciativa do governo. Na semana passada, de Miami, falou à ISTOÉ sobre sua nova vida em solo americano.
RECOMEÇO
Ramona, em Miami:
"Estou muito feliz"
VIDA EM MIAMI
“É a primeira vez que vou aos Estados Unidos. Estou muito feliz, a vida está apenas começando. Quero trabalhar, vou buscar opções e fazer cursos. Eu gostaria de ser médica aqui, porque essa é a minha profissão. Vivo agora em um país seguro, livre, estou muito bem. Tenho teto graças à ajuda de amigos cubanos. Passo dois dias na casa de um, três na de outro. Ficarei assim até conseguir um local fixo onde possa viver.”
ACUSAÇÕES
“Não fui ao Brasil apenas para fugir. Já trabalhei como médica em outro país, a Bolívia, e se quisesse ir para os Estados Unidos teria feito isso antes. Também não tenho namorado em Miami, como disseram para me desacreditar. Nem familiares. Sou divorciada e tenho uma filha e uma neta, que estão em Cuba. O deputado federal José Geraldo (PT-PA) disse em plenário que eu era vista embriagada em Pacajá (PA), onde trabalhava, e que, por isso, nem os outros médicos cubanos me queriam na cidade. Isso também foi uma manobra para me desmoralizar. Eu não bebo, jamais bebi. É uma mentira, e muita gente lá saiu em minha defesa.”
FUGA
“Decidi abandonar o Mais Médicos porque estava inconformada com o nosso pagamento. Nosso salário era de R$ 2.300 – poderíamos usar R$ 900 no Brasil e o restante iria para uma conta em Cuba –, enquanto os demais médicos estrangeiros recebiam R$ 10.500. Me senti enganada porque nós, cubanos, temos a mesma capacidade de qualquer outro. Tive, então, o auxílio de amigos brasileiros – pacientes – que me ajudaram a ir de Pacajá a Marabá, também no Pará. Demorei quase nove horas porque estava chovendo muito e a estrada ficou completamente enlameada. De lá, peguei um avião até Brasília.”
GRAMPO
“Em Brasília, minha primeira opção foi pedir asilo à embaixada dos Estados Unidos. Dias depois, fui ao Comitê Nacional para os Refugiados pedir ajuda, mas eles nunca me responderam. Eu estava em Brasília quando fui comunicada pelos meus amigos de que a Polícia Federal havia ido à casa onde eu morava, em Pacajá, para me deportar. Eles também grampearam as chamadas. Foi quando falei com um médico cubano que eu conheço, residente no Brasil. Ele recorreu ao deputado Caiado, que me deu a proteção que eu precisava. Se não fosse por isso, eu já teria ido embora há muito tempo. Depois, trabalhei na AMB fazendo traduções e ajudando no serviço administrativo até que a embaixada americana me concedeu o asilo através de um programa destinado a acolher médicos cubanos trabalhando fora do país.”
USO POLÍTICO
“Não acho que o deputado Caiado ou a AMB tenham me usado politicamente. Não posso responder por eles, mas ideia minha não foi. Eu simplesmente procurei por pessoas que pudessem me proteger. Sou uma médica e meu interesse não é fazer política, só desejo minha liberdade. Foi minha única opção, eu nunca quis fazer esse barulho.”
MAIS MÉDICOS
“O Mais Médicos é uma grande medida. É um programa belo, maravilhoso, que leva a saúde pública aos rincões mais distantes do Brasil. Eu nunca tive nada contra o programa, mas contra as diferenças que existem para os profissionais cubanos. Decidi aceitar a missão no Brasil porque em Cuba há muita necessidade, e essa era uma forma de ganhar dinheiro para manter minha família bem. Eu prefiro morar em Miami, mas só quero viver em liberdade, seja onde for. Não tenho isso em Cuba. Seria bom se o governo do meu país se aproximasse do governo dos Estados Unidos.”
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