sexta-feira, 12 de setembro de 2014

UM ANO DO PROGRAMA MAIS MÉDICO


JORNAL DO COMERCIO 11/09/2014


Stephen Stefani e Antonio Carlos Westphalen



Após um ano, cabe uma reflexão sobre o programa Mais Médicos. Conforme as pesquisas, mais de 70% da população avalia a gestão da saúde como ruim ou péssima. Gastamos menos do que 5% do PIB em saúde pública, média menor do que o continente africano e maioria dos países da América Latina. Somos assolados com fraudes e desperdícios. Até aí é consenso. Justificar a ineficiência do sistema pela insuficiência de médicos é que gerou o debate. O Brasil tem 17,6 médicos para cada 10 mil habitantes, acima da média mundial, que é 14. São mais de 400 mil no País. Difícil imaginar que incluir mais 5 mil mudasse o cenário significativamente. O problema não é numérico, mas de distribuição, infraestrutura e gestão. 

Quando o programa foi oferecido aos médicos brasileiros, a adesão foi insignificante pelas condições de remuneração - sem férias, 13º salário e fundo de garantia – e pela falta de estrutura que desse segurança ao médico e paciente. A “importação” de profissionais levou a novas discussões. Os médicos estrangeiros não precisaram validar o diploma, gerando questões sobre a qualidade do atendimento que seria oferecido. Este ponto específico – a necessidade de critérios internacionais de qualificação de profissional – foi ampliado em artigo que escrevemos para a revista Value in Health. 

De um lado, muitos julgavam que “qualquer coisa é melhor do que nada”, enquanto o argumento da outra parte foi de que a população merece, e paga através de uma carga tributária elevada, mais do que “qualquer coisa”. O debate – que deveria ser técnico – tem sido político e partidário. 

Evidentemente que levar médicos para locais onde o atendimento é carente é um problema que demanda medidas efetivas, mas o programa Mais Médicos não pode prometer isso e não mudará o cenário da saúde se os recursos pertinentes e a vontade de mudá-la não for a prioridade. Já diz o ditado que nesta briga entre o mar e o rochedo, quem se dá mal é o marisco. E o paciente é o marisco.

Médico oncologista em Porto Alegre e médico radiologista nos EUA

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