ANGÚSTIA DE MÃE. Elisiane andou 530 quilômetros de Santa Vitória do Palmar até Novo Hamburgo, onde havia vaga - JOICE BACELO, Colaborou Marcelo Gonzatto, ZERO HORA 24/10/2011
Uma grávida de gêmeos teve de aguardar três dias e fazer uma viagem de sete horas e mais de 500 quilômetros de ambulância para dar à luz. Elisiane San Martins, 34 anos, acabou transferida da Santa Casa de Santa Vitória do Palmar, no extremo sul do Estado, para ganhar os bebês no Hospital Municipal de Novo Hamburgo, onde havia vagas na Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) neonatal.
A angústia da futura mãe e de seus familiares começou quando a bolsa de Elisiane se rompeu, quinta-feira passada. Nesse momento, teve início uma longa espera por vagas em hospitais do Estado com UTI neonatal – necessária para dar suporte aos gêmeos prematuros após o nascimento. Não havia leito em hospitais próximos, em Pelotas e Rio Grande, ou em outros mais distantes. A situação se agravou quando um dos exames indicou risco de infecção hospitalar para mãe e bebês.
O drama fez uma tia de Elisiane, Eva Tereza de Sá, que mora em São Paulo, recorrer à imprensa gaúcha. Depois de acompanhar a família aguardar transferência durante três dias, ela decidiu ligar para a Redação de ZH:
– Eu não podia ficar com as mãos amarradas.
Elisiane morava com o marido no interior de Santa Catarina desde março. Quando descobriu que esperava gêmeos, voltou ao Estado a fim de contar com os cuidados da mãe, em Santa Vitória do Palmar.
A obstetra Rosane de Oliveira, que acompanha o caso de Elisiane, explica que, ao contrário de gestações completadas no tempo ideal (entre 38 e 40 semanas), as prematuras não exigem o parto imediato com o rompimento da bolsa. A espera permite o amadurecimento do pulmão do bebê. Quanto mais próximo da data ideal para o parto ser realizado, menores os riscos.
O procedimento correto é que a paciente seja internada em uma instituição de saúde e passe por exames de monitoramento. A gestação é interrompida quando a gestante entra em trabalho de parto ou há risco de infecção para a mãe ou para o bebê – o que ocorreu com Elisiane. Por isso, o parto precisava ser feito, no máximo, até ontem.
Somente poucas horas antes do prazo, ao meio-dia, foi confirmada a vaga que permitiria o nascimento de Guilherme e Gustavo, em Novo Hamburgo. Mas nem isso eliminou a preocupação dos familiares e da médica, já que a longa viagem até o Vale do Sinos envolvia o risco de a gestante entrar em trabalho de parto no caminho.
Por sorte, houve tempo para chegar ao Hospital Municipal de Novo Hamburgo. Os bebês nasceram entre 18h41min e 18h42min, e permaneciam sob observação ontem à noite.
Secretaria admite que rede de UTIs é insuficiente
A Secretaria Estadual da Saúde (SES) admite que a quantidade de vagas em Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) para bebês recém-nascidos ainda não é suficiente para dar conta de toda a demanda. Conforme o titular da pasta, Ciro Simoni, quando não é possível encontrar vagas em hospitais credenciados pelo SUS, a secretaria pode até comprar vagas em instituições privadas – mas elas também costumam estar sujeitas a lotações.
– O problema com as UTIs neonatais é que os pacientes podem ficar até um, dois meses internados. Estamos trabalhando, aumentando a quantidade de leitos, mas ainda não é o suficiente – afirma Simoni.
O secretário informou que, como não havia expediente ontem, não seria possível dar informações precisas sobre o mapa das UTIs neonatais no Estado. De acordo com os registros disponíveis no site da própria secretaria, porém, observa-se que o Estado conta com pelo menos 368 leitos para recém-nascidos de alto risco vinculados ao SUS. Desses, 41% estão localizados em Porto Alegre. Em comparação, a região mais ao sul do Estado, de onde partiu a ambulância com a gestante, fica com perto de 6% dessa estrutura nos municípios de Rio Grande e Pelotas.
Simoni afirma que, em determinados momentos, praticamente toda a rede pública de UTIs se encontra ocupada por pacientes de risco. Nesse caso, a exemplo do enfrentado pela gestante de Santa Vitória do Palmar, a saída é uma longa viagem ou a compra de ou leito particular por parte do Estado. Simoni afirma que não tinha detalhes do caso de Elisiane, mas afirmou que deu autorização para deslocamento ou aquisição de vaga.
– Não havia vaga em Pelotas, Rio Grande, nem em Porto Alegre – revelou o secretário.
No Brasil, a saúde pública é tratada com descaso, negligência e impostos altos em remédios e tudo o que faz bem à saúde. Médicos e agentes da saúde são poucos e mal pagos; As pessoas sofrem e morrem em filas, corredores de ambulatórios e postos de saúde; As perícias são demoradas e burocracia exagerada; Há falta de leitos, UTI, equipamentos, tecnologia, hospitais e postos de saúde apropriados para a demanda; A impunidade da corrupção desvia recursos e incentiva as fraudes.
segunda-feira, 24 de outubro de 2011
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