sábado, 14 de dezembro de 2013

FALTA DE APARELHOS

GLOBO REPORTER 13/12/2013 23h49

Médica denuncia falta de aparelhos em hospital apoiado por programa do Governo Federal. O secretário de Saúde de Santo Antônio do Descoberto levou a equipe do programa a um posto onde a médica é paga pelo Governo Federal. É um programa chamado Provab.




Depois que o Globo Repórter com as denúncias foi ao ar, em 2011, o Ministério da Saúde mudou regras e passou a permitir também a contratação de dois médicos com jornadas de 20 horas semanais nos postos de saúde. O cadastro do ministério passou ainda a dar destaque, chamar a atenção, para médicos com muitos contratos de trabalho ou com mais de dois empregos públicos, o que é proibido por lei.

Mas o secretário de Saúde de Santo Antônio do Descoberto decreta: "Não funcionou e não funciona em nenhum lugar do entorno. Nós não temos a questão financeira pra poder arcar e manter esses profissionais 40 horas", afirma Valber Tavares, secretário de Saúde de Santo Antônio do Descoberto.

Globo Repórter: qual o orçamento do senhor?
Valber Tavares: o meu orçamento hoje na saúde é R$ 800 mil pra mim tocar toda uma saúde com 100 mil habitantes. Eu gasto hoje com folha de pagamento eu gasto R$ 1,1 milhão. O restante é contrapartida da prefeitura.

O secretário levou a equipe a um posto onde a médica cumpre a jornada de 40 horas, mas é paga pelo Governo Federal. É um programa recente chamado Provab.

“A gente trabalha 32 horas e faz 8 horas de pós-graduação, que ao final de um ano a gente sai com a titulação de médico da família”, diz Aline Sena da Costa, médica do PSF.

Aline já tinha trabalhado lá antes, levou calote no salário pago pela prefeitura e só voltou com a garantia do salário federal, mas faltou o resto do combinado.

Aline: o governo falou pra gente que todo o posto de saúde que tivesse um médico do Provab ganharia um recurso a mais pra poder ser feito alguma melhoria
Globo Repórter: ganhou?

O sorriso sem jeito diz quase tudo. O resto é frustração.

Aline: não tem condições de fazer alguma sutura, por exemplo. Até a gente fazia, mas aí a vigilância veio e interditou porque falou que não tinha condições de armazenamento e é insalubre fazer.

A médica conta que nem aquele aparelho básico, com luz, para examinar ouvidos ela tem.

“Não resolve o problema. eu posso trabalhar aqui mas eu não resolvo”, diz Aline.

“Não é possível não ter otoscópio, não faltam recursos pra isso. Podemos admitir falta de recursos para um dia para o outro termos leitos de UTI, mas pras coisas básicas não faltam recursos. É capacidade gerencial, gestão e fiscalização. 80%, 85% dos recursos federais em saúde são transferidos automaticamente a estados e municípios, claro que tem indicadores, metas a serem alcançadas, mas nós temos que avançar muito na fiscalização”, ressalta Helvécio Magalhães, secretário nacional de Atenção à Saúde.

E quando não se resolve no posto, na chamada atenção primária, o doente procura ajuda ou é despachado para outro lugar.

O Hospital de Base em Brasília é um dos destinos dos peregrinos da saúde.

Globo Repórter: o que a senhora acha disso?
Ana Rodrigues de Almeida, de 63 anos: muito dificultoso, né? Tem que sair 4h e tem dia que chega lá pras 21h.

Além do sofrimento, do desconforto, do desgaste sofrido pelos pacientes, essa que ficou conhecida como a ‘terapia da ambulância’, acaba gerando superlotação nos grandes hospitais das capitais. É o que a equipe viu ao entrar no Hospital de Base de Brasília. No mesmo lugar é possível encontrar o melhor da medicina

“De cada dez pacientes gravíssimos que entram, nove saem daqui vivos”, afirma Rodrigo de Freitas, cardiologista.

E também o pior do sistema de saúde.

“Cinco meses que a gente tá lutando com ela pra fazer essa cirurgia. A moça foi fazer o curativo e o dedo dela saiu. Agora a gente vai pra casa que não precisa mais de cirurgia”, conta uma mulher.

Conseguir montar uma emergência exemplar em um hospital superlotado não foi fácil, mas Rodrigo e sua equipe conseguiram.

“Se você não der estrutura e não der treinamento não adianta botar médico”, diz Rodrigo de Freitas.

Aí fica simples fazer o certo, o que precisa ser feito.

Rodrigo de Freitas: Os nossos médicos eles passam de segunda à sexta vendo o paciente. Então eles conseguem fazer um plano terapêutico de quando o paciente chega, o que que você vai fazer, e já estimar o dia que ele vai sair.
Globo Repórter: agora você teve que brigar pra treinar as pessoas, pra ter os equipamentos?
Rodrigo de Freitas: saúde pública ser resolvida sem um pouco de luta, um pouco de briga, não existe.

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