ZERO HORA 09 de dezembro de 2013 | N° 17639
JÚLIA OTERO | PELOTAS
MAIS MÉDICOS
Ainda que tenham chegado ao Estado apenas 363 dos 1.395 profissionais solicitados, população tem aprovado projeto federal
Com quatro meses de programa, o Mais Médicos trouxe 363 profissionais para o Estado – número quase quatro vezes menor do que o solicitado pelas prefeituras, que é de 1.395. Ainda assim, os gestores comemoram e acreditam na promessa do governo de, até março, ter todas as vagas ocupadas.
No Rio Grande do Sul, históricos buracos na assistência médica começam a ser cobertos, como em cidades da fronteira com o Uruguai e outras da Região Metropolitana, como Alvorada e Viamão, segundo Alcides Silva de Miranda, médico, professor da UFRGS e doutor em saúde coletiva:
– Antes não se tinha nada em atenção primária nesses municípios, mas ainda falta consolidar a presença dos médicos com equipe estruturada e infraestrutura para que o programa não seja apenas uma prática eleitoreira. E isso surge naturalmente com a apropriação da população, que começa a reivindicar que aquilo seja mantido e qualificado.
O professor cita como exemplo o sul de Portugal, que recebeu médicos cubanos. Ao final do intercâmbio, o povo se revoltou e exigiu a presença de médicos – fossem estrangeiros ou não. Mas os planos do governo brasileiro não colocam o Estado como prioridade. O foco do programa é o Nordeste. Até porque o número de médicos a cada mil habitantes no RS é quase o ideal. O Estado está em 4º lugar no ranking: são 2,23, quando o almejado é 2,7. No Brasil, a média cai para 1,83.
Estaria aí uma das explicações para a demora na chegada dos médicos ao Estado. As outras justificativas atingem também todo o país: denúncias de diplomas falsos, criação de lei que amparasse o programa e a necessidade de trocar de estratégia.
– O plano inicial era apenas chamar médicos cubanos. Mas, diante do rechaço das entidades médicas, houve uma mudança de planos, que acabou atrasando o programa – conclui Alcindo Antônio Ferla, professor da UFRGS do programa de pós-graduação em saúde coletiva.
Municípios podem ter pedido a mais do que o necessário
Uma das medidas que pressionou o país a adotar o programa foi um abaixo-assinado de 4 mil prefeitos entregue pela Frente Nacional dos Prefeitos (FNP). O presidente da FNP e prefeito de Porto Alegre, José Fortunati (PDT), está otimista:
– O retorno das comunidades é muito bom. Agora, nossa cobrança é para acelerar o envio de médicos.
Mesmo em março, prazo máximo para atingir a meta, é possível que o Estado não consiga todo o contingente solicitado. Isso porque o Ministério da Saúde recebeu 16 mil pedidos ao total no país, mas calcula que a capacidade máxima de absorção seja de 13 mil.
Ainda assim, para Ferla, talvez esses números não façam tanta diferença, pois os municípios teriam já pedido a mais do que o necessário, segundo o professor:
– Os municípios pensam “vamos chutar para o alto porque, se houver corte, temos garantia”. Mas o ministério não se baseia tanto nos pedidos, mas em uma análise minuciosa da necessidade de cada um.
ANDAMENTO. Hoje são 6,6 mil profissionais em todo o país. O governo federal deu início ao terceiro ciclo do programa. Hoje é o último dia para profissionais que quiserem participar se inscreverem. Médicos estrangeiros ou com registro profissional em outros países devem anexar ao formulário os documentos validados pelos consulados até sexta-feira. As áreas consideradas prioritárias para o Sistema Único de Saúde (SUS) são regiões metropolitanas, municípios remotos e distritos sanitários indígenas. A lista completa dos profissionais e a quantidade de médicos para cada município gaúcho será divulgada nesta semana.
COMO SURGIU - Lançado em 8 de julho, o Mais Médicos é parte de um pacto lançado pelo governo federal para melhorar o atendimento no SUS por ações como a ampliação do número de médicos nas regiões carentes do país. Os municípios ficam responsáveis por garantir alimentação e moradia aos selecionados. Os brasileiros têm prioridade no preenchimento dos postos, e as vagas remanescentes são oferecidas aos estrangeiros.
MAIS MÉDICOS
Ainda que tenham chegado ao Estado apenas 363 dos 1.395 profissionais solicitados, população tem aprovado projeto federal
Com quatro meses de programa, o Mais Médicos trouxe 363 profissionais para o Estado – número quase quatro vezes menor do que o solicitado pelas prefeituras, que é de 1.395. Ainda assim, os gestores comemoram e acreditam na promessa do governo de, até março, ter todas as vagas ocupadas.
No Rio Grande do Sul, históricos buracos na assistência médica começam a ser cobertos, como em cidades da fronteira com o Uruguai e outras da Região Metropolitana, como Alvorada e Viamão, segundo Alcides Silva de Miranda, médico, professor da UFRGS e doutor em saúde coletiva:
– Antes não se tinha nada em atenção primária nesses municípios, mas ainda falta consolidar a presença dos médicos com equipe estruturada e infraestrutura para que o programa não seja apenas uma prática eleitoreira. E isso surge naturalmente com a apropriação da população, que começa a reivindicar que aquilo seja mantido e qualificado.
O professor cita como exemplo o sul de Portugal, que recebeu médicos cubanos. Ao final do intercâmbio, o povo se revoltou e exigiu a presença de médicos – fossem estrangeiros ou não. Mas os planos do governo brasileiro não colocam o Estado como prioridade. O foco do programa é o Nordeste. Até porque o número de médicos a cada mil habitantes no RS é quase o ideal. O Estado está em 4º lugar no ranking: são 2,23, quando o almejado é 2,7. No Brasil, a média cai para 1,83.
Estaria aí uma das explicações para a demora na chegada dos médicos ao Estado. As outras justificativas atingem também todo o país: denúncias de diplomas falsos, criação de lei que amparasse o programa e a necessidade de trocar de estratégia.
– O plano inicial era apenas chamar médicos cubanos. Mas, diante do rechaço das entidades médicas, houve uma mudança de planos, que acabou atrasando o programa – conclui Alcindo Antônio Ferla, professor da UFRGS do programa de pós-graduação em saúde coletiva.
Municípios podem ter pedido a mais do que o necessário
Uma das medidas que pressionou o país a adotar o programa foi um abaixo-assinado de 4 mil prefeitos entregue pela Frente Nacional dos Prefeitos (FNP). O presidente da FNP e prefeito de Porto Alegre, José Fortunati (PDT), está otimista:
– O retorno das comunidades é muito bom. Agora, nossa cobrança é para acelerar o envio de médicos.
Mesmo em março, prazo máximo para atingir a meta, é possível que o Estado não consiga todo o contingente solicitado. Isso porque o Ministério da Saúde recebeu 16 mil pedidos ao total no país, mas calcula que a capacidade máxima de absorção seja de 13 mil.
Ainda assim, para Ferla, talvez esses números não façam tanta diferença, pois os municípios teriam já pedido a mais do que o necessário, segundo o professor:
– Os municípios pensam “vamos chutar para o alto porque, se houver corte, temos garantia”. Mas o ministério não se baseia tanto nos pedidos, mas em uma análise minuciosa da necessidade de cada um.
ANDAMENTO. Hoje são 6,6 mil profissionais em todo o país. O governo federal deu início ao terceiro ciclo do programa. Hoje é o último dia para profissionais que quiserem participar se inscreverem. Médicos estrangeiros ou com registro profissional em outros países devem anexar ao formulário os documentos validados pelos consulados até sexta-feira. As áreas consideradas prioritárias para o Sistema Único de Saúde (SUS) são regiões metropolitanas, municípios remotos e distritos sanitários indígenas. A lista completa dos profissionais e a quantidade de médicos para cada município gaúcho será divulgada nesta semana.
COMO SURGIU - Lançado em 8 de julho, o Mais Médicos é parte de um pacto lançado pelo governo federal para melhorar o atendimento no SUS por ações como a ampliação do número de médicos nas regiões carentes do país. Os municípios ficam responsáveis por garantir alimentação e moradia aos selecionados. Os brasileiros têm prioridade no preenchimento dos postos, e as vagas remanescentes são oferecidas aos estrangeiros.
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