quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

OS MÉDICOS NO OLHO DO FURACÃO


ZERO HORA 26 de dezembro de 2013 | N° 17655

ARTIGOS

Fernando Weber Matos*



Nunca antes na história deste país, para usar uma das tantas fanfarronices do ex-presidente Lula, o mesmo que ousou afirmar que a saúde pública brasileira estava se aproximando da excelência, os médicos brasileiros foram tão afrontados e ofendidos quanto neste ano, que está se esvaindo como a energia e a esperança de milhares de pacientes que padecem nas filas do SUS esperando por atendimento, exames e cirurgias.

Acusados de rejeitarem trabalhos nos pontos mais distantes e na periferia das grandes cidades, os médicos foram jogados no olho do furacão por um governo acuado diante das manifestações que sacudiram o país no meio do ano, cobrando combate efetivo à corrupção e clamando por mais hospitais e menos estádios de futebol.

De repente, os 400 mil médicos formados em cursos de Medicina brasileiros, chancelados pelo Ministério da Educação, foram considerados insuficientes para suprir a demanda da população, em especial a mais carente. Se lá atrás, quando o Cremers e outras entidades do setor sugeriram a criação de um plano de carreira médica no SUS, a proposta tivesse sido considerada e, principalmente, implementada, não haveria a necessidade de importar médicos.

Hoje, os postos de saúde das periferias mais humildes e dos municípios mais longínquos teriam não apenas médicos, mas uma estrutura mínima realmente eficaz para acolher e tratar os pacientes de forma digna. O governo teria um quadro fixo de médicos concursados, realmente qualificados e preparados, distribuídos por todo o país, sem a necessidade de importar profissionais de formação bastante duvidosa, já que não lhes é exigida a revalidação do diploma.

Por mais que os gestores da saúde queiram responsabilizar os médicos pelas mazelas da saúde, os fatos comprovam que pirotecnia não resolve a falta de leitos, a superlotação das emergências e, pior de tudo, os enfermos que morrem antes de realizarem os exames necessários.

O que conforta a nós, médicos, é que todos sabem, inclusive os que jogam sobre os ombros da classe médica uma responsabilidade que não é sua, que, na hora da dor, do sofrimento, do desespero, poderão contar com um médico. E, se puderem escolher, pedirão para serem atendidos por um médico com formação no Brasil. É isso que nos fortalece e nos faz acreditar que o ano de 2014 será melhor para a medicina brasileira.

*PRESIDENTE DO CREMERS

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