quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

INSEGURANÇA ALIMENTAR ATINGE 52 MILHÕES DE BRASILEIROS



CORREIO DO POVO 18/12/2014


Insegurança alimentar atinge 52 milhões no País, mostra IBGE. Dados apontam que 22,6% domicílios enfrentam falta de comida




O número de domicílios em situação de insegurança alimentar no Brasil continua caindo, mas ainda existem cerca de 52 milhões de brasileiros sem acesso diário à comida de qualidade e na quantidade satisfatória. Segundo o suplemento de Segurança Alimentar da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) 2013, divulgado nesta quinta-feira pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), dos 65,3 milhões de domicílios registrados, 22,6% estavam em situação de insegurança alimentar. Esse percentual era 29,5% em 2009 e 34,8% em 2004, anos anteriores da pesquisa.

Dos 14,7 milhões de domicílios com algum tipo de insegurança (22,6%), em 9,6 milhões (14,8%) viviam 34,5 milhões de pessoas (17,1%) da população residente em domicílios particulares em situação de segurança alimentar leve. Nesses lares havia a preocupação quanto ao acesso aos alimentos no futuro. Os domicílios com moradores vivendo em situação de insegurança alimentar moderada representavam 4,6% do total. Ao todo 10,3 milhões de pessoas nessa situação ou 5,1% conviviam com limitação de acesso quantitativo aos alimentos.

A prevalência de domicílios com pessoas em situação de insegurança alimentar grave era 3,2%. Em números absolutos, 7,2 milhões de pessoas ou 3,6% dos moradores de domicílios particulares reportaram alguma experiência de fome no período investigado. Em 2009, esse percentual era 5% e em 2004, 6,9%.

O estudo mostra também que a prevalência dos três níveis de insegurança alimentar caíram entre 2009 e 2013. O número de famílias em situação de segurança alimentar aumentou cerca de oito pontos percentuais em quatro anos ao alcançar 77,4% dos domicílios em 2013. Aproximadamente 150 milhões de pessoas tinham acesso regular e permanente a alimentos de qualidade em quantidade suficiente, segundo o estudo.

De acordo com a pesquisa, a área rural concentrava o maior número de domicílios com indivíduos em situação de insegurança alimentar: 35,3% (13,9% moderada ou grave). Na área urbana esse percentual era 20,5% (6,8% moderada ou grave) . Em 2009, o índice foi 43,7% e 29,3% respectivamente. Nos domicílios particulares urbanos em situação de insegurança alimentar moderada ou grave viviam 7,4% da população urbana, enquanto nos domicílios rurais moravam 15,8% da população.

Em relação às regiões do território nacional, o Norte e o Nordeste tinham o maior número de domicílios com pessoas em situação de insegurança alimentar (36,1% e 38,1% respectivamente) no ano passado. Nas demais regiões esse percentual não chegou a 20%. O Sudeste apresentou o menor índice, 14,5%. Norte e Nordeste também concentravam os maiores percentuais de domicílios com pessoas em situação de insegurança alimentar grave (6,7% e 5,6%). No Sul e Sudeste a prevalência ficou em 1,9% e 2,3%. Por outro lado, entre 2004 e 2013, o incremento mais expressivo do percentual de domicílios com pessoas comendo bem foi identificado no Nordeste (15,5 pontos percentual), com aumento de 46,4% para 61,9%.

O Espírito Santo foi o estado com o maior índice de segurança alimentar (89,65%), seguido por Santa Catarina (88,9%) e São Paulo (88,4%). As unidades da federação com as menores prevalências foram: Maranhão (39,1%) e Piauí (39,1%), onde menos da metade dos domicílios particulares tinham alimentação assegurada, apesar do aumento de 3,6 e 3,3 pontos percentuais. No Nordeste, todos os estados apresentaram taxas inferiores à média nacional (77,4%). Na Região Norte, apenas Rondônia registrou prevalência de segurança alimentar acima da média nacional, 78,4%.

segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

FONTE QUE FINANCIOU A SAÚDE SECOU



ZERO HORA 07 de dezembro de 2014 | N° 18006

TAÍS SEIBT


DIAGNÓSTICO DO ESTADO

Até o fim do ano, série de reportagens vai examinar os desafios do governo Sartori. Nesta página, ZH apresenta carências no atendimento médico e uma equação ainda sem resposta: como aplicar 12% no setor sem contar com socorro que ajudou Tarso


N a saúde, um índice de dois dígitos resume as preocupações do futuro governo José Ivo Sartori: 12%. Esse é o percentual da arrecadação de impostos que precisa ser destinado ao setor ao longo do ano. Tarso Genro só conseguiu cumprir a meta porque contou com um socorro que não estará à disposição de seu sucessor.

Para financiar a saúde, o atual governo recorreu aos depósitos judiciais – recursos recolhidos por terceiros em conta bancária judicial como garantia de pagamento em processos que dependem de decisão da Justiça. Uma lei de 2004 autoriza o Estado a “pegar emprestado” parte dos depósitos. Como Tarso fez saques até o limite permitido, a fonte secou, e Sartori terá de buscar alternativas. Em 2013, o Estado conseguiu aplicar 12,39% na saúde.

A pressão sobre o Palácio Piratini foi imposta pela lei complementar 141, que regulamentou, em 2012, a obrigação de destinar 12% da receita a ações em serviços públicos de saúde. Para o presidente do Sindicato Médico (Simers), Paulo de Argollo Mendes, a lei federal abre caminho para o governo enfrentar gargalos históricos. Na campanha, o Simers entregou carta com 12 propostas para a área.

O presidente da Federação das Santas Casas e Hospitais Beneficentes, Religiosos e Filantrópicos, Julio Dornelles de Matos, destaca a recuperação do financiamento do setor na gestão Tarso e espera que sejam cumpridas as metas já previstas para os próximos anos para custeio de atendimentos pelo Sistema Único de Saúde (SUS):

– É necessário criar um plano de melhorias físicas e tecnológicas para garantir um atendimento com mais segurança e qualidade.

O presidente do Conselho das Secretarias Municipais de Saúde (Cosem), Luís Carlos Bolzan, ressalta que a recuperação da dívida do Estado com os filantrópicos favorece a regionalização do atendimento, e frisa que é preciso avançar nesse quesito para reduzir a ambulancioterapia.


domingo, 7 de dezembro de 2014

SARTORI TERÁ QUE BUSCAR ALTERNATIVAS PARA FINANCIAR A SAÚDE

ZERO HORA 07/12/2014 | 07h02

Até o fim do ano, série de reportagens vai examinar os desafios do governo Sartori. Nesta reportagem, ZH apresenta carências no atendimento médico e uma equação ainda sem resposta: como aplicar 12% no setor sem contar com socorro que ajudou Tarso

por Taís Seibt



Na saúde mental, o Hospital São Pedro deveria receber melhorias, segundo avaliação do Simers Foto: Diego Vara / Agencia RBS


Na saúde, um índice de dois dígitos resume as preocupações do futuro governo José Ivo Sartori: 12%. Esse é o percentual da arrecadação de impostos que precisa ser destinado ao setor ao longo do ano. Tarso Genro só conseguiu cumprir a meta porque contou com um socorro que não estará à disposição de seu sucessor.

Para financiar a saúde, o atual governo recorreu aos depósitos judiciais – recursos recolhidos por terceiros em conta bancária judicial como garantia de pagamento em processos que dependem de decisão da Justiça. Uma lei de 2004 autoriza o Estado a "pegar emprestado" parte dos depósitos. Como Tarso fez saques até o limite permitido, a fonte secou, e Sartori terá de buscar alternativas. Em 2013, o Estado conseguiu aplicar 12,39% na saúde.


A pressão sobre o Palácio Piratini foi imposta pela lei complementar 141, que regulamentou, em 2012, a obrigação de destinar 12% da receita a ações em serviços públicos de saúde. Para o presidente do Sindicato Médico (Simers), Paulo de Argollo Mendes, a lei federal abre caminho para o governo enfrentar gargalos históricos. Na campanha, o Simers entregou carta com 12 propostas para a área.

O presidente da Federação das Santas Casas e Hospitais Beneficentes, Religiosos e Filantrópicos, Julio Dornelles de Matos, destaca a recuperação do financiamento do setor na gestão Tarso e espera que sejam cumpridas as metas já previstas para os próximos anos para custeio de atendimentos pelo Sistema Único de Saúde (SUS):

– É necessário criar um plano de melhorias físicas e tecnológicas para garantir um atendimento com mais segurança e qualidade.

O presidente do Conselho das Secretarias Municipais de Saúde (Cosem), Luís Carlos Bolzan, ressalta que a recuperação da dívida do Estado com os filantrópicos favorece a regionalização do atendimento, e frisa que é preciso avançar nesse quesito para reduzir a ambulancioterapia.

Quatro desafios para o próximo mandato

Hospitais filantrópicos
Mais de 70% dos atendimentos pelo SUS no Estado são prestados na rede de hospitais filantrópicos e beneficentes. São 239 unidades, responsáveis por 550 mil internações por ano. O presidente da Federação das Santas Casas, Julio Dornelles de Matos, reconhece que houve avanços no financiamento via Estado nos últimos anos e destaca que há um acerto para repasses no valor de R$ 300 milhões, em 2015, e de R$ 400 milhões, em 2016. Segundo o dirigente, há um déficit acumulado de R$ 410 milhões referente ao custeio de atendimentos pelo SUS na rede filantrópica.

Médicos no Interior
Prefeituras que tinham dificuldades para contratar médicos dispostos a trabalhar 40 horas semanais em postos comemoram o programa Mais Médicos, principal instrumento do governo Dilma Rousseff para aumentar a assistência no Interior. Por meio do programa, o RS recebeu mais de mil profissionais, muitos estrangeiros, distribuídos em 380 municípios. Para avançar na interiorização do atendimento, o Simers sugere criar carreira específica de médico no funcionalismo do Estado. No quadro atual, médicos estão incluídos na carreira de técnicos científicos.

Regionalização do atendimento
Melhorias na estrutura da rede filantrópica, segundo o presidente do Conselho das Secretarias Municipais de Saúde (Cosem), Luís Carlos Bolzan, seriam bem-vindas até mesmo para ampliar a regionalização da assistência e reduzir a necessidade de longas viagens para atendimento especializado. Cirurgias eletivas, por exemplo, poderiam ser feitas em cidades de médio porte que funcionariam como polos. O desafio do Estado seria atuar como mediador na formatação de consórcios entre pequenos municípios, que compartilhariam os investimentos.

Saúde mental
Na avaliação do presidente do Conselho das Secretarias Municipais de Saúde (Cosem), Luís Carlos Bolzan, o atendimento psiquiátrico no SUS é uma reforma ainda inconclusa. Houve evoluções, como a transferência de leitos de manicômios para hospitais gerais e a ampliação de Centros de Atenção Psicossocial (Caps), mas é preciso avançar, especialmente diante do aumento de casos de dependência química e da epidemia de crack. Ainda na saúde mental, outra sugestão do Simers seria equipar estruturas próprias do Estado, como o Hospital São Pedro.

segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

PORTO ALEGRE LIDERA O NÚMERO DE CASOS DE AIDS NO BRASIL

ZERO HORA 01/12/2014


Porto Alegre desponta como a cidade campeã em número de casos de aids. Ministério da Saúde deve divulgar hoje os índices que revelam o crescimento da epidemia na capital do Rio Grande do Sul. Entre as 20 cidades brasileiras com mais de 100 mil habitantes e maior incidência, sete estão na região metropolitana

por Nilson Mariano




Foto: sxc.hu / sxc.hu

Haverá duas notícias preocupantes para os gaúchos no boletim epidemiológico que o Ministério da Saúde deverá divulgar na tarde desta segunda-feira, em Brasília. A primeira: o Rio Grande do Sul continua a registrar a maior incidência de casos de aids no país. A segunda: Porto Alegre é a cidade campeã.

Os números não podem ser divulgados antes que o Ministério da Saúde autorize, o que deve ocorrer às 14h desta segunda. Em um artigo analisando a situação, o professor de epidemiologia da UFRGS Ricardo Kuchenbecker avisa que o Estado já é considerado um "local crítico" pelo Programa das Nações Unidas para HIV/aids.

— Dados sugerem uma epidemia elevada na população em geral, através da transmissão heterossexual, mas igualmente alta nas populações mais vulneráveis, como gays e usuários de drogas injetáveis — alerta Kuchenbecker.



No artigo (produzido em parceria com Gerson Winckler, da Secretaria Municipal da Saúde de Porto Alegre), o epidemiologista dimensiona o avanço da aids entre os gaúchos. Destaca que, entre as 20 cidades brasileiras com mais de 100 mil habitantes e maior incidência, sete estão na Região Metropolitana de Porto Alegre.

Há quase duas décadas que o Estado apresenta as taxas mais elevadas de aids. Sobre a região metropolitana, Kuchenbecker constata escassez de dados e insuficiência nas ações preventivas. Observa que aspectos econômicos, sociais e de mobilidade urbana precisam ser considerados. As pessoas dormem numa cidade, trabalham em outra e se divertem numa terceira.



A secretária Estadual da Saúde (SES), Sandra Fagundes, confirma que a incidência de aids voltou a crescer no Estado. Diz que há programas em andamento, mas os resultados podem demorar. Lamenta que o Estado só tenha instalado o teste rápido para detecção do vírus HIV nos postos de saúde em 2013, com quatro anos de atraso. No passado, houve argumentos de que o Estado liderava o ranking por dispor de um sistema de notificação mais avançado do que os demais. A própria Sandra esclarece que a hipótese não se sustenta.



— Há várias causas, a principal ainda não conseguimos identificar. Tomamos medidas para reduzir, mas os índices ainda são altos — diz a secretária.

CASOS DE AIDS ENTRE JOVENS AUMENTAM NO BRASIL

TV GLOBO FANTÁSTICO Edição do dia 30/11/2014


Casos de Aids entre jovens aumentam mais de 50% em 6 anos no Brasil. Fantástico acompanhou jovens soropositivos no país. Nos Estados Unidos, médicos desenvolvem comprimido que previne contaminação em até 92%




Segunda-feira (1º) é o Dia Mundial de Luta Contra a Aids, uma doença que infelizmente ainda precisa ser lembrada. O doutor Dráuzio Varella explica porque a Aids voltou a assustar e preocupar: “Houve um aumento absurdo dos casos de Aids entre os jovens nos últimos anos. Neste sentido, o Brasil vai na contramão do que acontece em outras partes do mundo”, afirma.

O aumento é de mais de 50% em seis anos. “O principal motivo é o comportamento sexual dos jovens. Acham que hoje ninguém mais morre de Aids, que se pegar o vírus é só tomar remédio e está tudo bem. Está tudo bem, não. É uma doença grave. Vai ter que tomar remédio a vida inteira. A Aids é uma doença grave, que causa sofrimento e não tem cura”, alerta.



“Quando eu saio à noite eu quero me divertir, me alegrar, distrair a mente um pouco”, conta um jovem.

Sábado à noite, Ivan, Guilherme e Edson saem para a balada. A cena é comum em qualquer cidade do Brasil e do mundo. Ruas, bares e boates lotadas de jovens. “Noitada perfeita é isso: bebida, amigos e mulher”, diz um jovem.

“Curtir, beijar na boca”, conta outro jovem.

“Conhecer alguém e ficar”, afirma outro jovem.

“É, hoje eu espero que tenha muita azaração, beijo na boca. Isso”, diz Ivan.

Ivan, Guilherme, Edson. Olhando para eles, você conseguiria dizer quem é portador do HIV?

“Eu sou soropositivo e descobri que tenho HIV com 23 anos. Eu tinha um relacionamento. A gente morava junto e tal. Ele sentou no sofá comigo e falou: ‘Olha, eu fiz o exame e o exame deu positivo’. Eu perguntei qual era o exame. Ele falou para mim e falou: ‘Fiz o exame de HIV’”, lembra.

Mesmo estando em um relacionamento estável, Ivan contraiu o vírus da Aids. Foi contaminado pela pessoa em quem mais confiava. “Hoje eu tenho certeza que a Aids não tem cara. Certeza absoluta”, conta.

Ivan faz parte de uma estatística preocupante. “A taxa de detecção de Aids entre jovens de 15 a 24 anos vem crescendo em uma velocidade bem maior que da população em geral”, diz Jarbas Barbosa, secretário de Vigilância e Saúde do Ministério da Saúde.

Desde 2006, os casos de Aids nos jovens entre 15 e 24 anos aumentaram mais de 50%, o que quer dizer mais jovens soropositivos. No resto do mundo, o número de novos casos de HIV entre os jovens caiu 32% em uma década. Por que estamos indo na contramão?

“A gente não deixa de transar porque não tem camisinha”, conta um jovem.

“A rapaziada de hoje em dia, não pensa muito nisso”, diz outro jovem.

Hoje é possível saber em menos de 20 minutos se você está ou não infectado com o HIV. Um teste rápido, que pode ser feito de graça na rede pública de saúde, disponível para qualquer um. Não precisa marcar hora: é chegar e fazer.

Rafaela transou sem camisinha, há um mês, e agora veio se testar. “Estava solteira, acabei conhecendo pela internet, a gente se envolveu. Fui na casa dele, chegou lá, não tinha, desprevenido. Acabou acontecendo. No dia seguinte fiquei naquela neurose, estou aqui hoje para fazer o teste”, diz Rafaela Pessoa de Araújo, de 19 anos.

Rafaela tem motivo para se preocupar. Ela já viu de perto como é viver com o HIV. “Minha mãe faleceu. Ela era portadora do vírus. Ela tinha muito cuidado para não contaminar os filhos. Cuidado redobrado”, conta.

Mesmo vendo o sofrimento da mãe, ela se descuidou. A médica traz o resultado: “Você não tem o vírus do HIV. Como você está se sentindo?”, pergunta.

“Aliviada. Acho que vai me conscientizar mais a me cuidar, a ter a postura de levar a camisinha”, responde.

Ela teve sorte dessa vez. Uma segunda chance que nem todo mundo tem. Na última década, 34 mil jovens contraíram o vírus da Aids. Basta um deslize, uma única vez sem preservativo para se contaminar.

Mas se transar sem camisinha, como Rafaela, você sabe o que fazer? Não adianta você esquecer de usar camisinha e sair correndo para fazer o teste. O exame leva 3 a 4 semanas para ficar positivo. Em vez disso, procure a rede pública para receber o tratamento preventivo, os remédios que vão evitar que o HIV penetre o organismo. Não é para fazer isso todo fim de semana. É uma medida de emergência, que deve ser tomada no máximo 72 horas depois do contato sexual. Passou de 72 horas é tarde demais. O tratamento dura um mês, e os remédios devem ser tomados todos os dias, rigorosamente. Falhou, perdeu o efeito.

Esses remédios de emergência, chamados de profilaxia pós-exposição, ou PEP, estão disponíveis da rede pública, mas pouca gente sabe. No ano passado, foram usados pouco mais de 20 mil kits de PEP em todo o país.

“Existe hoje uma falsa sensação de que a Aids está controlada. Que a Aids não existe mais. Porque não estamos mais vendo na mídia grandes ícones falecendo com essa doença”, diz Fernando Ferry, clínico geral especializado em Aids do Hospital Gaffrée Guinle, no Rio de Janeiro.

No início dos anos 90, Cazuza expôs ao público a luta pessoal contra a doença. Depois dele, em 1996, foi Renato Russo quem morreu de complicações da Aids.

Drauzio Varella: O Renato Russo foi talvez a última pessoa muito conhecida que morreu de Aids, não é, Dado?
Dado Villa-Lobos: Acho que sim. Contrariamente ao Cazuza, ele preferiu o sigilo, o segredo.

Dado Villa-Lobos tocava com Renato Russo no grupo Legião Urbana. Ney Matogrosso foi amigo e namorado de Cazuza. Eles lembram bem como era naquela época, quando a Aids matava em poucos meses.

“Houve uma semana que eu fui três vezes ao cemitério porque as pessoas morriam assim uma por dia”, conta Ney Matogrosso.

“Quem se criou e cresceu depois não acredita nessa doença. Então as pessoas não estão nem aí para essa doença. É como se a doença não existisse no mundo”, diz Ney Matogrosso.

Mas morrem 11 mil por ano no país. É muita gente.

“O remédio que existe é um remédio maravilhoso porque as pessoas não morrem e não se acabam do jeito que se acabavam, mas não é a cura. Não tem a cura ainda”, lamenta Ney Matogrosso.

Cazuza e Renato Russo morreram antes que o coquetel de remédios, os chamados antirretrovirais, que ajudam a controlar o HIV, se tornassem realidade, a partir de 1996. Os remédios fazem com que o vírus pare de se multiplicar e entre em um estado de ‘dormência’. A pessoa não desenvolve mais a Aids.

O número de mortes diminuiu drasticamente, e permitiu aos portadores do HIV viverem uma vida quase normal.

Ivan toma os medicamentos do coquetel diariamente. “Eu tomo seis comprimidos, de 12 em 12 horas. Tomo há três anos, todos os dias”, conta.

Além da obrigação de ter que tomar esse monte de remédios todos os dias para o resto da vida, os pacientes também sofrem efeitos colaterais. “Meu primeiro efeito colateral foi tontura, a náusea e, no caso, eu na hora de dormir tinha muito pesadelo. Eu tenho essa percepção de que eu preciso da medicação para viver. Mas eu posso parar de tomar a medicação agora e daqui a um mês, dois meses, uma semana, eu cair doente dentro de um hospital”, diz.

Um em cada cinco jovens não aguenta essa rotina e abandona o tratamento.

Marvin Jerônimo Teixeira: Eu descobri que estava doente ano passado.
Drauzio Varella: Você tratou e parou no meio do tratamento?
Marvin: Isso. Tinha dia que eu tomava, tinha dia que eu não tomava. Eu achava que um dia não vai me matar. Ficar um dia sem tomar meu remédio.

A Aids se desenvolveu. Resultado? “Eu estou perdendo a visão”, conta Marvin.

“A visão dele tem sido afetada por um vírus chamado citomegalovírus. Esse citomegalovírus destrói a retina. Vai ficar cego do olho direito e nós estamos tentando salvar o olho esquerdo”, explica o médico.

Marvin era pintor de paredes. Sem a visão, não tem mais como trabalhar. “Eu achava que eu não ia pegar isso, que não ia chegar a encontrar isso”, conta.

Como ele, um terço dos jovens diz não usar preservativo quase nunca ou nunca, de acordo com uma pesquisa da Unifesp.

“Eu achava que era de homossexuais”, afirma Marvin.

“O que tem nos preocupado muito é que uma grande quantidade de meninos de 20, 21, 22 anos, estão comparecendo ao nosso hospital já com Aids avançada e com doenças graves”, diz o doutor Fernando Ferry.

“Entre os jovens de 15 a 24 ela vem crescendo, principalmente entre os jovens do sexo masculino. É um crescimento importante. Em uma década cresceu praticamente 68%”, diz Jarbas Barbosa, secretário de Vigilância e Saúde do Ministério da Saúde.

Na população geral, quatro em cada mil pessoas são portadoras do HIV. Mas entre os jovens gays, esse número é 20 vezes maior: 100 em cada 1.000. Hoje, 150 mil pessoas no Brasil não sabem que têm a doença.

Ainda não existe cura para quem tem HIV, mas a esperança pode estar em quem não tem o vírus. Um único comprimido, que, tomado rigorosamente todos os dias, previne a contaminação em até 92%. A profilaxia pré-exposição, ou PREP, já é uma realidade nos Estados Unidos. Uma revolução na prevenção da Aids.

"É a primeira vez em 30 anos que descobrimos uma alternativa para prevenir o HIV além da camisinha. Isso muda tudo. É maravilhoso", diz Howard Grossman, médico e pesquisador especializado em HIV.

Esse remédio já fazia parte do coquetel para o tratamento dos portadores do vírus, mas os cientistas descobriram que ele também funcionava em quem não tinha o vírus, mas de forma diferente: criando uma barreira de proteção e impedindo o HIV de se instalar nas células da pessoa.

Damon é um dos que resolveram aderir ao PREP. "Alguns médicos acham que, por tomar esse remédio, as pessoas vão parar de usar camisinha. Mas não é isso. O remédio é para reduzir o risco de contaminação", diz o paciente Damon Jacobs.

No Brasil, uma pesquisa da Universidade de São Paulo e da Fiocruz, no Rio de Janeiro, ainda está na fase inicial de testes para esse remédio. Só deve estar disponível para os brasileiros daqui a dois anos.

O remédio só consegue evitar a transmissão do HIV, e mesmo assim não é 100% seguro. Por isso, é fundamental continuar usando camisinha. Até porque existem outras doenças tão graves quanto a Aids que também são sexualmente transmissíveis. É o caso da Hepatite B, por exemplo, que pode ser fatal. Tem que usar a camisinha, sempre. A ciência faz a parte dela. Mas para controlar a epidemia, você também tem que fazer a sua parte.

“Desde dezembro, quem testa positivo para o HIV já começa o tratamento imediatamente. E isso a gente espera que em 4, 5 anos já produza uma redução muito importante na transmissão do HIV no Brasil”, diz Jarbas Barbosa.

“As campanhas só ‘Use Camisinha' não terão a repercussão necessária. É preciso mudar. Sem educação não há mudança de cultura”, diz Regina Bueno, coordenadora do grupo de jovens Vivendo e Convivendo com HIV e Aids.

Depois de um mês internado, Marvin volta para casa. Sem a visão, os pincéis e a tinta agora são apenas uma lembrança da profissão que teve desde menino.

“Sem a visão vai ser difícil. Não sei o que eu vou fazer. Eu só acho que eu estou muito novo para morrer agora. Uma coisa eu sei: eu não desejo o que eu estou passando para ninguém, não. Peço que as pessoas se cuidem melhor, pensem direitinho. Se eu soubesse que ia ficar assim, eu tinha me prevenido. Tinha me cuidado, usado preservativos. Cuidado melhor de mim”, lamenta Marvin.