domingo, 27 de julho de 2014

NAS MÃOS DOS MÉDICOS ESTRANGEIROS


ZERO HORA 27 de julho de 2014 | N° 17872


LETÍCIA COSTA*


SAÚDE PÚBLICA. BALANÇO NAS COMUNIDADES

O QUE ACONTECEU COM OS CUBANOS? Há atendimento nos postos? Um ano depois da criaçãodo Mais Médicos, ZH retoma histórias retratadas ao longo do período para mostrar o cenário atual


Desde que o governo federal instituiu o Mais Médicos, em julho do ano passado, 1.081 profissionais começaram a atender em postos de saúde do Estado – 14 mil em todo o país. Eles assumiram vagas em municípios do Interior e na periferia das grandes cidades, locais carentes de clínicos dispostos a encarar a missão sem a estrutura adequada.

Mesmo decorrido um ano da criação, o programa segue alvo de controvérsias, tanto que já entrou na campanha eleitoral. Recentemente, o candidato do PSDB à Presidência, Aécio Neves, afirmou que não irá “aceitar as regras do governo cubano”, nação fornecedora da maior parte dos estrangeiros do projeto. Candidata à reeleição, a presidente Dilma Rousseff (PT) disse que o adversário é contrário ao Mais Médicos.

O tucano ecoou o discurso de entidades da classe médica brasileira. Uma das maiores críticas da categoria é a dispensa do Revalida, prova obrigatória para liberar o exercício da profissão aos formados no Exterior. Para as associações, a falta do exame coloca em risco a qualidade do atendimento.

ASSOCIAÇÕES CONTESTAM, PREFEITURAS COMEMORAM

– Não sabemos quantos são e se de fato são médicos, e até hoje não recebemos a resposta de todos os erros médicos que encaminhamos ao Ministério Público e ao Ministério da Saúde (30 casos) – diz Fernando Weber de Matos, presidente do Conselho Regional de Medicina do RS (Cremers).

Presidente do Sindicato Médico do Estado (Simers), Paulo de Argollo Mendes completa:

– O programa não fez nenhuma diferença. As emergências continuam lotadas, faltam leitos.

Nos postos, a percepção é de que os moradores aprovaram a chegada dos estrangeiros. Nas prefeituras, a comemoração é por terem conseguido profissionais dispostos a trabalhar 40 horas semanais.

– Houve um volume expressivo de consultas e também uma diminuição no número de internações – avalia o médico e professor da UFRGS Alcindo Ferla.

Apesar de o RS ter pedido 1.323 profissionais, recebeu 1.081 (81%). Representante do Ministério da Saúde, Heider Pinto diz que há razões para o número inferior. Pedidos foram negados se as cidades solicitaram mais médicos do que a quantidade de postos, se o número de equipes era considerado suficiente ou se o intercambista iria substituir um médico contratado.

Em Porto Alegre, dos 123 integrantes do programa, somente sete são brasileiros – número quase igual ao de dominicanos, que somam seis. Um deles é Carlos Manuel Torres Sena, que pega ônibus e caminha um trecho lomba acima para chegar ao posto no bairro Nonoai, onde recebe pacientes de consultas pré-marcadas e de seis fichas liberadas diariamente. No consultório, costuma dizer:

– Bom dia, como vai? Meu nome é Carlos, sou da República Dominicana, não falo muito português, mas vou fazer um esforço para que a senhora possa entender, tá? Se não entender qualquer coisa, pode perguntar. Não pode sair daqui com dúvidas, tá bom?

 *Colaborou Júlia Otero




População ajudou casal cubano a montar casa


Em dezembro passado, Manuel Macías Oria, 45 anos, desembarcou com outros cubanos no aeroporto Salgado Filho. Carregava sua bagagem e a da mulher, a também médica Dunia Herrera, 37 anos.

Quase oito meses depois, o casal que saiu da cidade de Morón esbanja orgulho pela missão que assumiu para ajudar outra nação. Nos atendimentos, o carinho com o paciente é visível, assim como foi a recepção que tiveram em Arroio do Sal, no Litoral Norte.

– No primeiro dia, o povo ficou na estrada esperando. Quando chegamos, a prefeitura alugou uma casa para nós, depois ganhamos coisas que a população comprou, como micro-ondas, máquina de lavar, sanduicheira, cafeteira, cobertor, roupas e abrigos. Em Cuba, não faz frio e não temos casacos. Me presentearam de tudo, incrível – relembra Dunia.

Desde então, não escapam de convites para churrascos com pacientes e amigos. Manuel, que está vermelho do sol da praia, conta que já foi até cobrado por esquecer de um almoço no domingo. Na segunda, ouviu as queixas da anfitriã que ficou esperando.

– Nunca imaginei que fôssemos fazer tantas amizades. No fim de semana, nunca cozinhamos em casa – conta o médico.

SAUDADE DO FILHO NUTRE PLANO DE VOLTA

O carinho parece ser um reflexo do atendimento e da humildade do casal. Para conversar com os pacientes, Manuel mudou a estrutura tradicional do consultório, deixando as cadeiras mais próximas. Além da atuação em quatro postos, eles fazem visitas semanais a doentes crônicos, com dificuldade para se locomover.

Com paciência, repetem as perguntas aos ouvidos cansados. Parabenizam até mesmo pequenas vitórias, como a de Galdino Marcos Cardoso, 97 anos, que conseguiu atender ao pedido de respirar fundo para ser examinado na cama, onde passa a maior parte do dia. Em outra casa, Dunia visita Virgilio Ignacio de Mattos, que tem as duas pernas amputadas.

– Dor não tenho nenhuma – diz Virgilio, já confortável com a presença de Dunia.

– Pero esta tosse molesta (irrita), hein? – fala a cubana, repreendendo o fumante de 83 anos.

– Solamente – contrapõe o idoso, em espanhol e aos risos, garantindo que está bem.

Formados em um país que exige dos médicos um período de trabalho na zona rural, Dunia e Manuel dizem que ninguém os obrigou a participar do programa e que recebem cerca de R$ 4 mil por mês cada um, contando com o auxílio da prefeitura e o salário pago pelo governo federal. Em Cuba, receberiam R$ 139 cada.

Apesar da boa relação com os pacientes, o casal planeja voltar para seu país em três anos. Dunia deixou com a mãe o filho de cinco anos, que deve reencontrar nas férias em novembro. Ela não esconde a saudade e a ansiedade para que o dia chegue.


Doran atende 25 pessoas por dia

Em Porto Vera Cruz, município da fronteira com 1,8 mil habitantes, a cubana Doran Mesa, 34 anos, preencheu a vaga deixada por um médico brasileiro que desistiu do programa. Desde que ela chegou, assegura a secretária de Saúde, Glaucia Carmona, não há mais fila no posto.

A médica cubana recebe, em média, 25 pacientes por dia e domina bem o português.

– Para nós, foi uma maravilha, era isso que estava faltando. Ela gostou da cidade e da população, disse até que quer ficar no Brasil depois – conta Glaucia.

Doran confirma o desejo. Neste ano, já programou férias para novembro, pois quer passar novamente Natal e Ano-Novo em companhia dos brasileiros.

– Claro que senti falta da família, da minha sobrinha, mas eles (colegas da prefeitura) amenizaram a saudade. Gostei do Brasil pelo acolhimento das pessoas. Quero ficar aqui, quem sabe achar um namorado, mas, para isso, tenho de conseguir revalidar o título (registro profissional) – diz Doran. 7/8/2013



Atendimentos são multiplicados



Antes da chegada do Mais Médicos a Pelotas, no sul do Estado, o posto Cohab Pestana contava com apenas um profissional durante um turno, uma vez por semana.

Era o que a prefeitura conseguia oferecer pagando R$ 35 a hora trabalhada. Mesmo a oferta de emprego por concurso, com salário de R$ 1,6 mil, não atraía candidatos. Agora, a cidade conta com 26 médicos do programa federal, 19 deles cubanos.

Noel Marzo Lores Noel foi um dos primeiros caribenhos a desembarcarem no sul do Estado. Depois, chegaram outros dois compatriotas ao Cohab Pestana: Abdel Kasan Montpellier Diaz e Alexander González Rodríguez. Juntos, eles transformaram os 10 atendimentos semanais em 120.

– A fama é tanta que vem gente de fora da nossa área de cobertura, e isso está prejudicando nosso trabalho. É uma amostra da demanda reprimida que havia – diz Manoel Castro da Silva, um dos servidores mais antigos do posto.

A estrutura física do posto já não suporta a nova rotina. Se antes sobravam salas, agora faltam. Duas vezes por semana, um dos cubanos tem de deixar de atender em um turno porque os atendimentos de ginecologia e pediatria ocupam os consultórios.

SERVIDORA PAGOU CONTA DE LUZ PARA AJUDAR

Eles também foram contratados para implantar o programa Estratégia de Saúde da Família, voltado ao atendimento domiciliar da população. Mas a falta de contratação de agentes comunitários impede a adoção do projeto.

Isso acaba atrasando até a especialização obrigatória oferecida pelo Ministério da Saúde a todos os participantes do Mais Médicos.

– Temos tarefas de cadastramento, por exemplo, previstas no curso, que deixam de ser cumpridas – lamenta Rodríguez.

Mas essa é a única queixa que deixam escapar. De resto, aprovam a vida em Pelotas. Nem sempre foi assim. No primeiro mês, os sete cubanos que chegaram foram abrigados em uma casa provisória da prefeitura, enquanto buscavam imóvel para alugar.

Quando saíram, havia uma conta de luz de R$ 127 a ser paga e nenhum deles tinha dinheiro para desembolsar. Uma funcionária da prefeitura se solidarizou e acabou quitando a dívida.



Uma república feminina e bem-humorada em Guaíba

Se a despedida do Brasil e da missão de atender em postos de saúde de Guaíba fosse hoje, Dianelys, Diurbys, Estrella, Marlene e Marlyn levariam uma lembrança especial do país: o caloroso acolhimento na cidade.

Antes de se mudarem para uma casa alugada pela prefeitura, em fevereiro, as cubanas ficaram hospedadas no Hotel Brasil Real. Fizeram amizade com hóspedes e os donos do estabelecimento.

– São pessoas simples, acessíveis, comunicativas e tranquilas, que se enturmaram bem. Já estive na casa delas. Recentemente, meu filho teve bebê, e o levou para elas conhecerem. Todos gostam muito delas – conta Katia Camargo Sperotto, proprietária do hotel.

É de amigos como Katia que as cubanas se lembrarão quando completarem três anos de atendimento pelo programa e retornarem ao país caribenho. Mesmo com a possibilidade de ficar o dobro de tempo no Brasil, as cinco médicas deixaram filhos em Cuba e a saudade tende a fazê-las voltar.

Até poderiam trazê-los, pois o governo de Raúl Castro está permitindo a vinda dos familiares, mas temem que a mudança seja muito brusca. As férias, marcadas para o próximo mês para três delas, devem acalmar o coração.

– Vamos matar um pouco da saudade por 30 dias – diz Marlene Muñoz Sanchez, 43 anos.

CHURRASCO, SIM; CHIMARRÃO, NÃO

Enquanto ficam em Guaíba, cultivam hábitos simples. Vão ao trabalho de ônibus, revezam-se diariamente para fazer a comida e semanalmente para limpar a casa. Para as compras no mercado, vão em grupo. Não se separaram nas horas livres, quando costumam pegar o catamarã e seguir até Porto Alegre para ver as lojas.

– Se nos convidam para churrascos, vamos todas, ninguém fica na casa – conta Marlene.

O prato típico já virou um trunfo quando oferecem outra tradição que não as agradou:

– Quando nos convidam para tomar chimarrão, respondemos: ‘Um churrasquinho é melhor’ – diverte-se Marlyn Gomez, 48 anos.

Nesses meses em Guaíba, estreitaram a relação com os pacientes, dos quais vêm a maior parte dos convites para almoços e jantares nos fins de semana.

Do período no Brasil, destacam apenas duas mudanças drásticas: o frio, com o qual não conseguem se acostumar, e a dieta de Marlyn, conquista que rende elogios.

– Marlyn está indo na academia. Tem emagrecido muito. Quantos quilos? – pergunta Dianelys Fuentes Diego, 40 anos.

– São 18 – comemora Marlyn.

Do grupo, também faz parte Maritza Castillo. No dia em que receberam ZH, ela estava doente e não pôde participar da entrevista.




Primeiros já têm férias


Estreantes nos postos de saúde do Estado há nove meses, os cubanos Abetain Almanza (que aparece na página reproduzida abaixo) e Ernel Antonio Gómez Cantero estão em férias. Previsto em contrato, o descanso de 30 dias foi combinadas com a prefeitura de Sapucaia do Sul, onde eles atuam.

Conforme o secretário da Saúde, José Wink, a prefeitura alugou um apartamento para o casal e disponibiliza transporte até os postos. Lúcia Gimenes Passero, coordenadora de Atenção Primária em Saúde, conta que Abetain – assim como os outros profissionais do país caribenho – mudou a forma de se relacionar com os pacientes.

– Na consulta, o usuário senta ao lado dela. Abetain é tranquila e muito carinhosa com os pacientes – relata Lúcia.

Em Sapucaia, atuam 11 cubanos.


O PROGRAMA
-Lançado em julho de 2013, por meio de medida provisória, o Mais Médicos levou profissionais para atuar durante três anos na atenção básica à saúde em regiões pobres do Brasil.
-Para isso, o Ministério da Saúde paga bolsa de R$ 10,4 mil aos profissionais. As prefeituras arcam com as despesas de moradia e alimentação. A carga horária é de 40 horas semanais (32 horas para atuação na atenção básica e oito horas para curso teórico).
-Em Porto Alegre, 16 nacionalidades estão representadas no Mais Médicos. Em primeiro lugar, estão os cubanos (40 médicos). Depois, aparecem venezuelanos (25), argentinos (12) e uruguaios (11).

FIM DO LOGRO


ZERO HORA 27 de julho de 2014 | N° 17872


PAULO SANT’ANA



O Sindicato Médico do RS (Simers) divulgou recentemente, numa emissora de rádio, um comunicado em que disse: “Em 20 anos, foram fechados 11 mil leitos pelo SUS, mais de 3 mil somente na Capital. A consequência é a superlotação das emergências. Os gestores da Saúde prometem novas vagas. Precisamos de mais investimentos e menos demagogia”.

É grave o que o Simers denuncia: foram fechados 11 mil leitos, 3 mil deles somente na Capital.

Por isso o pandemônio nas emergências e nos hospitais gratuitos.

Agora vejam o que denuncia outra entidade médica, o Cremers, também em comunicado que fez pela imprensa: “Estamos nos aproximando de outra eleição. E, como sempre, os políticos passam a destacar a Saúde em seus discursos. Mas o Cremers informa: a três meses da eleição, o governo do Estado anuncia a criação de mil leitos na Capital e na Região Metropolitana. A licitação, porém, sequer foi aberta. É a Saúde mais uma vez sendo usada para fins eleitorais”.

Como se nota pelas manifestações das entidades médicas, a demagogia e o mau uso dos serviços de Saúde gratuitos são apanágio dos gestores públicos da Saúde.

Em suma, o governo é o culpado. O governo mente, ilude, falsifica dados para ludibriar a opinião pública. É necessária a publicação da opinião das entidades médicas para desmascará-lo.

Mas para onde foi essa verba bilionária se extinguiram esses milhares de leitos e privaram milhões de pessoas dos serviços médicos do SUS? Ninguém sabe, ninguém viu. Isso é muito sério, talvez esse dinheiro bilionário tenha sido desviado para a construção de estádios para a realização da Copa do Mundo recentemente.

É uma vergonha, é um descalabro, é um desgoverno.

Os eleitores precisam ver quem os está enganando. E votar contra os que os enganam.


sábado, 26 de julho de 2014

SAÚDE PARA TODOS


|REVISTA ISTO É   N° Edição: 2331
| 25.Jul.14 - 20:50




EDITORIAL

Mário Simas Filho, diretor de redação



Na última semana, a Santa Casa de São Paulo, maior hospital filantrópico da América Latina, fechou as portas de seu pronto-socorro por 30 horas. A medida radical tomada pela direção da entidade deixou sem atendimento emergencial quase dez mil pessoas, expôs a penúria financeira em que se encontram os mais de dois mil hospitais beneficentes do País e deflagrou uma irascível briga entre os governos federal e estadual. Além dos desdobramentos rotineiros de casos como esse, o episódio permite uma inadiável reflexão. O fechamento de um dos principais prontos-socorros do Brasil aconteceu dias antes de a campanha pela sucessão presidencial e nos Estados ocupar o horário nobre nas rádios e tevês. E esse é o momento oportuno para que os candidatos consigam expor com clareza aos cidadãos o que realmente planejam para que a saúde do brasileiro seja tratada com um mínimo de decência. Até aqui, nesse período de pré-campanha que se instalou há pelo menos um ano, quase nada foi dito. A pauta que norteou os principais candidatos se resumiu ao programa Mais Médicos, colocado em prática pela gestão de Dilma Rousseff. Trata-se de um projeto que merece respeito e que, por sua abrangência e necessidade, já ganhou elogio nas páginas de ISTOÉ. No entanto, é muito pouco para fazer frente aos enormes desafios do setor.

O SUS (Sistema Único de Saúde) surgiu com a Constituição de 1988. Veio com a nobre missão de garantir saúde de qualidade a todos os brasileiros. Passados 26 anos, o que se constata é que estamos muito longe de cumprir a meta constitucional. Aqueles que dependem da rede pública ou dos convênios médicos já perceberam isso há muito tempo. A sociedade como um todo já se manifestou ocupando em junho do ano passado as ruas das principais capitais. Parece, no entanto, que aqueles que se colocam como postulantes aos postos de presidente e governadores ainda não perceberam a dimensão do problema.

A campanha eleitoral é um momento privilegiado para debater e propor reformas que efetivamente venham a assegurar, entre outras coisas, saúde de qualidade para todos. É o momento de obter o aval do eleitor para implantar o projeto que receber o apoio da maior parte da população. Mas, até aqui, a campanha vem se pautando mais por troca de farpas entre os candidatos do que pelo embate de projetos concretos. Tomara que o fechamento por 30 horas do pronto-socorro da Santa Casa tenha a força de sensibilizar os políticos e que a partir do início do horário eleitoral surjam as ideias que possam realmente transformar o Brasil em um país mais saudável.

À BEIRA DO COLAPSO

REVISTA ISTO É N° Edição: 2331 | 25.Jul.14


A Santa Casa de São Paulo, maior hospital filantrópico da América Latina, fecha as portas do pronto-socorro por 30 horas, deixa seis mil pessoas sem atendimento e expõe a situação de penúria dessas instituições no País

Fabíola Perez 


Na terça-feira 22, a Santa Casa de Misericórdia de São Paulo fechou as portas do pronto-socorro por quase 30 horas e deixou de atender mais de seis mil pessoas. O motivo da interrupção nos serviços da maior instituição filantrópica da América Latina é a falta de recursos para comprar medicamentos e itens básicos, como seringas e esparadrapos. A instituição tem hoje uma dívida de R$ 50 milhões com fornecedores, que, segundo o provedor do hospital, Kalil Rocha Abdalla, se negam a entregar novas encomendas enquanto o valor não for pago. A crise não é exclusividade de São Paulo. Outros hospitais filantrópicos brasileiros também estão à beira do colapso e podem fechar. Estimativas do setor indicam que as dívidas das instituições filantrópicas brasileiras chegam a R$ 15 bilhões.


DÉBITO MILIONÁRIO
Portões fechados na Santa Casa de São Paulo: dívida supera R$ 300 milhões

Em Belo Horizonte, a maternidade da Santa Casa ameaça encerrar as atividades. O serviço gera um prejuízo de R$ 1 milhão por mês, de acordo com o superintendente Gonçalo de Abreu Barbosa. A dívida da instituição supera R$ 200 milhões. Num país onde a carência no atendimento à saúde é uma triste rotina, a declaração de Barbosa surpreende: “Mais de 30 leitos novos estão fechados para contenção de gastos”, diz ele. No interior da Bahia, 40 Santas Casas deixaram de existir nos últimos dez anos. O hospital filantrópico Santa Izabel, em Salvador, recebe do governo federal R$ 5 milhões por mês. Mas, segundo o provedor do hospital, Roberto Sá Menezes, seriam necessários R$ 8 milhões mensais para manter todos os serviços ligados ao Sistema Único de Saúde (SUS). “Tiramos recursos do lucro com os planos de saúde para cobrir o buraco nos serviços públicos de cardiologia, oncologia e ortopedia”, conta.



As Santas Casas são responsáveis por 51% da assistência do SUS e chegam a atender mais de dez mil pessoas por dia. Em 999 municípios são a única alternativa da população. A instituição de São Paulo já passou por uma situação semelhante em 2011, quando o hospital ameaçou suspender o atendimento do pronto-socorro pela primeira vez. Naquela época, a dívida era de R$ 120 milhões. Hoje, supera os R$ 300 milhões. A principal queixa do setor é em relação ao financiamento do SUS. “Queremos que o governo pague o que nos custa prestar todo esse atendimento”, diz Edson Rogatti, presidente da Federação das Santas Casas. Segundo ele, a tabela do SUS não é reajustada há dez anos. O governo paulista liberou de forma emergencial R$ 3 milhões para a reabertura do posto, mas exigiu uma auditoria nas contas do hospital. Enquanto a população sofre, a situação virou uma briga política. O Ministério da Saúde acusa São Paulo de reter R$ 74 milhões enviados para a Santa Casa. A administração estadual nega e diz que o governo federal confunde e infla os números.

sexta-feira, 25 de julho de 2014

CAPITAL DA ASMA



ZERO HORA 25 de julho de 2014 | N° 17870

LARISSA ROSO
SAÚDE PROBLEMA CRÔNICO

PORTO ALEGRE ESTÁ entre as grandes cidades brasileiras com mais crianças asmáticas. Pesquisa mostra que cerca de 20% dos estudantes de 11 anos convivem com a doença e metade não a controla, sofrendo com os sintomas



Ao avaliar alunos de escolas públicas da Capital, o estudo ProAsma, conduzido pelo Centro Infant do Instituto de Pesquisas Biomédicas da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), chegou a uma constatação alarmante: duas em cada 10 crianças sofrem de asma. Metade desses pacientes não tem a doença controlada, apresentando sintomas como tosse, chiado no peito e falta de ar, e apenas 30% deles dispõem de prescrição médica para uso de remédios. Os dados colocam a cidade junto ao topo do ranking de incidência da enfermidade no mundo, equiparando-a a grandes metrópoles brasileiras e de países como Estados Unidos, Inglaterra, Austrália e Nova Zelândia.

– É um número altíssimo para uma doença crônica, nos impressionou muito. Estamos em uma “epidemia” – comenta o pneumologista pediátrico Paulo Márcio Pitrez, professor da Faculdade de Medicina da PUCRS e pesquisador responsável pelo levantamento.

Pitrez explica que é difícil apontar com exatidão os motivos pelos quais a capital gaúcha ostenta esses índices. De origem genética, a asma é influenciada por fatores ambientais, como a presença de infecções respiratórias (circulação de vírus), poluição e fumaça de cigarro. Características da vida das famílias contribuem de forma decisiva para a piora do quadro: 60% das crianças são sedentárias, passam muito tempo na frente da televisão e do computador, 60% dos pais admitem esquecer de dar a medicação, e há fumantes em 55% das casas. É comum também que os adultos se apeguem a crenças infundadas: 30% acreditam que a atividade física é maléfica para o asmático, e 50% pensam que o uso da bombinha faz mal ao coração.

– A asma é uma doença crônica, mas tem tratamento. A grande maioria consegue levar uma vida normal se fizer o tratamento adequado. A doença não controlada se traduz em qualidade de vida muito comprometida, perda escolar, hospitalizações, múltiplas consultas. É uma falha do sistema de saúde pública, a prevenção está falhando – diz o autor da pesquisa.

As conclusões do ProAsma serão encaminhadas pelas sociedades estaduais de Pediatria e de Pneumologia e Tisiologia à administração pública. De acordo com João Antônio Bonfadini Lima, pneumologista pediátrico da Secretaria Municipal de Saúde, o programa de atenção à asma, criado em 1997, está obsoleto e vem passando por reformulação. Médicos e enfermeiros da rede estão participando de cursos de capacitação. Todos os postos, segundo Lima, possuem a medicação básica para o tratamento, e, nos próximos meses, a previsão é de que sejam comprados remédios de melhor qualidade e oferecidos os itens exigidos pelos casos mais severos.


Uma bombinha que gera controvérsias


Dois medicamentos para asmáticos são comumente administrados por meio da popular bombinha: o broncodilatador, a que se recorre em momentos de crise, e o corticoide inalado, para controlar a doença de forma preventiva. Para apreensão dos pais, o corticoide inalado tem sido associado a problemas no crescimento das crianças em estudos científicos.

Pesquisa publicada pelo New England Journal of Medicine em 2012 revelou que a substância poderia fazer com que o paciente tivesse uma redução de até 1,2 centímetro na estatura final em comparação a quem não o utilizou.

Duas revisões recentes divulgadas pela Biblioteca Cochrane também se dedicaram à análise do tema. A primeira, realizada por professores da Universidade Federal do Rio Grande (Furg), apontou diminuição de 0,5 centímetro na taxa média de crescimento do grupo durante o primeiro ano de tratamento – nos anos seguintes, não se observou alteração significativa. A segunda revisão, de uma pesquisadora do Canadá, concluiu que doses baixas da droga melhoraram o crescimento em 0,25 centímetro.

– A pequena redução na altura é muito bem compensada por imensos efeitos benéficos na diminuição de sintomas e do risco de óbito. Vale a pena o uso do corticoide inalado. Esperamos que nosso trabalho ajude a reduzir o temor dos profissionais e das famílias – afirma o chinês Linjie Zhang, professor da Faculdade de Medicina da Furg.

De acordo com o o pneumologista pediátrico Paulo Márcio Pitrez, o ideal é optar pela menor quantidade possível.

– Quando usado de forma adequada, prescrito por profissionais capacitados, é um tratamento absolutamente seguro e eficiente – garante Pitrez. – A asma não tratada pode resultar também em déficit de crescimento e riscos à saúde – adverte o médico.



COMO TRATAR A DOENÇA NA INFÂNCIA

-Seguir à risca o tratamento prescrito por um pneumologista pediátrico ou alergista diminui a incidência das crises e permite que a criança leve uma vida normal. A administração do remédio é responsabilidade dos adultos, e as doses não podem ser esquecidas.

-Incentivar a prática de exercícios físicos. Se o paciente sente algum desconforto, não precisa parar de fazer – nesse caso, o médico deve orientá-lo para que os sintomas desapareçam.

-Limitar o tempo passado diante da televisão e do computador – se o seu filho fica duas horas diárias entretido nessas atividades, já é um sinal de alerta.

-Viver em um ambiente livre do tabagismo. A fumaça do cigarro faz muito mal ao asmático, induzindo sintomas e crises e dificultando a resposta ao tratamento.



A ASMA

-Também conhecida popularmente como bronquite alérgica ou asmática, a asma é uma doença crônica de origem genética com influência ambiental.

-Quando as vias aéreas entram em contato com vírus, mudanças de temperatura, cigarro, poluição e cheiros fortes, podem ser desencadeados sintomas como tosse, falta de ar, chiado e aperto no peito. Os sinais surgem de dia, à noite ou durante a prática de exercícios físicos.

-O componente hereditário sempre está presente. Uma criança com pais asmáticos corre risco maior de ter a doença, mas a que não tem pais asmáticos também pode desenvolvê-la. Nesses casos, há um parente próximo com a enfermidade, como avós ou tios.

-É mais comum que se manifeste ainda na infância, mas há situações em que os sintomas surgem na adolescência ou na vida adulta.

-Não existe cura, apenas controle com tratamento. Há pacientes que experimentam uma considerável diminuição de intensidade dos sintomas com o passar do tempo.





quinta-feira, 24 de julho de 2014

SAÚDE PÚBLICA ENTROU EM ESTADO DE COMA

JORNAL DO COMERCIO 24/07/2014


EDITORIAL


Repetitivamente, volta-se a falar no assunto saúde pública no Brasil. Para alguns, será má vontade com os agentes públicos, dos governantes aos que prestam o atendimento. Não é bem assim, mas falta um planejamento geral, amplo e irrestrito, para evitar as crises cíclicas. Há meses que lemos avisos em emergências de grandes hospitais de Porto Alegre, inclusive particulares ou semiparticulares, alertando que não há vagas. Nem pagando.

Estes avisos estiveram, ou ainda estão, estampados no Hospital de Clínicas, no Ernesto Dornelles e até na Santa Casa. Ora, todos atendem pelo Sistema Único de Saúde. Não exclusivamente, mas têm uma boa parte dos seus leitos destinados ao SUS ou aos servidores públicos estaduais. Pois agora, o País tomou conhecimento que a Santa Casa de Misericórdia de São Paulo suspendeu o atendimento de urgência e emergência e todos os exames. Recebeu, provisoriamente, R$ 3 milhões, mas diz que deve R$ 50 milhões aos fornecedores. O governo estadual paulista e o Ministério da Saúde contestam, querem que a Santa Casa abra as contas, pois tem recebido mais do que prevê a tabela do SUS. A interrupção é por tempo indeterminado, pela falta de recursos para aquisição de materiais e medicamentos, segundo a direção.

A administração da Santa Casa informa que estava envidando todos os esforços possíveis para reverter a situação junto às autoridades responsáveis pela saúde pública, e voltar a oferecer os serviços de qualidade aos pacientes. Em 2013, a Santa Casa realizou mais de 2 milhões de atendimentos de emergência ou uma média diária de cerca de 550 pacientes atendidos no pronto-socorro. Quando os políticos das diversas greis partidárias estão na oposição, tudo o que o governo faz está errado. Essa é a tradição brasileira. Mas nada mais igual aos que governam do que aqueles que são oposicionistas e, em seguida, assumem o poder em nível federal, estadual ou municipal. O salário-mínimo é a maior prova, bem como a tão falada e debatida contribuição para a saúde, a antiga CPMF, que poderá retornar, segundo confabulações de bastidores.

Porém existe o cuidado de não falar na volta da CPMF ou na criação de um novo imposto. Para alguns, há um clima positivo no Congresso, na base aliada e na oposição, para debater avanços nos mecanismos de gestão, regra estável de financiamentos e recursos crescentes para a saúde.

A origem desses recursos deverá ser discutida entre parlamentares, governos, prefeituras e sociedade. Ora, essa discussão é redundância, ninguém mais aceita tributos, seja qual for a finalidade. O descalabro nas contas públicas federais neste 2014 é reflexo da gastança descontrolada. Quem defende a volta da CPMF diz que médicos afirmam que os recursos têm de vir nem que seja da lua, de Marte ou do pré-sal. Mas tem que ter mais recursos para a saúde. Então, que se gaste menos em outros setores e se direcionem verbas para a saúde pública por parte da União, dos estados e dos municípios, os quais, aliás, geralmente gastam mais do que o estipulado, aí se incluindo Porto Alegre. A doença infecciosa financeira da saúde pública no Brasil é uma moléstia crônica que assola o País há muitas décadas, e sem solução.

terça-feira, 22 de julho de 2014

A EMERGÊNCIA DA SAÚDE





ZERO HORA 22 de julho de 2014 | N° 17867



EDITORIAL





Pesquisas nacionais reproduzem o mesmo quadro e apenas ratificam o que já é percebido no dia a dia, nos postos, nas emergências, nos hospitais. A amostragem, feita como levantamento complementar de recente pesquisa de intenção de voto no Estado, é um alerta poderoso a quem pretende ocupar cargos públicos. Saúde pública é, pelo que prevê a legislação, um serviço essencial com claras atribuições da União, dos Estados e dos municípios. Mas o que se vê, enquanto a estrutura se degrada, é a repetida tentativa de transferência de responsabilidades.

Ações específicas, como a que fortaleceu os primeiros atendimentos com a contratação de médicos estrangeiros, são importantes, mas insuficientes. A população continua a se queixar das filas de espera para atendimento básico e para cirurgias, da falta de especialistas, dos hospitais lotados e das carências de equipamentos e instalações em boa parte da rede de assistência. Assim se configura o cenário da precária gestão do SUS, que desperdiça recursos ainda insuficientes para as demandas nacionais.

Está provado, por uma série de estudos, que o Brasil aplica menos em saúde pública do que muitos de seus vizinhos e outras nações em estágio de desenvolvimento similar. Mas também é notório que toda a estrutura do sistema deve ser reavaliada. A população merece que as propostas dos candidatos para o setor sejam menos vagas e mais esclarecedoras, para que os deveres de cada ente federativo não continuem motivando um infindável jogo de empurra. Os serviços precários, em algumas áreas, são agravados pela deficiência crônica de gestão

domingo, 20 de julho de 2014

ONDE ERRAMOS?

REVISTA ISTO É N° Edição: 2330 | 18.Jul.14 - 20:50


O Brasil, que já foi referência no tratamento da Aids, vê aumentar o número de casos, enquanto a média mundial diminui. Mas é possível reverter esse quadro

Wilson Aquino


A culpa pelo crescimento do número de novos infectados com o vírus HIV no Brasil pode ser dividida entre a diminuição das campanhas de prevenção e testagem, feitas pelo governo e pelos movimentos sociais, e a negligência das pessoas que passaram a acreditar que a Aids, doença causada pelo vírus, deixou de ser letal graças aos novos tratamentos e remédios. Relatório divulgado na quarta-feira 16 pelo Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV e Aids (Unaids) revelou a triste novidade: no Brasil, que já foi referência global no tratamento da doença, o número de novos casos aumentou enquanto a média mundial diminuiu (leia quadro).


GRUPO
O maior número de novos casos é entre jovens gays
masculinos, que não viram as mortes do passado

O Ministério da Saúde (MS) alega que o crescimento apresentado pelo Brasil é semelhante ao dos Estados Unidos e países da Europa, que tiveram aumento médio de 8%. E frisa que o País é o que mais compra e distribui camisinhas no mundo – 625 milhões de unidades, em 2013. O maior número de novos casos é entre jovens homossexuais masculinos, uma geração que cresceu sem presenciar a morte em massa de pessoas infectadas nos anos 1980. O presidente do Grupo Pela Vidda (Valorização, Integração e Dignidade do Doente de Aids) do Rio de Janeiro, o psicanalista George Gouvea contesta a afirmação do MS. “O programa brasileiro sempre deu certo, mas tem claudicado nos últimos oito anos.” Para ele, as pessoas se tornaram displicentes. “O tratamento avançou e o soropositivo hoje consegue viver com qualidade de vida. Mas isso não significa que a doença não continue matando.”



A principal aposta dos cientistas brasileiros para conter o avanço do HIV no País é a Profilaxia pré-exposição (PrEP), tratamento que consiste no uso diário de antirretrovirais em grupos vulneráveis para reduzir o risco de transmissão caso sejam expostos ao HIV. Os medicamentos antirretrovirais já são usados no tratamento de pessoas portadoras do vírus. Desde março, pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) acompanham 400 voluntários que estão tomando o antirretroviral Truvada e mantendo a rotina sexual. Segundo a pesquisadora Brenda Hoagland, os voluntários serão acompanhados por um ano. O estudo poderá fornecer informações importantes ao Ministério da Saúde sobre quais seriam as necessidades estruturais para a implementação desse método de prevenção, “que ainda não está disponível aos brasileiros, por carecer de registro do medicamento Truvada”, diz Brenda.

Foto: TIZIANA FABI/AFP/Getty Images

quarta-feira, 16 de julho de 2014

E AGORA O SUS?!

ZERO HORA 6 de julho de 2014 | N° 17861


PAULO SANT’ANA




Terminada a farra da Copa, espera-se agora que os governos finalmente voltem seus olhos para as vergonhosas filas do SUS.

Já se viu, na farra da Copa, que há dinheiro de sobra nas burras do governo para sanar esta vergonha que é a saúde do povo nacional.

Não vão agora dizer que faltam verbas para as cirurgias e para as consultas. Se faltam, então por que colocaram tantos bilhões na farra da Copa?

É agora ou nunca. Não se admitem mais pessoas morrendo ou ficando aleijadas por falta de atendimento. Não se admite, isso não se admite mais. Ou há governo ou não há governo.

Assim não pode continuar.

*
Recebo da desembargadora Maria Berenice Dias uma estupenda crítica ao sistema de adoção de pessoas em nosso meio. Estupenda. E a transcrevo:

“Caríssimo Paulo Sant’Ana. Com relação a tua coluna de 12/07, sobre o bebê que foi abandonado pela mãe em Santo Ângelo, gostaria de te dar uma bela resposta. Mas não tem como.

Nem tu nem ninguém, ao menos nos próximos anos, vão conseguir adotar essa criança.

Ao invés de ser entregue imediatamente ao primeiro inscrito no cadastro da adoção, ela vai ir para um abrigo.

Lá vai permanecer enquanto a polícia procura a mãe e algum parente que a queira.

Esse processo dura anos. Só depois é que haverá chance de ser adotada, mas quando já tiver 2 ou 3 anos de idade.

De maneira absolutamente inconstitucional, juízes e promotores, ao invés de lhe garantir direito à convivência familiar, a mantém institucionalizada.

Ora, se foi abandonada é porque a mãe não a podia ter consigo. E se chegou a deixá-la na rua foi porque ninguém de sua família a apoiou.

E, como se trata de um recém-nascido, não tem vínculo de afetividade e afinidade com ninguém, não se justificando ir atrás da família extensa.

Paulo, esta é a perversa situação das mais de 50 mil crianças institucionalizadas, das quais só 5,4 mil estão em condições de ser adotadas, ainda que existam mais de 30 mil pretendentes à adoção.

Aliás, a ZH publicou um artigo meu, sobre o tema, no dia 8 de maio, intitulado “Adoção Constitucional”.

Está na hora de ser tomada uma providência urgente.

Bem que poderias fazer a tua parte, publicando esta minha resposta.

Afinal, não há espaço mais lido neste Estado do que a tua coluna.

Um beijo e que continues assim, com capacidade de te indignar.”

(Valente desembargadora assinou este e-mail.)

segunda-feira, 14 de julho de 2014

MORTE EM FRENTE A HOSPITAL TEM 10 PESSOAS INDICIADAS

TV GLOBO, FANTÁSTICO, 13/07/2014 23h12

Polícia decide indiciar 10 pessoas por morte de fotógrafo em frente a hospital. Presidente do Instituto Nacional de Cardiologia, no Rio, e mais nove pessoas vão responder pela morte do fotógrafo Luiz Cláudio Marigo.




A polícia decidiu indiciar por homicídio o presidente do Instituto Nacional de Cardiologia, no Rio de Janeiro. José Leôncio de Andrade Feitosa e mais nove pessoas - entre diretores, recepcionistas e vigilantes do hospital - vão responder pela morte do fotógrafo Luiz Cláudio Marigo.

Mês passado, Luiz Cláudio sofreu um ataque cardíaco na porta do instituto, mas ninguém do hospital o socorreu.

No mês passado Luiz Cláudio Marigo morreu dentro de um ônibus, na frente do Instituto Nacional de Cardiologia, no Rio de Janeiro.

Às 11h06, Luiz Cláudio, de 63 anos, entra no ônibus. Ele está de camisa vermelha. Seis minutos depois, cai no chão. Ele teve uma parada cardíaca. (Veja as imagens no vídeo acima)

Alertado pelos passageiros, o motorista parou a poucos metros do Instituto Nacional de Cardiologia, um dos hospitais referência no tratamento de doenças do coração no Brasil.

A câmera de segurança do ônibus registra: o motorista segue em direção ao hospital para pedir ajuda.

De acordo com o depoimento de uma testemunha, que foi procurar no hospital, a resposta que um segurança deu na recepção foi: "Nós não damos atendimento, liga para o Samu".

O Instituto Nacional de Cardiologia não atende emergências.

“Os funcionários da portaria alegavam que tinham uma ordem expressa da administração e com isso confessaram, inclusive, que já foram repreendidos quando fizeram atendimento”, disse o delegado Roberto Gomes Nunes.

Na portaria, havia a orientação: "Em caso de necessidade, o paciente deverá se dirigir ao hospital de emergência mais próximo."

Para o médico Rogério Moura, da Sociedade Brasileira de Cardiologia, a triagem na porta de um hospital não pode ser feita por um segurança.

“Nesse momento, a triagem que foi feita por um não profissional de saúde não conseguiu determinar a necessidade de que ele fosse atendido de forma emergencial. Eu acho que é isso que aconteceu”, destaca o cardiologista.

Sem socorro das equipes do Instituto de Cardiologia, só 13 minutos depois, paramédicos da prefeitura que saíam do hospital depois de levar um paciente, entram no ônibus para atender o fotógrafo. Logo depois, a Defesa Civil também aparece. Mas já era tarde.

A polícia concluiu as investigações na sexta-feira (11). E nesta segunda-feira (14) vai entregar o inquérito ao Ministério Público. O delegado responsável pelo caso decidiu indiciar por homicídio doloso, aquele com intenção de matar, dez pessoas. Entre eles, o presidente do instituto, José Leôncio de Andrade Feitosa, e três diretores. Além de funcionários da recepção e vigilantes.

Todos foram procurados pelo Fantástico, mas não quiseram dar entrevista.

“Os diretores, os médicos responsáveis pelo ambulatório, eles deixam a cargo dos vigilantes, dos recepcionistas, fazer a triagem de quem pode, deve ou não ser atendido pelos médicos. Só que essas pessoas não têm qualquer conhecimento de medicina e isso é o absurdo maior”, destaca o delegado.

Depois da morte de Luiz Cláudio, a família chegou à conclusão, que por questões financeiras, não teria como manter o estúdio onde ele trabalhava. Por isso, todo o acervo do fotógrafo foi levado para o apartamento da família. São milhares de imagens, muitas inéditas, registradas em 40 anos de trabalho.

São fotografias premiadas de animais, de plantas, paisagens do mundo inteiro. A família não se conforma.

“Se a pessoa nega auxílio, ela está dando possibilidade de uma morte ocorrer por responsabilidade dela. Nada vai trazer ele de volta, mas eu espero que se faça justiça”, destaca a viúva Cecília Marigo.

“O mais justo para mim é que essa situação mude e que nunca mais a triagem na porta do hospital seja feita por segurança”, disse o filho, Vitor Marigo.

sábado, 12 de julho de 2014

A COPA DA SAÚDE E DA DOENÇA


ZERO HORA 12 de julho de 2014 | N° 17857. ARTIGOS

 Flavio José Kanter*


Cabe uma analogia com a nossa saúde. Informações veiculadas a respeito de saúde e das possibilidades de adoecer nos fazem sentir inseguros e ameaçados. Vejo isso em muitas consultas. O que acontece em geral é que a saúde e a vida acontecem, como a Copa. Cada um vive a vida das vidas, do jeito que pode...

O que fazer para ter vida saudável e longa? A morte é inevitável. Uma meta boa é viver bastante e feliz, morrer com dignidade, sem sofrer.

Quando recebo pessoas em consulta pedindo para fazer todos os exames, ou outras que chegam com volumosos conjuntos de testes já feitos, lamento o desperdício e falsas ilusões que criamos. Muitas irradiações para obter imagens, prescrições de substâncias e suplementos de eficácia duvidosa e com riscos, são feitos na ânsia de fugir das doenças. Alguns acreditam que é assim para ter saúde, que sem isso podem perder a chance de ter vida longa e de qualidade. Será?

Do que precisamos para ter saúde? Viver uma vida emocional satisfatória, harmônica e respeitosa consigo mesmo, na família, no trabalho, no lazer. Atividade física é indispensável, somos feitos para o movimento. A boa preparação passa por alimentação saudável em equilíbrio com o consumo, hidratação, álcool moderado, não fumar, repouso. A consulta periódica busca identificar fatores de risco e remover os possíveis, identificados em cada indivíduo na fase de vida em que se encontra, com suas peculiaridades únicas. Quando há sintomas, sinais, alterações, doença, aí é o momento de usar todos os recursos diagnósticos e terapêuticos aplicáveis a cada situação.

Como a Copa, que foi mais que satisfatória, a vida pode ser bem vivida com menos exames, remédios e restrições do que pensamos muitas vezes.

Que tal deixar de fugir da doença e perseguir a saúde? Ela pode ser encontrada nos bons hábitos de vida.

*MÉDICO

quarta-feira, 9 de julho de 2014

SUPERLOTAÇÃO E ATENDIMENTO RESTRITO

CORREIO DO POVO 08/07/2014 11:50


 Karina Reif / Correio do Povo

Clínicas restringe atendimento em emergências devido à superlotação. Hospital de Porto Alegre opera com quase triplo da capacidade




Hospital de Porto Alegre opera com quase triplo da capacidade
Crédito: André Ávila


O Hospital de Clínicas de Porto Alegre restringiu o atendimento nas emergências adulta e infantil em função da superlotação. Na manhã desta terça-feira, o número chegava a quase o triplo da capacidade: 153 pessoas – 138 adultos e 15 crianças – para 58 leitos.

O chefe do setor, Ricardo Kuchenbecker, explicou que o somatório de dias de frio, aliado à umidade, se torna um combustível para infecções respiratórias. As crianças, sobretudo as menores dois anos, são as mais sensíveis às bronquiolites, por exemplo. “Na maior parte das vezes, não é grave mas alguns casos demandam mais atenção e internação”, disse.

Os sintomas de problemas respiratórios e cardiovasculares tendem a se agravar com esse clima nos adultos. Além da questão do tempo, o médico destacou que houve um aumento de procura por moradores do interior. “Buscamos reforço, com horas extras, mas não temos capacidade”, salientou.

O resultado é lentidão e dificuldade de acomodação. Boa parte dos doentes fica deitada provisoriamente em macas e cadeiras. Ontem havia cerca de 60 pacientes aguardando uma cama. “Nos casos sem risco de morte, pedimos que a população procure outro tipo de atendimento”, orientou.

A situação não era diferente em outras emergências da Capital. A Santa Casa operava com restrição. O Santa Clara, que atende adultos pelo Sistema Único de Saúde (SUS), tinha 41 pessoas para 26 leitos pela manhã. No Dom Vicente Scherer, que recebe convênios, tinha 23 para 14 espaços.

No Hospital Conceição, o atendimento era normal, apesar da superlotação. Havia 101 pacientes para 64 leitos, na emergência adulto. Já no Hospital da Criança, eram 18 para 14 camas. O São Lucas da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (Pucrs)tinha 36 adultos para 13 leitos e cinco crianças para seis espaços.



terça-feira, 8 de julho de 2014

ACERTO DE CONTAS DO TRÁFICO EM HOSPITAIS PREOCUPA

Homem armado invade hospital em Viamão

DIÁRIO GAÚCHO 07/07/2014 | 15h43

Acerto de contas do tráfico em hospitais preocupa autoridades no RS. Em menos de um ano, três homens foram vítimas de atentados em instituições de saúde da Região Metropolitana


Carlos Wagner e Eduardo Rosa


Nos últimos 11 meses, aconteceram três atentados a bala contra pacientes de hospitais da Região Metropolitana. O último ocorreu no início da noite de domingo, no Hospital de Caridade, centro de Viamão. Por se tratar de fatos incomuns no país, a Federação dos Hospitais e Estabelecimentos de Saúde do Rio Grande do Sul (FehoSul) solicitou um estudo.

— Esse tipo de acontecimento é muito comum na Colômbia e no México, locais onde há confrontos de traficantes. Pelas informações que temos, o que aconteceu aqui tem ligação com tráfico de drogas. Mandamos fazer um estudo para saber se estamos entrando em uma nova era — comentou Cláudio Allgayer, presidente da FehoSul.

Uma vez por mês, os estabelecimentos do setor têm uma reunião nacional. Conforme Allgayer, são raros os relatos sobre atentados a pacientes, mesmo em regiões conflagradas, como o Rio de Janeiro. Para Paulo de Argollo Mendes, presidente do Sindicato Médico do Rio Grande do Sul (Simers), a situação também é preocupante.

Os três atentados não têm ligação entre si — em comum, há a disputa por pontos de drogas. No caso de Viamão, o delegado Carlos Henrique Wendt, da Delegacia de Polícia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DPHPP), disse que há dois suspeitos. A polícia não divulgou o nome da vítima da tentativa de homicídio, que não chegou a ser atingida. Trata-se de um homem de 39 anos, com longa ficha criminal, hospitalizado depois ser baleado.

— Acreditamos que o atentado tenha relação com a disputa por pontos de drogas — afirmou delegado.

Os outros dois atentados

O atentado mais emblemático ocorreu em 23 de agosto de 2013, dentro do Hospital Cristo Redentor, na zona norte de Porto Alegre. Tiago Diogo Gonçalves se recuperava após ter sido alvo de disparos no dia anterior. Um homem teria aproveitado o horário de visitas, entrado no quarto onde estava Gonçalves, atirado com arma de fogo várias vezes e fugido. Nove dias depois, já em casa, na Vila Respeito, bairro Sarandi, Gonçalves foi executado com um tiro na cabeça por um conhecido.

Em consequência do atentado, medidas adicionais de segurança foram tomadas. Conforme a gerente de Administração da instituição, Marinéia Roldão da Rocha, uma das providências foi a colocação de segurança 24 horas no quarto andar — no local, ficam pacientes que se recuperam de ferimentos de armas de fogo e branca. Também foram pedidas mais câmeras e ampliação de acessos apenas com uso de crachá.

— Estamos estudando o uso de catracas como é no Hospital de Clínicas. A pessoa (visitante) se identifica, passa com crachá e devolve na saída — afirma Marinéia.

Menos de um ano depois, caso semelhante ao do Cristo Redentor voltou a ocorrer. Desta vez, em São Leopoldo. Saul de Almeida Gonçalves, 30 anos, foi executado no Hospital Centenário, no início da noite de 12 de junho. Conforme a Polícia Civil, o atirador teria pulado a janela que dava acesso direto ao quarto onde a vítima se recuperava de uma cirurgia. No dia anterior à sua morte, Gonçalves havia sofrido uma tentativa de assassinato no Loteamento Chácara dos Leões, bairro Santos Dumont.

— Os autores já foram identificados. Há um preso e outro com mandado de prisão preventiva decretado — relatou o delegado regional de São Leopoldo, Leonel Carivali.


ZERO HORA

EMERGÊNCIA COM O TRIPLO DA CAPACIDADE


ZERO HORA 07/07/2014 | 22h53

Emergência do Hospital de Clínicas atende quase o triplo da capacidade. Apenas casos de extrema gravidade estão sendo atendidos. Administração do HCPA pede à população que busque outros hospitais de Porto Alegre

por Carlos Ismael Moreira, 



A emergência do Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA) alcançou um nível alarmante na noite desta segunda-feira. O estabelecimento está atendendo quase o triplo da capacidade de pacientes. De acordo com comunicado divulgado pela assessoria de imprensa do hospital, às 20h30min desta segunda-feira, estavam em atendimento 164 pacientes, entre adultos e crianças, em um ambiente com capacidadde projetada para 58 (49 leitos para adultos e 9 pediátricos).

O comunidado traz ainda um apelo da Administração do HCPA à população para que, "diante desta situação delicada", se evite procurar a Emergência. "Apenas casos de risco de morte estão sendo atendidos, e ainda asim sem as condições ideais de acomodação para os doentes", dizia a nota.

De acordo com o chefe do setor de emergência do HCPA, Ricardo Kuchenbecker, a superlotação está relacionada com o aumento da incidência de doenças respiratórias durante o inverno, somadas aos demais casos de emergência.

— A sequência de vários dias de frio causam um impacto grande nas crianças. De maio a setembro, é o período que chamamos de estação das bronqueolites, em que diferentes tipos de vírus respiratórios se beneficiam do clima úmido. As crianças de até dois anos, com sistema imunológico em formação, tem maior pré-disposição a desenvolver inflamações nos bronquios. Adultos com problemas respiratórios ficam mais expostos também.

Segundo Kuchenbecker, durante todo o ano de 2013 a média de atendimento na emergência do HCPA ficou entre 115 e 118 pacientes:

— Essa situação atual é muito fora da curva. Por isso, pedimos que, pelo menos nas próximas 24 ou 48 horas, até que consigamos voltar a operação normal, o ideal é que as pessoas procurem o Clínicas apenas em casos de extrema gravidade — reforçou.

Às segundas-feiras, a escala da emergência do hospital conta com seis plantonistas clínicos, um cirurgião, quatro enfermeiros e entre 12 e 14 técnicos em enfermagem.

segunda-feira, 7 de julho de 2014

PARCERIA E BOA GESTÃO CONSTRUÍRAM UM HOSPITAL


JORNAL DO COMÉRCIO 07/07/2014


EDITORIAL



Na Constituição de 1988, foi colocado que a saúde era um direito de todos e dever do Estado. Por isso, não se tem como ignorar um grande feito, a inauguração do Hospital Restinga e Extremo Sul de Porto Alegre, com atendimento 100% pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Foi o primeiro erigido na Capital nos últimos 40 anos, lembra a prefeitura. Terá a vasta experiência e credibilidade do Hospital Moinhos de Vento, antigo Hospital Alemão. Então, essa é uma fórmula que serve para que novas realizações do tipo sejam feitas em outras grandes e médias cidades do Interior do Rio Grande do Sul e regiões desse imenso e carente Brasil no quesito saúde.

Passados 26 anos, muito melhorou no SUS, porém, a demanda extrapolou a capacidade de atendimento.

Além disso, a municipalização da saúde colocou as prefeituras em uma situação de mais despesas, sem total contrapartida dos recursos. Como o Rio Grande do Sul tem hoje 496 municípios, é fácil se deduzir que os problemas só têm aumentado. Em decorrência, é quase mensal a ida de caravanas de prefeitos para Brasília — e de ambulâncias e até micro-ônibus trazendo pacientes para Porto Alegre — em busca da aprovação de verbas ou da criação de uma contribuição específica para a saúde.

Evidentemente que não se pode colocar um hospital para ações de grande complexidade em municípios com 4 ou 5 mil habitantes. Por isso, é fundamental que prefeitos e o governo do Estado se organizem em recursos humanos e financeiros e criem polos de atuação: Unidades de Pronto Atendimento, postos de saúde, hospitais de pequena, média e grande complexidade em regiões que aglutinem um determinado número de pessoas. Como o velho ditado não perdeu a razão, ou seja, a união faz a força, está na hora de ser feito um planejamento nesse sentido. Depois, que ele seja executado, mesmo que por etapas. Hoje administramos a saúde por crise, o que é lamentável.

O Hospital Restinga e Extremo Sul tem capacidade para 13 mil atendimentos mensais e área de emergência adulta e pediátrica, 25 leitos de observação, 62 leitos de internação e equipamentos para exames laboratoriais, eletrocardiograma, raio X e tomografias digitais. Para a segunda etapa, prevista para 2015, estão previstas uma enfermaria com 44 leitos, Unidade de Terapia Intensiva (UTI) com 10 leitos, unidade de reabilitação, centro de especialidade, maternidade e centro cirúrgico. O Hospital Moinhos de Vento, de Porto Alegre, orientou o modelo da nova unidade de saúde com R$ 100 milhões de isenções fiscais do governo federal e mais R$ 10 milhões do governo do Rio Grande do Sul. A zona Sul da Capital pedia mais atenção à saúde há anos, desde que a então Vila Restinga foi erigida, na década de 1970. A instituição também vai administrar o hospital. O custeio, estimado em R$ 27,6 milhões por ano, será dividido entre União (50%), Estado (24%) e município (26%). Com planejamento e boa gestão, realiza-se muito. Por isso, um brinde à saúde da Capital. É mesmo um modelo de parceria que deveria constar do planejamento de médias cidades gaúchas. A população que não tem plano de saúde agradeceria.

sábado, 5 de julho de 2014

30 MILHÕES DE CRIANÇAS NUNCA FORAM AO DENTISTA NO BRASIL


PLANETA VOLUNTÁRIOS 


Por: Dr.Rogerio Mengarda


Os problemas dentários estão entre os mais graves na área de saúde pública no Brasil, atingindo principalmente a população carente. É o que revela pesquisa da Organização Mundial de Saúde (OMS), coordenada no Brasil pela Fundação Oswaldo Cruz. Os primeiros resultados, divulgados hoje, mostram que 14,4% dos brasileiros já perderam todos os dentes. Entre as mulheres de baixa renda com mais de 50 anos, o índice chega a 55,9%. A Pesquisa Mundial de Saúde da OMS foi realizada com o objetivo de avaliar os sistemas de saúde de 71 países.

Segunda a organização Dentistas do Bem, 30 milhões de crianças nunca foram ao dentista no Brasil.

Perda dentária como mutilação e desigualdade

O pior desfecho para a doença cárie é a perda dentária. Cientificamente, a extração dos dentes é considerada como uma decorrência do agravamento das doenças bucais mais prevalentes, entre elas a cárie. Mas na prática, ocorre como solução definitiva para dor, sendo motivada principalmente pela falta de acesso ao serviço e à condição socioeconômica34. A incoerência reside no fato de que, a extração é realizada pelo serviço; portanto, para a extração não falta recurso nem acesso.

Considerando o sentido da palavra perda como "desaparecimento, extravio", entende-se que os dentes não desaparecem ou se extraviam, mas são efetivamente extraídos. Por outro lado, essa perda não se configura na maioria das vezes como tratamento indicado clinicamente, segundo os parâmetros científicos atuais. Sendo motivada por problemas sociais, a mutilação bucal pode ser vista também como uma mutilação social35.

Conforme o padrão da Organização Mundial de Saúde (OMS) e da Federação Dentária Internacional (FDI)36, para o ano de 2000, 85% das pessoas com 18 anos deveriam estar com todos os dentes presentes na cavidade bucal. No Brasil, em 2003, o percentual para essa faixa etária foi 55,09%. Além disso, este dado foi diferenciado entre as regiões. O percentual de completamente dentados por macrorregiões, aos 18 anos foi de 39,1% (Norte), 45,1% (Nordeste), 66,5% (Sudeste e Sul) e 65,7% (Centro-Oeste).

Outro lado da moeda

O Dentista do Bem é o principal projeto da Turma do Bem, e conta com o trabalho voluntário de cirurgiões-dentistas que atendem em seu próprio consultório crianças e jovens de baixa renda entre 11 e 17 anos, proporcionando-lhes tratamento odontológico gratuito até que completem 18 anos. Atualmente, é a maior rede de voluntariado especializado do mundo. http://turmadobem.org.br


Agencia de noticias do Terceiro setor
Dr.Rogerio Mengarda
Diretor Clínico Odonto / Voluntário do Portal Planeta Voluntários
http://www.planetavoluntarios.com.br

Artigo recebido por email de Bianca Garcia
4 de julho de 2014 23:54

OS CAMPEÕES DA COPA EM SAÚDE, SEGURANÇA E EDUCAÇÃO


REVISTA ÉPOCA,  04/07/2014 11h00

Na Copa das Copas os vencedores seriam outros se os indicadores sociais valessem mais do que chutes a gol

REDAÇÃO ÉPOCA







“Copa não: saúde, segurança e educação!” Gritos como este eram ouvidos em junho de 2013, mas este ano eles foram substituídos por outros como “o campeão voltoooou” e “eu sou brasileeeeiro, com muito orguuuuulho, com muito amoooor”. O Brasil pode ser um dos favoritos no quesito futebol, mas nos índices sociais, ainda deixa muito a desejar.

Se a Copa deixasse de lado dribles, defesas e número de gols, e encarasse a qualidade da educação, a segurança e o desenvolvimento humano de cada nação, os favoritos nas quartas de finais seriam bem diferentes.

Ainda que batesse os outros destaques latinos americanos, o Brasil não teria chances de chegar à final, nem terceiro seria em nenhum dos cenários. Em contrapartida, países como a Alemanha, Holanda e Bélgica se mostrariam não só craques na bola, como também em garantir uma boa qualidade de vida para seus habitantes.

Confira quem seria o vencedor se estes critérios fossem levados em consideração:
Dos classificados para as quartas de finais, a Holanda levaria a melhor se considerássemos a qualidade da Educação


A Bélgica levaria logo a taça para casa por ser um dos países em que a paz reina


Para finalizar, o Índice de Desenvolvimento Humano reúne três dimensões básicas: renda, educação e saúde. Como era de se esperar os três primeiros lugares são os mesmos: Holanda, Alemanha e Belgica

terça-feira, 1 de julho de 2014

JUDICIALIZAÇÃO DO DIREITO À SAÚDE


FOLHA.COM, 01/07/2014


Flávia Scabin e Thiago Acca


Os tribunais em busca de critérios de justiça

A intensificação da judicialização do direito à saúde vem gerando polêmica. O principal ponto dessa controvérsia diz respeito à interferência indireta dos tribunais nos orçamentos públicos. Há poucos dias, a Justiça obrigou o SUS (Sistema Único de Saúde) a custear procedimento complexo a ser realizado nos Estados Unidos num custo estimado em até R$ 2 milhões na tentativa de salvar a vida de uma bebê de cinco meses.

As decisões obrigando o Estado a subsidiar tratamentos médicos ou remédios trazem necessariamente impactos financeiros e algumas questões relevantes. O Judiciário deve garantir tudo aquilo que o paciente precisa para ser curado, sem levar em consideração os custos, ou pode se valer de algum critério para a distribuição do direito à saúde?

Qualquer tentativa de responder a essa pergunta deve partir de um dado inquestionável: os recursos são escassos. Se é assim, acrescenta-se muito pouco ao debate o argumento de que o Judiciário apenas poderá atribuir direitos se for possível universalizar a prestação jurisdicional. De um lado, seria impossível assegurar a todos os brasileiros o melhor e mais completo tratamento. De outro, o que seria possível conceder a todos não passaria de tratamentos muito básicos ou ainda da distribuição de remédios baratos como aspirinas ou antigripais.

Considerar o fato de que os recursos são escassos significa que é necessário adotar critérios para se fazer escolhas adequadas. A questão, portanto, é outra: quais são os critérios que seriam adequados para decidir entre aqueles que terão ou não acesso à saúde? Como o Judiciário poderia contribuir para a identificação desses critérios?

A discussão jurídica, e, sobretudo, moral, deve se pautar não apenas em cálculos orçamentários, mas também em critérios de justiça que balizarão as decisões judiciais justificando a concessão, ou não, de um tratamento ou remédio.

Em um dos casos analisado pelo Judiciário em que se discutiu se deveria ser distribuído o coquetel para tratamento do HIV, ponderou-se tratar de pessoa carente requerendo o acesso a tratamento ao qual não faria jus de outra forma. Esse é um raciocínio que o Judiciário é capaz de fazer e se trata de decidir de acordo com um critério de justiça que condiz com a ideia de que não é possível tratar a todos da mesma forma.

Certamente, a Constituição Federal não contém claramente todos esses critérios. No entanto, o papel do Poder Judiciário em casos como a judicialização da saúde é propiciar o debate público. O Judiciário, dessa forma, expõe quais são as condições de justiça de uma política existente ou verifica a necessidade de sua elaboração. Recentemente, o Tribunal de Justiça de São Paulo, sem substituir ou ignorar o gestor público, provocou o Poder Executivo a criar vagas em creches.

A independência e a imparcialidade transformam o Judiciário na instituição adequada para incluir no debate público pautas que estejam fora da discussão no processo político ou das preocupações do mercado. O Direito exige que, em determinadas situações, o Estado justifique sua ação ou omissão proporcionando que aqueles temas minimizados em razão de interesses de determinados grupos ou mesmo ignorados pelo mercado possam vir à tona.

Esse papel pode parecer secundário quando comparado a uma sentença que determine, por exemplo, que o Estado pague ao paciente um tratamento no exterior. No entanto, ao causar uma espécie de "choque" com o Executivo e Legislativo, possibilitará maior controle na elaboração e aplicação das políticas públicas.


FLÁVIA SCABIN, 33, é professora da Escola de Direito de São Paulo da Fundação Getulio Vargas

THIAGO ACCA, 33, doutor e mestre pela Faculdade de Direito da USP, é pesquisador do Centro de Pesquisa Jurídica Aplicada da Escola de Direito de São Paulo da Fundação Getulio Vagas


COMENTÁRIO DO BENGOCHEA - NA DEMOCRACIA, A GARANTIA DOS DIREITOS SOCIAIS E FUNDAMENTAIS É UMA OBRIGAÇÃO DOS INSTRUMENTOS DE JUSTIÇA, PRINCIPALMENTE AQUELES QUE ENVOLVEM A SUPREMACIA DO INTERESSE PÚBLICO EM QUE A VIDA, A SAÚDE, A EDUCAÇÃO, A JUSTIÇA E A SEGURANÇA DA POPULAÇÃO SÃO PRIORIDADES.

UM MODELO PARA TODOS


ZERO HORA 01 de julho de 2014 | N° 17846


EDITORIAIS



Éexemplar, da conciliação de esforços aos resultados finais, o projeto do Hospital da Restinga e Extremo Sul, que ontem entrou em funcionamento em Porto Alegre. Uma observação parcial pode indicar que a obra é um empreendimento a ser desfrutado apenas por moradores da zona sul da Capital. Esse será o efeito imediato dos serviços. O que vai além do alcance geográfico é a inspiração oferecida pelo projeto que atenderá mais de 100 mil moradores da região. Cria-se, a partir do projeto executado sob a liderança do Hospital Moinhos de Vento, uma referência importante na área da saúde pública.

Esse é o aspecto mais importante da iniciativa. A população passa a contar com uma estrutura dedicada exclusivamente ao Sistema Único de Saúde, que geralmente é notícia quando da ocorrência de eventos negativos. O novo hospital é uma prova de que o dever constitucional pela garantia do atendimento, com acesso universal e integral, pode ser cumprido de forma compartilhada por União, Estado e município, com o suporte da tecnologia, dos recursos humanos e do desprendimento da iniciativa privada. O Hospital da Restinga passa a ser também uma referência em saúde comunitária, complementando sua missão no compromisso de que terá uma escola de gestão permanente, para formação de quadros entre os próprios moradores.

É simbólico que a inauguração aconteça em meio à Copa e numa área sob constantes críticas, pela precariedade da estrutura e do atendimento e pela irracionalidade na aplicação de recursos. Os moradores da Capital, em particular, desfrutam durante o Mundial do reforço de exceção neste e em outros serviços, como a segurança pública. E experimentam melhorias consideráveis em áreas como a da mobilidade. Mas todos sabem que essas são vantagens transitórias, viabilizadas pela prioridade ao evento.

O que deve prevalecer, encerrada a Copa do Mundo, é o esforço permanente pela concretização de ideias em defesa das demandas e do interesse público, como a que tornou possível o Hospital da Restinga, a partir da mobilização comunitária refletida na cobertura engajada da imprensa, em especial do Diário Gaúcho, que acompanhou cada passo do empreendimento. O projeto realizado tem componentes úteis aos que preservam a ambição de resolver problemas, e não de transferi-los, como ocorre com frequência quando autoridades da área federal, estadual e municipal acusam-se mutuamente por omissões, erros e até por casos de corrupção. Depois do Mundial, o país deve voltar a cobrar agilidade, determinação e transparência, em todas as áreas em que o setor público deve atuar com eficiência, e não só na saúde. É simbólico que

a inauguração

aconteça em

meio à Copa

APÓS 50 ANOS DE ESPERA, HOSPITAL100% SUS É ABERTO

ZERO HORA 01/07/2014 


Após 50 anos de espera, Hospital da Restinga é aberto. Demanda dos moradores há cinco décadas, o complexo tem 19 mil metros quadrados e capacidade para 13 mil pacientes por mês

por Fernanda da Costa



Emilio Salvador, foi o primeiros paciente do novo hospitalFoto: Mateus Bruxel / diario gaúcho


Demanda dos moradores da Zona Sul há 50 anos, o Hospital da Restinga e Extremo-Sul entrou em funcionamento na noite desta segunda-feira. Com 19 mil metros quadrados de área construída, a instituição terá capacidade para atender 13 mil pacientes por mês.

Uma hora antes da abertura oficial do hospital, por volta das 22h, a líder comunitária Adaclides Neli Martins, 57 anos, já estava na porta da instituição. Dirigente do Movimento Nacional de Luta pela Moradia no bairro, a aposentada aguardava com ansiedade pela inauguração do prédio, que já fazia parte do projeto de ocupação do bairro desde 1970.

– Vim para fiscalizar. Estamos felizes com esta conquista da comunidade, e vamos acompanhar de perto a qualidade dos atendimentos que serão prestados aqui – explicou Adaclides, que fez questão de acompanhar a visita das autoridades às dependências do local, fotografando com um tablet cada quarto que entrava.

O hospital começou a funcionar às 23h, com um ato que contou a presença do prefeito José Fortunati e do secretário municipal de Saúde Carlos Casartelli. A cerimônia de inauguração deve acontecer na próxima quinta-feira, 3 de julho, com a presença da presidente Dilma Rousseff.

— Estamos concretizando um sonho, não apenas para a comunidade da Restinga e da Zona Sul, mas para a cidade como um todo — afirmou o Fortunati.

Segundo o superintendente executivo do Hospital Moinhos de Vento, que administrará o Hospital da Restinga, Fernando Andreatta Torelly, um dos diferenciais do hospital é que cada quarto contará com um técnico de enfermagem 24h.

— São cinco leitos em cada quarto, que terá um profissional de plantão dentro do espaço. Isso garante um atendimento rápido e evita quedas de pacientes — exemplifica.

Direcionado exclusivamente para usuários do Sistema Único de Saúde (SUS), o hospital contará inicialmente com 250 colaboradores, muitos deles integrantes da própria comunidade. Nesta segunda-feira, foram abertos 25 leitos de observação e 62 de internação.

Novos leitos devem ser abertos nos próximos 30 dias. Até o final do ano, o hospital contará com 121 leitos de internação e 49 de passagem, além de 800 colaboradores.

OS NÚMEROS DO NOVO HOSPITAL

Investimento é de R$ 110 milhões

O Moinhos de Vento investiu R$ 110 milhões provenientes de isenções fiscais na obra. A operação do hospital será custeada pela União (50%), Estado (24%) e Município (26%), num total de R$ 4,6 milhões por mês. A instituição fica na Estrada João Antônio da Silveira, 3.330.

Atendimento: será 100% SUS

População beneficiada: 110 mil habitantes da Restinga e do Extremo- Sul (Lami, Lageado, Belém Novo, Ponta Grossa e Chapéu do Sol)

Emergência adulto e pediátrica: capacidade de 13 mil atendimentos ao mês

Exames de diagnóstico: exames laboratoriais, ecografia, eletrocardiograma, Holter, Mapa, ecocardiograma, endoscopia digestiva alta e baixa, além de raio- x e tomografia digitais

Área construída: 19.148 metros quadrados

Primeira fase

— Nesta etapa, será aberto o Pronto Atendimento (PA), com capacidade para atender até 13 mil pacientes adultos e pediátricos por mês.

— Além dos 25 leitos do PA, serão disponibilizados 62 leitos para pacientes que necessitarem de internação.

— Nesta fase, o hospital contará com 250 colaboradores.

Em pleno funcionamento

— Quando o hospital estiver em pleno funcionamento, contará com 121 leitos de internação e 49 leitos de passagem, totalizando 170 leitos à disposição da comunidade

— Ao todo serão cerca de 800 colaboradores que, preferencialmente, serão moradores da região

— Terá Centro Cirúrgico, Centro Obstétrico, Unidade de Terapia Intensiva, Serviço de Reabilitação, Unidade de Diagnóstico, Centro de Especialidades para consultas ambulatoriais e, para a formação de recursos humanos, uma Escola de Gestão em Saúde.

Como vai funcionar?

— A porta de entrada do sistema será pelos programas de Estratégia de Saúde da Família

— O Moinhos tem três postos funcionando na região, com seis equipes, e a prefeitura tem mais 12 equipes

— Quando o paciente necessita de uma consulta especializada, o hospital terá dentro do seu complexo um centro de especialidades para atender à sua necessidade

— Ao lado do centro de especialidades haverá um centro de diagnósticos, onde o paciente poderá fazer os exames laboratoriais, cardiológicos e de imagem

— Se, nesta etapa, ele tiver o diagnóstico prescrito, volta para os cuidados da Estratégia de Saúde da Família

— Se necessário, haverá encaminhamento para Upa Hospitalar, que é a emergência do hospital, e para o hospital

— Dentro do complexo há uma escola de gestão para formar moradores da Restinga para trabalharem no hospital