sexta-feira, 30 de novembro de 2012

MÉDICO DO SUS COBRAVA POR CIRURGIA

ZERO HORA 30 de novembro de 2012 | N° 17269

FRAUDE NO SUS
Médico é flagrado ao cobrar por cirurgia. Cirurgião ainda contou à família como burlaria fila de espera em São Leopoldo

MAURÍCIO GONÇALVES | RBS TV

Um médico que trabalha no Hospital Centenário foi flagrado cobrando para realizar uma cirurgia pelo Sistema Único de Saúde (SUS) em São Leopoldo, no Vale do Sinos. O caso não seria o único na instituição. Gravações mostram João Buhler exigindo R$ 2,5 mil para burlar a fila de espera.

Areclamação partiu da família de um paciente. O homem, que preferiu não se identificar por questões de segurança, conta que o sogro dele procurou o Hospital Centenário com problemas na vesícula.

O diagnóstico foi de que o paciente precisava de uma cirurgia com urgência. Mas ele ouviu do médico que o sogro poderia morrer se esperasse para realizar o procedimento cirúrgico por meio do SUS.

– Pelo SUS, só para o ano que vem, pois eles não teriam tempo nem vaga para fazer. Ele disse que não acreditava que iria sair a cirurgia no próximo ano – conta o genro.

Diante do impasse, Buhler teria sugerido que o procedimento fosse feito de forma particular. A família aceitou, mas disse ter se surpreendido quando o médico informou que precisavam levar o cartão do SUS do paciente e que o cirurgião não poderia dar recibo. Outra exigência era que o pagamento fosse feito à vista, em dinheiro, antes da cirurgia. O custo total seria de R$ 4 mil.

Paciente fez pagamento no consultório do médico

Em uma consulta no hospital, Buhler detalhou como teria que ser feito o acerto. Na conversa, que foi gravada, o médico informa que R$ 2,5 mil deveriam ser pagos diretamente a ele para custear a cirurgia e o trabalho do anestesista. Diz, ainda, que haveria uma despesa posterior de R$ 1,4 mil que deveria ser paga diretamente ao hospital.

A família fez o pagamento no consultório particular do médico. Durante a conversa, que também foi gravada, o cirurgião chegou a oferecer uma espécie de desconto. Disse que tem como internar o paciente pelo SUS para evitar supostas despesas com o hospital, que teria reajustado os preços cobrados recentemente.

– Aí tu gasta só os R$ 2,5 mil da cirurgia, e não gasta em hospital, porque R$ 2 mil em hospital é um absurdo – disse o cirurgião.

O vídeo mostra, ainda, o médico contando, uma a uma, as notas de R$ 50 que acabara de receber do paciente. Depois, ele ainda explicou à família como burlaria a fila de espera do SUS. A internação seria feita por orientação do próprio médico, que informaria, na hora do atendimento, que o caso se trataria de uma emergência. Buhler ainda fez um alerta:

– Só não pode “piar”. Diz “pro” “véio” que ele vai fazer pelo SUS e não vai gastar nada.

Documentos atestam que tanto a internação quanto o atendimento ao paciente foram feitos pelo SUS.


Cremers e Ministério Público vão abrir investigação sobre queixa

Após ser informado sobre o episódio, o Conselho Regional de Medicina do Rio Grande do Sul (Cremers) disse que pretende abrir uma sindicância para apurar o fato.

– Se for provado que existe culpa, ele (João Buhler) receberá punição que pode ir desde advertência até suspensão do exercício profissional – ressalta Fernando Weber Matos, vice-presidente do Cremers.

Essa não é a única queixa de cobrança ilegal por cirurgias no Hospital Centenário. Outros dois profissionais foram indiciados pela Polícia Civil pela mesma prática. O caso foi encaminhado ao Ministério Público, que, no início deste mês, solicitou novas investigações. A Promotoria também garantiu que vai apurar a nova reclamação de cobrança ilegal por cirurgia.

– Nós vamos fazer a requisição de um inquérito para Polícia Civil e, assim que esse inquérito for concluído, com a coleta das provas necessárias, virá para o Ministério Público para que seja feita uma análise do caso – explica a promotora Ana Paula Bernardes.


Contrapontos

O que diz João Buhler: O cirurgião combinou de receber a reportagem da RBS TV no consultório dele, mas não compareceu. Procurado por telefone, ele não atendeu nem retornou as ligações.

O que diz Maria do Carmo Prompt, vice-presidente do Hospital Centenário: O hospital avalia que não pode haver cobrança via SUS. Assim que receber oficialmente as denúncias, será aberto um processo administrativo investigatório para que não ocorra mais esse tipo de situação na nossa instituição.

segunda-feira, 26 de novembro de 2012

ALÉM DA LEI

 
ZERO HORA 26 de novembro de 2012 | N° 17265



EDITORIAIS



A presidente Dilma Rousseff sancionou na última sexta-feira lei que fixa prazo de até 60 dias para que pacientes com câncer recebam tratamento no Sistema Único de Saúde (SUS). Em casos mais graves, o prazo deve ser menor. Eis aí mais um caso em que a intenção só pode ser considerada das melhores, até mesmo pelo fato de que nos planos de saúde o prazo legal já ser de no máximo três semanas, mas se choca com a realidade brasileira. Em vez de tentar resolver tudo com novas leis, as autoridades tinham que se preocupar mais em melhorar os serviços, para que as pessoas não precisassem mais se valer até de decisões judiciais quando pretendem assegurar o direito a um tratamento digno, no tempo oportuno.

Especialistas e diferentes estudos sobre o tema são unânimes em afirmar que, quanto menos tempo demorar entre o diagnóstico e o início efetivo do tratamento, maior tende a ser a expectativa de cura do paciente. Ainda assim, um relatório do Tribunal de Contas da União (TCU) constatou que, em 2010, o tempo médio entre a data da confirmação da doença e o início do tratamento de quimioterapia foi de mais de 76 dias. Nos casos de radioterapia, o período ultrapassou 113 dias. Nessas proporções, o período de espera se transforma numa eternidade para o paciente, familiares e amigos. Além disso, reduz consideravelmente as chances de cura e impõe um sofrimento indesculpável – físico e psicológico – para quem está às voltas com a doença.

A fixação em lei de prazo máximo para o início de tratamento de câncer pelo SUS, por mais humanitária que seja a intenção, confirma, acima de tudo, a dificuldade de o país se guiar apenas pelo bom senso, nesse e em outros casos. Um indício de que as dificuldades persistirão, mesmo depois da sanção do texto, é que só agora foi reforçada a preocupação do poder público de adequar o sistema médico-hospitalar às novas exigências. Numa área já carente de alternativas, será preciso investir maciçamente na rede de atendimento e na aquisição de equipamentos para propiciar maior agilidade, sem prejuízo da qualidade dos serviços. A cada ano, são registrados 500 mil novos casos de todos os tipos da doença no país, o que dá uma ideia do desafio a ser enfrentado daqui para a frente.

Um aspecto preocupante, de qualquer forma, é que, se o país não está adequadamente preparado para atender a tempo e de forma eficaz nem mesmo pacientes diagnosticados com câncer – enfermidade que exige pressa no início do tratamento –, a situação não é muito diferente no caso de portadores de outras doenças em geral. Seja qual for a situação, as tentativas de solução não podem ser buscadas apenas a partir de exigências legais, mas, acima de tudo, pela conscientização para o fato de que um atendimento de qualidade e no devido tempo é o mínimo a que todos os brasileiros têm direito.

sábado, 17 de novembro de 2012

ENGANO FATAL

zero hora 17 de novembro de 2012 | N° 17256


Polícia investiga morte de idoso em hospital


A polícia de Osório investiga a morte do agricultor José Antônio da Silva, 91 anos. Internado no Hospital São Vicente de Paulo por complicações respiratórias, o morador de Maquiné teria recebido alimento na veia, no lugar de soro, na quarta-feira.

Segundo o delegado João Henrique Gomes de Almeida, em depoimento, a técnica em enfermagem Isabel Borges Bressane admitiu a responsabilidade pelo fato.

– Ela admitiu ter trocado a sonda – afirmou Almeida.

Na certidão de óbito do idoso, a causa da morte constou como “parada cardiorrespiratória, hemorragia digestiva”. O prazo inicial para a investigação é de 30 dias, mas ele pode ser ampliado.

Serão ouvidos pela polícia os familiares da vítima e outros profissionais envolvidos com o caso. O delegado revela, ainda, que a polícia pediu autorização para exumar o corpo, sepultado ontem à tarde, em Maquiné.

Diretor do Hospital São Vicente de Paulo, Francisco Luis Moro admitiu a falha do hospital e determinou a abertura de processo administrativo para identificar os responsáveis.

Conforme o diretor, a técnica trabalhava no hospital há cerca de seis meses e havia sido liberada do serviço no dia do ocorrido, “por não ter condições emocionais de trabalhar”. Na sexta-feira, ela não foi trabalhar.

Em nota, o Conselho Regional de Enfermagem do Rio Grande do Sul atribui o erro a um conjunto de situações que devem ser combatidas, como a falta de qualidade do ensino de enfermagem, a excessiva carga horária e os baixos salários.

Há pouco mais de um mês, fato semelhante ocorreu no Rio de Janeiro, levando à morte uma mulher de 88 anos. Uma técnica de enfermagem de um hospital fluminense teria colocado sopa na veia da paciente, em vez de soro.

LARA ELY


Os efeitos no corpo humano
Diretor técnico de Hemodinâmica do Instituto de Cardiologia, Rogério Sarmento Leite explica o que pode ter acontecido:
- Deve ter entrado comida por onde deveria entrar sangue ou soro. As veias levam e trazem sangue e servem como porta de entrada para o soro, para administrar medicação.
- Se por alguma razão é colocado alimento na veia, haverá problema, pois ele deveria entrar na sonda que vai para o estômago.
- Essa substância geralmente é uma espécie de sopa feita de alimentos ricos em lipídios filtrados e triturados.
- Se de forma equivocada o alimento vai parar a veia, causa embolia pulmonar, hipoxemia (baixa quantidade de oxigênio no sangue) e falência do coração. Em um pequeno volume, o problema é menor. Em grande,a consequência pode ser fatal.