quarta-feira, 30 de novembro de 2011

AIDS - UM RANKING DESOLADOR

EDITORIAL ZERO HORA 30/11/2011 - Um ranking desolador

Exige bem mais do que suposições a rea-lidade mostrada pelas estatísticas do Ministério da Saúde, segundo as quais o Rio Grande do Sul tem a maior incidência de aids do país, e Porto Alegre lidera entre as capitais. Os números são impressionantes. Porto Alegre tem, por exemplo, uma taxa de incidência da doença, de 99,8 pessoas para cada 100 mil habitantes, quase três vezes superior à da cidade do Rio de Janeiro. Além disso, das cinco cidades com mais de 50 mil habitantes que lideram o ranking no país, quatro são do Estado. O ministério lida com hipóteses, mas não sabe ainda decifrar os fatores que levam a esses dados. As autoridades federais, estaduais e municipais devem se empenhar agora em compreender o cenário revelado pelos números, para que possam agir com urgência.

A situação do território gaúcho está no contexto dos dados desfavoráveis para toda a Região Sul, que mantém o índice mais alto de mortalidade por aids do país. No Brasil, no ano passado, a taxa foi de 6,3 mortes para cada grupo de 100 mil pessoas, enquanto na Região Sul chegou a nove casos. As estatísticas alarmam porque revelam que a aids continua ameaçando os jovens e cresce agora nas cidades do Interior. O próprio ministério reconhece que ainda é preciso investigar a presença da doença em algumas regiões, supondo que, no caso do Rio Grande do Sul, possa existir uma relação com o uso de drogas injetáveis alguns anos atrás. Somente agora estariam se manifestando algumas das consequências desse hábito entre dependentes químicos.

É preciso que os governos investiguem as causas da incidência da aids no Sul e ataquem suas origens. O Brasil desenvolveu, nos últimos anos, ações de combate à doença reconhecidas mundialmente, que inspiraram iniciativas em nações desenvolvidas. Essa consagrada tecnologia de saúde pública deve ser acionada de forma intensa, para que os fatores envolvidos nos altos índices dos Estados do Sul não sejam examinados apenas pela intuição. Um bom começo, já anunciado pelo ministério, é a priorização da informação dirigida aos jovens, mais expostos aos riscos que levam à aids por não terem convivido com o momento mais alarmante da incidência, nos anos 90.

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

PREVENIR NA SAÚDE EXIGE CIÊNCIA

César Augusto Ames, Médico de família e comunidade, auditor do SUS - ZERO HORA 24/11/2011

Prevenir é a ação de saúde que pretende evitar danos futuros com ações realizadas no presente. A atividade preventiva na área da saúde é muito diferente da atividade curativa. Quando um paciente busca a cura ou alívio de um sofrimento, se justificam muitas atividades, em que pese eventual efeito colateral. Para a prevenção, não deveria haver dúvida de que os benefícios superam em muito os prejuízos. Muitas vezes, se oferece a prevenção como uma aura salvadora para a população e para o paciente e muitos profissionais somente veem vantagens, sem considerar os inconvenientes.

Esta visão exagerada e quase cega sobre os benefícios da prevenção é enganosa e nem sempre inocente. Em geral, carecemos de informação científica suficiente para oferecer prevenção da maneira como se oferece atualmente. Convivemos com interesses na área da indústria farmacêutica (vacinas, por exemplo), indústria tecnológica (venda de equipamentos médicos), indústria da gestão em saúde (captação de pessoas saudáveis para as seguradoras). Também há interesses profissionais variados quando se obtém prestígio ao oferecer atividades preventivas. Há interesses políticos quando a prevenção é utilizada como promessa de resolução de problemas na área da saúde (oferecer mamografias para mulheres jovens).

A sociedade está deslumbrada com os avanços científicos e técnicos da medicina, de forma que as crenças milenares de uma juventude eterna pareçam ser possíveis, ao alcance da mão, basta adotar certas medidas preventivas e determinadas condutas sancionadas como saudáveis e ideais, passíveis de imposição frente ao bem comum: a ditadura da saúde obrigatória. Isto pode gerar uma sociedade que encontra na prevenção uma justificativa científica para estabelecer normas e pautas morais de conduta, desde alimentares até sexuais. Quando os danos se ignoram e a prevenção se expande sem limites, deve-se, no mínimo, duvidar de que os prejuízos compensam os benefícios. Sempre é bom lembrar que os recursos são finitos, podendo a prevenção sem resultado efetivo transferir recursos das atividades curativas e das próprias atividades preventivas com benefícios cientificamente demonstrados.

Recentemente, uma autoridade brasileira que fazia regularmente seu check-up, com a devida e ampla divulgação através dos meios de comunicação, teve um diagnóstico de câncer feito após uma manifestação clínica (alteração da voz) e não através dos inúmeros exames realizados “preventivamente”. Aliás, o conceito de check-up, que surgiu na década de 20, está há muito tempo aprimorado, para não dizer superado. Convém, pois, ter precaução com a prevenção.

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

ESTRESSE: IMPORTÂNCIA DA PREVENÇÃO

ANA MARIA ROSSI, PRESIDENTE DA ISMA-BR - ZERO HORA 16/11/2011

O estresse é uma questão internacional que tem causado crescente preocupação. Infelizmente, os milhares de estudos que têm sido feitos sobre o assunto não têm tido sucesso em diminuir o nível de estresse que afeta 70% dos brasileiros, segundo pesquisa da Isma-BR (International Stress Management Association no Brasil). É claro que o custo mais dramático é a perda da saúde da pessoa. E, para o país, estima-se que custe cerca de 4,5% do PIB/ano, considerando-se absenteísmo, presenteísmo e adoecimento.

Recente pesquisa realizada pela Isma-BR, em Porto Alegre, indica alguns dados alarmantes: 72% dos 602 entrevistados consideram sua qualidade de vida regular ou péssima. Desses, 22% revelam que atingiram um nível preocupante e 43% avaliam que estão prestes a detonar seu limite. A principal fonte de estresse apontada por 64% dos participantes são as pressões profissionais.

O estresse se torna crítico e pode causar adoecimento quando a pessoa ultrapassa seus limites por períodos frequentes ou prolongados. Uma rotina extenuante pode desencadear sintomas físicos, emocionais e comportamentais, suprimindo até mesmo o sistema de imunidade e aumentando em até 70% a probabilidade de a pessoa adoecer.

Com a proposta de mobilizar o maior número de pessoas e instituições preocupadas com a manutenção da saúde e melhoria no estilo de vida, a Isma-BR, em 2001, criou o Dia Nacional de Conscientização do Estresse no Brasil, que tem servido de modelo para ações em diversas cidades no país.

Nesse sentido, a Isma-BR promove no domingo, dia 20, o Dia Nacional de Conscientização do Estresse, na Redenção, em Porto Alegre. Através de orientações ao público e oferecendo testes gratuitos para medir o nível de estresse, a Isma-BR, juntamente com instituições preocupadas com a qualidade de vida da comunidade, realizará uma ação alertando para a importância da prevenção e avaliando a suscetibilidade a doenças. O que se quer mostrar é que o estresse pode ser um grande aliado na realização de nossos objetivos. O grande desafio é saber dosá-lo. Invista no seu maior patrimônio: a sua saúde. E esta é uma responsabilidade pessoal e intransferível.

terça-feira, 15 de novembro de 2011

REMÉDIO MAL ADMINISTRADO

EDITORIAL ZERO HORA 15/11/2011


A tributação desmesurada pelo governo, a ganância da indústria farmacêutica e a fiscalização ineficiente compõem o coquetel de insensibilidades que tornam os medicamentos vendidos no Brasil infinitamente mais caros do que seus congêneres em outros países. Trata-se de uma situação absurda, que desafia as autoridades da área da saúde, pois esta verdadeira extorsão consentida acaba agravando doenças e provocando sofrimento em muitos brasileiros. O poder público tem o dever de enfrentar logo esta questão, impondo uma ampla revisão da carga tributária imposta e uma fiscalização mais rigorosa sobre as diversas etapas que antecedem a aquisição pelos consumidores, que vão da produção à distribuição.

Só o descontrole total por parte do público e a desatenção ao sofrimento que discrepâncias tão acentuadas geralmente provocam em enfermos com necessidade de se medicar podem indicar as razões dos verdadeiros absurdos enfrentados cotidianamente nos balcões das farmácias e na pressão sobre os custos dos hospitais e postos de saúde. No Brasil, por exemplo, paga-se sete vezes mais do que em Portugal pelo mesmo cloridrato de tansulosina, indicado para tratamento de hiperplasia da próstata. O valor de um medicamento de uso contínuo usado para baixar o nível de colesterol cai para menos da metade no Uruguai, quando comparado ao pago pelos brasileiros. As deformações são tão acentuadas, que muitos doentes se veem levados a fazer um turismo forçado pelo Exterior, na expectativa de adequar um pouco mais o valor despendido com remédios ao percebido como salário.

Uma simples conferida na fatia de cada um nesse lucrativo negócio baseado no sofrimento alheio ajuda a entender por que o preço tornou-se proibitivo para uma grande parcela dos brasileiros. Só o governo fica com nada menos de 33,9% do valor final pago pelo consumidor por uma caixa de 30 comprimidos do mesmo cloridrato de tansulosina citado anteriormente, apenas sob a forma de impostos. O restante dos ganhos é disputado por meio de parcelas generosas por parte da própria indústria, dos atacadistas e do varejo. O agravante é que nessa cadeia perversa de ganhos desmedidos persistem práticas inconcebíveis com a realidade atual do mercado e que, por isso, não têm mais como ser toleradas.

O país conseguiu avançar de alguma forma nessa área quando colocou em prática alternativas como os genéricos, que tornam os preços finais mais acessíveis. O alcance, porém, é restrito, pois só há produtos disponíveis em alguns casos específicos. É mais do que hora, por isso, de se procurar avançar mais, criando condições para que os preços dos produtos farmacêuticos guardem alguma proporção com os cobrados em outros países, muitos dos quais de poder aquisitivo superior ao do Brasil. O país precisa fazer sua parte para reduzir, e já, o custo dos medicamentos, abrindo mão de impostos e agindo com mais rigor para coibir excessos inadmissíveis entre a linha de produção e o balcão da farmácia.

EXECUTADO NO LEITO DO HOSPITAL

LEITO DE MORTE. Paciente é executado em hospital. Atirador entrou em instituição, em Gravataí, cobriu a arma com travesseiro e disparou em homem diante de outros doentes - LETÍCIA BARBIERI, ZERO HORA 15/112011

Era horário de visita, quando um paciente do Hospital Dom João Becker, em Gravataí, foi baleado com seis tiros, às 17h40min de ontem. Diego Telles de Carvalho, 25 anos, morreu na hora, no quarto que dividia com duas pessoas. Local incomum para um acerto de contas que havia ficado pendente no sábado, dia em que deu entrada no local. O criminoso fugiu.

Uma testemunha ouvida pelo jornal Diário Gaúcho revelou detalhes dos momentos que antecederam o crime. Segundo um soldador que visitava sua mulher, o atirador aparentava muito nervosismo e desorientação. Pelo celular, parecia receber instruções. Sem saber das intenções do rapaz armado, o soldador também o ajudou, avisando que os quartos da internação do primeiro andar ficavam um pavimento abaixo. Em seguida, foi surpreendido pelos disparos em pleno hospital.

– Era um moleque de boné. Parecia meio enlouquecido, não estava normal. Ficava olhando para os lados, até que ouvimos os tiros. Vi duas mulheres desmaiarem – relatou o soldador.

No quarto havia três leitos. Um deles era o que abrigava Carvalho. O paciente estava há cerca de 10 dias em liberdade, recém-saído do Presídio Central de Porto Alegre. Deu entrada no hospital, sábado, depois de ser baleado nas costas. Em recuperação, não teve chances de reagir. Na ficha dele, guardava passagens pela polícia por roubo, homicídio, formação de quadrilha, receptação, falsidade ideológica e documento falso. Todas registradas na Capital.

Os outros dois pacientes viram o momento em que o atirador pegou o travesseiro, cobriu a pistola .40 e começou a disparar à queima-roupa. Ao todo, foram seis disparos. Três teriam atingido a cabeça, um o peito e dois em um dos ombros de Diego, que ficou caído ao lado do leito. O quarto foi isolado para perícia.

– Em 20 anos de polícia, nunca tinha visto isso: entrar dentro de um hospital assim, a sangue frio? – impressionou-se o supervisor da equipe volante da Polícia Civil, Marcelo Carbone.

A ação do atirador surpreendeu até mesmo os policiais. Titular da 1ª DP de Gravataí, o delegado Anderson Spier destaca, porém, que não há falhas no sistema de segurança:

– Hospital não é um órgão de segurança. É privado, fica à mercê de seguranças privadas que não podem fazer revista.

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

SUPERLOTAÇÃO DOS PRONTOS-SOCORROS SERÃO REDUZIDAS POR PROGRAMAS, DIZ DILMA

Dilma diz que programas de saúde vão tentar reduzir superlotação em prontos-socorros. Agência Brasil - JORNAL DO COMÉRCIO, 14/11/2011 - 10h14min

A presidenta Dilma Rousseff disse nesta segunda-feira (14) que os programas SOS Emergência e Saúde em Casa terão como meta enfrentar dois dos principais problemas da saúde pública: a superlotação nos prontos-socorros e a falta de leitos nos hospitais. “Estamos, com eles, dando mais um passo para melhorar a qualidade da saúde pública e aumentar a eficiência do atendimento no Sistema Único de Saúde”, disse durante entrevista no programa semanal Café com a Presidenta, ao abordar as iniciativas lançadas no último dia 8.

O Melhor em Casa tem o objetivo de ampliar o atendimento domiciliar do SUS. A finalidade é que, até 2014, o programa tenha mil equipes de atenção domiciliar e 400 de apoio atuando em todo o país. O Ministério da Saúde vai investir R$ 1 bilhão para custear esse atendimento.

“Decidimos oferecer o tratamento domiciliar para humanizar o serviço público de saúde. Vamos atender, em suas próprias casas, os doentes crônicos, os pacientes que estão em recuperação de cirurgias e as pessoas em processo de reabilitação motora”, explicou Dilma. O SOS Emergência começa com a participação de 11 hospitais, e a finalidade é melhorar a gestão e qualificar o atendimento nos prontos-socorros. Até 2014, a ação deve chegar às 40 maiores unidades do país. Dilma informou que haverá parceria com hospitais privados de excelência para o treinamento das equipes e a otimização da gestão das unidades selecionadas para integrar o SOS Emergência.

A presidenta destacou o desafio do SUS de garantir atendimento público gratuito. “É uma tarefa enorme, mas vamos enfrentar esse desafio porque os brasileiros e as brasileiras merecem uma saúde de qualidade.”

DOUTOR GOOGLE

José Antônio Veiga Sanhudo, Diretor regional/Sul da Associação Brasileira de Medicina e Cirurgia do Tornozelo e Pé -

Multiplicam-se os pacientes que ao receberem o resultado dos seus exames recorrem à internet para antecipar o seu tratamento. O excesso de informações e a facilidade de acesso às mesmas vêm conturbando o raciocínio dos indivíduos mais ansiosos. Como resultado, eles muitas vezes chegam ao consultório com o “tratamento” encaminhado e escolhida a data da cirurgia prevista pelo conhecimento relâmpago adquirido junto ao Google. No último congresso americano de ortopedia, um grupo de médicos de Boston, Massachusetts, apresentou um estudo avaliando a confiabilidade das informações disponibilizadas nos sites de busca da internet para dez problemas comuns na área do pé e do tornozelo. Foram revisados 136 websites e foi observado que 53% destes eram comerciais e não de instituições acadêmicas ou sem fins lucrativos. As informações foram graduadas por cinco revisores independentes e observou-se que a qualidade das mesmas era variável e ruim. Este estudo demonstra que, diferente do que muitas pessoas pensam, a informação digital não substitui a opinião do médico, que além de conhecimento adquire o bom senso e a sensibilidade de ajustar o tratamento mais adequado para cada paciente. Para um mesmo diagnóstico pode-se indicar uma variedade de tratamentos baseados no ser humano que está por trás daquele laudo. Ou seja, trata-se o paciente e não o exame! Uma boa relação médico-paciente é estabelecida por um conjunto de fatores; sem dúvida que o conhecimento do médico é importante, mas a confiança do paciente é fundamental. As informações disponíveis na internet, mesmo nos sites de instituições respeitadas, são generalistas e não devem nortear qualquer tratamento sem o parecer daquele profissional de jaleco.

COMENTÁRIO DO BENGOCHEA - O Dr Google só pode ter muitos pacientes diante do descaso da saúde pública no Brasil que dificulta o acesso da classe média e de pobres aos consultores dos especialistas. Assim não há como promover esta "boa relação médico-paciente" apregoada pelo autor do artigo.

DOAÇÃO DE SANGUE É ATO SOLIDÁRIO

EDITORIAL CORREIO DO POVO, 14/11/2011

Durante o Congresso Brasileiro de Hematologia e Hemoterapia, o presidente da Associação Brasileira de Hematologia e Hemoterapia, Carmino Antonio de Souza, afirmou que é preciso aumentar a capacitação de doadores de sangue, além de criar mecanismos para fidelizá-los. O evento ocorreu de quinta-feira até este domingo, em São Paulo, na capital.

De acordo Carmino, o percentual dos brasileiros que doam sangue todos os anos é de 1,9%. Desse montante, 40% fizeram doação duas vezes por ano. Entretanto, para zerar o déficit verificado no país, o ideal é que esse número fosse de 5% da população sadia e adulta. Cada homem pode contribuir para a coleta a cada dois meses e as mulheres a cada três meses.

Para o coordenador-geral da Política Nacional de Sangue e Hemoderivados do Ministério da Saúde, Guilherme Genovez, participante do 15 Simpósio Nacional de Captação de Doadores de Sangue, que ocorreu dentro do Hemo 2011, o governo federal está atento para o problema da escassez de sangue nos hospitais e está estimulando uma série de projetos para tentar sanar esse grave problema. Um deles é buscar sensibilizar grupos de jovens saudáveis a partir dos 16 anos. Muitos são esportistas e essa adesão numa tenra idade significa que eles serão doadores por muito tempo, por toda a vida.

Um outro local de conscientização sobre a importância do ato solidário da doação é a escola, nos ensinos fundamental e médio. Os alunos das séries iniciais poderão, desde cedo, saber da relevância de ajudar a salvar vidas. Também está em discussão a formação do cadastro nacional de doadores, o qual ainda enfrenta alguns óbices, como a explicitação dos nomes de quem doa.

Manter os estoques de sangue em níveis aceitáveis é responsabilidade de todos. As emergências não esperam e é preciso agir preventivamente.

PAÍS DO REMÉDIO CARO - SÃO TAXADOS COMO QUALQUER PRODUTO



MEDICAMENTOS ARRECADAM R$ 3 BI EM IMPOSTOS - HUMBERTO TREZZI E MARCELO GONZATTO. Participaram desta reportagem Itamar Melo, Marina Lopes, Márcio Brito (Especial) e Nilson Mariano. ZERO HORA 14/11/2011

A explicação para o valor dos remédios no Brasil – em muitos casos superior ao praticado em países do Primeiro Mundo – passa pela alíquota de mais de 30% de impostos cobrados pelos governos, índice sem comparação com Europa e EUA
No Brasil, paga-se mais imposto ao adquirir um remédio necessário para salvar uma vida do que ao comprar papel higiênico, um ingresso para o cinema ou um medicamento para uso veterinário. Apenas os tributos que incidem sobre a fabricação dos produtos destinados a tratar da saúde da população somaram, no ano passado, mais de R$ 3,3 bilhões para os cofres federais – o equivalente a R$ 17 per capita.

Na edição dominical, ZH mostrou que o mesmo remédio pode ser comprado a R$ 25,77 em Portugal e R$ 189,86 no Brasil. Embora não justifique toda a diferença de preço encontrada em alguns casos, a pesada tributação é um dos obstáculos a uma rápida queda no valor dos produtos que garantem a saúde de milhões de brasileiros. Embora o direito à saúde seja garantido pela Constituição, na prática o próprio governo dificulta o acesso aos medicamentos ao taxá-los com alíquotas superiores às de itens como embarcações e aeronaves (veja comparação na tabela abaixo).

– Existe um abismo entre o que deveria ser o preço dos remédios e o que é cobrado dos consumidores – afirma o advogado e professor de Direito Tributário de São Paulo Argos Gregório, especialista no mercado farmacêutico.

Ele aponta ainda que a falta de uma política uniforme destinada a baratear os remédios provoca situações inusitadas.

– Um sal utilizado para tratamento oncológico, por exemplo, é isento de imposto. Mas a solução necessária para ministrá-lo ao paciente paga ICMS. Aí, não adianta. – comenta.

O presidente do Sindicato do Comércio Varejista de Produtos Farmacêuticos no Rio Grande do Sul (Sinprofar), Paulo Roberto Kopchina, aponta outra peculiaridade difícil de engolir:

– O medicamento humano paga 17% de ICMS em Estados como o Rio Grande do Sul, mas o medicamento veterinário não paga nada – critica.

Argos Gregório afirma, porém, que os impostos são apenas parte do problema. Ele acredita que os preços máximos ao consumidor estabelecidos pela União são abusivos.

– A lista definida pelo governo é um limite máximo, mas o problema é que se trata de um limite absurdo. A indústria farmacêutica, que como qualquer outra indústria visa ao lucro e quer tirar vantagem da sua atividade, pratica preços que se aproximam desse limite – avalia.


“Aqui os remédios são taxados como qualquer produto”. Jacob Frenkel, economista especializado em indústria farmacêutica

O economista Jacob Frenkel, professor do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e especialista em indústria farmacêutica, afirma que o preço dos medicamentos brasileiros é impulsionado por uma combinação entre altos impostos, impacto limitado dos produtos genéricos e falta de uma política nacional mais agressiva de controle das margens de lucro da indústria. Confira trechos da entrevista que ele concedeu por telefone, na semana passada:

Zero Hora – O que explica o preço dos remédios no Brasil?

Jacob Frenkel – No Brasil, os medicamentos são taxados como qualquer outro produto. Existem, no mundo, basicamente dois modelos: o americano, de preço livre, e o modelo europeu, em que o governo subsidia parte do valor para o paciente. O modelo brasileiro é intermediário – o preço é supostamente controlado, com custo máximo ao consumidor dado quando o produto é lançado. Para compor esse valor, o governo supostamente faz comparação com outros países. Mas aí entra outra questão importante: o imposto. O medicamento é taxado como qualquer outro produto de consumo, com ICMS de até 18%, 19%. Só pode encarecer.

ZH – Os medicamentos genéricos não deveriam baratear mais o custo dos remédios no Brasil?

Frenkel – O genérico foi criado para oferecer medicamentos mais baratos, por uma lei de 1999. Só que ele só pode existir depois de expirar a patente dos produtos de referência. Ou seja, quanto mais essencial ou mais inovador o remédio, mais o preço será maior, claro. Depende também do mercado onde vai atuar. Se tem mais concorrência, é mais barato. Se é mais inovador, mais caro. Os mais caros no mercado são os oncológicos. São as leis de mercado. O inovador sempre tem um período em que domina mercado. Leva tempo para lançar um similar (mesma molécula com outra marca). Mas aí, quando começa a surgir concorrência (o similar ou o genérico), lançam nova formulação. E, quando fazem isso, pedem novo preço.

ZH – Isso torna a margem de lucro da indústria farmacêutica no Brasil excessiva?

Frenkel – As empresas estrangeiras no Brasil não são obrigadas a publicar balanços, então, é difícil saber as margens de lucro deles. Qual a margem da indústria automobilística? Também não publicam, apresentam apenas para o governo para fins fiscais. É muito difícil saber. Às vezes, algumas revistas apresentam resumos de balanços. Mas, fora disso, é muito difícil obter informações.

domingo, 13 de novembro de 2011

PAÍS DO REMÉDIO CARO



Doente brasileiro paga mais por medicamento - HUMBERTO TREZZI E MARCELO GONZATTO, ZERO HORA 13/11/2011

Custa muito mais viver na Europa do que no Brasil, certo? Depende. Se você for um doente brasileiro, são grandes as chances de que seu tratamento saia bem mais caro do que o de um europeu, usando os mesmos medicamentos.

Quem circula pelo centro de Paris e precisa comprar cloridato de tansulosina, remédio para tratamento de próstata e comercializado com o nome de Secotex, pode adquirir o medicamento por módicos 14,20 euros – cerca de R$ 34. Se a viagem continuar até Lisboa, o custo é ainda menor: 10,78 euros (quase R$ 26). Se atravessar o Atlântico e percorrer 9,7 mil quilômetros até Montevidéu, o baque na carteira será maior, equivalente a R$ 57,80. Diferença substancial, mas nada que se compare ao custo deste remédio nas farmácias do Brasil: R$ 189,86. Ou seja, sete vezes mais caro do que em Portugal.

Zero Hora pesquisou o preço da tansulosina em oito capitais do planeta e constatou que o doente brasileiro precisa sobreviver à doença e, ao mesmo tempo, resistir aos preços de medicamentos, bem maiores do que os praticados em países nos quais o custo de vida é mais alto.

Por que os preços diferem tanto

O cloridato de tansulosina, remédio para tratamento de próstata e comercializado com o nome de Secotex, não é um caso isolado.

Situação semelhante ocorre mesmo com medicamentos mais populares como a sinvastatina, usada para baixar o nível de colesterol, cuja caixa com 30 comprimidos de 40 miligramas custa até R$ 70 em farmácias do Estado. Em Rivera, cidade uruguaia separada por uma rua de Santana do Livramento, o mesmo produto custa o equivalente a R$ 25, conforme constata a porto-alegrense Sandra Corrêa, 59 anos, que costuma viajar ao Uruguai apenas para se abastecer de remédios.

A levotiroxina sódica, destinada ao tratamento de hipotireoidismo, pode ser adquirida pelo equivalente a R$ 8,70 na França, mas nas farmácias brasileiras as mesmas 30 cápsulas saem por cerca de R$ 15 – quase o dobro. As razões para isso envolvem uma fórmula complexa. Confira três motivos:

1 - Impostos abusivos: um dos principais componentes do amargo composto financeiro dos remédios é a pesada carga tributária que incide sobre medicamentos. Levantamento feito em 23 países mostra que o Brasil é o que injeta mais imposto no custo dos remédios: o equivalente a um terço do preço cobrado do consumidor, devido à sobreposição de alíquotas como o Imposto sobre a Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) e o PIS/Cofins. Isso é mais de cinco vezes acima da média mundial.

2 - Alta margem de lucro: o valor dos produtos vendidos no Brasil é limitado por uma lista de preços máximos ao consumidor definida pela Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos (Cmed). Essa listagem tolera um acréscimo de até 38% entre o preço de fábrica e o de varejo – margem destinada ao lucro das farmácias. No Uruguai, por exemplo, esse índice fica em torno de 7%. Além disso, conforme o Instituto Brasileiro de Defesa dos Usuários de Medicamentos (Idum), em vez de forçar uma redução nos preços, o tabelamento acaba mantendo os lucros da indústria farmacêutica em patamar elevado.

3 - Preço ditado pelo fabricante: a maior parte dos medicamentos entrou no mercado brasileiro antes de 2004, quando o controle de preços por parte do governo era menos rígido. Isso faz com que os laboratórios possam manter os valores altos daquela época. Essa herança infla o custo principalmente de remédios cujas fórmulas ainda estão protegidas por patentes, livres da concorrência dos genéricos. A partir de 2004, medicamentos novos devem limitar seu preço ao valor mais baixo praticado em uma lista comparativa de nove países – mas os antigos não precisam seguir essa regra.

Intermediários encarecem valores

A Associação da Indústria Farmacêutica de Pesquisa do Brasil (Interfarma) argumenta que o preço médio de todos os medicamentos vendidos em farmácia, incluindo os genéricos, é de R$ 17,50 – o que seria mais barato do que em outros países. Não é bem assim, mostra um estudo de 2006. O levantamento comparou o preço dos 15 medicamentos mais vendidos no mercado brasileiro com os de outros 11 países. Cinco tinham preços de varejo mais baratos que o Brasil – embora o custo de produção nacional, na fábrica, seja o menor da lista.

A contradição ocorre porque, da fabricação ao consumo, muitos intermediários lucram, aí incluídos governo e distribuidores. Quem paga a conta são os pacientes que vivem em um país em desenvolvimento, mas são submetidos a custos de tratamento muitas vezes superiores aos de Primeiro Mundo.


Viagens por remédios mais baratos

Alguns brasileiros têm trocado o turismo por viagens com o exclusivo objetivo de abastecer seu estoque de medicamentos. A via-crucis ocorre em decorrência dos altos preços de remédios de uso contínuo cobrados no Brasil. O Uruguai é um dos destinos beneficiados e se transformou em rota certa para quem procura reduzir o custo de seus tratamentos de saúde.

Pacientes de doenças crônicas, que necessitam usar produtos para o resto da vida, como a moradora de Porto Alegre Sandra Corrêa, 59 anos, são responsáveis pelo florescimento de um roteiro internacional que substitui o interesse turístico pela necessidade econômica e a compra de lembranças pela aquisição de remédios capazes de combater males como depressão, colesterol, transtornos mentais e outros problemas de saúde.

Sandra costuma viajar para o Uruguai três ou quatro vezes por ano a fim de buscar carregamentos de duas substâncias: sertralina, para tratar sintomas de depressão, e sinvastatina, para baixar o nível de colesterol nos vasos sanguíneos. Cada caixa com 30 comprimidos em território uruguaio lhe custa R$ 28, no primeiro caso, e R$ 25, no segundo.

– Aqui no Brasil, o preço é no mínimo o dobro – lamenta Sandra.

Em uma pesquisa feita por Zero Hora em três redes de farmácias, o preço médio da caixa com 30 comprimidos de sinvastatina de 40 mg fica em R$ 71 – embora a oferta de descontos reduza o preço de venda para R$ 39, em média. Sandra aproveita viagens a Santa Vitória do Palmar, próximo ao Chuí, onde faz visitas a familiares, para buscar três caixas dos produtos a cada incursão ao país vizinho.

Gasto menor diminui prejuízo

A discrepância entre valores também chama a atenção do jornalista aposentado Saul Júnior. Nos últimos meses, adquiriu medicamentos durante viagens por Uruguai, Portugal e França.

Um dos produtos comprados em Portugal foi a tansulosina, pelo qual pagou o equivalente a R$ 26 por uma caixa com 30 cápsulas de 0,4 miligrama. No Brasil, o custo vai a R$ 189 pelo mesmo tipo de produto.

– Dizem que os impostos aqui são mais altos, mas só o imposto não explica a grande diferença. Agora, deixo para comprar meus remédios quando vou ao Uruguai – afirma.

Nem todo medicamento no Brasil tem valor médio mais alto do que em outros países – produtos lançados mais recentemente e os genéricos puxam o valor para baixo. Mas os casos de Saul e Sandra mostram que grande parte dos produtos de custo mais alto e tecnologia mais desenvolvida força um périplo dos doentes por outras regiões do planeta.

Participaram desta reportagem Itamar Melo, Marina Lopes, Márcio Brito (Especial) e Nilson Mariano.

Indústria critica governo

Porta-voz da Associação da Indústria Farmacêutica de Pesquisa do Brasil (Interfarma), que congrega grandes laboratórios farmacêuticos, Jorge Raimundo sustenta que o preço médio pago pelos brasileiros para comprar remédios não é excessivo. Em entrevista concedida por telefone, o executivo admite a existência de “eventuais discrepâncias”, mas insiste em que o preço dos fármacos no Brasil não se compara com o que é cobrado na Europa ou nos Estados Unidos.

Raimundo reconhece que a carga tributária de 33,9% no Brasil tem contribuído para elevar o preço dos medicamentos, além do preço máximo ao consumidor, que garante às farmácias 38% sobre o preço de fábrica.

– No Uruguai eles têm 10% de impostos (sobre remédios), e a margem da farmácia é muito pequena.

Mesmo assim, o executivo da indústria farmacêutica diz que o preço médio de todos os medicamentos vendidos em farmácia, incluindo os produtos genéricos, é de R$ 17,50, que seria mais baixo do que na maioria dos outros países – embora não apresente levantamento que demonstre isso.

– Aqui, é o governo que dita o preço dos remédios, com base em uma chamada cesta de países, em que o valor cobrado no Brasil tem de ser igual ou menor ao preço mais baixo praticado nesses países – justifica.

Zero Hora colocou em dúvida esta certeza de que o preço médio dos remédios no Brasil é barato. Enviou então à Interfarma uma lista de pelo menos sete medicamentos muito utilizados por brasileiros com doenças crônicas e cujo custo, aqui, é bem maior que na Europa e no Uruguai. Convidada a analisar o porquê, a Interfarma não indicou alguém para responder.

ENTREVISTA - “Temos impostos mais altos” - Pedro Bernardo, chefe do Núcleo de Regulação Econômica da Anvisa.

Chefe do Núcleo de Regulação Econômica da Anvisa, Pedro Bernardo admite que os altos impostos e a falta de uma regulamentação mais antiga contribuem para elevar o preço dos remédios:

Zero Hora – Temos casos de remédios muito mais caros do Brasil do que em outros países da América do Sul ou Europa. Por que isso ocorre?

Pedro Bernardo – Há um fenômeno que ocorreu não só com medicamentos, mas com a maioria dos produtos do Brasil. Se você pensar em um produto qualquer que custava R$ 100 em 2003, quando o dólar equivalia a R$ 3, isso representava uns US$ 33. Se continuasse custando R$ 100 quando o dólar estava em R$ 1,60, esse mesmo valor passou a equivaler a US$ 62,50. A valorização da nossa moeda encareceu a maioria dos produtos quando se faz essa comparação.

ZH – Mas só o câmbio não explica muitas discrepâncias...

Bernardo – O ano de 2004 foi o marco para fixação do preço dos remédios no Brasil. Os medicamentos que entraram no mercado até 2001 tinham preço totalmente livre. Entre 2001 e 2004, houve uma regra de transição, em que começamos a trabalhar com um preço médio levando em conta o que era cobrado em alguns outros países. A partir de 2004, passamos a exigir que o preço dos novos medicamentos fosse igual ou menor ao mais baixo cobrado entre outros nove países. Um estudo mostra que, entre os produtos que entraram no país depois de 2004, 51% têm os preços mais baixos na comparação com essas outras regiões.

ZH – A maior parte dos remédios à venda é anterior ou posterior à nova regra?

Bernardo – A maioria dos produtos no mercado ainda é anterior a essa data.

ZH – Os impostos cobrados no Brasil contribuem para aumentar essa conta?

Bernardo – Realmente, os impostos cobrados sobre remédios no Brasil são bem mais altos do que nos outros países. Principalmente o ICMS, que chega a 18%, 19% em alguns Estados. Recentemente, o governo deu isenção do PIS e do Cofins para quase 70% dos medicamentos, então são 12% a menos. Mas ainda assim é uma carga muito elevada. Na maioria dos países, o imposto vai até 5%, 6%, ou não é cobrado.

ZH – E isso não vai ser revisto pelo governo?

Bernardo – Sempre se falou que a reforma tributária corrigiria esse problema. Mas como está demorando a sair, essa situação permanece.

sábado, 12 de novembro de 2011

SAÚDE SEM NOÇÃO

Simplesmente perfeito o depoimento desta médica oncologista aqui de Blumenau, Dra. Liziane Anzanelo. - ONCOLOGISTA - ONCOCENTRO, oncocentro@via-rs.net. Via email - 11/11/2011

DEPOIMENTO DRA. LIZIANE ANZANELO


Meus amigos, como oncologista digo que ninguém está desejando mal ao Lula ou
aos pacientes sofredores de câncer, mas sabemos que quando um governante
passa na pele o que um paciente passa para ter o direito a um tratamento
digno e justo, ou mesmo morre na fila esperando um medicamento, uma cirurgia
ou simplesmente pela ineficiência do sistema, temos que nos revoltar!!!

Porque todos não tem o... direito de ter um diagnóstico no sábado e iniciar
o tratamento na segunda, me digam um paciente que conseguiu essa presteza,
ou que tratou linfoma com a droga de ponta que a Dilma usou, ou vai fazer
infusão contínua com cateter e bomba de infusão de uso domiciliar???

Por que não nos exasperarmos por nem todos terem os mesmos direitos???

Somos diferentes porque não temos convênios, ou mesmo cargos importantes???

E a Constitutição Federal não diz que temos todos os direitos e somos
iguais???

Temos sim que aproveitar essa situação e mostrar que há diferenças nos
tratamentos e lutar pelos direitos dos mais fracos. Não é justo que um
paciente espere 30-40 dias para ter um diagnóstico patológico, ou aguarde na
fila de cirurgias, simplesmente porque não há mais médicos se submetendo aos
salários de fome que o SUS paga!

Pagar de 10 - 17 reais de honorários de quimioterapia por paciente/mês é
simplesmente um achaque!

Pagar 1.200 reais por Mês para médicos da rede pública por 20 horas de
trabalho, e fazê-los atender 18 pacientes ou mais em 04 horas é um abuso!


Eu quero sim que ele se cure e tenha um excelente tratamento, que com
certeza já está tendo, mas e o paciente que atendi hoje que não teve a mesma
sorte e está morrendo no hospital com menos de 30 anos...

E as mulheres com câncer de mama que não conseguem usar o tratamento mais
moderno?

E a fila da reconstrução mamária das mulheres mastectomizadas?

E as filas imensas da radioterapia, que só não são a maiores pela abnegação
de radioterapeutas que tratam os pacientes SUS em suas clínicas privadas,
muitas vezes arcando com os custos do tratamento para verem seus pacientes
melhor atendidos?


Temos sim que falar, temos que mostrar à população que não é assim que
ocorre no dia a dia de pacientes oncológicos, que ficam sentados dentro de
ambulâncias o dia todo aguardando para voltarem para suas casas após terem
feito seus tratamentos ou seus exames cedo pela manhã, aguardando aqueles
que fazem exames e tratamentos á tarde.

Se vocês não sabem o câncer é uma doença que mais mata somente vindo atrás
das doenças coronarianas.

Quase um problema de saúde pública!

E seus custos são altos sim, mas não justificam que para custeá-los temos
que sacrificar pacientes que teriam chances reais de cura, que hoje mesmo a
deonça se encontrando em estágios avançados chegam aos índices de 50 %.


Sinto muito se o Lula está passando por isso, mas com certeza não está
lutando para ter seu medicamento e passando por um grave estresse para ver
quando vai começar ou quando vão lhe chamar para iniciar seu tratamento?

Queria que todos os pacientes oncológicos tivesem o direito ao tratamento de
ponta oferecido no Sírio ou no Einstein!!

Somente nós médicos sabemos o dilema ético ao dizer ao paciente que terá que
fazer um tratamento, mas que talvez não tenha acesso no sistema, por exemplo
a hormonioterapia extendida para câncer de mama após uso de Tamoxifeno, não
é disponibilizada ao pacientes do SUS, porque não tem código para esse
tratamento, haja visto que a tabela está desatualizada.

O SUS diz que paga tudo, as tabelas realmente não dizem qual tratamento o
médico deve fazer, o médico pode prescreve o que quiser, entretanto, o valor
pago pelo código da doença é ínfimo e não cobre os novos tratamentos, quem
paga a conta???

Os hospitais filantrópicos???

Os hospitais públicos já tão sucateados...

Ou deixamos assim, e não nos indignamos, afinal eu não tenho nada a ver com
isso, na minha família niguém tem câncer, e eu tenho convênio de saúde, para
que vou me preocupar????

Quando a água bater naquele lugar, quero ver....Sorry pelo desabafo!

Mas é irritante escutar tanta coisa de quem não tem a mínima noção do que
seja a saúde nesse país, e isso que em Blumenau e no Sul vivemos num
paraíso, comparado com o resto do país.

POR QUE O REMÉDIO É TÃO CARO?

DESVIOS MARQUETEIROS



LUCIO BARCELOS, MÉDICO SANITARISTA - ZERO HORA 12/11/2011

Fica difícil levar a sério um governo que arrecadou, até a primeira semana de novembro deste ano, o montante de R$ 18,906 bilhões, e que continua, mesmo assim, aplicando miseráveis 3,75% de sua arrecadação tributária líquida (ATL) em saúde. Descumpre, solene e impunemente, a Emenda 29, que determina que os Estados apliquem 12% de suas receitas tributárias líquidas, em saúde. Pior do que isso, mantém-se com o título vergonhoso de Estado que menos aplica em saúde no país.

E é com esse padrão de descaso com a saúde da população que o governo do Estado lança seu programa “O governador pergunta”, tendo como mote inicial a saúde pública. Beleza pura. Até o final de outubro, o governo colocou na saúde R$ 736 milhões. Deveria ter colocado R$ 2,523 bilhões. Diferença pouca é bobagem. Então, não dá para vir com esta conversa mole, de que vai ouvir a população para saber o que deve ser feito para melhorar o sistema de atendimento ao público. E tem, inclusive, uma Van percorrendo a Região Metropolitana para coletar opiniões daqueles que não têm internet. É um governo deveras popular. Não tem como questionar! E o pior é que parte da população, pobre e desinformada, é capaz de levar uma aberração dessas a sério.

Até as pedras sabem quais são as prioridades e onde aperta o calo de quem precisa e depende do sistema público de saúde. Acho enfadonho, mas vamos lá: o governo tem que, urgentemente, ampliar a rede de atenção básica em saúde. Hoje, por exemplo, o percentual da população coberta pela Estratégia Saúde da Família, em Porto Alegre, é de 25%. Deveria ser de 80%. E não sabemos qual a qualidade do atendimento desses 25% instalados. Pagar um salário digno e ampliar o quadro de funcionários, permitindo um atendimento digno; melhorar e ampliar o número de serviços de urgência/emergência; ampliar o número de leitos hospitalares; botar para funcionar o laboratório farmacêutico do Estado (Lafergs); ampliar o número de serviços próprios do Estado, reduzindo a dependência e submissão aos serviços privados; construir uma rede própria de serviços diagnósticos e terapêuticos; incentivar uma rede de ensino e pesquisa (Uergs) voltada para o perfil epidemiológico da população do Estado. Se fizer metade disso, já será um alívio para quem fica penando numa fila ou aguardando anos para conseguir um exame, uma consulta especializada ou uma internação.

Já estou ouvindo os espertos do governo dizer que algumas dessas atribuições são dos municípios. É verdade. Mas os municípios, em sua grande maioria, aplicam mais do que os 15% determinados pela EC 29. E, se o Estado não der um reforço, como determina a Constituição, com seu orçamento, não tem município que aguente. E, mais uma vez, vai sobrar para a população pobre.

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

DILMA LANÇA PROGRAMA QUE COLOCA MÉDICO NA CASA DO PACIENTE

Em pronunciamento, Dilma vai lançar novo programa e falar sobre SUS. MÔNICA BERGAMO. COLUNISTA DA FOLHA - 07/11/2011 - 13h54

A presidente Dilma Rousseff deve fazer amanhã pronunciamento em rede nacional que terá como tema a saúde e o SUS (Sistema Único de Saúde).

Na mensagem, que terá duração de cerca de dez minutos, ela lançará um novo programa.

Será o "Melhor em Casa", que prevê o atendimento médico a pacientes em suas residências.

Será uma espécie de "homecare", previsto para pessoas que estão doentes e precisam de atendimento especial e de certa complexidade, mas que não precisam ficar internadas em um hospital.

Desde que o ex-presidente Lula anunciou que passaria por um tratamento contra um câncer de laringe, internautas passaram a atacá-lo dizendo que ele deveria se tratar no SUS.

Os ataques geraram uma reação de pessoas que defenderam Lula e também o sistema de saúde, que atende gratuitamente milhões de brasileiros.

Pacientes de classe média relataram suas experiências de, doentes, precisarem recorrer ao SUS pois o plano médico não cobria os gastos com internações e medicamentos.

COMENTÁRIO DO BENGOCHEA - Este programa é muito bom. Tive o prazer de conhecer e assistir pessoalmente o protótipo deste programa em Santa Rosa que faz o médico e agentes de saúde visitarem os pacientes.

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

O CÂNCER E A ESTUPIDEZ HUMANA

PÁGINA 10 | ROSANE DE OLIVEIRA - ZERO HORA 02/11/2011Com Letícia Duarte


É em momentos como a doença de uma pessoa famosa que a pequenez se revela em toda a sua extensão nas redes sociais. Tão logo foi divulgada a notícia do câncer do ex-presidente Lula, a internet foi inundada por mensagens preconceituosas, raivosas, desumanas, torpes mesmo. Seria o caso de simplesmente ignorar, deletar ou dar unfollow (no Twitter), mas é difícil calar diante da estupidez humana.

É um direito de qualquer cidadão criticar o governo Lula, a forma como ele lidou com o mensalão, as alianças espúrias que fez para governar. Exultar com a desgraça de Lula ou de qualquer pessoa que receba um diagnóstico de câncer é fazer uma declaração pública de falta de sensibilidade. Tanto rancor destilado nas redes sociais contra um presidente que deixou o governo há quase um ano com índices recordes de popularidade merece um estudo psicanalítico.

Além das mensagens bizarras de gente que se satisfaz com a desgraça alheia, o que mais se vê na internet são sugestões para que Lula faça o tratamento pelo SUS para saber o que o povo passa nas filas. Se o ex-presidente seguisse esse conselho, não faltaria quem o acusasse de estar tirando a vaga de um pobre que só pode fazer diagnóstico por imagem, quimioterapia e radioterapia (tratamentos caríssimos) na rede pública. Lula tem plano de saúde, como a maioria das pessoas de classe média e alta, pôde fazer um pé-de-meia nos últimos oito anos em que teve casa, comida e roupa lavada. Não recebe pensão, como os ex-governadores do Rio Grande do Sul, mas vinha ganhando muito bem – R$ 200 mil em média – para fazer palestras. Pode, portanto, se tratar em um hospital de elite como o Sírio-Libanês, um dos preferidos dos ricos e famosos.

Lula está sendo cobrado por ter dito, em 2006, na inauguração das novas instalações da emergência do Hospital Conceição, que o SUS estava próximo da perfeição. Exagero, naturalmente, porque os problemas do SUS são conhecidos e imensos, mas nem por isso é razoável achar que, cinco anos depois, ele não pode escolher onde quer ser tratado – se o plano de saúde cobrir ou se puder pagar. O SUS está longe da perfeição, mas salva milhares de vidas diariamente e banca serviços de alta complexidade, como transplantes, que a maioria dos planos privados não cobre.

Mendes volta para hospital

Depois de sentir um desconforto, ontem, em Porto Alegre, o ministro da Agricultura, Mendes Ribeiro, viajou para São Paulo para realizar novos exames no Sírio-Libanês. De acordo com a assessoria de imprensa do hospital, o ministro ingressou às 12h16min. Até o fechamento desta edição ele continuava internado.

Como o paciente e a família não autorizaram a divulgação de informações, o hospital não revelou o motivo da internação. A coluna apurou que Mendes fez novos exames e os médicos aproveitaram para retirar os pontos da cirurgia realizada em 14 de outubro. O procedimento estava previsto para o dia 7, data em que há uma revisão marcada.

LULA, O CÂNCER, O SUS E O SÍRIO

ELIO GASPARI, CORREIO DO POVO, 02/11/2011

As pessoas que estão reclamando porque Lula não foi tratar seu câncer no SUS dividem-se em dois grupos: um foi atrás da piada fácil, e ruim; o outro, movido a ódio, quer que ele se ferre. Na rede pública de saúde, em 1971, Lula perdeu a primeira mulher e um filho. Em 1998, o metalúrgico tornou-se candidato à Presidência da República e pegou pesado: "Eu não sei se o Fernando Henrique ou algum governador confiaria na saúde pública para se tratar". Nessa época acusava o governo de desossar o SUS, estimulando a migração para os planos privados. Quando Lula chegou ao Planalto, havia 31,2 milhões de brasileiros no mercado de planos particulares. Ao deixá-lo, essa clientela era de 45,6 milhões e ele não tocava mais no assunto.

Em 2010, Lula inaugurou uma Unidade de Pronto-Atendimento do SUS no Recife dizendo que "ela está tão bem localizada, tão bem estruturada, que dá até vontade de ficar doente para ser atendido". Horas depois, teve uma crise de hipertensão e internou-se num hospital privado.

Lula percorreu todo o arco da malversação do debate da saúde pública. Foi de vítima a denunciante, passou da denúncia à marquetagem oficialista e acabou aninhado no Sírio Libanês, um dos melhores e mais caros hospitais do país. Melhor para ele.

(No andar do SUS, uma pessoa que teve dor de ouvido e sentiu algo esquisito na garganta leva uns 30 dias para ser examinada corretamente, outros 76, na média, para começar um tratamento quimioterápico, 113 dias se precisar de radioterapia. No andar de Lula, é possível chegar-se ao diagnóstico numa sexta-feira e à quimio na segunda. A conta fica em algo como R$ 50 mil.)

Lula, Dilma Roussef e José Alencar trataram seus tumores no Sírio. Lá, Dilma recebeu uma droga que não era oferecida à patuleia do SUS. Deve-se a ela a inclusão do rituximab na lista de medicamentos da saúde pública.

Os companheiros descobriram as virtudes da medicina privada, mas, em nove anos de poder, pouco fizeram pelos pacientes da rede pública. Melhoraram o acesso aos diagnósticos, mas os tratamentos continuam arruinados. Fora isso, alteraram o nome do Instituto Nacional do Câncer, acrescentando-lhe uma homenagem a José Alencar, que lá nunca pôs os pés. Depois de oito anos: um em cada cinco pacientes de câncer dos planos de saúde era mandado para a rede pública. Já o tucanato, tendo criado em São Paulo um centro de excelência, o Instituto do Câncer Octavio Frias de Oliveira, por pouco não entregou 25% dos seus leitos à privataria. (A iniciativa, do governador Geraldo Alckmin, foi derrubada pelo Judiciário paulista.)

A luta de José Alencar contra "o insidioso mal", serviu para retirar o estigma da doença. Se o câncer de Lula servir para responsabilizar burocratas que compram mamógrafos e não os desencaixotam (as comissões vêm por fora) e médicos que não comparecem ao local de trabalho, as filas do SUS poderão diminuir. Poderá servir também para acabar com a política de duplas portas, pelas quais os clientes de planos privados têm atendimento expedito nos hospitais públicos.

Lula soube cuidar de si. Delirou ao tratar da saúde dos outros quando, em 2006, disse que "o Brasil não está longe de atingir a perfeição no tratamento de saúde". Está precisamente a 33 quilômetros, a distância entre seu apartamento de São Bernardo e o Sírio.