sábado, 28 de julho de 2012

AGENDAMENTO EQUIVOCADO

ZERO HORA 28 de julho de 2012 | N° 17144

EDITORIAL


As faltas corriqueiras de pacientes em consultas marcadas com especialistas do Sistema Único de Saúde (SUS) através de agendamento revelam antes falhas do sistema do que falta de responsabilidade dos usuários. Se as ausências chegam a significar 66% do total, em alguns casos, é porque o método é equivocado. Diante da demanda de doentes por atendimento, só há uma explicação: o fato de as consultas, em muitos casos, serem agendados para meses ou até mesmo anos depois da solicitação acaba contribuindo para a desistência.

Há pelo menos duas consequências diretas desse modelo ineficiente e que, por isso, exige revisão. Uma delas é que, quando o paciente não comparece no dia e hora marcados, prejudica quem aguarda sempre há mais tempo do que deveria por uma oportunidade de socorro médico. A outra, que as ausências representam um custo elevado. Mesmo quando o paciente não comparece, o serviço contratado pela Secretaria Municipal de Saúde tem que ser pago.

Se uma das razões para tanta falta é justamente a particularidade de a consulta ser marcada com muita antecedência, parece óbvio que o modelo não funciona satisfatoriamente e precisa ser revisto logo. Diante da impossibilidade de atendimento imediato, muitos doentes acabam tendo que aceitar o agendamento para um futuro remoto. Mas, para evitar um agravamento no quadro de saúde, que chega a resultar até em óbito, acabam procurando ajuda de outra forma, muitas vezes fazendo um esforço para juntar o dinheiro necessário e pagar pelo serviço.

É mais do que hora de o SUS rever esse modelo, que não atende às aspirações dos usuários. Se não é possível mudar tudo de uma só vez, reduzindo o tamanho inadmissível da fila, que sejam buscadas pelo menos providências emergenciais no caso das especialidades mais procuradas.

LIBERDADE PARA OS DEPENDENTES

ZERO HORA 28 de julho de 2012 | N° 17144. ARTIGOS

Luiz Carlos Corrêa da Silva*

O objetivo do primeiro tratado global de saúde pública, sob a responsabilidade da Organização Mundial da Saúde (OMS), é muito claro: “proteger as gerações presentes e futuras das devastadoras consequências sanitárias, sociais, ambientais e econômicas geradas pelo consumo e pela exposição à fumaça do tabaco”.

No período em que o estado do RS debateu a ratificação deste tratado – Convenção Quadro para o Controle do Tabaco (CQCT) – houve uma grande mídia propalando que a OMS queria proibir o plantio de fumo o que deixaria milhões de pessoas sem sustento. Já se passaram mais de seis anos que o país ingressou nesse importante tratado internacional de saúde e nenhum agricultor foi prejudicado. Pelo contrário, observam-se benefícios pela progressiva redução da prevalência das doenças, o que é muito positivo para todos.

Estamos falando de saúde pública e da principal epidemia evitável que acomete a sociedade contemporânea. Estamos falando do principal fator de risco para as Doenças Crônicas Não Transmissíveis, principal causa de mortes na atualidade. O que está em jogo, é esta epidemia silenciosa que causa, no Brasil, 130 mil mortes por ano e custa aos cofres públicos pelo menos R$ 21 bilhões anuais para tratar as doenças causadas pelo tabagismo.

Os danos causados, silenciosamente, pelo tabagismo são incomparavelmente maiores que a Gripe A e demais doenças infecciosas juntas, e todas as causas externas de morte e agravos (acidentes de trânsito e violência em geral).

Mais recentemente, entidades ligadas à produção de fumo manifestaram preocupação com as discussões em torno dos artigos da CQCT que tratam de alternativas para a fumicultura (art. 17) e proteção ao meio ambiente e à saúde das pessoas (art. 18). Trata-se de mais uma tentativa dos aliados da indústria para confundir a população, os governantes, e a opinião pública com argumentos rasos de que a adoção das medidas de saúde vão prejudicar os fumicultores. Isso é uma grande inverdade. Caso esses argumentos fossem reais, qual seria a solução? Estimular a população brasileira e mundial a fumar cada vez mais para manter as pessoas produzindo e ampliando a produção de fumo? É óbvio que não.

O objetivo das entidades que defendem a implementação efetiva da CQCT no Brasil e no mundo é, não só melhorar a saúde e a qualidade de vida das pessoas, mas também dos agricultores que plantam fumo. O debate é positivo, pois é uma forma de pressionar as autoridades competentes a criarem políticas públicas que atendam ao desejo daqueles agricultores (e não são poucos) que gostariam de alternativas à produção de tabaco e carecem de políticas que favoreçam a produção e comercialização de alimentos.

As teses que afirmam que a Convenção Quadro vai prejudicar os agricultores mais parecem tentativas deliberadas de criar obstáculos à adoção de medidas que farão com que menos jovens comecem a fumar e mais fumantes consigam deixar de fumar. Esse tipo de argumento se alinha mais com interesses comerciais de grandes empresas transnacionais de tabaco, tanto das processadoras de folha de fumo como das fabricantes de cigarros do que com interesses de agricultores.

Portanto, para o agricultor que depende da produção de tabaco para sua subsistência, avançar no debate sobre alternativas e diversificação é uma questão crucial de sobrevivência. Afinal, o mundo que queremos para todos nós é um mundo com mais saúde e menos dependência, seja da substância nicotina, seja de um sistema integrado de produção que não dá alternativas aos próprios agricultores. Um mundo com mais liberdade para que todos possam optar pelo que querem produzir visando à valorização do seu trabalho e do bem comum.

*Pneumologista, coordenador do Programa de Tabagismo da Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre

sexta-feira, 20 de julho de 2012

REFÉNS DO MEDO


BEATRIZ FAGUNDES, O SUL

Porto Alegre, Sexta-feira, 20 de Julho de 2012.

Quem responde diretamente pelos postos de saúde sem médicos e sem remédios? Quem responde por planos de saúde que não oferecem atendimento imediato? Concorda? Não? Chama a polícia, pois estamos diante de mortes anunciadas.

A saúde no Brasil virou um caso de polícia. Os relatos desesperados de cidadãos escravizados ao SUS (Sistema Único de Saúde), devido às condições econômicas, se assemelham aos de milhares de clientes de planos de saúde. As operadoras não conseguem cumprir contratos que em tese garantiriam atendimento imediato e particular quando seus clientes enfrentassem sintomas primários de doença como febre alta, dores no corpo, especialmente nas articulações, e na cabeça, além de prostração geral. O quadro seria clássico de gripe. O tratamento, como pregavam nossos avós, era vitamina C e cama durante pelo menos uma semana. Hoje, os tempos são outros. As variadas novas cepas da velha gripe, a cada edição mais letais, aliadas à completa e absoluta incompetência dos gestores do SUS, que sequer se importam em manter o sistema de forma precária, pois jamais responderão pessoalmente pela barbárie, acabam produzindo um quadro digno de filme de terror de quinta categoria.

A tragédia do SUS já seria suficiente, porém não é. O que se enfrenta é a venda de milhares de planos de saúde a cidadãos apavorados, reféns do medo, sem qualquer garantia de entrega do serviço vendido. O exemplo das operadoras de telefonia, que agora, depois de terem desfilado impávidas na pista da modernidade e do consumo, vendendo a milhões de brasileiros serviços sem qualidade nenhuma, foram finalmente chamadas na chincha. Já está na hora de impor o mesmo tratamento de choque às operadoras de planos de saúde que oferecem serviços a cada dia mais e mais precários. Quem vai defender o povo? O Ministério da Saúde, os Procons ou a OAB? O que você fará se nas próximas horas desenvolver os sintomas da gripe H1N1? Irá se humilhar nos postos de saúde sem médicos. Ou pior, com profissionais titubeantes. Ou correr em busca de atendimento nos hospitais e clínicas conveniadas de seu plano caríssimo sem receber o devido atendimento. Ou vai procurar um plano B?

Para variar, a internet oferece uma alternativa: sites oferecem o Tamiflu. Leiam as condições: "Se quiser uma forma mais rápida e discreta de comprar Tamiflu, pode vir à XXXXXX, fazendo uma consulta on-line. O processo de consulta e compra on-line é practicamente o mesmo do que se fosse fisicamente ao seu médico. Simplesmente, escolha o medicamento Tamiflu e a quantidade, responda às questões médicas que se apresentam no questionário (é importante que responda a todas as perguntas com a informação correta e verdadeira), escolha o modo de pagamento e confirma o pedido. Assim que completar o pedido, esse será analizado por um dos nossos médicos profissionais registrados, para aprovação ou não. Caso o seu pedido seja aprovado pelo médico, esse irá passar-lhe uma receita, que será encaminhada para a nossa farmácia, a qual se encarregará de lhe enviar o medicamento ao endereço que nos fornecer no pedido. A nossa clínica não deve ser um substituto do seu médico, mas apenas como mais uma ajuda em obter medicamentos de uma maneira mais rápida, cômoda e discreta".

O site é de Portugal, e a entrega acontece via Correios. Se os médicos demoram dias para identificar o vírus, apesar dos sintomas, cabe aos pacientes e familiares buscarem a única medicação conhecida por todas as formas. Quem deve ser responsabilizado pelo péssimo atendimento aos doentes deste Brasil gripado e menos varonil?

Enquanto a responsabilidade for difusa e o único culpado for o Estado bizarro, burrocrático, lerdo e inimputável por sua esquizofrenia, não existe futuro. Precisamos de responsáveis? Quem responde diretamente pelos postos de saúde sem médicos e sem remédios? Quem responde por planos de saúde que não oferecem atendimento imediato? Concorda? Não?

Chama a polícia, pois estamos diante de mortes anunciadas.

COMENTÁRIO DO BENGOCHEA - Por que será que a solução é sempre chamar a polícia?

quarta-feira, 18 de julho de 2012

FILANTRÓPICOS AMEAÇAM GOVERNO

CORREIO DO POVO, 18/07/2012

Taline Oppitz

Responsáveis por cerca de 75% do atendimento do SUS no Estado, 239 hospitais filantrópicos e santas casas ameaçam votar, em assembleia nos próximos dias, a transferência da administração das instituições para o Executivo. 

Com déficit anual de mais de R$ 300 milhões, os hospitais construíram com o governo, em setembro de 2011, acordo que incluía repasse de R$ 100 milhões, a liberação de empréstimos e a manutenção do diálogo neste ano. 

As entidades reclamam, no entanto, que a segunda parcela do repasse negociado, no valor de R$ 50 milhões, foi paga apenas em março, que não há recursos para o pagamento do custo dos serviços prestados e que as negociações não avançam. 

O secretário da Saúde, Ciro Simoni, afirma que há estimativa, até o fim do ano, de liberação de R$ 242 milhões aos hospitais filantrópicos, em função de qualificações nas estruturas e nos serviços prestados. Ele destaca, porém, que a nova reivindicação, de liberação de R$ 300 milhões, está fora da capacidade do governo. "A defasagem existe e não é de hoje, mas não sou irresponsável de prometer o que não poderei cumprir", disse.

UM FUNDO ÚNICO PARA A SAÚDE

ZERO HORA 18 de julho de 2012 | N° 17134. ARTIGOS

MILTON KEMPFER
PRESIDENTE DA FEESSERS – FEDERAÇÃO DOS EMPREGADOS EM ESTABELECIMENTOS E SERVIÇOS DE SAÚDE DO RS 


A Constituição de 1988, no capítulo da saúde, previdência e dos direitos e garantias individuais e coletivas para a assistência na saúde, colocou todos os brasileiros em pé de igualdade.

A forma de financiamento do SUS, no entanto, não segue os mesmos princípios. Enquanto alguns têm menos de R$ 1 por dia para o seu acolhimento, outros podem atingir patamares bem superiores. Isso ocorre graças à falta de um fundo único de saúde e ao sistema de financiamento.

Por outro lado, foram definidos na lei percentuais mínimos para municípios e Estados, que possuem diferenças enormes em suas receitas. Assim, se uma pessoa mora em um município pequeno, que tenha uma receita per capita grande e onde os recursos sejam bem aplicados, seu atendimento será privilegiado.

No entanto, se o cidadão morar em uma grande metrópole, mas com receita per capita inferior, a sua situação é a que vivemos hoje na capital gaúcha: de completo caos na saúde pública.

Outro ponto a ser considerado é o que se verifica na rede básica de saúde, que em alguns municípios tem custos elevadíssimos, enquanto que em outros simplesmente inexiste.

Em termos práticos, um município ou Estado que aplique os valores mínimos fixados em lei nem sempre terá um atendimento adequado.

Por isso, defendemos a implantação de um fundo único, onde os municípios, Estados, a União e até os planos de saúde depositassem os percentuais mínimos constitucionais e os recursos de suas receitas. Com a medida, entendemos que estará mais próxima a universalidade, integralidade e equidade do SUS.

Mas a equação ainda não será resolutiva enquanto houver outras discrepâncias distributivas, que levarem em conta barganhas políticas em vez de critérios técnicos, como as emendas parlamentares.

Por tudo isso, temos a convicção que não vamos conseguir acabar com os aglomerados das emergências e com as filas dos atendimentos de média e alta complexidade sem resolver o básico: trazendo a igualdade para a distribuição de recursos. sos

SEDENTARISMO; RAZÕES PASSAM PELA CRIMINALIDADE


ZERO HORA. 18 de julho de 2012 | N° 17134. ENTREVISTA

As razões passam até pela criminalidade”. 

Pedro Hallal, coordenador da pesquisa


O pesquisador do Centro de Estudos Epidemiológicos da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), Pedro Curi Hallal, é o líder da série de pesquisas divulgadas na revista The Lancet. O estudo é o primeiro sobre atividade física que utiliza dados de 122 nações.

Zero Hora – Quase 50% dos brasileiros estão no patamar de inatividade física. A que esse alto índice pode ser atribuído?

Pedro Curi Hallal – O Brasil é menos ativo do que a média mundial e menos ativo do que a média dos países em desenvolvimento. As razões são complexas, passam até pela criminalidade, ambiente desfavorável, pobreza e falta de acesso a espaços públicos de lazer. O nível de atividade física das pessoas não é apenas uma decisão individual, depende do ambiente físico e social que circunda a vida das pessoas.

ZH – O que deve ser feito para que esse índice diminua?

Hallal – É urgente que as ações de promoção da saúde tenham maior cobertura. Atualmente elas existem, mas atingem poucas pessoas. Além disso, precisamos de mais do que apenas o setor saúde para lidar com a inatividade física. Precisamos dos setores de esporte, de educação e de transporte. Existem diferentes estratégias que funcionam para aumentar o nível de atividade física da população, como intervenções na educação física escolar – em Recife e Aracaju já existem aulas comunitárias – e programas de divulgação dos benefícios conquistados pelos exercício. O Agita São Paulo é um bom exemplo.

ZH – Uma mudança de hábitos da rotina já seria suficiente para que uma pessoa deixasse de ser sedentária?

Hallal – Vale ir a pé para o trabalho, vale trocar o elevador pelas escadas, vale qualquer coisa que proporcione movimento. O importante também é evitar tempos prolongados sentados. A nossa pesquisa revela que 41,5% dos adultos em todo o mundo ficam mais de quatro horas sentados por dia, e esse é um agravante para os altos índices de sedentarismo. Mas, é claro, exercícios praticados com maior intensidade geram maiores benefícios. O ideal é que, no mínimo, sejam praticados 150 minutos por semana de atividade física.


ESTUDO INÉDITO. A pandemia do sedentarismo

Levantamento envolvendo 122 países e coordenado por um pesquisador gaúcho aponta os danos da inatividade física 

JOICE BACELO


A falta de exercícios é responsável pelo mesmo número de mortes vinculadas ao ato de fumar. É essa a conclusão de um estudo que envolveu 122 países e que será publicado hoje pela revista britânica The Lancet. O sedentarismo, de acordo com a pesquisa, é responsável por uma em cada 10 mortes em todo o mundo, índice comparável ao impacto do tabagismo.

Para o coordenador do estudo global, que envolveu pesquisadores de 16 países, o gaúcho Pedro Hallal, do Centro de Estudos Epidemiológicos da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), há uma pandemia de inatividade física. O estudo publicado em forma de artigos científicos revela que a inatividade física se tornou um contribuinte de peso para as principais causas de morte no mundo. O grupo de sedentários é formado por 1,5 bilhão de pessoas, o que representa 31,1% dos adultos. Entre 13 e 15 anos, o número é assustador: 80% não atingem a recomendação de uma hora por dia de atividade física.

No Brasil, 49,2% das pessoas são inativas, o segundo pior resultado entre os países do continente americano. Perdemos apenas para a Argentina, que tem 68,3% de sedentários. O estudo, porém, traz perspectivas positivas, inclusive vindas da tecnologia. Já há resultados que comprovam que a telefonia móvel pode servir como incentivo para que um número maior de pessoas se torne fisicamente ativo, como no caso de Denilson Montenegro, retratado na página ao lado. Para Hallal, pela prevalência do sedentarismo em proporções globais e pelo impacto sobre a saúde, a inatividade física tem consequências imensas nas áreas de saúde, economia, ambiente e social.

– Não existe um cálculo do quanto deixaria de ser gasto se as pessoas praticassem o recomendado pela Organização Mundial de Saúde, mas, pelo que traz de benefícios, com certeza haveria uma grande economia.

Corrida tecnológica

Estimulado por aplicativos baixados no telefone celular, há dois anos o gestor de tecnologia da informação Denilson Montenegro, 42 anos, cumpre todas as etapas do treinamento físico. As etapas vencidas são narradas pela voz eletrônica: “faltam três quilômetros”, “você está indo bem”. Quando o percurso chega ao fim, o sistema envia uma publicação para o Facebook e, cada vez que um amigo curte, aplausos são disparados pelo fone de ouvido.

– Fica a sensação de que a galera está na torcida. Isso ajuda a aumentar o compromisso de manter o rendimento – comenta.

A tela do computador também é transformada por Montenegro em um estímulo para quem está do outro lado. A dentista Luciane Pandolfo, 43 anos, estava parada há cinco anos. De tanto ver as publicações de Montenegro nas redes sociais, Luciane deu um basta no sedentarismo e seguiu os passos do amigo, recebendo aplausos de outros esportistas e também de sedentários – que um dia, espera-se, vão aderir a exercícios, ajudando a reduzir o quadro de inativos em todo o mundo, diminuindo as mortes e aumentando a expectativa e a qualidade de vida da população.

História e prestígio

Fundada em 1823, a revista The Lancet, da editora Elsevier, é uma das mais importantes publicações científicas da área médica. De acordo com o Journal Citation Reports, sistema de avaliação da Thomson Reuters utilizado mundialmente para classificar o impacto científico de publicações, a Lancet, com fator de impacto igual a 38,28, é a 7ª revista científica em geral com maior fator de impacto internacionalmente e a 2ª mais importante na categoria medicina geral.

COMENTÁRIO DO BENGOCHEA - É mais uma prova que saúde também depende da segurança pública, assim como a complementa quando trata das dependências e dos desvios mentais.

terça-feira, 17 de julho de 2012

A IMPORTÂNCIA DA RELAÇÃO MÉDICO-PACIENTE

O ESTADO DE SÃO PAULO 17 de julho de 2012 | 3h 07  


Antonio Carlos Lopes


Quando nos reportarmos a um passado não muito distante, lembramo-nos de como era habitual a existência de uma relação muito forte entre o médico, o paciente e os seus familiares. Aquele médico da família, que acompanhava todos os seus integrantes ao longo da vida, não existe mais. Ou restam pouquíssimos. E, infelizmente, depois do avanço da tecnologia, alguns passaram a admitir que o computador e a ressonância magnética, por exemplo, desempenham papel mais importante do que a atuação do médico. Qual a necessidade de conversar com o paciente quando é possível colocá-lo dentro de uma máquina e enxergá-lo por dentro?



Não nos podemos esquecer de que a ressonância magnética não é capaz de indicar, por exemplo, as condições sociais e culturais do doente. Também não é capaz de diagnosticar tudo o que acontece com ele. Cito como exemplo casos de síndrome do pânico: o indivíduo geralmente reporta um quadro de doença instalada e profundo mal-estar, mas os exames não indicam nenhuma anormalidade. Nesse caso, o bom diagnóstico é feito somente pela anamnese e por meio da relação entre o médico e o paciente.

A tecnologia avançada, a despeito de todos os seus benefícios, acabou colaborando para o esfriamento dessa importante interação. E, por acreditar profundamente nisso, tenho, pessoalmente, procurado trazer à baila a discussão desse tema em congressos e campanhas no âmbito do associativismo e da academia.

A busca pela valorização do envolvimento entre o médico e o paciente trouxe também para a superfície o debate sobre a importância do humanismo na prática médica. Acima de qualquer atitude, o médico precisa focar menos na doença, na tomografia, na ressonância magnética e mais no doente, que é a razão da sua existência profissional. Nestes tempos de grande avanço econômico e tecnológico, nada substitui o tratamento humanizado e nada é mais importante do que a medicina à beira do leito.

A relação médico-paciente é uma interação que envolve confiança e responsabilidade. Caracteriza-se pelos compromissos e deveres de ambos os atores, permeados pela sinceridade e pelo amor. Sem essa interação verdadeira não existe medicina. Trata-se de uma relação humana que, como qualquer outra do gênero, não está livre das complicações. Muitas vezes o indivíduo que está doente já procurou diversos profissionais que, em inúmeros casos, nem sequer olharam para o seu rosto. É uma das dificuldades que precisam ser enfrentadas no momento da abordagem inicial.

A medicina não é apenas ciência. É também arte. Frequentemente o paciente chega ao consultório do médico e não consegue dimensionar o quanto aquele momento é importante na sua vida. Sai do escritório correndo, muitas vezes esquece o que precisa dizer ao médico, chega nervoso porque precisa voltar ao trabalho. Isso é bastante comum, principalmente no Sistema Único de Saúde (SUS). Aí o problema se torna mais complicado ainda, porque cada consulta não passa de 15 minutos. Às vezes não há sequer cadeira para o doente se sentar.

Nossa obrigação, como médicos, é estabelecer uma interação com o paciente, não importam sua classe, sua cor ou seu credo. Esse profissional precisa estar pronto para enfrentar as adversidades, quando o paciente contesta. E este está exercendo o seu direito. Também há situações em que o doente chega acompanhado de uma terceira pessoa que adquire papel de intermediária e, por conseguinte, interfere na relação médico-paciente. Ainda em outro momento, o paciente chega visivelmente aborrecido, com as mãos geladas, nervoso, porque já aguarda na sala de espera há algum tempo. Com tantas dificuldades, como o médico faz para criar um ambiente agradável e propício para receber o doente e interagir com ele? Sem esse contato não é possível estabelecer um diálogo e desenvolver uma anamnese adequada. Precisamos lembrar-nos de que 70% de todos os diagnósticos são advindos da anamnese.

Qual seria, então, a melhor maneira para permitir a fluidez dessa relação médico-paciente? No meu consultório, uma das estratégias é buscar aproximação por meio de temas do cotidiano, como o futebol. Conversas sobre a profissão também ajudam a relaxar o doente. Após cerca de 15 minutos, ele está totalmente tranquilo, o que se percebe pela respiração mais lenta e pela mudança no semblante. Esse é o momento ideal para o início da anamnese. O que é necessário é desarmar o paciente quando ele se encontra agressivo, cansado, com medo ou simplesmente descrente, por já ter procurado diversos outros profissionais que não souberam ouvi-lo e respeitá-lo.

É tempo de recuperar as nossas raízes, de resgatar o bom e velho médico e as suas principais qualidades, sem, é claro, abrir mão de toda a modernidade a que temos direito. O resgate da humanização, tão bem inserida naquele contexto de antigamente, deve pautar sempre a prática da medicina, com o principal objetivo de oferecer assistência digna e de qualidade à população.

Para ser médico é preciso gostar de gente. Saber que não existem doenças, e sim doentes. Exercer essa profissão é pôr em prática o amor ao próximo. O doente deve morrer de mãos dadas com o seu médico e este necessita de tranquilidade e de ferramentas ideais para um atendimento no qual possa oferecer o melhor do seu conhecimento, toda a sua atenção e, principalmente, todo o seu respeito. Ele precisa de tempo suficiente para conhecer o paciente, descobrir suas queixas, averiguar seu passado, seus anseios e suas angústias. E fazê-lo sair aliviado, com a perspectiva de ter seu problema solucionado.

Dar e receber assistência médica de qualidade e universal, mais do que um anseio, é um direito de todos.

* DIRETOR DA ESCOLA PAULISTA DE MEDICINA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO (UNIFESP), É PRESIDENTE DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE CLÍNICA MÉDICA

PASSO À FRENTE NA LUTA CONTRA A AIDS

ZERO HORA 17 de julho de 2012 | N° 17133

AVANÇO NA MEDICINA. Pílula liberada pelos EUA ajuda na prevenção do vírus HIV, mas não substitui métodos tradicionais como o uso de preservativos


Uma pílula usada no tratamento de pessoas com HIV foi liberada ontem nos Estados Unidos para a prevenção ao vírus. É a primeira vez que um remédio é aprovado para esse fim. A Agência de Alimentos e Medicamentos (FDA) norte-americana autorizou a utilização do Truvada apenas por pessoas com risco elevado de contrair o HIV, como cônjuges de soropositivos.

Produzido pelo laboratório Gilead, o remédio está disponível no mercado dos EUA desde 2004, usado em combinação com outros antirretrovirais no tratamento de soropositivos.

– O Truvada representa uma abordagem efetiva e comprovada, que pode ser somada a outros métodos para ajudar a reduzir a propagação do HIV – afirmou Debra Birnkrant, diretora da divisão de antivirais da FDA.

Apesar da liberação, a agência ressaltou que o remédio deve ser usado como “parte de uma estratégia abrangente para a prevenção contra o HIV, que inclui outros métodos, como prática de sexo seguro, orientação para a redução de risco e testes regulares de HIV”. Um impeditivo extra para a utilização do medicamento é o custo, estimado em US$ 14 mil ao ano.

Desde 2010, testes revelam que o Truvada pode reduzir o risco de infecção. Estudo com 2.499 homens homossexuais apontou que o uso diminuiu entre 44% e 73% o risco. Um segundo estudo, com 4.758 casais heterossexuais, em que um parceiro estava infectado e outro não, mostrou que o remédio diminuiu em 75% a contaminação. Mas o Truvada está longe de ser uma vacina. Não tem 100% de eficácia e deve ser ingerido diariamente.

No Brasil, a medicação obteve registro na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) em maio, para tratamento, mas o Ministério da Saúde diz que não mudará a estratégia de prevenção à doença no país. Ronaldo Hallal, coordenador de cuidado e qualidade do programa de DST/Aids do órgão, afirma que o tema foi discutido recentemente e que a decisão foi manter a política brasileira como está, com foco no incentivo ao sexo protegido, no diagnóstico e no tratamento:

– Os estudos demonstram que, se a pessoa doente for tratada corretamente, há uma redução de até 95% na transmissão do vírus. Esse é um resultado mais eficaz do que os alcançados com a profilaxia pré-exposição. Estamos falando de resultados em estudos controlados, em que as pessoas são orientadas e acompanhadas a cada 30 dias. Na vida real, numa política de saúde pública, é totalmente diferente.

ENTREVISTA. “A decisão deve ser questionada”

Luciano Goldani - Chefe da unidade de infectologia do Hospital de Clínicas de Porto Alegre


O infectologista Luciano Goldani, do Hospital de Clínicas, recebeu com reservas a liberação do Truvada nos Estados Unidos. Ele receia que o medicamento passe uma falsa sensação de segurança a quem o utilizar, tendo efeito contrário ao desejado pelas autoridades de saúde.

Zero Hora – A aprovação de um medicamento para prevenção ao HIV representa um momento importante na luta contra a Aids?

Luciano Goldani – Não acho que isso tenha algo de fantástico. Do ponto de vista prático, não vai fazer muita diferença. O medicamento não é 100% seguro. A pessoa que o utilizar pode achar que está protegida e relaxar no uso da camisinha. Ou então ela pode, por causa da sensação de segurança, se envolver em mais situações de risco. Os estudos mostram eficácia entre homossexuais, mas nos estudos as pessoas cuidam para tomar a medicação adequadamente. Na vida real é diferente. As pessoas tomam um dia, depois falha. Minha opinião é que pode haver um efeito contrário e aumentar as infecções.

ZH – Nos grupos de maior risco de infecção, ele não seria útil?

Goldani – Talvez para casais estáveis, em que um dos dois tem o vírus, o medicamento funcione. Mas até quando a pessoa vai ficar tomando a pílula? Uma das drogas usadas no Truvada, o tenofovir, é muito tóxica para o rim. Se a pessoa for tomar o medicamento sempre, quais vão ser as consequências? Há muitas questões nebulosas. A decisão da FDA deve ser, no mínimo, questionada.

GRIPE A: ESTRATÉGIA EQUIVOCADA E INJUSTIFICÁVEL

ZERO HORA 17 de julho de 2012 | N° 17133. ARTIGOS


Sami El Jundi*


Não canso de me surpreender com os esforços da tecnoburocracia estatal para justificar suas ações desastradas. Em “Vítimas da Gripe A: União investiga mortes no RS”, a representante do Ministério da Saúde (MS) deixa evidentes alguns aspectos preocupantes da estratégia ministerial de enfrentamento da epidemia de gripe A.

Em primeiro lugar, o MS definiu sua estratégia de vacinação com base em “grupos de risco”. Quando se trata de uma doença de contágio universal, é difícil falar em suscetibilidade para adquiri-la, pelo que o grupo do qual se fala é de risco para um evento grave, no caso, morrer da doença. Acontece que os óbitos são a ponta do iceberg de qualquer epidemia e, como até os pinguins sabem, não são indicativo do seu tamanho abaixo do nível da água. Para conhecê-lo precisa-se de outros indicadores, os quais não consta que tenham sido pesquisados.

A principal justificativa para o equívoco estratégico é que foram usados os dados da OMS. De fato, não é a primeira vez que os técnicos do MS afirmam que apenas seguiram as orientações dessa agência internacional de saúde que, por definição, lida com dados globais. Inevitavelmente me pergunto se não deveríamos substituir todos os técnicos do MS por tradutores, que não esquecerão das observações constantes de toda nota técnica da OMS, de que a aplicação das propostas ali contidas deve respeitar as especificidades locais, regionais e nacionais.

Mas o mais chocante da matéria de ZH é aquilo que toda a cidadania gaúcha constatou empiricamente: se com o aporte “extra” de doses se fecharia a taxa de vacinação de 80%, então as 500 mil iniciais só cobriram a metade dos indivíduos identificados como sendo de risco para morrer de gripe A. Ou seja, estratégia equivocada com logística insuficiente só pode terminar em guerra perdida, e com baixas evitáveis.

Portanto, não é preciso investigar os casos graves e os óbitos para mudar as estratégias, a não ser que o MS conte com a seleção natural a seu favor. De fato, as investigações das mortes parecem ter outro objetivo: identificar os casos que “não receberam o Tamiflu a tempo”. Ou seja, terceirizar a responsabilidade e atribuir aos médicos a demora em prescrever, ou aos pacientes a demora em procurar assistência. Afinal, as mortes não teriam ocorrido por falta de vacina, mas por erros da OMS, de médicos e de pacientes.

Não precisa ser médico para reconhecer o absurdo técnico, econômico e humano de estocar medicamento para tratar uma doença prevenível por vacina, disponível e mais barata. Portanto, a estratégia se chama vacinação universal. O resto é tentativa absurda de justificar o injustificável.*MÉDICO, PROFESSOR DE CRIMINALÍSTICA E MEDICINA LEGAL DA FACULDADE DE DIREITO DA UFRGS

GRIPE A: PREVENÇÃO E TRATAMENTO

ZERO HORA 17 de julho de 2012 | N° 17133. ARTIGOS

Ciro Simoni*


O enfrentamento da gripe A depende de uma arma fundamental: informação. E são duas as informações que precisam chegar a todos os gaúchos e gaúchas: 1) a prevenção é essencial para diminuir a circulação do vírus e 2) o tratamento é capaz de evitar o agravamento dos casos, quando feito no início dos sintomas. É preciso mudar a cultura de tratar a gripe em casa com chá e automedicação. Ao sinal de febre, dor de garganta e dor de cabeça, nas articulações, ou muscular, procure atendimento médico.

“E a vacina? Por que não é para todos?” são perguntas que tenho ouvido. No Brasil, a aquisição de vacinas é centralizada pelo Ministério da Saúde, que alega que não há produção suficiente de doses para vacinar todas as pessoas. Nesse contexto, imunizamos as pessoas com mais chances de evoluir para casos graves. Agora, o nosso empenho é para evitar o agravamento de qualquer caso e, para isso, repito: “Prevenção! Tratamento!”.

A Organização Mundial da Saúde decretou em 2010 o fim da pandemia e início da fase pós-pandêmica da doença, indicando que o vírus H1N1 se manteria em circulação, apresentando comportamento de vírus sazonal. Portanto, a circulação do vírus não se caracteriza como uma situação atípica no cenário do inverno gaúcho, o H1N1 é agora mais um agente, entre vários, que causam doenças respiratórias agudas. Assim, a prevenção e o tratamento não combatem somente a gripe A, mas também outras doenças que podem levar a complicações.

Quando as notícias sobre a ocorrência de casos graves e, infelizmente, de óbitos surgem, a pergunta que devemos fazer é: esses casos poderiam ser evitados caso o tratamento fosse iniciado a tempo? Na maioria das vezes, a resposta é sim. A orientação da Secretaria Estadual da Saúde é clara aos médicos: toda suspeita de gripe deve ser tratada, antes mesmo da confirmação do tipo de vírus, de preferência nas primeiras 48 horas dos sintomas. O antiviral Oseltamivir, de nome comercial Tamiflu, está disponível em todos os municípios do Estado e pode ser prescrito tanto por médicos do SUS como particulares, com a dispensação gratuita garantida pela rede pública.

E as medidas de prevenção de que falei no início são, na verdade, hábitos simples: lavar as mãos com frequência, especialmente após tossir ou espirrar, utilizar lenço descartável para higiene nasal e cobrir nariz e boca quando espirrar ou tossir, ventilar os ambientes e evitar visitas a hospitais. Os gripados, além de procurar atendimento, devem evitar o convívio social, especialmente locais públicos fechados. Adote essas atitudes, previna-se e pare de espalhar a gripe.

*SECRETÁRIO ESTADUAL DA SAÚDE

segunda-feira, 16 de julho de 2012

DESCASO E BUROCRACIA: APARELHOS NOVOS, MAS SEM USO

 
ZERO HORA 16 de julho de 2012 | N° 17132

BUROCRACIA NA SAÚDE. Há equipamentos para realização de exames encaixotados no Hospital Universitário de Santa Maria há mais de um ano

MARCELO MARTINS | Diário de Santa Maria

Com aparelhos de alta tecnologia, o Hospital Universitário de Santa Maria (HUSM) poderia ter uma realidade que destoasse de muitos hospitais públicos do Rio Grande do Sul. O problema é que os equipamentos estão encaixotados diante da burocracia e da demora na realização de obras na estrutura do hospital, que atende pacientes de 44 municípios da região.

Estão parados um acelerador linear (desde o início do ano passado) e equipamentos de ressonância magnética e tomografia (desde o primeiro trimestre deste ano). Vários fatores, explica o coordenador de obras e de planejamento da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), Edison Andrade da Rosa, causam o atraso: morosidade na liberação dos aparelhos pela União, tramitação lenta de projetos e licitações e falta de mão de obra.

– Isso que os aparelhos foram comprados antes mesmo de se ter uma previsão de obras – avalia Rosa.

O diretor administrativo do hospital, João Batista de Vasconcellos, destaca que a direção do Husm tem se empenhado para acelerar o processo, mas admite que não é tão simples. Ele também ressalta que a estrutura do prédio, construído na década de 1960, é limitada.

– A pressa do paciente é a mesma nossa – resume Vasconcellos.

Para oferecer exames de ressonância magnética, segundo o diretor, é preciso que a vigilância sanitária aprove o projeto de instalação do equipamento. Até lá, o jeito é manter o convênio firmado em 2008 com um laboratório particular.

– O atendimento de radioterapia e tomografia também são feitos em meio às limitações existentes – avalia Vasconcellos.

Pacientes que tenham de se submeter a exames como o de ressonância magnética, por exemplo, são encaminhados a Santo Ângelo, por meio da 4ª Coordenadoria Regional de Saúde, ou para Porto Alegre, via Consórcio Intermunicipal de Saúde.


Duas décadas de espera por exame

Em 1992, o assistente de obras Alcindo Ventura Farias, 46 anos, rompeu a patela do joelho esquerdo. Na época, ele diz ter procurado ajuda no Pronto-Socorro do Husm e recorda que o médico o orientou a passar por uma cirurgia. Antes, teria de se submeter a exame de ressonância magnética. A espera já dura 20 anos.

A situação se agravou em 2005, quando ele teve problemas no joelho direito, e, em 11 de junho deste ano, fez exame nele. Farias, no entanto, tem requisição de um médico, de 18 de abril, que pede exame dos dois joelhos. Segundo o secretário de Saúde de Santa Maria, Flávio Brum, a situação já foi normalizada, e Farias fará, em Santo Ângelo, neste mês, o exame no joelho que mais precisa: o esquerdo.


Alto investimento:
Juntos, os três equipamentos parados custaram mais de R$ 3,9 MILHÕES   

GRIPE A: TRATAMENTO TARDIO

ZERO HORA 16 de julho de 2012 | N° 17132

FOCO NO TRATAMENTO

 

Mortos em SC tiveram tratamento tardio


Dados preliminares do inquérito realizado pelo Ministério da Saúde e pela Diretoria de Vigilância Epidemiológica (Dive) de Santa Catarina apontam que, entre 28 vítimas de gripe A no Estado, metade teve tratamento tardio.

O resultado faz parte da pesquisa, iniciada em 18 de junho, que pretende fornecer um perfil dos primeiros mortos pela gripe A neste ano. SC lidera o ranking de mortes pela doença no país. Das 148 mortes registradas pelo Ministério da Saúde até o último dia 10, 52 foram no Estado.

O levantamento em parceria com o Ministério da Saúde sinalizou que 50% dos pacientes em questão tomaram o antiviral Oseltamivir mais de cinco dias após o início dos sintomas. O acesso rápido ao remédio conhecido comercialmente pelo nome Tamiflu pode evitar agravamento dos casos e a ocorrência de mortes. O diretor da Dive, Fábio Gaudenzi de Faria, atribui o tratamento tardio a dois fatores: à demora na busca por atendimento pelos pacientes e a não-prescrição de medicamento pelos profissionais da saúde.

– Ou essas pessoas não chegaram ao tratamento em tempo hábil, por acharem que não era grave, ou já tinham sido avaliadas e quem as atendeu não prescreveu medicação por achar que não fosse necessário – destacou Fábio.

A análise apontou ainda que, entre os mortos pela enfermidade, 85% tinham doenças crônicas, como obesidades e diabetes, e não tinham sido vacinados. As principais doenças identificadas foram cardiopatias, pneumopatias, obesidade e diabetes, principalmente entre homens de 40 a 59 anos.
Hora da segunda dose
Crianças com idade entre seis meses e dois anos que foram imunizadas pela primeira vez este ano contra a gripe A devem retornar aos postos de saúde para receber a segunda dose da vacina. O alerta é do pediatra e presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações, Renato Kfouri. Ele explica que o intervalo ideal entre a aplicação da primeira e da segunda dose é 30 dias, mas ressalta que quem já completou 45 ou mesmo 60 dias ainda deve procurar receber o reforço.
– A segunda dose garante uma proteção adequada. Uma dose somente, aplicada nas crianças e quando se trata da primeira vez, não é suficiente para uma proteção adequada – reforçou.

domingo, 15 de julho de 2012

MINHA AMIGA MORREU DE GRIPE

ZERO HORA 15 de julho de 2012 | N° 17131. ARTIGOS

Flavio Pechansky, Psiquiatra


Não – a frase acima não foi dita por um pobre camponês da Idade Média, com desconhecimento dos fatos, iletrado, sem dentes, e que convivia com as pragas e pestes de uma forma passiva, pois sua expectativa média de vida era de aproximadamente 27 anos. À época não havia cura para a maioria das doenças, e morrer de gripe espanhola ou de outras pestes era a regra para uma população que vivia pouco e em condições sanitárias inaceitáveis para os padrões atuais. A frase foi dita por um médico de classe média, que mora em uma grande metrópole, com acesso direto aos serviços de saúde e informação disponíveis. Ontem foi enterrada mais uma vítima da gripe A no nosso Estado – desta vez muito perto de nós. Atendida pelas melhores e mais dedicadas equipes, em um ambiente hospitalar de alto nível, nossa amiga – que era alegre e saudável – não pertencia a nenhum “grupo de risco”, pois não era idosa, doente ou imunodeprimida. O impacto em todos é brutal – e este é o cenário sobre o qual precisamos nos debater. A gripe A não é um fenômeno distante, que atingirá pessoas parecidas ao camponês da Idade Média. Ela é um fenômeno recorrente, com data marcada para acontecer, como as enchentes dos meses de verão no Rio de Janeiro, ou qualquer acidente de trânsito com bebida alcoólica – pode em grande parte ser prevenida. Desta forma, em vários aspectos, a gripe A é passível de ter seu impacto antecipado e – se não totalmente impedido – minimizado.

Sou um profissional de saúde que lida com elementos de prevenção pública (abuso de drogas e comportamentos de risco no trânsito). Como pessoalmente não acredito em campanhas pontuais, mas sim em movimentos endêmicos e sistemáticos de informação sobre saúde, o que posso fazer é informar meu círculo pessoal – amigos, colegas, pacientes, familiares – sobre a importância da vacinação e dos cuidados de proteção, buscando ser uma “pessoa de prevenção”. Ou quando possível, através de veículos de mídia, procurar fazer com que as pessoas reflitam sobre fatos que estão à nossa volta. As filas em postos de saúde e a corrida desenfreada às clínicas particulares de vacinação demonstram o quanto a epidemia de gripe foi pouco antecipada por todos nós. De fato – vários amigos esclarecidos e muito próximos não haviam percebido a necessidade de imunização –, talvez por se acharem distantes do camponês da Idade Média e protegidos pelas paredes do castelo. Engano catastrófico. Nossa amiga foi enterrada em meio a uma epidemia – semelhante ao que foi descrito pelos diários da peste bubônica em Londres – quando a rapidez da evidência superava a velocidade da informação e da prevenção. No momento em que ela morre e deixa um vazio inimaginável entre nós, ingressando para o mundo das estatísticas frias da saúde pública, ela agora é um número. Para nós, uma perda incalculável e que nos obriga a refletir sobre nossas práticas individuais no sentido preventivo – seja desta ou de qualquer outra doença. Minha amiga morreu de gripe. Que seu falecimento nos obrigue a repensar sobre as práticas individuais e coletivas.

quinta-feira, 12 de julho de 2012

MAIS VERBAS PARA SANEAMENTO BÁSICO

CORREIO DO POVO - PORTO ALEGRE, QUINTA-FEIRA, 12 DE JULHO DE 2012

EDITORIAL

Já está bem assentado o entendimento de que uma boa política pública de saúde não pode prescindir da prevenção, ou seja, da disponibilização de serviço e de atendimento que impeçam que as pessoas fiquem doentes. Isso é bom não somente para o cidadão, que terá sua saúde preservada, como também para o Erário, que não será compelido a despender verbas para enfrentar enfermidades que poderiam já ter sido debeladas.

Uma dessas medidas preventivas, sem dúvida nenhuma, é a melhoria do saneamento básico, visando disseminar com universalidade a água potável e a coleta de esgoto. Só assim, com cada família tendo condições de se proteger contra bactérias e outras contaminações, será possível diminuir drasticamente o número de moléstias que afetam os brasileiros.

Em face dessa necessidade de melhorar as condições de habitabilidade nas residências, vem em boa hora o anúncio de que o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) vai financiar projetos de saneamento básico em quatro estados da federação, Ceará, Bahia, Paraná e Rio Grande do Sul. São verbas e projetos que integram o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Ao todo, serão alocados R$ 415 milhões. Desse montante, a maior parte, de R$ 220,1 milhões, será emprestada para a Companhia Riograndense de Saneamento (Corsan). A previsão é que aproximadamente 450 mil pessoas sejam atendidas em 11 municípios do Rio Grande do Sul. A Empresa Baiana de Águas e Saneamento (Embasa) receberá R$ 85,2 milhões; a Companhia de Saneamento do Paraná (Sanepar), R$ 81,5 milhões; e a Companhia de Água e Esgoto do Ceará (Cagece), R$ 28,4 milhões. Serão gerados cerca de 10 mil empregos diretos, temporários e indiretos, nos quatro estados.

O convênio firmado entre o BNDES e os estados assegura que obras fundamentais sejam realizadas para melhorar a saúde coletiva de um grande contingente de pessoas. O poder público precisa fazer a sua parte para que todos tenham uma vida saudável e produtiva.

SUPERLOTAÇÃO DAS EMERGÊNCIAS


ZERO HORA 12 de julho de 2012 | N° 17128. ARTIGOS

Fernando Weber Matos
Vice-presidente do Cremers


Os médicos costumam dizer que, uma vez feito o diagnóstico, é possível fazer o tratamento. O diagnóstico das causas da superlotação das emergências já está feito por todos os gestores, conforme se constata seguidamente nos meios de comunicação. Segundo eles, a população deve mudar sua cultura e procurar atendimento nos serviços de medicina de família, postos de saúde e pronto-atendimentos (UPAs).

O problema é que existem poucas equipes de medicina de família concursadas e trabalhando efetivamente em todo o Estado. Os postos de saúde em geral funcionam apenas durante o dia e aqueles que têm plantão não apresentam, na maioria das vezes, clínicos e pediatras com as condições adequadas para tratamento e investigação básica de exames de laboratório e raio X.

A sabedoria popular percebe esta realidade. Não é uma questão cultural, é a necessidade. Enquanto esse quadro não for alterado, as pessoas doentes irão para as emergências dos hospitais.

Os gestores asseguram que 80% dos pacientes que superlotam as emergências apresentam doenças sem maior gravidade e sem risco de vida, sendo triados e colocados em salas de espera em que aguardarão durante muitas horas por um atendimento médico. É fundamental dizer que, para um paciente, a doença – sua ou de um familiar – sempre deve ser tratada com prioridade e rapidamente, não importando se a classificação é de baixa gravidade.

A espera angustiante aumentará sua ansiedade e agressividade. Quando vamos ao banco, com filas enormes e caixas fechados, diagnosticamos de imediato que há falta de pessoal. Eventualmente cobramos dos atendentes, mas acabamos reclamando mesmo é do gerente do banco. De maneira similar, de nada adianta brigar ou agredir quem está atendendo, médico ou outro profissional da saúde, mas sim procurar os verdadeiros responsáveis por essa situação.

Essa demora no atendimento de pacientes sem maior gravidade deve-se à falta de médicos e da disponibilização dos resultados de exames básicos, que fariam o médico orientar, medicar e prescrever, dando alta e indicando, é claro, a reconsulta para acompanhamento até a cura.

Outro aspecto é a falta de locais para encaminhamento desses pacientes, o que explica por que muitas vezes ficam “baixados” nas emergências, em observação. A verdade é que as doenças sem maior gravidade, que são a maioria, necessitariam de um número maior de médicos para o atendimento. No entanto, o pagamento feito pelo SUS por procedimentos simples é insignificante – por que não dizer, simbólico –, razão pela qual os hospitais não contratam médicos e outros profissionais para esse serviço.

O Cremers, em resolução específica baseada nas determinações do Ministério da Saúde, estabeleceu a relação mínima entre número de médicos e pacientes com ou sem gravidade. Os gestores hospitalares municipais e estaduais e órgãos de fiscalização ignoram essa determinação técnica. De um lado, os hospitais lutam por melhor remuneração dos procedimentos; de outro, os gestores públicos, para não pagar; e quem deveria fiscalizar e exigir não enfrenta o problema.

O diagnóstico da crise está feito. As soluções para a superlotação das emergências dependem de financiamento civilizado e digno, passando por muita vontade política e um mínimo de visão técnica.


COMENTÁRIO DO BENGOCHEA  - Também é questão de "cultura" os hospitais reservarem pouco espaço, médicos e leitos para as emergências. Esta na hora de exigir hospitais públicos com amplo espaço para tratamento de emergência, postos de saúde fixo e móveis funcionando 24 horas e ampliação do programa saúde da família.

segunda-feira, 9 de julho de 2012

FALHAS NA SAÚDE

ZERO HORA 09 de julho de 2012 | N° 17125

EDITORIAL


A coincidência entre a superlotação das emergências em grande parte dos hospitais gaúchos, particularmente nos maiores centros urbanos, e o alerta devido ao recorde de casos de gripe A chamam a atenção para a necessidade de o poder público acelerar providências até agora relegadas a um segundo plano. Saúde, particularmente, é uma área na qual, sempre que as medidas preventivas falham, os danos se mostram sérios demais. Em consequência, o poder público e a sociedade acabam arcando com um custo muitas vezes insuportável, sob o ponto de vista humano e financeiro, embora perfeitamente evitável se as providências necessárias tivessem sido tomadas no devido tempo.

No caso da gripe A, o fato de as vacinas estarem restritas hoje na rede pública e limitadas nas clínicas privadas reforça a importância da mobilização dos prefeitos. Dirigentes da Federação das Associações de Municípios (Famurs) estarão inclusive reunidos hoje para traçar estratégias locais, juntamente com autoridades estaduais. Como é impossível imunizar toda a população, providências simples mas eficazes precisam ser apressadas para conter a disseminação do problema. A preocupação é ainda mais relevante no caso de creches e turmas de educação infantil.

O drama imposto por falhas na vacinação, que precisam ser corrigidas, não deve ocultar o registrado cotidianamente nas emergências hospitalares. Até porque já há novos problemas pela frente, com a superlotação também em unidades de Pronto-Atendimento (PAS), vistas como alternativa para evitar a sobrecarga nas emergências hospitalares.

Mais uma vez, o recrudescimento de problemas previsíveis como esses chama a atenção para a importância de o poder público procurar se antecipar permanentemente aos fatos em áreas como saúde pública. Se a sociedade for orientada adequadamente para se unir a esse esforço coletivo, os resultados tendem a se mostrar mais promissores.

NOSSOS DOENTES MERECEM RESPEITO

ZERO HORA 09 de julho de 2012 | N° 17125. ARTIGOS

Noêmia da Silva Lopes, advogada e cientista política


Na edição do dia 5/7/12, Zero Hora, em reportagem de duas páginas, retrata bem o que acontece nos hospitais públicos, por culpa de anos de má gestão de “muquiranas” no poder, como disse David Coimbra em sua coluna outro dia. E é verdade. Em decorrência da ineficiência, do descaso, da incompetência absoluta chegamos ao ponto de hoje no sistema de saúde. Sabemos todos que, tanto quanto os doentes que agonizam pelos corredores, esse sistema necessita de tratamento, mas não com métodos de aplicação de mero paliativo, para ali adiante voltar, talvez em estado pior que o atual. Precisamos de soluções buscadas por pessoas capazes, comprometidas com o atendimento de desvalidos, doentes, desde crianças em tenra idade até aqueles de idade avançada, que se encontram deitados no chão dos corredores dos hospitais ou sustentando o corpo alquebrado pela doença em uma cadeira de rodas. Sem local para tomar sequer um banho quente ou fazer suas necessidades fisiológicas. Com seu quadro de dor e miséria exposto a quantos transitam por aqueles locais de atendimento dos hospitais que atendem pelo SUS.

Quem sabe venha a solução da tal Comissão da Verdade, criada pelo governo para apurar fatos do passado, sem que se visualize resultado outro que não aquele de originar mais gastos aos cofres públicos, com o pagamento de indenizações aos “perseguidos” do regime de exceção que vigorou no país, sem culpa da esmagadora maioria dos cidadãos de bem, que hoje têm que ajudar a pagar indenizações milionárias a quem dela não necessita, pois estão muito bem, obrigado, grande parte integrando os poderes da República. Quem sabe nos insurgimos ao menos uma vez contra este estado de coisas deploráveis que está acontecendo em nosso país e nosso Estado e conseguimos mudar o rumo investigativo da tal Comissão da Verdade e ela passe, então, a procurar os culpados pelos desmandos, pela ineficiência, pela má gestão dos serviços públicos. E assim vamos também economizar com o não pagamento das indenizações cujo valor servirá para ajudar a resgatar, um pouco que seja, a dignidade e respeitar um mínimo dos direitos humanos de nossos pobres doentes.

sábado, 7 de julho de 2012

SAÚDE NO TOPO DA LISTA




ROSANE DE OLIVEIRA - PÁGINA 10, ZERO HORA, 07/07/2012


O tema que mais atenção mereceu dos sete candidatos a prefeito de Porto Alegre no debate da Rádio Gaúcha e TVCOM foi o mesmo que figura no topo das preocupações dos eleitores: a saúde pública.

Por estar no poder, o prefeito José Fortunati (D) foi cobrado pelos problemas de falta de leitos e das filas nos postos e gastou a maior parte do tempo falando sobre o que a prefeitura está fazendo para diminuí-los.

As cobranças mais incisivas vieram de sua adversária direta, a deputada Manuela D’Ávila, que em sua primeira intervenção trouxe para o debate o tema da segurança pública, ressuscitando uma declaração de Fortunati de que a responsabilidade era do governo estadual.

Manuela, que por pelo menos três vezes defendeu a colocação de um guarda municipal em cada escola, prometeu o cercamento eletrônico de parques e a criação de uma central de monitoramento, duas medidas que já tinham sido anunciadas por Fortunati.

Com tantos candidatos de esquerda e de centro-esquerda, coube a Wambert Di Lorenzo (PSDB) o papel de defensor do mercado. O tucano disse que se orgulhava de ser do mesmo partido da ex-governadora Yeda Crusius e de líderes como Aécio Neves, José Serra e Fernando Henrique Cardoso.

Por ser o primeiro confronto, o debate mostrou que os candidatos ainda estão tateando em busca do tom mais adequado. O principal saldo positivo foi a forma respeitosa como os adversários se trataram e a apresentação de propostas para a solução de problemas reais da cidade, como transporte público, falta de creches, trânsito e o destino do lixo.

A NOTÍCIA:

PRIMEIRO ROUND. Estreia com ataques e propostas. Os sete candidatos à prefeitura da Capital participaram do debate inaugural da campanha, promovido por Rádio Gaúcha e TVCOM

CARLOS ROLLSING 

No terceiro piso da Câmara de Vereadores, tendo como pano de fundo uma vidraça que deixava à vista copas de árvores castigadas pela chuva que caía forte, os sete candidatos à prefeitura de Porto Alegre debateram ontem o futuro da cidade. O primeiro encontro entre os postulantes – transmitido por Rádio Gaúcha e TVCOM –, também teve momentos de tensão, ataques e acusações, expondo a estratégia inicial de cada um.

Durante os quatro blocos de perguntas e respostas, Adão Villaverde (PT), Érico Correa (PSTU), Jocelin Azambuja (PSL), José Fortunati (PDT), Manuela D’Ávila (PC do B), Roberto Robaina (PSOL) e Wambert Di Lorenzo (PSDB) focaram o discurso em saúde, segurança, educação e mobilidade urbana.

Candidato à reeleição, Fortunati foi o mais atacado. Teve de responder pelo recente fechamento de postos de saúde em meio a um feriadão. Com menos intensidade, foi fustigado também por ataques à política de segurança.

– A lei manda investir 15% em saúde, mas aplicamos 21% – afirmou o pedetista, que destacou também a ampliação do Programa de Saúde da Família (PSF) e a reabertura de leitos do SUS.

Manuela D’Ávila (PC do B) não poupou Fortunati de críticas nos temas mais sensíveis – saúde e segurança –, mas, seguindo uma linha moderada, não deixou de manifestar disposição para dar continuidade a projetos “bem sucedidos”, como o Programa Integrado Socioambiental (Pisa). A candidata tratou de valorizar a parceria com a senadora Ana Amélia Lemos (PP).

– Tenho muito orgulho disso. A senadora reconheceu o nosso projeto para a cidade – comentou.

Adão Villaverde (PT) procurou colar sua imagem nas gestões Tarso e Dilma. Repetiu várias vezes que integra o partido de ambos e disse ter falado com ministros para incluir propostas no seu plano de governo. Também valorizou a experiência de 16 anos do PT à frente da prefeitura e disse que, nos últimos oito anos, a cidade “retrocedeu”.

Villaverde, porém, não escapou de críticas: por ter governado a Capital por quatro mandatos, o PT foi responsabilizado por problemas da cidade .


quinta-feira, 5 de julho de 2012

RN DECLARA CALAMIDADE NA ÁREA DA SAÚDE

FOLHA.COM 05/07/2012 - 12h10

Governo do RN decreta calamidade pública na área da saúde



O governo do Rio Grande do Norte decretou estado de calamidade pública nas unidades de saúde do Estado.

A decisão da governadora Rosalba Ciarlini (DEM) foi publicada nesta quinta-feira (5) no "Diário Oficial" e permite a contratação emergencial de "quaisquer serviços e bens disponíveis, [...] com vistas ao reestabelecimento da normalidade no atendimento aos serviços de saúde pública".

O decreto, que tem validade de 180 dias, prevê reforma e ampliação de hospitais no Estado, criação de leitos e compra de medicamentos.

A medida ocorre em meio a uma greve de médicos e servidores que já dura mais de 60 dias.

Na semana passada, o Conselho Regional de Medicina entrou com ação contra o governo estadual pelas condições do Hospital Monsenhor Walfredo Gurgel, criticando o "caos instalado no maior hospital público do Rio Grande do Norte".

O conselho pediu que o governo pague indenização de R$ 1 milhão por dano moral.

A SAÚDE NA UTI

 
ZERO HORA 05 de julho de 2012 | N° 17121. ARTIGOS

Vinícius de Melo Lima - Promotor de Justiça de Torres/RS


A condição humana de milhares de pessoas aguardando vagas para internação nas UTIs aponta a gravidade dos problemas afetos à área de saúde pública no Estado do Rio Grande do Sul. Tal quadro se agrava ainda mais quando em jogo está o direito à vida de recém-nascidos e crianças que precisam de vagas em UTIs neonatal (até 30 dias de vida) e pediátrica. Há um distanciamento perigoso entre a previsão constitucional de prioridade absoluta e o cenário das ruas que bate nas portas das Promotorias de Justiça.

Em casos-limite, sequer há a possibilidade de aquisição de leitos particulares por parte do Estado, diante da ausência de vagas para internação, tanto na UTI neonatal quanto na pediátrica. Em dolorosa experiência vivenciada pelo signatário no dia 2 de julho de 2012, diante do relato de um pai desesperado em face da ausência de UTI pediátrica na Comarca de Torres, o Ministério Público ingressou com demanda em juízo postulando a imediata transferência da criança para um hospital com UTI pediátrica no Estado. Todavia, a alegação foi sempre a mesma – “não há vagas” –, sendo que os entes públicos (município e Estado) e a instituição hospitalar local, após idas e vindas, alcançaram a internação do infante em UTI pediátrica tão somente em outro Estado da Federação, mais precisamente na cidade de Tubarão, Santa Catarina.

Das ilusões perdidas (Balzac) temos que avançar para a adoção de medidas concretas, tais como, por exemplo, o aforamento de uma ação civil pública contra o Estado do Rio Grande do Sul, postulando o redirecionamento de verbas públicas em favor da saúde, que agoniza e pede socorro! Não faltará argumento calcado no mito fatalista do dado ou na falácia realista (“as coisas não mudam, são assim mesmo”). Se os direitos são trunfos contra a maioria (Dworkin), a saúde precisa ser levada a sério em nosso Estado, diante do inequívoco défice de concretização dos direitos fundamentais. Evidente que a solução consensual pode (e deve) ser tentada, mas o consenso não significa a verdade, e não pode em momento algum implicar renúncia a direitos fundamentais.

Assim, é preciso tirar a saúde da UTI, devolvendo esperança a incontáveis famílias que carecem de uma sensibilização e um agir transformador por parte do Estado do Rio Grande do Sul, sendo o Ministério Público parceiro fundamental na luta pela defesa dos interesses prioritários de crianças e adolescentes.


COMENTÁRIO DO BENGOCHEA - Na minha opinião, o Ministério Público não é "parceiro fundamental na luta pela defesa dos interesses prioritários de crianças e adolescentes", mas uma instituição permanente incumbida da defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis (artigo 127 da constituição federal). E se um direito fundamental como a saúde, de interesse social e individual, está há muito tempo sendo indisponibilizada ao povo brasileiro e sendo tratada com descaso, negligência e desvios de verbas, que motivos estão impedindo o Ministério Público de agir contra os verdadeiros responsáveis? O MP não pode ser parceiro da indignação popular, mas instrumento de defesa com autonomia, independência e salários condizentes para agir de pronto em defesa do povo e da ordem jurídica e social. E este povo não precisa de oratória, mas de ação imediata e coativa das instituições democráticas que existem para denunciar e aplicar a lei. E todos sabem que são os responsáveis pelo caos na saúde. Médicos, agentes de saúde e seguranças dos hospitais não são os culpados. O problema é a falta de coragem da justiça em denunciar, processar, julgar, punir e tirar os direitos políticos dos verdadeiros culpados.

AGONIA INTERMINÁVEL

ZERO HORA 05/07/2012 | 03h27

Pacientes esperam mais de 38 horas por diagnóstico em emergência da Capital. ZH acompanha o calvário de pacientes que buscam atendimento no Hospital de Clínicas


Fernando Graf Souto passou quatro dias sendo tratado em uma cadeiraFoto: Jean Schwarz / Agencia RBS
Kamila Almeida

Hospitais têm se tornado ambientes cada vez mais insalubres. Há corredores apinhados de gente e cadeiras já planejadas para virar leitos. E, mais do que indignação, o que assusta para quem vê de fora é o olhar de resignação dos pacientes. A maioria ainda dá graças a Deus por ter atendimento.

Em comum, o medo de falar mal do local que os acolheu. Criticam, de forma genérica, o sistema de saúde e as más condições de instalação. De resto, com raras exceções, se rasgam em elogios à equipe do Hospital de Clínicas de Porto Alegre – a segunda maior emergência do Estado, local que ZH escolheu para acompanhar o atendimento na noite de terça-feira, entre as 19h e as 23h.

Mesmo lotada, a instituição se nega a fechar as portas, sob pena de obrigar pacientes considerados menos graves a virar a noite à espera de uma consulta, como no caso da aposentada Rosa Mariza Tigre, 64 anos, e do servente de obras Cristian Evandro da Costa Rodrigues, 34 anos, que passou mais de 38 horas sem um diagnóstico para a febre e falta de ar.

A precariedade do sistema de saúde não incomoda apenas os pacientes, mas os funcionários. A supervisora de Enfermagem, Claudia Nery, reconhece a barafunda:

— Tem acontecido de pacientes ficarem dias na emergência, serem tratados e receberem alta dali mesmo. A situação é dramática, afeta os ânimos de todos. Mas temos a política de não fechar as portas. Bem ou mal, aqui todos recebem atendimento.

Demora

Com diagnóstico de pneumonia bacteriana e suspeita de Gripe A, Fernando Graf Souto, 27 anos, passou quatro dias sendo tratado em uma cadeira do anexo 8 do Hospital.

Nem chegou a ser internado de verdade e já recebeu alta para completar o tratamento em casa.

Atravessado no banco, preso ao soro, Fernando cochila encostado em uma parede. Nada de cobertor, colchão ou travesseiro.

O repouso que a doença requer nem de longe é respeitado. A dor nas costas, causada pela pneumonia, deu lugar ao desconforto pela posição que encontrou para descansar.

Esta foi a primeira vez que Fernando precisou de uma emergência médica. Não tinha nem cadastro no Sistema Único de Saúde (SUS). Acompanha pelos noticiários o caos na saúde, precisou tratar da febre alta, dor no corpo e dificuldade para respirar. Pôde vivenciar o infortúnio.

Sofrimento

Aos 33 anos, Vilmar Nunes Veloso Filho precisou largar o emprego de gari para cuidar da saúde do pai de 73 anos, de quem herdou o nome. Seu Vilmar descobriu um tumor na próstata há seis anos. O longo tratamento fez a família conhecer bem o drama das emergências.



O idoso passou pelo tratamento do câncer no Hospital Conceição. Precisava começar as sessões de quimioterapia. O município de Alvorada, onde moram, disse que o Conceição não poderia recebê-lo imediatamente.

Foram encaminhados ao Clínicas. Às 17h de terça-feira, Seu Vilmar foi avaliado por um médico de outra equipe de oncologia. O filho teme que o tratamento seja prejudicado.

A aparência esquálida de Vilmar que não tem fome nem sede gerou a necessidade da internação. Enquanto aguarda uma resposta sobre o leito, no corredor, Vilmar Filho mira o pai com o olhar perdido, acaricia-lhe a cabeleira vasta e esbranquiçada. A tiracolo, uma pastinha azul contendo os documentos que resumem a vida do pai nos últimos anos.

O paciente, que em casa dorme com dois travesseiros, se contenta com camisa dobrada suportando a cabeça. Enquanto aguardava, de pé ao lado da maca, o filho sofria com dor de cabeça e náusea:

— Mas não vou nem arriscar pedir remédio. Vão me mandar consultar e vou ter de passar por todo esse martírio.

Resignação

Depois de esperar dois dias por um leito em uma cadeira na emergência do Clínicas, uma crise de falta de ar aguda foi o empurrãozinho para que Letícia Reis Menezes, 35 anos, subisse um degrau na escala da dignidade na sexta-feira passada.



Em uma maca, bem posicionada em frente ao setor de enfermagem, passou a contar as horas para ter um quarto. Três dias depois, quando as crises foram reduzidas e já não precisava mais do tubo de oxigênio, passou a ficar estacionada em um corredor mais afastado, até com uma certa privacidade.

A voz fraca ela não usa para reclamar. Está segura de que terá, enfim, encaminhamento para tratar sua doença: miocardiopatia, adquirida no pós-parto, em 2006, quando a filha Isabela nasceu.

— Me sinto aliviada por estar, de uma certa forma, assistida. Quero sair daqui curada. É só o que eu peço — diz.

O diagnóstico de cinco anos atrás Letícia recebeu no Hospital São Lucas da PUCRS. Lá, fez todo o tratamento. Só que vinha se sentindo mal há meses.

— Meu marido e eu resolvemos procurar o Clínicas. Aqui soubemos que a minha situação era gravíssima — explica.

Enquanto aguarda a liberação de um quarto, evita pensar na filha que deixou em casa, na doença e na pouca privacidade e no mínimo de conforto que a maca lhe permite.

Castigo
Ana Carolina Castro da Silva tem 10 anos, 1m49cm, 50 quilos, mas já é habitué da emergência pediátrica do Clínicas. Desta vez, chegou ao hospital no domingo. Sentada na cama, vestindo uma blusa rosa com o slogan do hospital, cujas mangas disfarçam os fios de soro enrolados na mão esquerda, Ana pergunta:



— Tia, já liberou o meu quarto?

Fecha a cara diante da negativa. Espera a próxima enfermeira passar e questiona.

Faz isso dezenas de vezes por dia. Ao avistar a repórter com bloco e caneta na mão, analisa, e divide a dúvida:

— Tia, tu é assistente social? É tu que vai me conseguir um quarto?

É muito difícil para Ana, cujo nome a equipe técnica já sabe de cor. O desejo é subir para um quarto e ficar próximo à recreação do hospital. Ali onde está, amontoada entre outras crianças, só resta a TV e o tédio – para agonia da mãe Eni, 38 anos.

A menina tem mastoidite, uma infecção crônica no ouvido e, desde bebê, convulsões que fazem Eni despencar da Vila Safira, onde moram, para o hospital pelo menos oito vezes por ano.

Ana aguarda um leito para que possa fazer uma cirurgia no ouvido direito. Enquanto isso, Eni vira a noite em uma cadeira plástica, ao lado da maca. Carrega uma dor na coluna pela década de vigília.

— Fico de castigo. Dou um pulinho em casa para trocar de roupa e tomar banho vez ou outra. Fazer o quê? — resigna-se.

Alternativa

O olhar pidão de Kayky, seis anos, aflige Fabiane Cardoso Gomes, 33 anos. A febre de 39°C não cede, a falta de ar é insistente e o olhar desatina a diarista, que sofre com as crises de asma do caçula.



Está exausta da burocracia do sistema de saúde. Faz tudo certinho. Sabia que, na verdade, apesar de parecer grave para ela, o quadro de Kayky não precisaria de atendimento hospitalar. Poderia ter sido resolvido em um posto de saúde, mas cadê o médico?, questiona Fabiane.

— Levei o guri ao posto. Mas a médica que estava de plantão não estava lá. Ele passou por uma triagem com a enfermeira. Cheguei aqui com o encaminhamento. É claro que sei que não é para lotarmos os hospitais, mas eu ia fazer o quê? Deixar meu filho morrer em casa? — indigna-se a mãe.

O atendimento foi relativamente rápido, considerando o quadro da emergência. Chegou às 16h de terça e às 22h30min já estava pronta, com receita na mão e diagnóstico. Na consulta, teria sido reforçada a necessidade de retirada das amídalas, cirurgia para a qual a criança já está inscrita, mas que, segundo a previsão recebida pela mãe, só deve ocorrer daqui a quatro anos.

COMENTÁRIO DO BENGOCHEA - 'É UMA VERGONHA ESTA CALAMIDADE!" De um lado uma oligarquia promove que  "representantes do povo"  reajustem ao bel prazer salários, indenizações, gratificações e verbas de gabinete; senadores continuem se esbaldando em atos secretos e número de funcionários, serviçais fantasmas e orçamentos elevados; decisões que atingem diretamente o povo e o erário com  aumento constante de tributos, reajustes anuais de salários, emendas para alterar o texto original da constituição, artifícios para desrespeitar as leis, subterfugios para superar o teto salarial previsto em lei, e evasivas para nomear cargos comissionados à assessoria de governo em detrimento dos concursados, onerando a máquina pública cada vez mais.  De outro lado, pessoas do povo sacrificadas se aglomeram  em filas e emergências de hospitais a procura de atendimento para salvar vidas de familiares queridos, totalmente desamparados de um Estado que governa em seu nome.

 Apesar do Brasil ser governado por uma coligação que incorpora a imagem de "popular" e  "assistencialista", ter um Congresso com grande número de parlamentares eleitos nas urnas de forma democrática e manter uma máquina de justiça onerosa e de altos salários, os serviços públicos essenciais à vida das pessoas são negligenciados, esquecidos, desprotegidos, injustiçados e mantidos num descaso vergonhoso e sem soluções práticas. 

No Brasil paga-se absurdas taxas em impostos que custeiam festas, farras, diárias para exterior, verbas para gabinete de parlamentares, verbas de indenização, movimentações atípicas, altos salários, cargos comissionados, entre outras vantagens e privilégios só dados ao poder, e as contrapartidas fornecidas pelo Governo ao seu povo ficam no tratamento desumano em hospitais e presídios, na insegurança das ruas, na educação precária, na justiça morosa, nas leis benevolentes, na falta de saneamento básico e mobilidade urbana e no apadrinhamento entre os Poderes que acoberta ilícitos, improbidades, omissões e negligências.

terça-feira, 3 de julho de 2012

QUEIXAS AUMENTAM CONTRA PLANOS DE SAÚDE


ANS pode suspender serviços de até 40 operadoras, mas não divulga nomes . Número de queixas contra empresas de planos de saúde aumentou 57% em três meses

estadão.com.br  - 03 de julho de 2012 | 12h 38

A Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) comunicou nesta terça-feira, 3, que suspenderá serviços de 40 operadoras de planos de saúde por descumprimento da garantia dos prazos máximos de atendimento para consultas, exames e cirurgias estabelecida pelo órgão em dezembro do ano passado.

No balaço do acompanhamento divulgado pela agência, que contempla o periodo de 19 de março a 18 de junho, foram registradas 4.682 reclamações por beneficiários de planos de saúde que não tiveram respeitados os prazos de suas solicitações, o que representa um aumento de 57% em relação ao trimestre passado, quando houve 2.981 queixas.

O número de operadoras que receberam queixas, porém, diminuiu. No atual balanço, foram 162 as empresas com reclamações, entre 1.016 que prestam serviços. Na trimestre anterior, haviam sido 193 as que tiveram pelo menos um registro.

Entre as operadoras odontológicas, só duas entre 370 foram motivo de reclamações. No trimestre passado, haviam sido sete.

O acompanhamento atual mostra que que 105 operadoras médico-hospitalares apresentaram reclamações nos dois períodos de avaliação e destas, 40 se encaixam no critério para a suspensão da comercialização dos produtos, o que já está sendo analisado pela ANS. Os nomes das empresas, porém, serão divulgados somente depois que estas forem notificadas das irregularidades.

Punições

A resolução da ANS sobre o cumprimento de prazos prevê multas que variam entre R$ 80 mil e R$ 100 mil para situações de emergência a urgência. A reincidência nesses casos pode levar à suspensão parcial ou total da venda de planos. "O consumidor deve ter acesso a tudo o que contratou com a sua operadora de planos de saúde. Aquelas que não cumprirem este normativo poderão ter a venda de planos suspensa", afirma o diretor-presidente da ANS, Mauricio Ceschin.

A agência recomenda que o beneficiário deve entrar em contato com a operadora e negociar uma solução caso a solicitação não tenha sido atentida no tempo previsto, sempre com o número do protocolo do atendimento em mãos. Se nenhuma outra opção for dada pela empresa, a ANS deve ser acionada pelos meios de reclamação encontrados no site www.ans.gov.br.

segunda-feira, 2 de julho de 2012

SÓ ABRIR LEITOS NÃO RESOLVE


ZERO HORA 02 de julho de 2012 | N° 17118

ENTREVISTA - “Mas só abrir mais leitos não resolve”. Marcelo Bosio - Secretário municipal da Saúde

Zero Hora – Porto Alegre vive hoje uma carência de leitos de emergência?

Marcelo Bosio – Porto Alegre, pela população que tem, não precisaria de mais leitos de apoio à emergência. Mas o cálculo envolve também a Região Metropolitana e o Litoral Norte, então são em torno de 4,5 milhões. Se fosse só Porto Alegre, não haveria superlotação. Deveremos chegar a uma ampliação de 750 leitos de apoio a emergência até o final de 2013. Mas só abrir mais leitos não resolve.

ZH – É difícil fazer com que a população procure os postos de saúde antes de ir às emergências?

Bosio – Isso passa por uma mudança de cultura da população e das equipes de saúde. O ideal seria que 40% dos pacientes que entram no hospital viessem pela emergência. Hoje, em Porto Alegre, quase 90% da entrada nos hospitais se dá pela emergência. Também por isso há superlotação.

ZH – Como proceder em caso de demora no atendimento?

Bosio – As pessoas devem entrar em contato com as ouvidorias dos hospitais e da prefeitura, pelo 156. Como vamos atuar se não conseguimos definir o que aconteceu? Se a pessoa relata, mesmo anônima, vamos atrás.

ENTREVISTA - “Quanto melhor o SUS, mais procura”. Ciro Simoni - Secretário estadual da Saúde

Zero Hora – Ontem, ocorreu novo atrito entre pacientes e servidores, desta vez no Conceição. A que o senhor atribui esses conflitos?

Ciro Simoni – A emergência do Conceição nunca esteve tão bem como nestes últimos dias, depois da entrega de novos leitos. Já esteve muito pior, e não houve conflito. O que existe é um estresse das pessoas. Não têm urgência, mas querem ser atendidas. Os serviços são para atender casos de urgência e emergência. O atendimento é proporcional ao risco.

ZH – O senhor entende que há uso inadequado das emergências?

Simoni – Sempre houve. As pessoas têm ideia de que, se forem para o hospital, vão ter um atendimento mais rápido. Elas precisam ter consciência de que há pacientes mais graves.

ZH – A prefeitura da Capital diz que a superlotação ocorre por causa dos pacientes que vêm do Interior. Como o senhor avalia isso?

Simoni – A estrutura existente na Capital é montada com recursos federais, para atender mais do que a população de Porto Alegre. Das consultas realizadas na cidade, 45% são oferecidas para o resto do Estado. Porto Alegre tem, sim, de fazer esse atendimento.

ZH – Existe perspectiva de melhora na situação das emergências?

Simoni – Em janeiro de 2011, o hospital de Canoas tinha sete pacientes. Hoje, são 400 leitos pelo SUS. O de Novo Hamburgo abriu mais 60. Trabalhamos para abrir mais vagas. Quanto melhor o serviço do SUS, mais procura tem.

SOCORRO ÀS EMERGÊNCIAS

Mais 67 novos leitos. Hospitais da Capital abrem as vagas nesta semana, um alento que poderá reduzir atritos no setor

A superlotação nas emergências de Porto Alegre e Região Metropolitana gerou dois novos conflitos ontem, elevando a quatro os casos da última semana. Na madrugada, houve um bate-boca entre pacientes e funcionários no Hospital Conceição. À noite, a Brigada Militar (BM) foi chamada à emergência pediátrica da instituição para conter um princípio de tumulto.

A prefeitura promete ampliar o número de leitos nas emergências. Hospitais como a Santa Casa e o São Lucas da PUCRS receberão 67 novas vagas esta semana.

Por volta das 22h de ontem, cerca de 50 pessoas que esperavam por atendimento deram início a um tumulto. O atrito teria começado depois que a mãe de uma menina de nove anos, que estaria esperando desde as 16h, questionou uma enfermeira sobre a demora. A funcionária chamou a BM.

– Tem gente esperando desde as 13h – reclamou Ciomara Senhorinho, 59 anos, à reportagem de Zero Hora.

Mais cedo, por volta das 6h, as aproximadamente 30 pessoas da sala de espera – algumas na fila desde antes da meia-noite – teriam ficado revoltadas pelo fato de um atendente ter saído do posto, supostamente para repousar. Thiago Luis dos Passos, 28 anos, foi pedir informações a uma funcionária. A conversa provocou um bate-boca, que atraiu a atenção dos seguranças quando Passos perdeu o controle e chutou uma lixeira próxima. Nos 20 minutos seguintes, vigilantes e pacientes discutiram verbalmente.

– Ela (a atendente) disse que, se eu estava discutindo, era porque não estava tão mal e precisava de um psiquiatra. Eu posso ter sido desrespeitoso, mas ela foi desrespeitosa antes – disse ele pela manhã, ao sair do hospital.

Conforme o gerente de Pacientes Externos do Conceição, Robinson Menezes do Amaral, a emergência tem pelo menos quatro clínicos para o pronto atendimento e mais dois ou três médicos para casos mais graves. Ele garante que, pelas regras do hospital, nenhum funcionário pode sair de posto sem que outro colega o substitua:

– Se isso aconteceu (de um funcionário abandonar a recepção da emergência) ou se o colega demorou para substituí-lo, teremos de averiguar.

Hoje, a Secretaria Municipal da Saúde disponibilizará 47 leitos de apoio à emergência da Santa Casa. Outro hospital com problemas de superlotação, o São Lucas da PUCRS, terá novos leitos em julho (veja quadro).

– Em 2013, deveremos ter uma situação mais confortável – estima o secretário, Marcelo Bosio.

SITUAÇÃO DAS EMERGÊNCIAS

Hospital de Clínicas: 156 pacientes para 49 leitos  (atendimento normal)
Hospital São Lucas da PUC: 19 pacientes para 13 leitos (fechado)
Hospital Santa Clara (adulto): 11 pacientes para 12 leitos (só recebia casos graves)
Hospital da Criança Santo Antônio: 23 pacientes para 13 leitos (atendimento normal)
Hospital Conceição: 104  pacientes para 50 leitos (atendimento normal)

Novos leitos*

Santa Casa: 14 novos leitos de observação na emergência (para pacientes que ficam até 24 horas no hospital), ainda em julho. 47 leitos de apoio à emergência (para internação propriamente dita), a partir de hoje (segundafeira). Deverão ser 127 leitos até outubro

Hospital São Lucas da PUCRS: 22 novos leitos de observação na emergência, em agosto. Mais 20 leitos de apoio à emergência, ainda esta semana. Outros 20 deverão ser disponibilizados em julho

*Os números fazem parte de um plano lançado pela Secretaria Municipal da Saúde (SMS) no último dia 25. No total, a previsão é implantar mais 1.077 vagas hospitalares em Porto Alegre até o final de 2013 – 490 delas ainda este ano.  Atualmente, segundo a SMS, a Capital tem ao todo 5,5 mil leitos hospitalares.

COMENTÁRIO DO BENGOCHEA - Os sinais de revolta estão aumentando. Se continuarem tratando o direito à saúde com descaso e negligência através de atendimento precário, emergências superlotadas, filas da morte, pessoas depositadas nos corredores, jogo de empurra, impunidade, parcos investimentos, desvios de verbas, ausência de médicos e políticas superficiais, diferentemente do tratamento privilegiado dado aos membros da Corte em Brasília, o Governo sofrerá uma pressão jamais vista no Brasil.


domingo, 1 de julho de 2012

POVO SE REVOLTA NAS EMERGÊNCIAS NO RS

ZERO HORA ONLINE, 01/07/2012 | 15h42

NOVO TUMULTO. Pacientes entram em atrito com funcionários do Hospital Conceição. Demora no atendimento de emergência causou revolta na madrugada deste domingo.

Thiago Luis dos Passos esperou oito horas para ser atendido no ConceiçãoFoto: Fernando Gomes / Agencia RBS


Em menos de sete dias, hospitais da Região Metropolitana tiveram pelo menos três casos graves de atrito entre pacientes na fila de espera da emergência e funcionários das instituições. No mais recente episódio, ocorrido na madrugada deste domingo, cerca de 30 pessoas discutiram com atendentes e seguranças do plantão do Hospital Conceição, zona norte da Capital, em função das horas de espera.

No final da noite de quarta-feira, na emergência pediátrica do mesmo hospital, funcionários chegaram a chamar uma guarnição da Brigada Militar devido à exaltação dos pais das crianças que esperavam até oito horas por atendimento.

Na terça, revoltada pela demora em receber atendimento na emergência de um hospital de Viamão, uma jovem depredou a unidade.

A Secretaria Municipal da Saúde (SMS) de Porto Alegre anuncia novos leitos na emergência de outro grande hospital da cidade, a Santa Casa, a partir desta segunda-feira.

Atrito na madrugada

Na madrugada deste domingo, cerca de 30 pessoas - entre pacientes esperando consulta e acompanhantes - ficaram revoltadas na sala de espera da emergência do Conceição. Segundo alguns deles, que foram atendidos apenas pela manhã, um dos funcionários da recepção chegou a se ausentar do posto por mais de duas horas. Por volta das 6h, Thiago Luis dos Passos, 28 anos, que estava na fila desde a meia-noite, foi pedir informações a uma funcionária. A conversa teria derivado para um bate-boca, que atraiu a atenção dos seguranças quando Thiago perdeu o controle e chutou uma lixeira próxima. Nos próximos 20 minutos, vigilantes e pacientes discutiram verbalmente, mas não teria havido agressões.

— Eu posso ter faltado ao respeito com ela (a atendente), mas ela foi desrespeitosa primeiro. Disse que, se eu estava discutindo com ela, era porque não estava tão mal assim e precisava de um psiquiatra — contou Thiago pela manhã, ao sair do hospital.

Conforme o gerente de Pacientes Externos do Hospital Conceição, Robinson Menezes do Amaral, a casa prevê que nenhum funcionário saia de seu posto sem que outro colega venha substituí-lo. Segundo ele, a emergência está menos lotada do que há um mês.

— Se isso aconteceu (de um funcionário abandonar a recepção da emergência) ou se o colega demorou para substituí-lo, teremos de averiguar. O número de pessoas na escala que me passaram (para o final de semana) estava normal — diz Amaral.

Nesta segunda-feira, a SMS deverá disponibilizar 47 leitos de apoio à emergência da Santa Casa de Misericórdia, uma das mais lotadas da cidade. O hospital também deve receber, ainda este mês, 14 leitos de observação, para pacientes que têm de ficar até 24 horas internados. Outro hospital com problemas sérios de superlotação, o São Lucas da PUCRS, também terá novos leitos em julho.

COMENTÁRIO DO BENGOCHEA - Os sinais de revolta do povo contra o descalabro do Estado e precariedade na saúde pública, na segurança, na educação e na justiça estão cada vez maiores. Estas quatro áreas fazem parte dos direitos fundamentais necessárias à vida das pessoas e a uma convivência pacífica em sociedade. Enquanto a CORTE se esbalda em privilégios e verbas a vontade, o sucateamento, o descaso no atendimento, o sofrimento das pessoas e as mortes por desleixo estão tirando o povo da inércia e partindo para a ignorância e violência. É o eco da injustiça atingindo quem menos culpa tem: os médicos, agentes de saúde e funcionários dos hospitais. PERIGO A VISTA! ALERTA GOVERNANTES.   

OS DIREITOS DO PACIENTE

REVISTA ISTO É N° Edição:  2225, 01.Jul.12 - 12:11

A Justiça estabelece regras para assegurar benefícios e mais segurança ao atendimento dos doentes nos hospitais e nos convênios médicos

Mônica Tarantino e Monique Oliveira
 

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Quitação da casa própria, isenção de Imposto de Renda na aposentadoria, prioridade na tramitação de processos na Justiça, receber a cópia da receita digitada e obter remédios de alto custo sem ter de pagar nada por eles. Esses são apenas alguns dos direitos que os pacientes brasileiros podem ter, mas dos quais muitos não se beneficiam simplesmente porque os desconhecem. “As pessoas sabem pouco sobre os seus direitos. Vejo isso todos os dias aqui no hospital”, lamenta o advogado Victor Hugo Neves, do Departamento Jurídico do Hospital A C Camargo, referência nacional no tratamento do câncer. Trata-se, porém, de uma realidade que começa a mudar graças a um movimento cada vez mais consistente orquestrado pela Justiça, advogados e entidades representantes de pacientes cujo objetivo é justamente divulgar e fazer valer todos os benefícios que ajudam a garantir um atendimento médico seguro e de qualidade.

Parte das iniciativas mais importantes está sendo executada na esfera da Justiça. É a ela que os cidadãos recorrem cada vez mais, e é dela que recebem, também cada vez mais, decisões favoráveis a seus pleitos. “É só por intermédio da Justiça que o paciente muitas vezes tem um tratamento de qualidade”, diz a advogada Rosana Chiavassa, especializada em direito da saúde. Por conta da demanda, algumas decisões importantes estão sendo tomadas. Recentemente, o Tribunal de Justiça de São Paulo editou oito resumos contendo o entendimento dos juízes sobre alguns dos conflitos frequentes entre usuários de planos de saúde e operadoras. Esse mercado, que conta com 47,6 milhões de conveniados e 1.006 empresas, é o responsável pelo maior número de queixas que chegam aos tribunais.

“No meu escritório, há cerca de 30 liminares concedidas a pacientes de convênio para uma dada a um usuário da rede pública”, diz o advogado Julius Conforti, também especializado na área. As súmulas, como são chamados os resumos feitos pelo tribunal, afirmam que os juízes são favoráveis aos seguintes direitos, mesmo que não estejam previstos nos contratos dos planos: assistência home care, cirurgia plástica após realização de operação bariátrica, colocação de stents cardíacos, próteses e órteses, recebimento de quimioterapia oral, realização de exames e procedimentos envolvidos em doenças cobertas pelas operadoras, internação sem limite de tempo, ser informado pelo menos dez dias antes de descredenciamento por falta de pagamento e não sofrer reajuste por faixa etária a partir dos 59 anos.

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O impacto da manifestação será grande. “A súmula serve como uma informação pública sobre o entendimento majoritário do tribunal. Espera-se que os juízes sigam a direção apontada por ela”, explica o desembargador Luiz Antônio Rizzatto Nunes, do Tribunal de Justiça de São Paulo. “E, quando um tribunal define uma súmula, tenta desestimular a prática de abusos pelas empresas.” As decisões também podem ser utilizadas por tribunais de outros Estados para fundamentar suas sentenças.

Decisões referentes a batalhas anteriores já se transformaram em jurisprudência. Um dos exemplos é sobre o que foi estabelecido na chamada “Lei dos Planos de Saúde”, de 1998. Nela, estão especificados os tratamentos que os planos são obrigados a cobrir. As empresas defendiam que a norma só valia para contratos estabelecidos depois da lei. No entanto, em razão do número de ações na Justiça, ficou entendido que as regras valem para todos os contratos. “A data da assinatura do contrato é irrelevante”, afirma o advogado Gilberto Bergstein, há 20 anos atuando na área.

A Associação Brasileira de Medicina de Grupo também participa do movimento que acontece na Justiça. “Estamos nos reunindo com magistrados para discutir a necessidade de criar comitês de especialistas para informar com profundidade os juízes”, diz Arlindo de Almeida, presidente da entidade.

A mobilização dos agentes envolvidos na defesa dos pacientes está resultando em outras conquistas. Há dois meses, uma lei sancionada pela presidenta Dilma Rousseff determina que os hospitais não podem exigir o cheque caução no momento da internação. Quem infringir a legislação poderá receber pena de detenção de três meses a um ano e multa.


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Também recentemente a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) determinou portabilidade especial para pessoas demitidas sem justa causa e que querem permanecer no plano que tinham quando empregadas. Elas têm direito a ficar com o convênio por até dois anos após deixarem a empresa, dependendo do tempo de pagamento. E, com a resolução da ANS, dois meses antes do término do prazo o indivíduo pode mudar para outra operadora sem ter de cumprir carência.

Outra medida da instituição foi determinar prazos para o atendimento. As consultas pediátricas, de clínica geral ou obstetrícia, por exemplo, devem ser realizadas em sete dias a partir do momento que o usuário buscou o médico. Além disso, a ANS disponibilizou um telefone 0800 para receber as queixas dos usuários desrespeitados nesse direito. “O critério tempo é simples e tangível para o consumidor medir o grau de acesso ao serviço que contratou”, diz Maurício Ceschin, presidente da agência. No primeiro trimestre deste ano, a ANS recebeu cerca de três mil reclamações. “A operadora tem cinco dias para resolver a questão. Caso contrário, pode ser multada e até ter suspensa a comercialização do serviço em questão”, diz Ceschin.

Em alguns municípios, pacientes com câncer, Aids e doença renal crônica, por exemplo, estão isentos de pagar IPTU. Campos do Jordão, em São Paulo, é um deles. “Incentivamos as pessoas a procurar os vereadores para propor leis assim”, diz Tiago Farina, diretor-jurídico do Instituto Oncoguia, especializado na assistência a doentes com câncer. “Também há projetos para atualizar a lista de doenças graves registrada no governo federal”, afirma Luciana Camargo, diretora-executiva da instituição. Composta por enfermidades como câncer, esclerose múltipla e Parkinson, a lista serve de base para definir quais as doenças cujos pacientes podem se beneficiar com vários direitos, boa parte deles de cunho social. Um exemplo é o direito de pessoas com câncer de sacar o FGTS.

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A história da luta por melhores condições de atendimento é recente, se comparada a outras causas. “O Direito da Saúde começou na década de 50, com o começo dos programas de assistência de saúde nas empresas”, conta Fernando Scaff, coordenador do curso de pós-graduação em direito da saúde da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo. E, por se tratar de uma área dinâmica – os avanços na medicina são frequentes –, legisladores, advogados e juízes muitas vezes se veem entre um certo descompasso entre o que dizem as leis e o que a ciência já oferece.

O problema se reflete principalmente quando se fala nos tratamentos que devem ser cobertos pelos planos. Muitas das novidades estão em uso, mas ainda não foram incluídas no rol da ANS do que deve ser pago. Um dos exemplos é a cirurgia robótica, técnica adotada em alguns casos por apresentar menores riscos. “Outro caso é o transplante de coração”, diz a advogada Joana Cruz, do Instituto de Defesa do Consumidor. Em geral, as operadoras negam a cobertura a procedimentos do tipo, mas a chance de o conveniado obter na Justiça o seu custeio é grande. No âmbito público, essa discussão também aparece. Por isso, o Ministério da Saúde criou um comitê para avaliar a incorporação de novas tecnologias ao SUS, uma medida que deve repercutir na redução das demandas judiciais. Em 2011, o ministério foi citado em 12.811 ações judiciais com pedidos de medicamento, por exemplo.

Para que a assistência seja mais efetiva é preciso superar alguns obstáculos. O primeiro é fazer com que mais gente conheça os direitos. “Os usuários dos planos acabam convencidos de que não têm direitos, deixam de receber tratamentos e pagam pelo que não devem”, afirma Horácio Ferreira, advogado da saúde. “É enorme o número de pessoas que precisa de ajuda”, diz Vinicius de Abreu, representante da ONG Saúde Legal.

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Brechas na legislação também impedem o alcance total da Justiça. No Procon de São Paulo, das 7,2 mil reclamações contra planos de saúde recebidas no ano passado, 950 não tiveram solução. “As operadoras se aproveitam das lacunas na legislação, em prejuízo do consumidor”, diz Paulo Arthur Góes, diretor da instituição.

E, mesmo quando a Justiça já garantiu o direito, pode haver dificuldades. “Muitos hospitais apresentam resistência à aceitação das liminares e só liberam o procedimento quando chega a autorização do plano”, conta o advogado Julius Conforti. Nesses casos, o paciente pode chamar a polícia. Outro direito garantido, mas que também pode exigir esforço de quem quer usufruí-lo, é o acesso aos medicamentos de alto custo. Não é raro que o estoque dos postos de distribuição não esteja abastecido. “Mas, apesar dessas dificuldades, estamos avançando”, diz o advogado Conforti.

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Montagem sobre foto de shutterstock. Fotos: Kelsen Fernandes; João Castellano/Ag. Istoe; Kelsen Fernandes; Orestes Locatel