sexta-feira, 20 de julho de 2012

REFÉNS DO MEDO


BEATRIZ FAGUNDES, O SUL

Porto Alegre, Sexta-feira, 20 de Julho de 2012.

Quem responde diretamente pelos postos de saúde sem médicos e sem remédios? Quem responde por planos de saúde que não oferecem atendimento imediato? Concorda? Não? Chama a polícia, pois estamos diante de mortes anunciadas.

A saúde no Brasil virou um caso de polícia. Os relatos desesperados de cidadãos escravizados ao SUS (Sistema Único de Saúde), devido às condições econômicas, se assemelham aos de milhares de clientes de planos de saúde. As operadoras não conseguem cumprir contratos que em tese garantiriam atendimento imediato e particular quando seus clientes enfrentassem sintomas primários de doença como febre alta, dores no corpo, especialmente nas articulações, e na cabeça, além de prostração geral. O quadro seria clássico de gripe. O tratamento, como pregavam nossos avós, era vitamina C e cama durante pelo menos uma semana. Hoje, os tempos são outros. As variadas novas cepas da velha gripe, a cada edição mais letais, aliadas à completa e absoluta incompetência dos gestores do SUS, que sequer se importam em manter o sistema de forma precária, pois jamais responderão pessoalmente pela barbárie, acabam produzindo um quadro digno de filme de terror de quinta categoria.

A tragédia do SUS já seria suficiente, porém não é. O que se enfrenta é a venda de milhares de planos de saúde a cidadãos apavorados, reféns do medo, sem qualquer garantia de entrega do serviço vendido. O exemplo das operadoras de telefonia, que agora, depois de terem desfilado impávidas na pista da modernidade e do consumo, vendendo a milhões de brasileiros serviços sem qualidade nenhuma, foram finalmente chamadas na chincha. Já está na hora de impor o mesmo tratamento de choque às operadoras de planos de saúde que oferecem serviços a cada dia mais e mais precários. Quem vai defender o povo? O Ministério da Saúde, os Procons ou a OAB? O que você fará se nas próximas horas desenvolver os sintomas da gripe H1N1? Irá se humilhar nos postos de saúde sem médicos. Ou pior, com profissionais titubeantes. Ou correr em busca de atendimento nos hospitais e clínicas conveniadas de seu plano caríssimo sem receber o devido atendimento. Ou vai procurar um plano B?

Para variar, a internet oferece uma alternativa: sites oferecem o Tamiflu. Leiam as condições: "Se quiser uma forma mais rápida e discreta de comprar Tamiflu, pode vir à XXXXXX, fazendo uma consulta on-line. O processo de consulta e compra on-line é practicamente o mesmo do que se fosse fisicamente ao seu médico. Simplesmente, escolha o medicamento Tamiflu e a quantidade, responda às questões médicas que se apresentam no questionário (é importante que responda a todas as perguntas com a informação correta e verdadeira), escolha o modo de pagamento e confirma o pedido. Assim que completar o pedido, esse será analizado por um dos nossos médicos profissionais registrados, para aprovação ou não. Caso o seu pedido seja aprovado pelo médico, esse irá passar-lhe uma receita, que será encaminhada para a nossa farmácia, a qual se encarregará de lhe enviar o medicamento ao endereço que nos fornecer no pedido. A nossa clínica não deve ser um substituto do seu médico, mas apenas como mais uma ajuda em obter medicamentos de uma maneira mais rápida, cômoda e discreta".

O site é de Portugal, e a entrega acontece via Correios. Se os médicos demoram dias para identificar o vírus, apesar dos sintomas, cabe aos pacientes e familiares buscarem a única medicação conhecida por todas as formas. Quem deve ser responsabilizado pelo péssimo atendimento aos doentes deste Brasil gripado e menos varonil?

Enquanto a responsabilidade for difusa e o único culpado for o Estado bizarro, burrocrático, lerdo e inimputável por sua esquizofrenia, não existe futuro. Precisamos de responsáveis? Quem responde diretamente pelos postos de saúde sem médicos e sem remédios? Quem responde por planos de saúde que não oferecem atendimento imediato? Concorda? Não?

Chama a polícia, pois estamos diante de mortes anunciadas.

COMENTÁRIO DO BENGOCHEA - Por que será que a solução é sempre chamar a polícia?

Nenhum comentário:

Postar um comentário