quarta-feira, 18 de julho de 2012

SEDENTARISMO; RAZÕES PASSAM PELA CRIMINALIDADE


ZERO HORA. 18 de julho de 2012 | N° 17134. ENTREVISTA

As razões passam até pela criminalidade”. 

Pedro Hallal, coordenador da pesquisa


O pesquisador do Centro de Estudos Epidemiológicos da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), Pedro Curi Hallal, é o líder da série de pesquisas divulgadas na revista The Lancet. O estudo é o primeiro sobre atividade física que utiliza dados de 122 nações.

Zero Hora – Quase 50% dos brasileiros estão no patamar de inatividade física. A que esse alto índice pode ser atribuído?

Pedro Curi Hallal – O Brasil é menos ativo do que a média mundial e menos ativo do que a média dos países em desenvolvimento. As razões são complexas, passam até pela criminalidade, ambiente desfavorável, pobreza e falta de acesso a espaços públicos de lazer. O nível de atividade física das pessoas não é apenas uma decisão individual, depende do ambiente físico e social que circunda a vida das pessoas.

ZH – O que deve ser feito para que esse índice diminua?

Hallal – É urgente que as ações de promoção da saúde tenham maior cobertura. Atualmente elas existem, mas atingem poucas pessoas. Além disso, precisamos de mais do que apenas o setor saúde para lidar com a inatividade física. Precisamos dos setores de esporte, de educação e de transporte. Existem diferentes estratégias que funcionam para aumentar o nível de atividade física da população, como intervenções na educação física escolar – em Recife e Aracaju já existem aulas comunitárias – e programas de divulgação dos benefícios conquistados pelos exercício. O Agita São Paulo é um bom exemplo.

ZH – Uma mudança de hábitos da rotina já seria suficiente para que uma pessoa deixasse de ser sedentária?

Hallal – Vale ir a pé para o trabalho, vale trocar o elevador pelas escadas, vale qualquer coisa que proporcione movimento. O importante também é evitar tempos prolongados sentados. A nossa pesquisa revela que 41,5% dos adultos em todo o mundo ficam mais de quatro horas sentados por dia, e esse é um agravante para os altos índices de sedentarismo. Mas, é claro, exercícios praticados com maior intensidade geram maiores benefícios. O ideal é que, no mínimo, sejam praticados 150 minutos por semana de atividade física.


ESTUDO INÉDITO. A pandemia do sedentarismo

Levantamento envolvendo 122 países e coordenado por um pesquisador gaúcho aponta os danos da inatividade física 

JOICE BACELO


A falta de exercícios é responsável pelo mesmo número de mortes vinculadas ao ato de fumar. É essa a conclusão de um estudo que envolveu 122 países e que será publicado hoje pela revista britânica The Lancet. O sedentarismo, de acordo com a pesquisa, é responsável por uma em cada 10 mortes em todo o mundo, índice comparável ao impacto do tabagismo.

Para o coordenador do estudo global, que envolveu pesquisadores de 16 países, o gaúcho Pedro Hallal, do Centro de Estudos Epidemiológicos da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), há uma pandemia de inatividade física. O estudo publicado em forma de artigos científicos revela que a inatividade física se tornou um contribuinte de peso para as principais causas de morte no mundo. O grupo de sedentários é formado por 1,5 bilhão de pessoas, o que representa 31,1% dos adultos. Entre 13 e 15 anos, o número é assustador: 80% não atingem a recomendação de uma hora por dia de atividade física.

No Brasil, 49,2% das pessoas são inativas, o segundo pior resultado entre os países do continente americano. Perdemos apenas para a Argentina, que tem 68,3% de sedentários. O estudo, porém, traz perspectivas positivas, inclusive vindas da tecnologia. Já há resultados que comprovam que a telefonia móvel pode servir como incentivo para que um número maior de pessoas se torne fisicamente ativo, como no caso de Denilson Montenegro, retratado na página ao lado. Para Hallal, pela prevalência do sedentarismo em proporções globais e pelo impacto sobre a saúde, a inatividade física tem consequências imensas nas áreas de saúde, economia, ambiente e social.

– Não existe um cálculo do quanto deixaria de ser gasto se as pessoas praticassem o recomendado pela Organização Mundial de Saúde, mas, pelo que traz de benefícios, com certeza haveria uma grande economia.

Corrida tecnológica

Estimulado por aplicativos baixados no telefone celular, há dois anos o gestor de tecnologia da informação Denilson Montenegro, 42 anos, cumpre todas as etapas do treinamento físico. As etapas vencidas são narradas pela voz eletrônica: “faltam três quilômetros”, “você está indo bem”. Quando o percurso chega ao fim, o sistema envia uma publicação para o Facebook e, cada vez que um amigo curte, aplausos são disparados pelo fone de ouvido.

– Fica a sensação de que a galera está na torcida. Isso ajuda a aumentar o compromisso de manter o rendimento – comenta.

A tela do computador também é transformada por Montenegro em um estímulo para quem está do outro lado. A dentista Luciane Pandolfo, 43 anos, estava parada há cinco anos. De tanto ver as publicações de Montenegro nas redes sociais, Luciane deu um basta no sedentarismo e seguiu os passos do amigo, recebendo aplausos de outros esportistas e também de sedentários – que um dia, espera-se, vão aderir a exercícios, ajudando a reduzir o quadro de inativos em todo o mundo, diminuindo as mortes e aumentando a expectativa e a qualidade de vida da população.

História e prestígio

Fundada em 1823, a revista The Lancet, da editora Elsevier, é uma das mais importantes publicações científicas da área médica. De acordo com o Journal Citation Reports, sistema de avaliação da Thomson Reuters utilizado mundialmente para classificar o impacto científico de publicações, a Lancet, com fator de impacto igual a 38,28, é a 7ª revista científica em geral com maior fator de impacto internacionalmente e a 2ª mais importante na categoria medicina geral.

COMENTÁRIO DO BENGOCHEA - É mais uma prova que saúde também depende da segurança pública, assim como a complementa quando trata das dependências e dos desvios mentais.

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