segunda-feira, 2 de julho de 2012

SÓ ABRIR LEITOS NÃO RESOLVE


ZERO HORA 02 de julho de 2012 | N° 17118

ENTREVISTA - “Mas só abrir mais leitos não resolve”. Marcelo Bosio - Secretário municipal da Saúde

Zero Hora – Porto Alegre vive hoje uma carência de leitos de emergência?

Marcelo Bosio – Porto Alegre, pela população que tem, não precisaria de mais leitos de apoio à emergência. Mas o cálculo envolve também a Região Metropolitana e o Litoral Norte, então são em torno de 4,5 milhões. Se fosse só Porto Alegre, não haveria superlotação. Deveremos chegar a uma ampliação de 750 leitos de apoio a emergência até o final de 2013. Mas só abrir mais leitos não resolve.

ZH – É difícil fazer com que a população procure os postos de saúde antes de ir às emergências?

Bosio – Isso passa por uma mudança de cultura da população e das equipes de saúde. O ideal seria que 40% dos pacientes que entram no hospital viessem pela emergência. Hoje, em Porto Alegre, quase 90% da entrada nos hospitais se dá pela emergência. Também por isso há superlotação.

ZH – Como proceder em caso de demora no atendimento?

Bosio – As pessoas devem entrar em contato com as ouvidorias dos hospitais e da prefeitura, pelo 156. Como vamos atuar se não conseguimos definir o que aconteceu? Se a pessoa relata, mesmo anônima, vamos atrás.

ENTREVISTA - “Quanto melhor o SUS, mais procura”. Ciro Simoni - Secretário estadual da Saúde

Zero Hora – Ontem, ocorreu novo atrito entre pacientes e servidores, desta vez no Conceição. A que o senhor atribui esses conflitos?

Ciro Simoni – A emergência do Conceição nunca esteve tão bem como nestes últimos dias, depois da entrega de novos leitos. Já esteve muito pior, e não houve conflito. O que existe é um estresse das pessoas. Não têm urgência, mas querem ser atendidas. Os serviços são para atender casos de urgência e emergência. O atendimento é proporcional ao risco.

ZH – O senhor entende que há uso inadequado das emergências?

Simoni – Sempre houve. As pessoas têm ideia de que, se forem para o hospital, vão ter um atendimento mais rápido. Elas precisam ter consciência de que há pacientes mais graves.

ZH – A prefeitura da Capital diz que a superlotação ocorre por causa dos pacientes que vêm do Interior. Como o senhor avalia isso?

Simoni – A estrutura existente na Capital é montada com recursos federais, para atender mais do que a população de Porto Alegre. Das consultas realizadas na cidade, 45% são oferecidas para o resto do Estado. Porto Alegre tem, sim, de fazer esse atendimento.

ZH – Existe perspectiva de melhora na situação das emergências?

Simoni – Em janeiro de 2011, o hospital de Canoas tinha sete pacientes. Hoje, são 400 leitos pelo SUS. O de Novo Hamburgo abriu mais 60. Trabalhamos para abrir mais vagas. Quanto melhor o serviço do SUS, mais procura tem.

SOCORRO ÀS EMERGÊNCIAS

Mais 67 novos leitos. Hospitais da Capital abrem as vagas nesta semana, um alento que poderá reduzir atritos no setor

A superlotação nas emergências de Porto Alegre e Região Metropolitana gerou dois novos conflitos ontem, elevando a quatro os casos da última semana. Na madrugada, houve um bate-boca entre pacientes e funcionários no Hospital Conceição. À noite, a Brigada Militar (BM) foi chamada à emergência pediátrica da instituição para conter um princípio de tumulto.

A prefeitura promete ampliar o número de leitos nas emergências. Hospitais como a Santa Casa e o São Lucas da PUCRS receberão 67 novas vagas esta semana.

Por volta das 22h de ontem, cerca de 50 pessoas que esperavam por atendimento deram início a um tumulto. O atrito teria começado depois que a mãe de uma menina de nove anos, que estaria esperando desde as 16h, questionou uma enfermeira sobre a demora. A funcionária chamou a BM.

– Tem gente esperando desde as 13h – reclamou Ciomara Senhorinho, 59 anos, à reportagem de Zero Hora.

Mais cedo, por volta das 6h, as aproximadamente 30 pessoas da sala de espera – algumas na fila desde antes da meia-noite – teriam ficado revoltadas pelo fato de um atendente ter saído do posto, supostamente para repousar. Thiago Luis dos Passos, 28 anos, foi pedir informações a uma funcionária. A conversa provocou um bate-boca, que atraiu a atenção dos seguranças quando Passos perdeu o controle e chutou uma lixeira próxima. Nos 20 minutos seguintes, vigilantes e pacientes discutiram verbalmente.

– Ela (a atendente) disse que, se eu estava discutindo, era porque não estava tão mal e precisava de um psiquiatra. Eu posso ter sido desrespeitoso, mas ela foi desrespeitosa antes – disse ele pela manhã, ao sair do hospital.

Conforme o gerente de Pacientes Externos do Conceição, Robinson Menezes do Amaral, a emergência tem pelo menos quatro clínicos para o pronto atendimento e mais dois ou três médicos para casos mais graves. Ele garante que, pelas regras do hospital, nenhum funcionário pode sair de posto sem que outro colega o substitua:

– Se isso aconteceu (de um funcionário abandonar a recepção da emergência) ou se o colega demorou para substituí-lo, teremos de averiguar.

Hoje, a Secretaria Municipal da Saúde disponibilizará 47 leitos de apoio à emergência da Santa Casa. Outro hospital com problemas de superlotação, o São Lucas da PUCRS, terá novos leitos em julho (veja quadro).

– Em 2013, deveremos ter uma situação mais confortável – estima o secretário, Marcelo Bosio.

SITUAÇÃO DAS EMERGÊNCIAS

Hospital de Clínicas: 156 pacientes para 49 leitos  (atendimento normal)
Hospital São Lucas da PUC: 19 pacientes para 13 leitos (fechado)
Hospital Santa Clara (adulto): 11 pacientes para 12 leitos (só recebia casos graves)
Hospital da Criança Santo Antônio: 23 pacientes para 13 leitos (atendimento normal)
Hospital Conceição: 104  pacientes para 50 leitos (atendimento normal)

Novos leitos*

Santa Casa: 14 novos leitos de observação na emergência (para pacientes que ficam até 24 horas no hospital), ainda em julho. 47 leitos de apoio à emergência (para internação propriamente dita), a partir de hoje (segundafeira). Deverão ser 127 leitos até outubro

Hospital São Lucas da PUCRS: 22 novos leitos de observação na emergência, em agosto. Mais 20 leitos de apoio à emergência, ainda esta semana. Outros 20 deverão ser disponibilizados em julho

*Os números fazem parte de um plano lançado pela Secretaria Municipal da Saúde (SMS) no último dia 25. No total, a previsão é implantar mais 1.077 vagas hospitalares em Porto Alegre até o final de 2013 – 490 delas ainda este ano.  Atualmente, segundo a SMS, a Capital tem ao todo 5,5 mil leitos hospitalares.

COMENTÁRIO DO BENGOCHEA - Os sinais de revolta estão aumentando. Se continuarem tratando o direito à saúde com descaso e negligência através de atendimento precário, emergências superlotadas, filas da morte, pessoas depositadas nos corredores, jogo de empurra, impunidade, parcos investimentos, desvios de verbas, ausência de médicos e políticas superficiais, diferentemente do tratamento privilegiado dado aos membros da Corte em Brasília, o Governo sofrerá uma pressão jamais vista no Brasil.


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