segunda-feira, 31 de outubro de 2011

AFRONTA - PREÇO DOS MEDICAMENTOS VARIA ATÉ 952%

Preço de medicamento varia até 952%, aponta Procon; veja lista - FOLHA.COM, 31/10/2011 - 09h32

Pesquisa do Procon-SP divulgada nesta segunda-feira aponta diferenças de até 951,7% entre os preços de medicamentos genéricos. Essa variação foi constatada no Diclofenaco Sódico (50 mg, 20 comprimidos), encontrado em um estabelecimento por R$ 9,36 e em outro por R$ 0,89.

Entre os medicamentos de referência, a maior diferença de preço (520,8%) foi contabilizada no valor do Propranolol Ayerst (Cloridrato de Propranolol), da Sigma Pharma (40 mg, 30 comprimidos), encontrado por R$ 7,45 e por R$ 1,20.

Na comparação entre os preços médios dos genéricos com os de referência de mesma apresentação, o levantamento mostrou que, em média, os genéricos são 58,5% mais baratos do que os de referência.

A pesquisa foi feita entre os dias 28 e 30 de setembro em 15 drogarias distribuídas pelas cinco regiões da cidade de São Paulo. Do total de itens comparados, a unidade do Walmart localizada na região sul da capital foi a que apresentou a maior quantidade de produtos com menor preço --34 dos 52.

O Procon-SP orienta o consumidor a evitar comprar medicamentos sem bula e sem embalagem. Outra sugestão é sempre verificar se o número do lote, prazo de validade e data de fabricação na caixa são iguais aos marcados nas cartelas ou frascos.

O órgão de defesa do consumidor ressalta ainda que, além da pesquisa em vários locais, o consumidor deve consultar a lista de preços máximos autorizados disponível no site da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária). Essas listas também devem estar disponíveis nas farmácias e drogarias.


domingo, 30 de outubro de 2011

DESPERDÍCIO DE REMÉDIOS

PÁGINA 10 | ROSANE DE OLIVEIRA - ZERO HORA 30/10/2011 - Desperdício de remédios

Toneladas de medicamentos vencidos foram encontradas num almoxarifado do Estado.

A responsável pela coordenação da política de assistência farmacêutica da Secretaria da Saúde, Irene Prazeres, determinou um inventário dos estoques, que não batiam com os registros, abriu uma sindicância para apurar responsabilidades e pediu uma licitação para contratar a empresa que fará o descarte dos remédios com prazo de validade vencido.

– Quando chegamos, tinha sido feita uma obra no piso e havia caixas e mais caixas de remédios fora do lugar, o que dificultava a localização quando recebíamos um pedido – disse Irene.

Em meio ao caos na saúde pública, é um crime que medicamentos caros sejam comprados sem critério e acabem perdendo a validade no depósito.

sábado, 29 de outubro de 2011

O PARTO DOS GÊMEOS: UM CASO DE GESTÃO?

Renato Soares Gutierrez, médico, zero hora 29/10/2011

A jovem gestante e seus gêmeos peregrinaram mais de 65 léguas (ou 500 quilômetros) para um parto seguro e, apesar dos riscos, felizmente parece que passam bem.

De Santa Vitória do Palmar a Novo Hamburgo, passaram por várias cidades que deveriam dispor dos leitos especializados necessários. Mas ninguém tinha vaga.

A rigor, e quem conhece as condições dos órgãos de saúde sabe disso muito bem, essas “vagas” quase nunca existem, as instituições do SUS estão sempre lotadas, e os escândalos ocorrem, ou porque as pessoas chegam diretamente e são rejeitadas, ou porque são amontoadas até que um leito, por milagre, apareça.

No entanto, não se furtam as autoridades em continuar a tapar o sol com a peneira. Essa peneira, quase sempre, tem sido chamada de “gestão”.

Como a rede ambulatorial não tem definição de prioridades, nem protocolos de atendimento, nem definição de tecnologias e insumos, nem treinamento de pessoal, nem plano de carreira e nem profissionais em número suficiente (pelos ridículos salários); como o número de leitos continua a diminuir, sem que nenhuma das promessas se cumpra (Independência, Ulbra Álvaro Alvim etc.) – os leitos sempre vão abrir no mês que vem ou até o fim do ano –, é melhor que todos imaginemos que está faltando a tal de gestão.

Mas e os gestores, seriam eles preparados e competentes, e estariam a ser relegados nas instituições públicas? Pois eu digo aos leitores, eles existem em números estonteantes, assessores de todo tipo, cedidos, com cargos em comissão, exercendo nebulosas funções (para órgãos de saúde), luta contra o racismo, cultura popular, comitês de variadas definições e denominações, e assim por diante.

Entretanto, mesmo que os gestores e assessores de coisa nenhuma trabalhassem, o que eles fariam, em uma rede ambulatorial que se desagrega há mais de 20 anos (veja-se o Centro de Saúde IAPI, um dos mais equipados do Estado, hoje fantasmagórico)? E os gloriosos PAC, Planos de Aceleração do Crescimento, que não contemplam a construção de um único hospital público no Rio Grande do Sul? Que tal olharmos para os bilhões que serão gastos em estádios privados para alguns poucos jogos de futebol?

Aquela mãe, seus gêmeos e sua família, simbólicos do sofrimento das pessoas que não têm recursos para os extras da saúde privada, deveriam servir como bandeira de repúdio aos partidos políticos dominantes, que continuam, por anos e anos, a aplicar as mesmas inverdades sobre a saúde, uma prioridade mais do que desmentida, a começar pelos recursos que aparecem como por encanto quando o assunto interessa a determinados setores muito bem aquinhoados.

Os grandes negócios, esses, sim, são as prioridades, os impostos e, em especial, as isenções. O resto é pura encenação. Que, infelizmente, tem servido de engodo para a maioria dos eleitores, os cordiais brasileiros nutridos de pífias promessas que não se cumprem jamais, mesmo que embrulhadas em palavrório pomposo, tão ao gosto dos falsos intelectuais.


COMENTÁRIO DO BENGOCHEA - Brilhante exposição do Dr.Renato Soares Gutierrez. Concordo que não se trata de "caso de gestão", mas de negligência do Governador que deixa de investir em áreas vitais como saúde, educação e segurança para gastar dinheiro público em altos salários, cargos comissionados, transporte, propaganda e políticas eleitoreiras e midiáticas. Quem tem a difícil incumbência de fazer a gestão de saúde, educação e segurança tem de se virar com recursos minguados, desmotivação funcional, clima organizacional debilitado, falta de condições, estresse, alta demanda e sofrimento de pessoas que precisam dos serviços públicos.

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

A GREVE DOS MÉDICOS DO SUS


OPINIÃO, O Estado de S.Paulo - 26/10/2011


Coordenada pelo Conselho Federal de Medicina (CFM), pela Associação Médica Brasileira (AMB) e pela Federação Nacional dos Médicos (Fenam), a greve deflagrada pelos médicos do Sistema Único de Saúde (SUS) em 21 Estados - e que teve a adesão de cerca de 100 mil profissionais - é o efeito inevitável do desleixo com que o governo vem gerindo o setor.

As reivindicações dos grevistas, que protestam contra o aviltamento da profissão médica, são as mesmas de sempre. Eles exigem melhores condições de trabalho e pedem a correção das tabelas de consultas do SUS, que estão desatualizadas em relação aos valores do mercado. "O movimento é a favor da assistência médica. Queremos dizer à população que estamos ao lado dela, que a assistência hoje está abaixo daquilo que desejamos e do que a população espera", diz o vice-presidente do CFM, Aloísio Miranda, depois de afirmar que o atendimento em muitos hospitais da rede pública atenta contra os direitos humanos.

Segundo as entidades médicas, o número de leitos hospitalares vem caindo de forma preocupante. Embora a população continue a crescer - sobretudo a mais idosa, que requer maiores cuidados -, o País perdeu 203 mil leitos, entre 1990 e 2011. Estudo do IBGE revelou que o Brasil dispunha de apenas 431.996 leitos hospitalares para uma população superior a 190 milhões de habitantes, em 2009.

Esse é o menor número de leitos nos últimos 33 anos - e o problema se concentra, basicamente, nos hospitais particulares conveniados com o SUS. Como os custos com atendimento e cirurgia são duas vezes mais altos do que os repasses do Ministério da Saúde, vários hospitais tiveram de fechar as portas. Outros deixaram de investir em tecnologia e projetos de expansão. E muitos, apesar da crescente demanda de serviços hospitalares, passaram a atender somente à saúde complementar.

O índice de leitos por mil habitantes, que era de 2,4, em 2005, caiu para 2,3, no ano passado. Entre os países da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico, a média era de 3,8 leitos por mil habitantes, em 2007. Nas unidades de terapia intensiva, o problema da falta de leitos é agravado pela má distribuição dos leitos existentes. Em pelo menos 20 Estados, a média de leitos de UTI por habitante fica bem abaixo da média nacional, que é de 1,3 para 10 mil habitantes. Por isso, em muitos hospitais é comum pacientes em estado grave serem atendidos em locais inapropriados. Em matéria de investimento per capita para atendimento médico-hospitalar, o Brasil há muito tempo está atrás da Argentina, Uruguai e Chile, segundo os dirigentes do CFM.

Preocupantes para a população, esses números têm sido vistos com naturalidade pelo governo. Segundo dirigentes do Ministério da Saúde, a redução do número de leitos decorreria de uma política -"alinhada à tendência mundial"- de priorizar o atendimento de emergência e os serviços de apoio a diagnósticos, com o objetivo de reduzir o número de internações.

A situação também é crítica no que se refere à remuneração. Na área de cirurgia cardiovascular, por exemplo, os médicos passam de quatro a seis horas na sala de operação, têm de ficar dois meses de sobreaviso para agir em caso de intercorrência após a cirurgia e recebem pouco mais de R$ 100 por caso. Por ponte de safena, que exige uma equipe de quatro cirurgiões e dois instrumentadores, o SUS paga cerca de R$ 1 mil - enquanto alguns planos de saúde pagam até R$ 13,5 mil. Segundo a AMB, a Fenam e o CFM, a média do salário-base do médico que trabalha 20 horas semanais é de R$ 1.946,91, oscilando de R$ 732,81 a R$ 4.143,67, dependendo do Estado. As três entidades defendem um piso salarial baseado numa lei federal editada há cinco décadas. Por ela, em valores corrigidos, os médicos teriam um piso de R$ 9.188,22.

Agindo demagogicamente, o governo só se lembra da saúde para tentar justificar a recriação da CPMF. O resto do tempo, como afirmam os médicos grevistas, a rede do SUS parece entregue à própria sorte.

HOSPITAL DA UFRJ EM MÁS CONDIÇÕES DE HIGIENE

Mães denunciam más condições de higiene em hospital da UFRJ. Mulheres filmaram infestação de baratas no refeitório e relatam que crianças receberam refeições mofadas. ESTADO DE SÃO PAULO, 25 de outubro de 2011 | 21h 30 - Clarissa Thomé

RIO - Um grupo de mães, cujos filhos são tratados de câncer no Instituto de Puericultura e Pediatria Martagão Gesteira, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), encaminhará ao Ministério Público Federal denúncias das más condições de higiene da instituição. Elas filmaram infestação de baratas no refeitório e relatam que crianças receberam refeições mofadas e com objetos estranhos. Os banheiros também estão mal conservados.

Julia Ingrid Ribeiro e o filho Pedro, de um ano e cinco meses, que tem leucemia
Os episódios começaram a ser registrados na semana passada. A dona de casa Júlia Ribeiro, de 21 anos, percebeu que a gelatina do filho, Pedro, de 1 ano e 5 meses, internado no local para fazer quimioterapia, estava mofada. À noite, a mãe conta ter encontrado um bolo de cabelos na refeição do filho. Ao descer para reclamar, deparou-se com a infestação de baratas no refeitório.

"Eram mais de 200. Elas saíam de uma tampa de bueiro que tem dentro do refeitório", conta. "Uma comida estragada não vai provocar apenas indisposição. Meu filho vai ter de tomar antibiótico. É a vida dele que é colocada em risco." Mas ela ressalta que o filho vem sendo bem atendido. "Eu não sabia que no SUS tinha médico que dava o telefone para o paciente, como se a gente estivesse pagando."

Dois dias depois do caso de Pedro, Priscila Marinho, de 26 anos, encontrou um elástico no macarrão de Maria Clara, de 1 ano e 6 meses, internada para o tratamento de leucemia. "É um absurdo o descaso com as crianças", afirmou. Ela relatou que, apesar de as crianças com leucemia ficarem isoladas, por causa do risco de infecção oportunista, todos os pacientes se banham no mesmo local. "A água do banho de uma criança internada com pneumonia escorre e fica sob os pés dos nossos filhos, que são imunossuprimidos e podem adoecer".

O diretor da instituição, Edmilson Migowski, afirmou que o hospital está em obras, o que pode ter provocado a infestação. Ele apresentou à reportagem documentos que comprovam dedetização recente - a última foi em julho. A reportagem também encontrou baratas no refeitório e numa área da cozinha que não está em uso, além de irregularidades como telas rompidas e saídas de esgoto na cozinha e refeitório.

"Esse é um prédio de 1953. Estamos fazendo obra na fachada, na rede de esgoto, entregamos no início do ano a reforma da emergência e do hospital-dia. Estamos licitando a reforma dos banheiros. Mas temos limite orçamentário", explicou.

Ele informou que estuda reformar o refeitório, com o restaurante explorado pela iniciativa privada. E diz que determinou mudança na etiquetagem dos alimentos, que seguirá com a data de fabricação para os pacientes. Mas refutou a contaminação da comida com cabelos e elástico. "A contaminação pode ter ocorrido no quarto."

O HOMEM DE LATA E OS PLANOS DE SAÚDE

LEANDRO CASTRO ALVES, ADMINISTRADOR DE EMPRESAS, GERENTE EXECUTIVO DE PLANOS DE SAÚDE - ZERO HORA 26/10/2011


Já estava escrito na obra O Mágico de Oz o que nós precisamos para viver. “Quando Dorothy acordou, o sol ia alto. Totó perseguia os pássaros e os esquilos, se divertindo como nunca. – Precisamos buscar água – lembra Dorothy. – Para quê? – pergunta o Espantalho. – Uai! Para lavar o rosto. Beber, também. – Ainda bem que não preciso disso. – Nós de carne e osso, sim. Precisamos comer uma comida saudável, dormir um bom sono e beber água potável. Tomar banho, também.”

Nessa mesma história, eis que aparece o homem de lata, aquele que não tem coração, que, após apaixonar-se por uma princesa, devido à maldade de uma bruxa, teve seus membros cortados e reconstruídos de lata, contudo, sem um coração. Os planos de saúde são vistos como esse personagem, e não se leva em conta que por trás dessas empresas existem profissionais buscando fazer o melhor para o paciente, contribuindo para melhorar sua vida, ainda que caminhando sobre o fio da navalha dos contratos e coberturas preestabelecidas. Talvez, se as pessoas tivessem tudo o que Dorothy supracitou, os planos de saúde não teriam razão para existir...

Atualmente, o que seria do sistema de saúde sem a saúde suplementar? Nos últimos 12 anos, a normatização da área expandiu a cobertura básica e regulamentou o mercado, o que melhorou muito a prestação de serviço para quem “opta” por fazer um plano de saúde privado, e em razão disso, o “homem de lata” precisa se ajustar, lubrificar as juntas, se planejar para funcionar conforme as novas questões legais e sociais. Cabe lembrar que segundo consta em nossa Constituição Federal, no seu art. 196 “a saúde é direito de todos e dever do Estado” e nesse mesmo texto, em seu art. 199 “a assistência à saúde é livre à iniciativa privada”. Ora, se o Estado conseguisse suprir toda a necessidade da população, não abriria espaço para nossa atuação nesse segmento de tamanha relevância, já que é seu dever essa prestação. Em vista disso, é inegável nosso papel nesse contexto, pois como o mágico de Oz disse: “Pouco adianta ter bom coração se não souber fazer bom uso dele”.

Portanto, devemos pensar se “somewhere over the rainbow” não existem outros personagens desse sistema que precisam rever seus conceitos para contribuírem para uma solução em conjunto. Inclusive “nós, pacientes” sairmos dessa inércia e buscarmos hábitos de vida mais saudáveis para também fazermos a nossa parte, pois conforme definição constante no preâmbulo da Constituição da Organização Mundial da Saúde (OMS): saúde é um estado de completo bem-estar físico, mental e social, e não apenas a ausência de doenças.

Os entraves desse sistema são consequência de anomalias que seus integrantes causaram ao longo dos anos por existir interesses individuais que prevalecem aos interesses coletivos. Quando os stakeholders desse mercado agirem sem buscar culpados, quem sabe um dia juntos cantaremos essa canção!

MELHOR GESTÃO NA SAÚDE

EDITORIAL ZERO HORA 26/10/2011


É verdade que o Brasil investe em saúde pública menos do que países desenvolvidos, mas muitas mazelas do nosso sistema não dependem de mais recursos, nem da criação de um tributo especial para financiá-lo. Dependem, isso sim, de gestão eficiente e responsável. É o que demonstra, no Rio Grande do Sul, o caso relacionado a uma gestante de gêmeos prematuros que precisou viajar 530 quilômetros para receber atendimento num hospital com UTI neonatal. Também é o caso da menina catarinense que morreu devido a uma complicação de varicela, depois de ter sido transferida de um hospital de Florianópolis por falta de UTI pediátrica. Um sistema de saúde pública sem capacidade e competência para atender a ocorrências simples, como parto e catapora, está mais doente do que seus pacientes. Essa doença pode ser classificada por vários nomes: descaso, desorganização, insensibilidade e, a que melhor resume o diagnóstico, incompetência gerencial.

Sob o ponto de vista dos pacientes, a perversa combinação de fatores resulta acima de tudo na dificuldade – em alguns casos, até mesmo impossibilidade – de marcação de consulta ambulatorial com especialista e obtenção de vaga para internação de emergência. Essa fonte permanente de sofrimento para pacientes e de inquietação para familiares é consequência direta de fatores como uma redução consistente na oferta de leitos para o Sistema Único de Saúde (SUS) no país, ao mesmo tempo em que a população continuou aumentando. Grave em todas as áreas, a situação preocupa particularmente no que diz respeito ao atendimento à infância e, mais ainda, na faixa neonatal. De maneira geral, os leitos existentes em UTIs estão sempre ocupados e, quando há vagas disponíveis, quem se candidata a uma delas precisa percorrer quilômetros.

Diante da repercussão registrada pelos casos mais recentes de deficiências no atendimento à criança, o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, garantiu que parte das soluções serão encaminhadas com a implantação do programa Rede Cegonha, lançado este ano pelo governo federal em diferentes Estados. A intenção do plano é propiciar atenção permanente à gestante, além de prever investimentos importantes em maternidades de alto risco e em UTIs para a fase neonatal, eliminando a necessidade de a mãe ter que peregrinar quilômetros de um hospital para outro. Mas, como costuma ocorrer num setor público de maneira geral marcado pelo empreguismo e pela ineficiência, continua havendo uma enorme distância entre as pretensões e a prática. Os episódios mais recentes precisam motivar as autoridades da área de saúde a encurtá-la de vez, com uma aposta maior em prevenção e em programas bem-sucedidos também em outros países, como o Saúde da Família.

Enquanto não puder garantir atendimento a todos os necessitados, o SUS precisa se esforçar pelo menos para administrar com mais eficiência os recursos disponíveis. O que não pode persistir é essa crônica situação na qual os enfermos ficam vagando em busca do atendimento que, muitas vezes, acaba surgindo tarde demais.

SEM LEITO - SOLIDARIEDADE EM MEIO AO DRAMA

ÁLISSON COELHO | VALE DO SINOS/CASA ZERO HORA, 26/10/2011

Depois de encontrar portas fechadas ao longo de 530 quilômetros, entre Santa Vitória do Palmar e Novo Hamburgo, a família San Martins recebeu a ajuda de uma desconhecida para se manter no Vale do Sinos. O estado de saúde de Elisiane dos Santos San Martins, 34 anos, ainda é grave, mas os gêmeos nascidos no sábado já apresentam melhora e respiram sem a ajuda de aparelhos.

Com poucos recursos, a solidariedade tem ajudado a família a superar a angústia da espera pela melhora da mãe e dos filhos Guilherme e Gustavo. Na segunda-feira, os familiares se preparavam para passar mais uma noite nos bancos em frente ao Hospital Municipal de Novo Hamburgo. Mas uma funcionária da instituição ofereceu cama, comida e apoio em meio ao drama.

Isabel Cristina Martins de Oliveira, 33 anos, trabalha no almoxarifado do hospital. Na segunda, soube da história da gestante e a luta por um leito onde ela pudesse ter os bebês. Ao encontrar o marido de Elisiane, Alex Caetano Naparo, 32 anos, perguntou onde a família havia passado a noite.

– Ele me disse que havia dormido no banco de madeira em frente ao hospital, depois de ter vindo de Florianópolis. A mãe dela dormiu dentro do carro. Na mesma hora comecei a chorar, sabia que precisava ajudar de alguma forma – relata Isabel.

Convencer o marido, Alexsandro Arnold de Oliveira, 36 anos, de que deveriam dar abrigo a toda a família não foi difícil. Mesmo vivendo em uma casa modesta, no bairro São José, o casal afirma que tem a obrigação de ajudar.

– É só uma pequena parcela de ajuda. Minha casa é humilde mas acredito que ter para onde ir no meio de toda essa dificuldade já auxilia a família a passar por tudo isso – diz Isabel.

O gesto do casal comoveu os familiares de Elisiane. Pai da gestante, Elísio, 66 anos, precisou de atendimento médico, ontem, ao ver a filha pela primeira vez após a internação.

– Essa menina, Isabel, vale ouro, nos ajudando sem nos conhecer, sem receber nada em troca – diz.

BUROCRACIA DEIXA UTI FECHADA


LEITOS SEM USO. Socorro a gestante que percorreu mais de 500 km por vagas estaria mais perto se unidade equipada estivesse em funcionamento - JOICE BACELO, ZERO HORA, 26/10/2011

A história da funcionária pública que teve de esperar dois dias e viajar cerca de 530 quilômetros para dar à luz os gêmeos expôs um entrave burocrático que já dura quase nove meses. No sul do Estado, uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI) neonatal equipada está fechada porque o credenciamento para abrir as 10 vagas vinculadas ao SUS ainda não foi liberado. Se estivesse ativa, poderia ter mudado o destino de Elisiane San Martins e dos dois filhos, de acordo como o Sindicato Médico do Rio Grande do Sul (Simers).

Foram investidos cerca de R$ 1,2 milhão na unidade do Hospital de Caridade de Canguçu, que fica a 280 quilômetros de Santa Vitória do Palmar, cidade onde Elisiane aguardava por um leito em hospitais do Estado. A UTI neonatal está equipada desde dezembro do ano passado e pronta para funcionar desde 1º de fevereiro, mesma data em que o pedido de credenciamento foi encaminhado para a Secretaria Estadual de Saúde (SES).

Assim que o credenciamento for aprovado, a UTI neonatal do Hospital de Caridade de Canguçu dará início aos atendimentos. O superintendente da instituição, Fernando Gomes, afirma, inclusive, que já existe equipe médica própria para trabalhar na unidade. Com a aprovação, a Região Sul passará dos atuais 6% para 9% do total de leitos disponíveis no Estado.

– Enquanto isso, permanecemos de mãos atadas. O bom mesmo é nem entrar aqui (UTI neonatal), porque está tudo pronto, equipado, mas sem utilidade. Crianças estão morrendo e vão continuar morrendo enquanto casos como esse não forem solucionados – desabafa Gomes.

A demora por atendimento é responsável por sindicâncias abertas pelo Conselho Regional de Medicina do Estado (Cremers). Nos últimos 45 dias, seis casos começaram a ser investigados – o último deles, o de Elisiane. Conforme o presidente do Simers, Paulo de Argollo Mendes, se as 10 vagas da UTI já estivessem em funcionamento, o drama de Elisiane, que ontem permanecia internada em estado grave, poderia ter sido evitado:

– Apenas dois leitos atenderiam à demanda de Canguçu. Sobrariam oito vagas para absorver pacientes da região. A gestante teria conseguido leito em Pelotas ou Rio Grande, que estavam ocupados com toda a demanda, e não precisaria ter viajado até Novo Hamburgo.

Lento processo

- A aprovação do credenciamento no Estado ocorreu somente em 22 de agosto. Conforme a SES, a demora é explicada por uma exigência da Vigilância Sanitária, que, em abril, teria solicitado documentos – apresentados em junho.

- O Secretário estadual da Saúde, Ciro Simoni, diz que o encaminhamento do pedido ao Ministério da Saúde foi feito logo após a aprovação e afirma que, caso o credenciamento não seja efetivado até o final do ano, o Estado irá bancar a UTI neonatal do hospital de Canguçu até o governo federal assumir os custos.

- No dia 17 de outubro, os documentos chegaram ao setor de credenciamento do governo federal. Segundo o Ministério da Saúde, dois dias depois o pedido foi aprovado e, até ontem, os documentos estariam sendo avaliados no setor de orçamento. Sem prever uma data para a publicação do credenciamento no Diário Oficial da União, o Ministério da Saúde afirmou que o processo ocorre dentro da normalidade desde o encaminhamento feito pelo governo do Estado.

terça-feira, 25 de outubro de 2011

500 KM EM BUSCA DE UTI

Mãe e bebês gêmeos viajam mais de 500km em busca de UTI em Porto Alegre (RS)- BOM DIA BRASIL, REDE GLOBO, Terça-feira, 25/10/2011

Os médicos estão tratando a paciente com antibióticos. Ela está internada em estado grave, assim como os gêmeos que nasceram prematuros. Os três têm uma infecção que pode ter sido agravada pela espera de dois dias por um leito em uma UTI.

FALTA DE ESTRUTURA MATA IDOSA NO RIO

Falta de estrutura da rede pública de saúde faz mais uma vítima no Rio - RJ TV - REDE GLOBO, Segunda-feira, 24/10/2011

Uma idosa de 75 anos não conseguiu atendimento na cidade onde morava e precisou recorrer três vezes à Justiça para obter vaga em um hospital onde pudesse ser operada. A paciente morreu após ser operada.



COMENTÁRIO DO BENGOCHEA - Quem será responsabilizado? Posso até apostar que o pagamento da indenização à que tem direito a família desta senhora será paga pelo povo, pois os "irresponsáveis" que não investem a cota prevista em lei para melhorar a estrutura de atendimento de saúde não serão punidos e nem obrigados a pagar a conta.

CAOS NA SAÚDE PÚBLICA EM CUIABÁ, MT

JN no Ar registra caos na saúde pública em duas cidades de MT - JORNAL NACIONAL, REDE GLOBO, Sexta-feira, 21/10/2011


Em qualquer canto do pronto-socorro de Cuiabá se improvisa um leito.A maioria das pessoas está internada em cadeiras, macas e até em pé. As condições são péssimas.

MÉDICOS DO SUS PARALISAM


Conselho Federal de Medicina anuncia paralisação nesta terça-feira. Juliana Braga. CORREIO BRAZILIENSE. Com informação de agências24/10/2011 17:42


O Conselho Federal de Medicina anunciou a paralisação de alguns serviços nesta terça-feira (25/10). Segundo o CMF, a ação ocorrerá somente amanhã e deve atingir 21 estados da Federação e o Distrito Federal - Acre, Alagoas, Amapá, Amazonas, Bahia, Ceará, Distrito Federal, Espírito Santo, Goiás, Maranhão, Mato Grosso, Minas Gerais, Pará, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul, Rondônia e Sergipe.

No Piauí, a paralisação chegará a 72 horas. Em Santa Catarina e em São Paulo, algumas unidades de saúde devem suspender o atendimento por algumas horas. Em Mato Grosso do Sul, no Paraná, no Rio de Janeiro, no Tocantins e em Roraima, estão previstas apenas manifestações e atos públicos.

No Distrito Federal, além da suspensão do atendimento, o Sindicato dos Médicos lançará um hotsite com documentos que denunciam as condições de trabalho inadequadas e o sucateamento do sistema de saúde pública no DF.

Os médicos pedem um aumento no piso salarial e a aprovação da emenda 29, que define a fonte de recurso para a saúde, como foi aprovada no Senado. Pedem, também, o aumento no piso da categoria. Atualmente o piso é de R$ 1.946,91, o valor proposto pela categoria é de R$ 9.688,00. Os profissionais protestam também contra as más condições de trabalho e de assistência oferecidas no âmbito da rede pública de saúde.

Amanhã serão suspensas as consultas e as cirurgias eletivas feitas no Sistema Único de Saúde (SUS). Ambos os serviços que serão paralisados já foram remarcados para outras datas, e não deve prejudicar os pacientes. Segundo os manifestantes, de 1990 até 2008 o Brasil perdeu 188.845 leitos, que foram repassados para os planos de saúde devido aos baixos valores pagos pelo SUS.

COMENTÁRIO DO BENGOCHEA - Se brasileiros morrerem durante esta paralisação, quem será responsabilizado? Os médicos que lutam por salários mais dignos ou o Governo que não investe em saúde e nem se preocupa em pagar bem os agentes da saúde?

IDOSA MORRE APÓS PERCORRER CINCOS HOSPITAIS PARA VIVER

Atendimento só com ordem judicial. Família de idosa que morreu após percorrer cinco hospitais vai processar o poder público. O GLOBO, 24/10/2011 às 23h26m; Flávia Milhorance.

RIO - A família da pensionista Eda do Nascimento, de 75 anos, disse que vai entrar na Justiça contra o poder público pelo descaso na morte da idosa, na segunda-feira, no Hospital Municipal Miguel Couto, na Gávea . A idosa enfrentou uma peregrinação por cinco unidades de saúde e chegou a ser internada, na terça-feira passada, na Santa Casa da Misericórdia, no Centro, mas não teve o atendimento necessário.

Na terceira tentativa, parentes conseguiram no plantão judiciário, no domingo, uma decisão que ameaçava de prisão, por desobediência, os secretários do município, Hans Dohmann, e do estado, Sérgio Côrtes, caso não houvesse a transferência da pensionista para uma UTI. Eda, que iria para o Lourenço Jorge, na Barra, foi operada às pressas no Miguel Couto, mas não resistiu. É tão fácil assinar um papel como se este resolvesse o problema. No Brasil, a justiça é tão fraca, dependente políticia e desacreditada pelo povo que os políticos não estão nem aí para a sua "ordens judiciais".

- Minha mãe está morta por causa do descaso do governo. Vamos continuar lutando. Ela não merecia passar pelo que passou - afirmou o filho Aldeci Nascimento.

Paciente ficou na sala de ventilação do hospital

A assessoria da Santa Casa da Misericórdia informou que a paciente foi diagnosticada, na sexta-feira, com perfuração intestinal e insuficiência renal aguda, com indicação cirúrgica. A instituição explicou que os leitos da UTI e do centro cirúrgico estavam ocupados, e que solicitou a transferência da paciente para outra unidade.

No entanto, mesmo já internada no Miguel Couto, Aldeci denuncia que sua mãe ficou na sala de ventilação da unidade, depois de uma cirurgia de três horas.

- Quando ela entrou no hospital, estava viva, lúcida, apesar de muito fraquinha. Ela teve a operação, só não teve a UTI. O médico alegou que não tinha vaga. Para piorar, minha mãe morreu às 6h de hoje (segunda-feira), mas só recebemos a notícia cinco horas depois - contou Aldeci.

Em nota, a Secretaria municipal de Saúde disse que a paciente já chegou ao hospital em estado grave, com uma úlcera gástrica perfurada. A Santa Casa ressaltou que, apesar de não atender a emergências, a instituição acolheu a paciente após identificar que ela não havia conseguido internação em outros hospitais da cidade.

COMENTÁRIO DO BENGOCHEA - A mesma justiça que dá ordem judicial para atenderem pessoas necessitadas deveria ser a mesma para responsabilizar os políticos que desviam recursos do SUS e que não investem em ambulatórios, leitos e UTIs. Não é possível que ninguém é processado, condenado, preso e sujeito a devolver os recursos roubados da saúde pública, sendo coautor de sofrimento e mortes. É muito fácil proferir uma decisão no papel e não ser coativa em caso de desobediência. A justiça brasileira está tão fraca, dependente política e descreditada pelo povo que os políticos afrontam e não cumprem as "decisões judiciais".

UM DRAMA MULTIPLICADO


ÁLISSON COELHO | VALE DO SINOS/CASA ZERO HORA, zero hora 25/10/2011


Após viajar mais de 500 quilômetros para dar à luz gêmeos, Elisiane dos Santos San Martins, 34 anos, está em estado grave em Novo Hamburgo. A saúde dos dois meninos inspira cuidados. Os três estão com uma infecção que pode ter sido potencializada pela espera de mais de 48 horas por leito.

O marido de Elisiane, o montador de móveis Alex Caetano Naparo, 32 anos, viajou sete horas de Florianópolis (SC) para ver a mulher e os dois filhos. Passou a madrugada deitado em um banco em frente ao Hospital Municipal de Novo Hamburgo:

– Minha mulher veio de Florianópolis para ter os bebês em nossa cidade natal (Santa Vitória do Palmar) há quatro meses. Ela queria a ajuda da mãe. Eu vinha uma vez por mês para vê-la. Assim que eu soube que o parto seria em Novo Hamburgo, vim imediatamente. Queria que meu filhos nascessem em Florianópolis, onde há recursos. Minha mulher acabou me convencendo, agora me arrependo.

Olhos vermelhos pela noite sem dormir e pelo choro, Naparo desabafa:

– Ainda não pude ver minha mulher, meu coração está apertado. Mas já pude ver os meus meninos, encostar a mão neles. Tenho fé de que tudo acabará bem.

A mãe, Neiva Ledoci dos Santos, 57 anos, dormiu poucas horas dentro do carro do genro, depois de viajar com a filha em uma ambulância apertada.

– Pior do que tudo isso é saber que a minha filha e os meu netos correm risco. Quando chegamos, o médico examinou ela e foi sincero comigo. Disse que existia a possibilidade de nenhum dos três se salvar – diz Neiva, sem conter as lágrimas.

O pai de Elisiane, Elisio Fausto San Martin, 65 anos, desespera-se ao afirmar que a situação poderia ser diferente se o parto tivesse sido realizado logo que constatada a infecção.

– O serviço de saúde no Brasil está podre – desabafa.

BUROCRACIA E CONCENTRAÇÃO DE UTIs AGRAVAM O RISCO


CONCENTRAÇÃO DE UTIs AGRAVA O RISCO. MARCELO GONZATTO. Colaborou Joice Bacelo. zero hora 25/10/2011

A viagem de Lisiane por cerca de 530 quilômetros em busca de leitos em UTI neonatal para receber seus gêmeos prematuros escancara um drama que se repete no Estado: a falta de leitos disponíveis e a concentração dos existentes na Região Metropolitana

O atendimento a gestantes no Estado é agravado pela falta de investimentos em Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) neonatais nos últimos anos, o que resultou em uma rede precária e concentrada na Região Metropolitana.

A escassez de vagas em hospitais fez com que uma grávida de gêmeos tivesse de esperar dois dias e viajar 530 quilômetros para dar à luz, no domingo. Ontem, a mãe e os dois bebês seguiam internados em estado grave.

Há dois anos, ZH relatou dramas semelhantes ao da gestante de Santa Vitória do Palmar Elisiane San Martins, 34 anos. Em 2009, uma mulher teve de esperar durante dois dias com a bolsa rompida até que fosse transportada por 600 quilômetros de São Borja também para Novo Hamburgo.

Desde então, houve poucos avanços. Naquele período, o Estado contava com 350 leitos neonatais do SUS. Em dois anos, o sistema cresceu apenas 5,7% e chegou a 370 vagas para atender a todo o Rio Grande do Sul. O Sindicato Médico do Rio Grande do Sul (Simers) considera que ainda são necessários pelos menos mais 32 leitos.

Além de a estrutura ser insuficiente, na opinião de especialistas, ela é mal distribuída. O presidente do Comitê de Neonatologia da Sociedade de Pediatria do RS, Marcelo Porto, afirma que a dificuldade é constante.

– As UTIs neonatais funcionam sempre no limite. O número de leitos que temos não é adequado e é mal distribuído. Temos muitos leitos na Região Metropolitana, e muito poucos no resto do Estado – avalia.

A Região Metropolitana concentra 57% da infraestrutura. Conforme a assessoria de imprensa da Secretaria Estadual da Saúde (SES), o indicador mais utilizado para avaliar a quantidade de UTIS neonatais foi criado pela Academia Americana de Pediatria e estabelece a necessidade de um a três leitos para mil nascidos vivos. No Estado a média é de 3,7 para mil nascimentos. Porém, isso não significa uma cobertura adequada.

Em primeiro lugar, o indicador foi calculado para a realidade norte-americana, onde uma melhor qualidade no pré-natal leva a um menor índice de prematuros em relação ao Brasil, e a menos tempo de internação.

O presidente do Simers, Paulo de Argollo Mendes, considera que deveria haver ao menos quatro vagas por mil nascimentos no Estado – parâmetro citado pelo Ministério da Saúde.

– A proporção de leitos, principalmente no sul do Estado, deveria ser maior porque é uma região com de deficiências no atendimento pré-natal que se reflete em maior risco no parto. A situação reflete o descaso do poder público – afirma Argollo.

A SES emitiu nota, ontem, reafirmando o esforço para ampliar o número de leitos. ZH tentou, sem êxito, ouvir o secretário Ciro Simoni.

UTI pronta à espera da burocracia

Enquanto especialistas reclamam a abertura de mais leitos de UTI neonatal, uma unidade intensiva equipada e pronta para funcionar se encontra com as portas fechadas na zona sul do Estado. Desde dezembro passado, o Hospital de Caridade de Canguçu, a 280 quilômetros de Santa Vitória do Palmar (cidade da gestante) espera credenciamento para abrir 10 vagas vinculadas ao SUS.

A instituição tenta conseguir autorização para receber recém-nascidos em situação de risco. O administrador do hospital, Adão Renato Casarin, diz que aguarda o credenciamento no Ministério da Saúde para oferecer os leitos pelo SUS. A abertura ajudaria a desafogar a demanda na região.

Dois municípios próximos de Santa Vitória do Palmar procurados por Elisiane San Martins não tinham condição de recebê-la. Em Pelotas, há 10 leitos no Hospital Universitário São Francisco de Paula e seis no Hospital da FAU. A secretária de saúde do município, Arita Bergmann, afirma que todas as vagas estavam ocupadas.

Em Rio Grande, o Hospital Universitário Miguel Riet Correa Júnior tem nove leitos. O diretor, Tomás Dalcin, afirma que seis leitos estavam ocupados, e havia previsão de parto de uma gestante de gêmeos. No sábado, havia um disponível, mas seriam necessárias duas vagas para os bebês de Elisiane.

O Ministério da Saúde não respondeu sobre a situação do hospital de Canguçu.

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

REDE DE UTIs É INSUFICIENTE

Secretaria admite que rede de UTIs é insuficiente - ZERO HORA 24/10/2011

A Secretaria Estadual da Saúde (SES) admite que a quantidade de vagas em Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) para bebês recém-nascidos ainda não é suficiente para dar conta de toda a demanda. Conforme o titular da pasta, Ciro Simoni, quando não é possível encontrar vagas em hospitais credenciados pelo SUS, a secretaria pode até comprar vagas em instituições privadas – mas elas também costumam estar sujeitas a lotações.

– O problema com as UTIs neonatais é que os pacientes podem ficar até um, dois meses internados. Estamos trabalhando, aumentando a quantidade de leitos, mas ainda não é o suficiente – afirma Simoni.

O secretário informou que, como não havia expediente ontem, não seria possível dar informações precisas sobre o mapa das UTIs neonatais no Estado. De acordo com os registros disponíveis no site da própria secretaria, porém, observa-se que o Estado conta com pelo menos 368 leitos para recém-nascidos de alto risco vinculados ao SUS. Desses, 41% estão localizados em Porto Alegre. Em comparação, a região mais ao sul do Estado, de onde partiu a ambulância com a gestante, fica com perto de 6% dessa estrutura nos municípios de Rio Grande e Pelotas.

Simoni afirma que, em determinados momentos, praticamente toda a rede pública de UTIs se encontra ocupada por pacientes de risco. Nesse caso, a exemplo do enfrentado pela gestante de Santa Vitória do Palmar, a saída é uma longa viagem ou a compra de ou leito particular por parte do Estado. Simoni afirma que não tinha detalhes do caso de Elisiane, mas afirmou que deu autorização para deslocamento ou aquisição de vaga.

– Não havia vaga em Pelotas, Rio Grande, nem em Porto Alegre – revelou o secretário.

GESTANTE VIAJA POR MAIS DE 7 HORAS PARA TER GÊMEOS

ANGÚSTIA DE MÃE. Elisiane andou 530 quilômetros de Santa Vitória do Palmar até Novo Hamburgo, onde havia vaga - JOICE BACELO, Colaborou Marcelo Gonzatto, ZERO HORA 24/10/2011


Uma grávida de gêmeos teve de aguardar três dias e fazer uma viagem de sete horas e mais de 500 quilômetros de ambulância para dar à luz. Elisiane San Martins, 34 anos, acabou transferida da Santa Casa de Santa Vitória do Palmar, no extremo sul do Estado, para ganhar os bebês no Hospital Municipal de Novo Hamburgo, onde havia vagas na Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) neonatal.

A angústia da futura mãe e de seus familiares começou quando a bolsa de Elisiane se rompeu, quinta-feira passada. Nesse momento, teve início uma longa espera por vagas em hospitais do Estado com UTI neonatal – necessária para dar suporte aos gêmeos prematuros após o nascimento. Não havia leito em hospitais próximos, em Pelotas e Rio Grande, ou em outros mais distantes. A situação se agravou quando um dos exames indicou risco de infecção hospitalar para mãe e bebês.

O drama fez uma tia de Elisiane, Eva Tereza de Sá, que mora em São Paulo, recorrer à imprensa gaúcha. Depois de acompanhar a família aguardar transferência durante três dias, ela decidiu ligar para a Redação de ZH:

– Eu não podia ficar com as mãos amarradas.

Elisiane morava com o marido no interior de Santa Catarina desde março. Quando descobriu que esperava gêmeos, voltou ao Estado a fim de contar com os cuidados da mãe, em Santa Vitória do Palmar.

A obstetra Rosane de Oliveira, que acompanha o caso de Elisiane, explica que, ao contrário de gestações completadas no tempo ideal (entre 38 e 40 semanas), as prematuras não exigem o parto imediato com o rompimento da bolsa. A espera permite o amadurecimento do pulmão do bebê. Quanto mais próximo da data ideal para o parto ser realizado, menores os riscos.

O procedimento correto é que a paciente seja internada em uma instituição de saúde e passe por exames de monitoramento. A gestação é interrompida quando a gestante entra em trabalho de parto ou há risco de infecção para a mãe ou para o bebê – o que ocorreu com Elisiane. Por isso, o parto precisava ser feito, no máximo, até ontem.

Somente poucas horas antes do prazo, ao meio-dia, foi confirmada a vaga que permitiria o nascimento de Guilherme e Gustavo, em Novo Hamburgo. Mas nem isso eliminou a preocupação dos familiares e da médica, já que a longa viagem até o Vale do Sinos envolvia o risco de a gestante entrar em trabalho de parto no caminho.

Por sorte, houve tempo para chegar ao Hospital Municipal de Novo Hamburgo. Os bebês nasceram entre 18h41min e 18h42min, e permaneciam sob observação ontem à noite.

Secretaria admite que rede de UTIs é insuficiente

A Secretaria Estadual da Saúde (SES) admite que a quantidade de vagas em Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) para bebês recém-nascidos ainda não é suficiente para dar conta de toda a demanda. Conforme o titular da pasta, Ciro Simoni, quando não é possível encontrar vagas em hospitais credenciados pelo SUS, a secretaria pode até comprar vagas em instituições privadas – mas elas também costumam estar sujeitas a lotações.

– O problema com as UTIs neonatais é que os pacientes podem ficar até um, dois meses internados. Estamos trabalhando, aumentando a quantidade de leitos, mas ainda não é o suficiente – afirma Simoni.

O secretário informou que, como não havia expediente ontem, não seria possível dar informações precisas sobre o mapa das UTIs neonatais no Estado. De acordo com os registros disponíveis no site da própria secretaria, porém, observa-se que o Estado conta com pelo menos 368 leitos para recém-nascidos de alto risco vinculados ao SUS. Desses, 41% estão localizados em Porto Alegre. Em comparação, a região mais ao sul do Estado, de onde partiu a ambulância com a gestante, fica com perto de 6% dessa estrutura nos municípios de Rio Grande e Pelotas.

Simoni afirma que, em determinados momentos, praticamente toda a rede pública de UTIs se encontra ocupada por pacientes de risco. Nesse caso, a exemplo do enfrentado pela gestante de Santa Vitória do Palmar, a saída é uma longa viagem ou a compra de ou leito particular por parte do Estado. Simoni afirma que não tinha detalhes do caso de Elisiane, mas afirmou que deu autorização para deslocamento ou aquisição de vaga.

– Não havia vaga em Pelotas, Rio Grande, nem em Porto Alegre – revelou o secretário.

domingo, 23 de outubro de 2011

PACTO POR POLÍTICAS SOCIAIS NO MUNDO

EDITORIAL CORREIO DO POVO, 23/10/2011


Representantes de 120 países se reuniram no Rio de Janeiro e assinaram, nesta sexta-feira, documento conjunto no qual se comprometem a manter os níveis de investimentos sociais. Todos acordaram que é necessário formular políticas públicas que evitem desigualdades internas e que impeçam a deterioração dos sistemas de saúde e de Previdência Social.

O texto denominado Declaração Política do Rio sobre Determinantes Sociais da Saúde, identificado também como Declaração do Rio, foi firmado ao final da Conferência Mundial sobre Determinantes Sociais da Saúde, da Organização Mundial da Saúde (OMS). Entre as cerca de 70 ações listadas, estão o estabelecimento de vínculos colaborativos entre as nações signatárias e os meios de ampliar o acesso das populações a medicamentos, além de instrumentos para viabilizar a transparência das ações governamentais.

Para o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, os ministros da área da saúde estão bastante preocupados com uma eventual queda na qualidade dos serviços prestados por conta da crise econômica que afeta a União Europeia. Ele ressaltou que o Brasil já cumpre muitos dos pontos do acordo, o que serve como baliza para a implantação das medidas sinalizadas.

Segundo o ministro Antonio Patriota, das Relações Exteriores, a declaração em comum é referência nos preparativos da Conferência Rio+20, marcada para o Rio de Janeiro em 2012. A saúde, afirmou, é importante para apontar um novo paradigma no desenvolvimento sustentável.

No momento em que se registra uma crise na saúde brasileira, é bom que o país estabeleça objetivos a serem atingidos. Os pacientes das dramáticas filas do Sistema Único de Saúde esperam que haja melhorias urgentes. Sem mudanças efetivas, milhões continuarão no desamparo e com seus direitos básicos aviltados.

A LUTA PELA VIDA E OS PLANOS DE SAÚDE

CHRISTIAN LAVICH GOLDSCHNIDT, JORNALISTA E ESCRITOR - ZERO HORA 23/10/2011

Natural de Sapiranga, 70 anos, Armindo Dorscheid é exemplo de persistência. Conhecemo-nos durante minha internação no Hospital São Lucas da PUC, quando iniciei a luta contra um linfoma. Enquanto dividimos o quarto, nunca reclamou do seu problema, um tumor no intestino. Helga Kirchmaier, 65 anos, sua companheira há 17, visitava-o todos os dias. Cansados que estávamos da comida do hospital, não negávamos um pedaço de bolo, uma fatia de cuca, ou até mesmo uma torrada com queijo colonial que Helga nos preparava com tanto amor. No dia 30 de agosto, Armindo passou por uma cirurgia delicada, conduzida pelo Dr. Marcelo Toneto, para a retirada do tumor. O procedimento foi um sucesso e ele se recupera bem em casa. As consultas de rotina e os exames feitos até agora não têm indicado tratamento quimioterápico. Recentemente, quando eu estava hospitalizado para um novo ciclo de quimioterapia, fizeram-me uma visita surpresa. Aguardam a minha recuperação para visitá-los em Sapiranga.

Além do apoio incondicional de familiares e amigos, encontro nas pessoas em situação semelhante à minha – dentro e fora do hospital – inspiração, solidariedade e exemplo de coragem para enfrentar o problema com muita determinação, paciência e, sobretudo, esperança. Já que não há como fugir dos desafios que a vida nos impõe, preferi encarar mais este com força e perseverança, fazendo a minha parte para me recuperar o mais breve possível. Se realmente é isso o que me está reservado, só saberei mais adiante.

No momento, o que trago comigo é a certeza de que estou bem assistido pela equipe do Dr. Mário Sérgio Fernandes – e isso vale ouro!, já me disse alguém em uma das mensagens de apoio que recebi. Contar com uma boa equipe médica é fundamental. Infelizmente, ter um bom plano de saúde não é mais sinônimo de tranquilidade. Meu plano deve cobrir todos os procedimentos e medicamentos que necessito para o tratamento.

É preciso, no entanto, fazer algumas observações: os planos nos tratam de forma diferente quando passamos da condição de clientes para a de pacientes. Não é possível que os planos de saúde tenham 72 horas (dias úteis) para analisar e aprovar procedimentos ou medicamentos quando estes são solicitados pelos médicos. Dependendo do resultado dos exames, o paciente necessita do uso imediato de determinada medicação, não podendo aguardar pela liberação do plano de saúde, quer seja por 72 horas, ou mais. Em situações em que a vida encontra-se em risco, e a necessidade de ação ou intervenção é imediata, o paciente é “obrigado” a assinar um termo em que se compromete com o pagamento das despesas caso haja a negativa do plano após a administração da medicação ou da realização de procedimentos. Os planos alegam que não podem autorizar de forma retroativa procedimentos realizados ou medicamentos já administrados. Os pacientes, por motivos óbvios, também não podem esperar tanto tempo pela análise dos pedidos, colocando em risco sua própria vida.

Um amigo passou por duas cirurgias grandes ao longo de 2007 e 2008 para retirar partes dos pulmões. Em 2009, teve que fazer uma cirurgia nas cordas vocais e seu plano não autorizou o procedimento, pelo qual teve que pagar. Posteriormente, procurou um bom advogado e ganhou o processo em todas as instâncias. No momento em que estamos sensíveis, debilitados com a doença, é por demais injusto, e até mesmo cruel, que sejamos sobrecarregados com a preocupação criada pela burocracia, ou até mesmo pela má-fé dos planos de saúde que, como me disse uma médica, demoram em dar a resposta, na expectativa da morte do paciente.

ZEROHORA.COM - Você concorda que os planos de saúde exageram na burocracia quando os clientes estão enfermos?

COMENTÁRIO DO BENGOCHEA - A burocracia sempre é o maior entrave em todas as áreas e poderes que prestam serviços públicos. Em nome do controle, a injustiça impera e faz suas vítimas. Entretanto, na saúde, a burocracia não é o principal problema, diante da falta de vontade política de resolução, do sucateamento da saúde pública, da desvalorização dos agentes de saúde, da inoperância preventiva, na falta de vagas nas emergências e no desprezo dos governantes pela saúde e vida do cidadão brasileiro que ficam impunes quando desviam recursos e não cumprem a legislação. Assim, os planos de saúde são feitos para agregar dinheiro e não para prestar assistência.

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

UMA GESTÃO PÚBLICA MELHOR NA SAÚDE

OPINIÃO - AMIR ATTARAN é professor e pesquisador nas áreas de Direito, Saúde Pública e Políticas de Desenvolvimento Internacional na Universidade de Ottawa. O GLOBO, 19/10/2011 às 15h52m

Se você tem mais de 40 anos de idade, deve se considerar sortudo, porque historicamente você deveria estar morto. Há apenas dois séculos, e por milênios antes disso, a expectativa de vida era a metade de hoje em dia. Devemos agradecer as ciências da medicina e da saúde pública, além da gestão legal e econômica das sociedades liberais modernas, por esta duplicação de nossas vidas.

Porém a medicina e a saúde pública já atingiram um patamar avançado, em que a expectativa de vida aumenta mais devagar, com custos mais altos. Já que as pessoas vivem mais, opções de estilos de vida (dieta, exercício físico) ajudam a evitar obesidade, doenças cardiovasculares, diabetes e câncer. Em uma população que está envelhecendo, cada vez mais uma vida longa não é uma vida saudável.

Estas transformações requerem uma reavaliação dos métodos atuais - devemos nos perguntar agora como a gestão pública das sociedades pode prevenir a doença. Bem antes de 2050, quando o brasileiro típico será uma mulher acima dos 80, a sociedade precisará se reorganizar para assegurar que estas pessoas tenham uma vida saudável. Isto quer dizer que a gestão das sociedades modernas, que antes melhorava as nossas vidas, agora precisa se adaptar para não destruir nossa saúde.

Esta semana acontece no Rio a Conferência Mundial sobre Determinantes Sociais da Saúde, da Organização Mundial de Saúde (OMS). Este é um evento muito importante: é o primeiro do seu tipo. Apropriadamente a agenda do evento prioriza a gestão pública, em vez da ciência ou da medicina. Governos precisam ser persuadidos que a saúde é um bom motivo para o uso dos controles de leis e impostos - controles que todos os governos possuem para direcionar a sociedade de forma justa e não tiranicamente - tanto para melhorar a saúde de todos como para diminuir as diferenças entre a saúde dos poderosos e dos fracos.

Nem todos os governos acatam esta versão do liberalismo, e, pior, muitos usam estes controles para destruir a saúde pública. Governos aprovam leis de subsídios agrícolas para fast food (portanto, um hambúrguer gorduroso e um biscoito doce são baratos), mas não subsídios agrícolas para slow food (portanto, comida caseira e frutas são caras). Ou governos investem em rodovias para bairros distantes onde as pessoas relativamente ricas têm que dirigir, em vez de aprimorar os centros urbanos onde todos nós possamos caminhar com segurança. Não é fácil definir os bens e serviços que merecem regulamentação e impostos, mas, com uma gestão pública assim, é de surpreender que mais e mais pessoas sofrem com a obesidade e a hipertensão?

Como professor e pesquisador nas áreas de ciência e direito, o que me preocupa é que a influência insuperável dos governos na saúde da população está sendo ignorada - por ser apreciada por poucos, ou temida por muitos. Em muitos países, até os mais ricos com sistema de saúde universal como a Grã-Bretanha, muitas vezes menos de 10 quilômetros separam bairros em que por questões sociais e econômicas a expectativa de vida diverge em 10-20 anos (no Rio, 12-8 anos). Mesmo assim, governos ainda evitam o uso dos controles de leis e impostos. Até a OMS, que deveria promover o tema, evitou a menção de "leis" ou "impostos" na agenda oficial. Em vez disso, a agenda divulga objetivos indefinidos como "Promovendo a participação e liderança da comunidade" - uma ironia porque, na sede da OMS em Genebra, nem as ONGs reconhecidas oficialmente pela organização têm acesso à participação nos grupos de trabalho. Nem a OMS oferece um bom exemplo didático.

O Brasil tem muitos problemas sociais, mas está se empenhando e muitas vezes oferece exemplos melhores do que os países mais "avançados". Recentemente na revista britânica "The Lancet", nossa equipe de pesquisa identificou leis brasileiras que possibilitam a licitação de equipamentos médicos menos dispendiosos - uma iniciativa inexistente no meu país, Canadá. Uma gestão pública melhor significa que no Brasil serviços sociais estão aumentando e a desigualdade social está diminuindo, enquanto no Canadá ocorre o oposto. Não é apenas simbólico que o vice-presidente e dois ministros de Estado brasileiros comparecerão à conferência da OMS, enquanto o Canadá não enviou nenhum ministro para o Rio, mas apenas burocratas sem autoridade.

SAÚDE PÚBLICA E CIDADANIA

CIRO SIMONI, SECRETÁRIO ESTADUAL DE SAÚDE - ZERO HORA 20/10/2011

Em novembro, o Gabinete Digital do governador Tarso Genro lançará uma nova ferramenta, o Governador Pergunta. Será um mecanismo de consulta pública visando recolher sugestões para a melhoria de serviços públicos. O primeiro tema será saúde pública.

É amplamente reconhecido o histórico de mobilização social em torno do tema nas últimas décadas, com destaque para a mobilização nacional à época da Constituinte, que assegurou inúmeras conquistas da cidadania na Carta Magna de 1988. Esse reconhecimento foi decisivo para que o governo optasse por essa discussão no lançamento do novo canal de participação.

A saúde desponta, em diversas pesquisas de opinião, como um dos temas que mais preocupam os gaúchos e gaúchas. Sabemos das inúmeras dificuldades que os governos brasileiros, em todos os níveis, têm encontrado na implementação do Sistema Único de Saúde (SUS).

Sabemos também que o tema do financiamento da saúde é decisivo, mas seria equivocado reduzir o problema a uma questão exclusivamente orçamentária. Há um amplo conjunto de questões que podem, e devem, ser debatidas pelos usuários do sistema de saúde, fornecendo aos gestores públicos subsídios para a tomada de decisões capazes de melhorar significativamente o atendimento à população.

É certo que todo governo segue uma determinada orientação, originada em um programa de governo aprovado pelas urnas. Entretanto, isso não impede que os governos façam – e é isso que propomos – uma permanente atualização de suas estratégias e políticas públicas, recolhendo da cidadania sínteses capazes de orientar ações e procedimentos decisivos para o funcionamento de um sistema tão complexo quanto o da saúde.

Pretendemos organizar uma ampla campanha de mobilização cidadã, envolvendo amplos segmentos sociais, de onde será gerada uma síntese orientadora de medidas para a melhoria do atendimento na rede pública.

O método de consulta virtual articula-se com o novo Sistema Estadual de Participação Cidadã do governo gaúcho, que envolve diversos mecanismos de consulta e deliberação pública, de maneira harmônica e complementar.

O Estado do Rio Grande do Sul reúne as condições para tornar-se referência em termos de renovação da agenda democrática neste início de século. Todo o legado de participação cidadã, cuja síntese mais expressiva segue sendo o Orçamento Participativo, precisa ser reativada em favor da abertura de novos horizontes para governança democrática.

Possibilitar debates públicos acerca de temas tão importantes para a vida de nosso povo, como é o caso da saúde pública, não deve ser visto com ceticismo. Afinal, a simples determinação de um governo em abrir-se ao debate público, sujeito a críticas e intervenções propositivas já é um grande passo no sentido da consolidação plena de nossa jovem democracia. Governo e sociedade sairão igualmente enriquecidos de uma experiência, acima de tudo, educativa e radicalmente democrática como a que propomos.

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

MACAS - FALTAM EM EMERGÊNCIA, SOBRAM EM NECROTÉRIO

Foto: Fábio Guimarães / Extra.


Macas que faltam em emergência sobram em necrotério de hospital na Zona Oeste do Rio. Macas abandonadas perto do necrotério do Hospital Rocha Faria. Hieros Vasconcelos, EXTRA, 19/10/2011

A falta de macas para receber pacientes nas unidades de saúde públicas do Rio provocou ontem uma situação inusitada no Hospital Estadual Rocha Faria, em Campo Grande. Lá, a situação é tão dramática que chega a faltar colchões para pôr em cima dos leitos improvisados. Por conta disso, pelo menos dez macas estão amontoadas ao lado do necrotério do hospital, servindo apenas para transportar corpos de pacientes.

O EXTRA esteve na unidade e constatou o problema, confirmado por funcionários que preferiram não ser identificados. As macas amontoadas encontram-se enferrujadas, sujas e com restos de esparadrapos. Em outro canto do hospital, próximo à cantina, mais desses equipamentos se misturam a aparelhos quebrados. Lá, uma ambulância aguardou uma hora para ter a maca devolvida.

Presidente do Sindicato dos Médicos (Sinmed), Jorge Darze lembra que a realidade do Rocha Faria se repete em todas as emergências da cidade e é um reflexo do “caos na saúde pública do estado”.

— Em qualquer emergência tem esse problema. Estão superlotadas. Mas a falta de colchões leva você a perceber a que ponto chegamos — diz Jorge Darze.

A deficiência prejudica o atendimento feito pelas ambulâncias. Um enfermeiro do Samu ouvido pelo EXTRA ficou quatro horas parado porque a maca da ambulância ficou presa, ontem, das 8h às 14h30m, no Hospital Estadual Carlos Chagas.

— Acontece isso também com a prancha rígida e com colares cervicais. Precisamos de todos instrumentos. A ambulância fica horas retida à espera da devolução e não temos como realizar atendimentos na rua — afirma o enfermeiro.

A Secretaria estadual de Saúde negou a falta das macas, também constatada pela Comissão de Saúde da Câmara dos Vereadores. Em nota, a secretaria afirma que “com a demanda aumentada, seja de forma espontânea, seja pelo Samu, em determinados momentos não há leitos imediatamente disponíveis para a acomodação do paciente trazido pela ambulância. A orientação é que ele fique na maca da ambulância até que o leito seja disponibilizado, no menor espaço de tempo possível. Ressaltamos que o problema é registrado, em sua maioria, nos dias em que a frequência da chegada de ambulâncias é maior".

MAIS LEITOS DE UTIs NO SUS, REIVINDICAM MÉDICOS

Mais leitos de UTIs no SUS - EDITORIAL CORREIO DO POVO, 19/10/2011

No Dia do Médico, registrado nessa terça-feira, os profissionais da área reivindicaram que as autoridades responsáveis pelo setor tomem as medidas necessárias para ampliar o número de leitos de unidades de tratamento intensivo (UTI) no Sistema Único de Saúde (SUS). O tema foi debatido em audiência realizada na Comissão de Assuntos Sociais (CAS) do Senado Federal.

Durante o encontro, a coordenadora-geral de Atenção Hospitalar do Ministério da Saúde, Ana Paula Cavalcante, concordou com a avaliação de que há um déficit muito grande desse tipo de leito na rede hospitalar dos entes estatais, tanto da União como dos estados e dos municípios. Segundo ela, a decisão de destinar um percentual de 4% do total desses leitos para urgências e emergências é um cálculo mínimo perto do montante necessário para atender a todos os pacientes.

Na avaliação de representante do Conselho Federal de Medicina (CFM), Mauro Luiz Ribeiro, a face perversa desse quadro caótico está no fato de que os pacientes que mais precisam são os que recebem o pior atendimento, isso quando ele é prestado, pois é comum que os hospitais recusem doentes por falta de vagas, obrigando-os a uma peregrinação em busca de acomodação.

Um outro elemento que complica a resolução dos gargalos das UTIs está na falta de especialização de profissionais que prestam assistência nelas. Dos cerca de 20 mil médicos que estão lotados para atuar nessas unidades, apenas 4 mil têm formação específica. Diante disso, é preciso formatar programas de aperfeiçoamento para que todos eles tenham acesso à qualificação necessária para atender bem a população.

O governo federal tem pela frente o desafio de melhorar o serviço de saúde para os brasileiros. Enquanto isso não ocorrer, as perdas de vidas continuarão a fazer parte do cotidiano do país.

terça-feira, 18 de outubro de 2011

HOJE É DIA DO MÉDICO

MÁRCIA REGINA GHELLAR, PRESIDENTE DA ASSOCIAÇÃO CATARINENSE DE MEDICINA (ACM )- DIÁRIO CATARINENSE, 18/10/2011


O Brasil comemora hoje o Dia do Médico, profissional que enfrenta um cenário de desafios sem precedentes, seja na assistência prestada na rede pública (Sistema Único de Saúde SUS), seja no atendimento da rede complementar (operadoras de planos). A data é, por essa razão, motivo de reflexão para os mais de 13 mil médicos em atividade em Santa Catarina (347 mil no país), para a sociedade e governantes que têm o poder de decidir os destinos da saúde. Na linha de frente da assistência prestada à população, os médicos são os maiores aliados da comunidade na preservação da vida, direito maior no exercício da cidadania plena.

A Associação Catarinense de Medicina, a mais antiga entidade médica do Estado, é hoje a porta-voz das lutas que envolvem a categoria. Essa responsabilidade inclui a defesa de condições adequadas de trabalho, uma assistência de qualidade aos pacientes, política de saúde digna, remuneração justa aos profissionais e financiamento da rede condizente com a necessidade das comunidades. Ainda é meta da ACM a busca do constante aprimoramento dos médicos, em conjunto com as sociedades de especialidades, para acompanhar a veloz transformação da medicina, no diagnóstico e tratamento das doenças. Melhorias nas escolas médicas, defesa da regulamentação da profissão e de contratos de trabalho que respeitem a ética médica também fazem parte do rol de batalhas a serem vencidas.

Diante de tantos desafios enfrentados diariamente nos diversos hospitais, postos de saúde, consultórios e bancos escolares das faculdades de Medicina, a ACM presta hoje uma homenagem especial a todos que aceitaram o desafio de ser instrumento de saúde e de qualidade de vida. Num gesto de reconhecimento e agradecimento, a entidade associativa da classe parabeniza e agradece aos médicos de Santa Catarina.

E SE FOSSE SUA MÃE

OPINIÃO. LIGIA BAHIA é professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro. E-mail: ligiabahia55@gmail.com. O GLOBO, 17/10/2011 às 17h44m

Duas expressões do jargão profissional -"saúde é coisa muito séria para ser pensada só por especialistas"; "e se fosse sua mãe, o que você faria?" - orientam há muitas gerações as boas práticas assistenciais. Parecem óbvias, indelicadas, a última até chula, mas sintetizam precisamente limites que não devem ser ultrapassados pelas instituições de saúde. Recorre-se à primeira para prevenir a empáfia, perante circunstâncias nas quais a lembrança da não imortalidade evita medidas que causariam mais dano do que conforto aos pacientes, e ainda quando é necessário ponderar o valor das intervenções isoladas da saúde. A segunda, proferida sempre como exortação, traz para perto o imperativo kantiano do agir como princípio de lei universal. Cada ser humano é singular, insubstituível, logo digno da melhor e toda atenção disponível.

Se tivessem sido tratados como filho ou mãe, nem o corpo de um recém-nato teria desaparecido no inicio de outubro, em um hospital privado da maior empresa de planos privados de saúde do país, localizado em Niterói, nem uma senhora considerada morta poderia ser encontrada viva, no final de setembro, em um estabelecimento de saúde pública na cidade de Duque de Caixas. Do descaso que explode de ambas as situações retira-se conclusões obrigatórias. Existem graves problemas de gestão no sistema de saúde brasileiro, com efeitos deletérios similares quer quando originados na rede SUS, quer na de serviços privados. Segue-se da exposição de fatos tão dramáticos que as garantias de segurança e qualidade da atenção da rede privada, às quais se somam o uso consciencioso de recursos financeiros provenientes dos tributos, devam ser objeto prioritário da política de saúde. O que não é possível extrair da realidade é que para pôr fim à má gestão basta trocar a placa de público para o privado.

Volta e meia alguém saca da algibeira a equação "mais receita e menos despesa", combinada ou não com a eliminação dos corruptos. Neófitos bem intencionados ou antigos e recentes agentes interessados em obter vantagens políticas ou financeiras costumam simpatizar com a ideia de que a privatização é capaz de reduzir, em uma penada, os gastos, e extirpar malversadores incrustados em imaginárias burocracias imensas e mofadas. Mas, para a saúde, a qualidade das ações é tão importante quanto a eficiência. A utilidade social dos serviços de saúde será sempre um estorvo para quem pretende obter mais retornos financeiros em decorrência da desassistência.

Adicionalmente, a não identificação das estruturas que estimulam atos ilícitos termina por trasladá-las intactas para dentro das gestões privatizantes.

A constatação de que a má gestão não é apanágio do SUS transforma alguns dos mais intrépidos reformadores em incorrigíveis pessimistas. Aqueles que generosa ou egoisticamente emprestam apressadamente o conhecimento de seus ilibados e exitosos empreendimentos sentem-se derrotados pelas dificuldades de padronização e pelo impedimento de medir resultados de algo que não é um bem material, passível de estocagem. O trabalho na saúde não é rotineiro, repetitivo e simples.

Diversos estudiosos atribuem o reduzido tempo útil de vida das mudanças cosméticas nas organizações de saúde às incompreensões sobre o papel dos profissionais que nelas atuam. Profissionais de saúde são trabalhadores diferenciados, o desempenho em tarefas especializadas requer autonomia, para permitir execução de tarefas que não se adaptam à estandardização industrial. Quem define o conteúdo da atividade dos profissionais não é um superior hierárquico. As instituições de saúde não se fundam na hierarquia burocrática, e sim em conteúdos obtidos mediante longos períodos de aprendizado. É a formação que internaliza as habilidades e competências.

As alternativas encontradas no Brasil para controlar e incentivar o trabalho dos profissionais mostraram-se inadequadas às finalidades da saúde. Na rede pública, tornou-se frequente estabelecer acordos de redução de carga horária em função do reconhecimento tácito dos baixos salários. Os serviços privados nunca deixaram de pagar aos médicos mediante uma vetusta, ainda que repaginada, tabela contendo valores diferenciados por cada procedimento realizado. Quem controla esses contratos formais ou informais de trabalho no SUS são dirigentes indicados, na maioria das vezes, por instâncias político-partidárias. A centralização dos recursos orçamentários impede que os gestores da pasta disponham de autonomia para executá-los. Essa perversa conjugação de estímulos aos múltiplos vínculos e desestímulos ao desempenho voltado à melhoria da saúde é o principal problema de gestão. Consequentemente, propor a substituição de carreiras, cargos e salários por incentivos monetários e o trabalho sob regimes precários, e perenizar critérios antirrepublicanos para a escolha de gestores acentuam tanto a desvalorização dos profissionais de saúde quanto a desprofissionalização da gestão.

Queixas do tipo "o médico não olhou na minha cara" se multiplicaram na mesma proporção do menosprezo às peculiaridades de organizações que dependem da qualificação de quem nelas trabalha. Enquanto a exigência de um alto grau de discernimento pessoal dos profissionais de saúde repercutir tanto no controle de suas atividades quanto sobre parte das decisões administrativas, cabe à gestão e aos gestores propiciar instrumentos de trabalho e infraestrutura, e ainda corrigir más condutas. A transferência de responsabilidade do profissional para a administração compromete a eficácia das ações. Por mais que se desenhe um futuro no qual a mercantilização da saúde se imponha é improvável que alguém queira ser tratado em uma cabine virtual como um e-patient. Até o momento, as relações pessoais nas ações de saúde não caíram em desuso, e, sem pretensão, humanizam a inovação tecnológica e a gestão. A saúde tem problemas de gestão, de financiamento e políticos. A pompa com que se apresenta apenas um deles não pode servir para disfarçar a realidade e mesmo a verdade. Os que dizem que tudo pode ser solucionado com a correção de falhas na gestão, desde um posto de observação externo à saúde, sequer as reconhecem.

MUNICÍPIOS EXIGEM MAIS RECURSOS

Municípios exigem mais recursos do Estado - ZERO HORA 17/10/2011

Um dos objetivos do levantamento realizado pela CNM é dar subsídio às reclamações dos prefeitos sobre falta de infraestrutura para atender casos mais complexos e rebater críticas sobre a prática da chamada “ambulancioterapia” – prática de enviar pacientes de cidades menores para grandes centros.

O levantamento da CNM foi complementado com dados que sugerem a falta de médicos e hospitais públicos no Interior – 48% dos profissionais gaúchos estariam concentrados na Região Metropolitana.

Para Ziulkoski, a principal falha é a escassez de investimentos em âmbito estadual.

– Os municípios investem mais em saúde do que o previsto em lei. Enquanto isso, desde 2000, o Estado deveria ter aplicado R$ 6 bilhões em saúde que foram para outras áreas. Por isso, a grande maioria dos hospitais cadastrados no SUS é privada, e não pública, enquanto o correto seria o contrário – critica o presidente da CNM.

Ziulkoski lembrou ainda que o Rio Grande do Sul tem um índice de investimento em saúde pior do que outros Estados, com 7,6% da receita, enquanto a lei preconiza um mínimo de 12% para as administrações estaduais.


Contraponto: O que diz a Secretaria Estadual da Saúde - O secretário-adjunto da Secretaria Estadual da Saúde, Elemar Sand, afirma que é necessária uma reestruturação geral do SUS, mas discorda da atribuição de culpa a uma esfera de governo. Sand avalia que não adianta “jogar a responsabilidade de um para outro”, mas lembra que o Brasil é um dos países que menos aplica recursos em saúde no mundo proporcionalmente ao PIB.

– Estamos há poucos meses no governo, mas para o ano que vem já estamos recompondo repasses com um aumento real sobre o valor bruto aplicado em saúde de 30%. De R$ 1,150 bilhão, vamos investir R$ 1,5 bilhão. É uma resposta em termos de valores, mas também estamos trabalhando para melhorar a gestão, a regulação do Samu, das UTIs, a regionalização da saúde e o fortalecimento das coordenadorias regionais – aponta Sand.

SUS - DEMANDA REPRIMIDA PELA MOROSIDADE NO ATENDIMENTO


DEMANDA REPRIMIDA. SUS do RS tem fila de meio milhão de procedimentos. Ortopedia, oftalmologia e otorrinolaringologia são especialidades em que mais falta atendimento - MARCELO GONZATTO, ZERO HORA 17/10/2011

Conseguir uma consulta com um especialista é o principal desafio dos pacientes do SUS no Rio Grande do Sul, segundo uma pesquisa da Confederação Nacional dos Municípios (CNM) apresentada ontem em Porto Alegre. O estudo estima que quase meio milhão de procedimentos de saúde aguardam atendimento no Estado, dos quais 47% se referem a pacientes em uma fila invisível para consultar principalmente especialistas de ortopedia, oftalmologia e otorrinolaringologia.

O estudo sobre a situação do SUS no Estado teve como base informações prestadas por 127 prefeituras gaúchas (25,6% do total) sobre a quantidade de procedimentos que aguardavam agendamento no período entre 8 de maio e 30 de junho de 2011. Os demais municípios, incluindo cidades importantes da Região Metropolitana como Porto Alegre, Alvorada e Viamão, não responderam ao questionário enviado pela CNM.

Por isso, fazendo uma projeção dos dados parciais para toda a população do Rio Grande do Sul, o levantamento estima que 476 mil solicitações de consultas, exames, internações, cirurgias e outras ações de saúde se encontravam na fila.

Não foi pesquisado por quanto tempo, em média, essas requisições se encontravam pendentes. Porém, conforme o presidente da CNM, o gaúcho Paulo Ziulkoski, esse montante é um indício de que o SUS enfrenta um gargalo no Rio Grande do Sul.

– Nos últimos 15 anos, os municípios assumiram a assistência básica. Mas o andar superior (média e alta complexidade) não está atendendo, e precisamos saber o porquê – observou Ziulkoski.

Com base na amostra de 109,6 mil procedimentos represados que foram informados pelos municípios participantes da pesquisa, a confederação indica que as consultas com especialistas formam a principal fila de pacientes no Estado, respondendo por 47,6% da demanda reprimida. A área mais concorrida é de ortopedia e traumatologia, seguida por oftalmologia.


Cirurgias são um gargalo do sistema
A busca por diagnóstico também se acumula nos corredores do SUS gaúcho, representando quase um terço da demanda. A espera por uma cirurgia é outro problema sublinhado pela pesquisa, e equivale a 17% dos demais procedimentos buscados pelos pacientes, exceto as consultas.

Os tipos de operação mais solicitados são de visão, aparelho digestivo e circulatório, e de mama.

Em uma lista dos municípios com maior número de procedimentos na fila, destacam-se Guaíba (12,6%) e Esteio (10,9%).

Porém, como o levantamento não incluiu todas as cidades do Estado, não é possível estabelecer um ranking geral. Não foi divulgada uma lista completa das prefeituras que responderam ao questionário. Conforme Ziulkoski, esses primeiros resultados deverão ser aprimorados no futuro.

– Pretendemos inclusive ampliar a pesquisa para outros Estados, mas é um trabalho exaustivo – afirmou.

A PESQUISA - Confira o diagnóstico do SUS no Estado apresentado pela CNM:

- A CNM enviou questionários para as prefeituras gaúchas a fim de verificar o número de procedimentos de saúde à espera de atendimento;

- Dos 496 municípios, 127 responderam com informações sobre a quantidade de ações de saúde e o tipo de atendimento desejado pelos pacientes;

- Os dados foram coletados entre 8 de maio e 30 de junho de 2011;

- Foram considerados como demanda reprimida todos os procedimentos ambulatoriais, exames, consultas especializadas e internação aguardando agendamento no município de referência

CRISE DE IDENTIDADE

ALOYZIO ACHUTTI, MÉDICO - ZERO HORA 17/10/2011

Na medicina, tentamos preservar princípios éticos consagrados desde 400 anos antes da era cristã (ao menos para nós, ocidentais). Precisamos de profissionais para nos orientar quando sentimos ameaçada nossa saúde, ou que nos cuidem quando fragilizados pela doença. Confiança e dignidade são essenciais nessas horas.

Afora a mística que reveste e protege a relação humana, tudo o mais mudou com o desenvolvimento científico e tecnológico. As chances de intervenção e de sucesso aumentaram enormemente, mas, na mesma proporção, os riscos e responsabilidades. Conhecimento, capacidade e habilidade individuais não são mais suficientes para utilizar todos os recursos disponíveis. Surgiram especialidades, trabalho organizado e em equipe, e integrado com outras profissões. Os custos também aumentaram astronomicamente, na mesma proporção ou mais do que o progresso, exigindo estratégias de previdência e sociais.

Ficou evidente que a vida e sua qualidade não dependem apenas de cada indivíduo, mas da sociedade e do ambiente onde convivemos e de onde tiramos nosso sustento. Também descobrimos ser necessário intervir mais precocemente, prevenir e não somente remediar. Desviamos a atenção para além do setor saúde e chegamos à conclusão de que médicos sozinhos ou mesmo em equipe nos tornamos insuficientes para alcançar os objetivos a que nos propomos, e que a sociedade de nós espera.

De profissionais liberais e independentes, passamos a peças de um complexo que, para funcionar, precisa estar integrado e ter suporte político, econômico e social. As circunstâncias nos obrigaram a colaborar com outros agentes e instituições com princípios e objetivos distintos e muitas vezes sem os recursos necessários. Continuamos como símbolo e esteio da saúde, mas não somos os responsáveis pelas escolhas feitas pela sociedade e pelas suas lideranças políticas e econômicas. Resta-nos aconselhar, orientar e denunciar tudo aquilo que foge ao alcance de nossos braços.

Nós mesmos entramos em conflito e sofremos crise de identidade, atribuindo-nos funções que nos escapam ao controle. É preciso deixar bem claro para a sociedade e suas lideranças até onde alcança nossa responsabilidade, e que condições e recursos são necessários para conseguir curar, prevenir doenças e preservar a saúde.

Como médicos, preparamo-nos para ser excelentes cuidadores, habilidosos técnicos, perspicazes cientistas, bons organizadores de serviços, e comunicadores sociais, mas não temos condições de realizar milagres sem recursos, sem dignidade, sem chegar às raízes dos problemas situadas fora do setor saúde. Os princípios postulados em nosso código de ética é que distinguem nossa profissão, nos identificam e nos conferem dignidade, entretanto continuamos como cidadãos comuns com os deveres e direitos de exigir definições políticas adequadas, boa gestão dos recursos sociais, e controle da corrupção.

SUS GAÚCHO - 500 MIL PROCEDIMENTOS NÃO ATENDIDOS

Estudo aponta 500 mil procedimentos não atendidos no SUS gaúcho. Levantamento mostra que RS deixou de aplicar R$ 6 bilhões na saúde desde 2000 - Danton Júnior / Correio do Povo,17/10/2011 21:03

Uma pesquisa realizada entre maio e junho deste ano pela Confederação Nacional dos Municípios (CNM) estima que durante o período havia, em todo o Rio Grande do Sul, mais de 500 mil procedimentos reprimidos no Sistema Único de Saúde (SUS). Os dados foram apresentados nesta segunda-feira em coletiva de imprensa.

De acordo com o presidente da CNM, Paulo Ziulkoski, o número expõe uma situação de caos provocada pela falta de investimentos dos governos estaduais no setor. “Existe uma enorme demanda reprimida em consultas, exames de diagnóstico e internações no SUS gaúcho. Isso caracteriza falta de resolubilidade para as demandas da atenção básica”, avaliou. Ele destacou que o RS é o Estado que menos receita aplica em saúde. “Está arrebentando tudo no colo das prefeituras, que não tem o que fazer”, acrescentou.

Para calcular a demanda a CNM pesquisou 127 municípios gaúchos, o que corresponde a 25% do RS. Nestas cidades, a demanda reprimida é de 109,6 mil. Com base nestes dados, o número foi elevado para 472.737 procedimentos em todo o Estado. Como a maior cidade do RS, Porto Alegre, não enviou os dados à pesquisa, Ziulkoski avalia que o total é superior a meio milhão.
A demanda reprimida apontada pela pesquisa inclui entre os procedimentos consultas especializadas (47,6%), exames de diagnóstico e outros (31,9%), internações (1,4%) e procedimentos com menos demanda (19,1%).

O presidente da CNM apontou que o Rio Grande do Sul conta com apenas quatro hospitais estaduais - todos localizados em Porto Alegre -, de um total de 352. Mais de 85% das instituições são de natureza privada. “Segundo o artigo 17 da lei 8080/90, é responsabilidade do Estado organizar e gerir a rede de alta complexidade, assim como é de sua competência organizar a rede de referência e contra-referência”, ressaltou.

RS aplica pouco mais da metade na Saúde

O estudo acrescenta ainda que, enquanto estados como Santa Catarina e Pernambuco investem mais do que o mínimo determinado pela Emenda 29 em saúde, que é de 12% - 12,04% e 17,64%, respectivamente -, o Rio Grande do Sul aplicou, em 2010, apenas 6,7%. De acordo com Ziulkoski, considerando os porcentuais que deixaram de ser investidos, o Estado deixou de aplicar R$ 6 bilhões em saúde desde 2000, data da promulgação da Emenda 29. O cálculo, porém, leva em conta os números informados pelo governo, que inclui despesas com previdência e saneamento. Excluídos estes valores, o déficit é ainda maior.

O líder municipalista ressaltou que, ao contrário dos estados, as prefeituras são cobradas e punidas caso não apliquem o mínimo de 15% das receitas em saúde. “A lei no Brasil não é igual para todos. É aplicada para uns de uma forma, e de outra para outros.” Ele acrescentou que, embora a CNM lute pela regularização da Emenda 29, os estados já deveriam cumprir o mínimo de investimentos desde 2000, data da promulgação da emenda. Esta foi a primeira edição da pesquisa, que em breve deverá ocorrer em outros estados.

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

O GOVERNO E A RESIDÊNCIA MÉDICA

OPINIÃO - O Estado de S.Paulo - 17/10/2011

Depois de extinguir o credenciamento especial dos cursos de pós-graduação lato sensu oferecidos por instituições não educacionais, atingindo com isso - entre outras consequências desastrosas - os cursos de especialização oferecidos pelos mais renomados hospitais do País, o Ministério da Educação (MEC) voltou a causar confusão no setor. Agora, com o objetivo alegado de resolver o problema da falta de médicos na área de saúde pública, o Ministério da Educação, em parceria com o Ministério da Saúde , está interferindo nos programas de residência médica dos hospitais universitários.

Por meio de uma simples portaria, os dois Ministérios determinaram que os médicos recém-formados que participarem do Programa de Valorização do Profissional de Atenção Básica durante um ano terão direito a receber pontuação extra nas provas de seleção para residências médicas.

Como a procura por vagas em residências é muito maior que a oferta, os médicos recém-formados candidatos a uma vaga são submetidos a provas ainda mais rigorosas do que as dos vestibulares em medicina. A escolha baseada exclusivamente no mérito e na competência técnica é um dos fatores que contribuem para a alta qualidade da formação dos profissionais em medicina no País, segundo as entidades especializadas e órgãos corporativos do setor médico.

A concessão de pontuação extra aos recém-formados que trabalharem em hospitais públicos, proporcionada pela portaria do Ministério da Educação e do Ministério da Saúde, nada tem a ver com mérito e desfigura o eficiente sistema de seleção das residências médicas. Além disso, a portaria fere o princípio da autonomia universitária, pois impõe aos hospitais mantidos por instituições de ensino superior critérios e obrigações que nada têm a ver com ensino, capacitação técnica e treinamento.

Para os coordenadores de residência médica das principais universidades brasileiras e para os dirigentes dos órgãos corporativos do setor, a portaria do Ministério da Educação e do Ministério da Saúde é prejudicial também porque leva médicos recém-formados e sem um mínimo de experiência a assumirem na rede hospitalar pública responsabilidades para as quais não estão preparados, apenas para obter a pontuação extra para as provas de seleção.

"Um médico que sai da faculdade não tem condição de estar à frente de um serviço de atenção básica na rede pública", diz o presidente do Conselho Regional de Medicina de São Paulo (Cremesp), Renato Azevedo Júnior. "Sem o preparo necessário, esse profissional vai se transformar num mero encaminhador de pacientes para outros serviços", acrescenta o vice-diretor da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, José Auler Júnior.

A portaria dos Ministérios da Educação e da Saúde cria dois problemas onde havia um só. Para resolver o problema da escassez de médicos na rede pública, ela compromete a qualidade do ensino da medicina. E os médicos que ela estimula a trabalhar nos hospitais públicos não têm preparo e experiência para atuar nos serviços de emergência e pronto atendimento, o que submete os pacientes a uma assistência médica de má qualidade, expondo-os a situações de risco.

"Foi uma tática para tapar buraco", resume o presidente do Cremesp. Reagindo às críticas, a secretária executiva da Comissão Nacional de Residência Médica, Maria do Patrocínio Nunes, alega que "toda mudança gera uma discussão" e que a polêmica provocada pelo Programa de Valorização do Profissional de Atenção Básica já era esperada pelos Ministérios da Educação e da Saúde. Esse argumento revela a precariedade do processo de decisões de fundamental importância para a saúde e o bem-estar da população.

Invocando o princípio da autonomia universitária previsto pela Constituição, a direção da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo anunciou que não mudará os critérios vigentes de seleção para residência médica. A direção da escola não pretende nem mesmo recorrer à Justiça, para questionar a portaria. Vai simplesmente ignorá-la.

PRIMEIRO, A VIDA

EDITORIAL ZERO HORA 17/10/2011


Compreende-se que os serviços públicos de emergência adotem protocolos de segurança para se prevenir contra trotes que, invariavelmente, causam prejuízos e desviam a atenção dos profissionais de plantão. Mas o que ocorreu na semana passada com o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) deve servir de advertência para impedir que a burocracia e a obediência cega a procedimentos preestabelecidos coloquem vidas em risco. Ao negar atendimento para uma estudante que passava mal, porque a solicitação não partira dela nem de uma pessoa que estivesse próximo da paciente, o Samu protagonizou uma situação de negligência incompatível com a utilidade e a presteza do serviço.

Vale para o Samu, vale para os bombeiros, vale para a polícia e para todas as organizações que oferecem atendimento de urgência: a vida humana tem que vir em primeiro lugar. Ainda que a chamada telefônica pareça falsa ou inconfiável, é obrigação do operador que a recebe esgotar todas as possibilidades de checagem. Com a facilidade de comunicação existente hoje, torna-se absolutamente dispensável que o solicitante esteja próximo da vítima ou do local onde possa estar ocorrendo um desastre. No mundo tecnológico em que vivemos, já não são incomuns episódios em que o pedido de socorro é feito por pessoas que estão em outros países ou em outros continentes.

Infelizmente, a demora no atendimento pode ter sido determinante para a morte da estudante de Frederico Westphalen, que morava sozinha em Porto Alegre. Foi, porém, uma excepcionalidade, gerada acima de tudo pela má comunicação. A regra geral é que o Samu aja com presteza e celeridade, como se constata diariamente no atendimento de acidentes de trânsito e mesmo no socorro a doentes graves. Mas o triste episódio mostra que o serviço pode – e deve – ser aperfeiçoado.

COMENTÁRIO DO BENGOCHEA - O título deste editorial deveria ser lema para os Governantes e políticos brasileiros. Por vir em primeiro lugar, a vida não tem preço. Portanto, quando os governantes esquecem de investir em educação (preparação para a vida), saúde (prevenção, tratamento e cura) e segurança (sobrevivência) estão desprezando a vida dos cidadãos que governam e pagam o custo deste governo.

domingo, 16 de outubro de 2011

LEI DE DOAÇÃO PRESUMIDA - POR FAVOR, OUTRA VEZ, NÃO!

POR FAVOR, OUTRA VEZ, NÃO! - José J. Camargo, Diretor do Centro de Transplantes da Santa Casa de Porto Alegre e pioneiro em transplante de pulmão na América Latina - ZERO HORA 16/10/2011


A boa intenção é importante na proposição de emendas constitucionais, mas não é suficiente se não houver aplicabilidade à nova lei. Isso ficou bem claro quando, no governo de FHC, foi proposta a lei da doação presumida, ou seja, todo brasileiro, ao morrer, seria doador de órgãos, a menos que em vida houvesse se manifestado, por escrito, contra a doação. Consequência: o povo inculto se sentiu coagido pela legislação e as doações diminuíram. Aliás, nunca se transplantou tão pouco como naquela época. Mais do que isso, o povo instado a colocar nos documentos a sua opção pessoal, involuntariamente contribuiu para traçar o mapa do desenvolvimento social brasileiro. No Brasil que parece Bélgica, as negativas chegaram a 17%-18%, enquanto que no Brasil que tem certeza de que é Índia, esses índices ultrapassavam 86%.

Mal passados 14 anos, sem nenhuma razão para supor que tenhamos avançado mais que poucos milímetros na escala do desenvolvimento social, eis que a malfadada lei pinta outra vez no horizonte, trazida pela ingênua intenção de ajudar da deputada gaúcha Manuela D’Ávila.

Nada poderia ser mais impróprio e inoportuno, numa área em que somos tão carentes de educação.

Essa lei funciona bem, e há muito tempo, na França ou na Espanha, onde um pai, se for informado da morte do filho, quando conseguir falar depois do impacto da tragédia, provavelmente perguntará: “A que horas devolverão o corpo depois da retirada dos órgãos?”.

Ou na Áustria, onde há 200 anos os médicos realizam necropsia, sem autorização da família, sempre que considerarem que o exame post mortem pode contribuir para o entendimento do caso.

Era fácil presumir, e a experiência prévia confirmou, que não funciona aqui, nesta colcha de retalhos cultural, onde desinformação, crenças e mitos convivem com uma naturalidade só explicada pela democratização da ignorância.

Lembramos bem os argumentos usados pelo povo para negar a doação naquela época: mesmo assegurando que nenhum órgão seria retirado sem a concordância da família, o que por si só já evidenciava a inocuidade da lei, os incautos bramiam que essa lei fora criada para obrigar os pobres a doar para os ricos necessitados de transplante.

É ingênuo supor que se pode copiar leis que são acatadas em países desenvolvidos e implantá-las aqui, onde toda semana se anunciam curandeiros milagrosos e até um astro global parece compenetrado ao submeter-se a uma cirurgia espacial para tratamento de um linfoma. Menos mal que a quimioterapia não foi suspensa para avaliar os resultados do método divino!

Cara deputada, converse com pessoas ligadas ao Sistema Nacional de Transplantes e descubra que a passos seguros estamos avançando nesta área e em vários Estados brasileiros as taxas de doação por milhão de habitantes já se aproximam dos índices europeus, e, por favor, retire esta sua emenda.

Sensibilizados com sua boa vontade e desprendimento, marcas inquestionáveis de sua atuação política, deixamos três pedidos:

– Converse com as pessoas que transplantam, ouça a Associação Brasileira de Transplante de Órgãos (ABTO) e informe-se do que ocorreu no passado tão próximo.

– Proponha a obrigatoriedade do ensino nas escolas de ensinos Fundamental e Médio, de temas sobre a morte encefálica e a doação de órgãos. As nossas crianças seriam os veículos da informação para o seio familiar e os artífices da criação de uma cultura sólida neste assunto, que atualmente é considerado um confiável marcador de desenvolvimento social em todo o mundo.

– Exija o cumprimento de uma portaria que propunha a criação do cadastro nacional dos doadores de órgãos, uma medida útil para antecipar a decisão pessoal de cada brasileiro, e que nunca saiu do papel.

Como se vê, é possível contribuir para o aperfeiçoamento desse processo.

E sem repetir os danosos erros do passado!