sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

AS PESSOAS ESTÃO PRECISANDO DE FÉRIAS?

RODRIGO GRASSI DE OLIVEIRA, COORDENADOR DO NÚCLEO DE ESTUDOS E PESQUISA EM TRAUMA E ESTRESSE DA PUCRS - ZERO HORA 30/12/2011

Alguns dias atrás, fui a uma famosa confeitaria, ingenuamente tentar comprar uma torta para as festas de final de ano. Chegando ao local, vi nobres senhoras, com seus cabelos, unhas e roupas impecáveis àquela hora da manhã. Confesso que até me questionei se eu mesmo estaria apropriadamente vestido para adentrar naquele recinto, já que quando me dirigi ao balcão de atendimento pressenti uma certa hostilidade entre tão distintas senhoras. “Tem que pegar a ficha”, “não sobrou mais nada, nem adianta ficar aqui”, “essa torta de chocolate é minha, só para te avisar”, foram algumas das frases de boas-vindas que recebi. Solicitei uma ficha e aguardei, várias outras senhoras com as mesmas características chegavam e iam se acumulando, e também recebidas com aquele carinho todo. Definitivamente, não era só comigo o incômodo.

Subitamente, uma atendente anunciou que uma torta de chocolate estava chegando. No mesmo instante, todas aquelas senhoras transformaram-se em vorazes predadoras. Não existiam mais fichas, não existia mais ordem, não existia mais educação, todas gritavam, se acotovelavam, e nesse instante os cabelos eram jubas, as unhas eram garras, e as roupas, pelagens dignas de savanas africanas. Resolvi sair correndo, fugir dessas leoas, eis que o segurança me olhou placidamente e disse: “Nesta época do ano, o pessoal fica bem estressado”.

As pessoas estão precisando de férias? Foi então que me lembrei do livro Por que as Zebras não Têm Úlceras?, escrito por um importante neurocientista, professor da Universidade de Stanford, chamado Robert Sapolsky. Muitos já devem ter escutado a história das zebras de Sapolsky, mas creio que cabe resgatar algumas ideias para responder a essa pergunta.

Em seu livro, ele conta que as zebras precisam enfrentar situações muito estressoras, como ter um grupo de leoas tentando caçá-las, ou mesmo terem sido atacadas por uma dessas leoas. As zebras ou morrem, ou escapam. O interessante é que, se escaparem, logo a seguir a vida volta ao normal e elas continuarão pastando tranquilamente. As zebras conseguem se adaptar a essas situações de estresse agudo e não permitem que elas se acumulem. O estresse não é ruim, ele é o mecanismo de defesa às adversidades da vida.

O problema é o estresse crônico, de que os humanos parecem gostar tanto. Passamos o ano acumulando preocupações e criamos a expectativa de que, assim que mudar o ano, voltaremos a “pastar” tranquilamente. Isso não irá ocorrer se a nossa mente estiver acostumada a perceber apenas sofrimento e os aspectos negativos das nossas experiências. Precisamos de férias para isso. Precisamos reprogramar nossa mente para que a mesma não se torne um filtro mental de coisas negativas. Assim, as férias não serão efetivas se ficarmos alcoolizados o dia inteiro para não pensar, se chegarmos com a torta de chocolate mais concorrida na ceia de final de ano e fingir que tudo vai “zerar” naquela noite, se não aprendermos que, assim como as zebras de Sapolsky, o segredo é a rápida adaptação. De outra forma, aconselho evitar a compra de tortas de chocolate no final de 2012.

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

DOENÇA DA PRESSA

BEATRIZ FAGUNDES, REDE PAMPA, O SUL
Porto Alegre, Segunda-feira, 19 de Dezembro de 2011.


Os pacientes recorrem aos médicos devido aos sintomas variados: taquicardia, dores musculares, cefaleia e palpitações, sem perceber que a ansiedade está por trás deles.

Mareio Bernik

Pois é, já estamos na semana do Natal. O velho 2011 já está de malas prontas para desaparecer, mergulhando no passado. Já está com suas horas contadas. Logo será apenas uma lembrança. É voz corrente que o tempo esta passando depressa demais. Pelo menos nos meios em que circulo, e não são muitos, é constante o papo sobre a correria, a falta de tempo. Não fiz quase nada do que me propus, no final de 2010, realizar no ano que finda. Mas, o fato não esta me causando desconforto. Abandonei a ideia de que se não realizamos nossos projeto fracassamos. Não deu, não me empenhei e pronto! Quem sabe em 2012? Aboli, definitivamente, a famigerada "lista" de intenções e "coisas" a fazer no ano que vai nascer. Às pessoas inflexíveis e com sintomas de hurry sickness (doença da pressa) passei a desejar períodos maiores de meditação. Costumo brincar e dizer, a lá Torloni: "Relaxa bebê!" Li no site Methodos que o termo usado para pessoas com esses sintomas da doença da pressa foi criado pelo cardiologista americano Meyer Friedman em 1959. O médico reparou que os braços das cadeiras da sala de espera duravam pouco. Descobriu que os pacientes se sentavam na ponta dos assentos, na posição de quem pretende levantar a qualquer momento, e batucavam, nervosamente, nos apoios de braços das poltronas. Friedman resolveu estudar os efeitos do estresse. Concluiu que pessoas tomadas pelo sentimento de urgência constante e irritabilidade eram mais sujeitas a problemas cardíacos.

A ideia de doença da pressa continua atual. Dois estudos recentes tentam mapeá-la. O primeiro deles foi feito pela coordenadora do Laboratório de Estudos Psicofisiológicos do Stress da PUC, de Campinas, Marilda Lipp. Ela ouviu quase 2 mil pessoas com mais de 25 anos em São Paulo, Rio de Janeiro e Campinas e descobriu que 65% dizem viver com pressa. "Quase todos nós temos pressa, mas em 10% das pessoas que entrevistei esse sentimento é exagerado", diz Marilda. "Essas pessoas fazem diversas atividades ao mesmo tempo, vivem com a sensação de urgência e se irritam quando sentem que estão perdendo tempo." Ana Maria Rossi, da International Stress Manage­ment Association (Associação Internacional de Gerenciamento do Estresse), entrevistou 900 profissionais de 24 a 58 anos, em São Paulo e em Porto Alegre. Constatou que 36% deles sofrem da doença da pressa. Eles sentem pressa de forma crônica e injustificada. O preocupante nos resultados dessa pesquisa é que o grupo identificado com esse perfil apresenta uma série de disfunções.

Segundo o levantamento, 93% reclamam de crises de ansiedade, 91% de angústia e 57% de sentimentos de raiva injustificada. Dores musculares, incluindo dor de cabeça, atingem 94% dos entrevistados, 45% deles sofrem com distúrbios do sono e 24% com taquicardia. "Os pacientes recorrem aos médicos devido aos sintomas variados: taquicardia, dores musculares, cefaleia e palpitações, sem perceber que a ansiedade está por trás deles", diz o psiquiatra Mareio Bernik, coordenador do Programa Ansiedade do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas, em São Paulo. Esses sintomas são poderosos motivos para aproveitar o final do ano e observar se temos sintomas de doença da pressa. Procurar ajuda ou apenas relaxar, deixando de lado a ideia fantasiosa de ser o top em todas as atividades. Afinal, quando partirmos para a grande viagem o mundo seguirá impávido! Portanto, menos, gente! Menos!

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

SEGURANÇA DOS ALIMENTOS E REMÉDIOS

JOÃO CARLOS DE OLIVEIRA, PRESIDENTE DA GS1 BRASIL – ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE AUTOMAÇÃO - ZERO HORA 19/12/2011

A cada ano, a Organização Mundial da Saúde (OMS) contabiliza em torno de 200 casos de fraude e contaminação de alimentos de grandes proporções em todo o mundo. Fatos importantes vieram à tona em 2011, como a descoberta de alimentos vencidos em hotéis de luxo de São Paulo, a contaminação de um lote de achocolatado, que atingiu os consumidores gaúchos, e a bactéria E. coli, na Europa.

A segurança dos alimentos e dos remédios tornou-se uma questão crítica e prioritária, e a rastreabilidade é um dos caminhos mais eficazes para garantir a adoção de um controle efetivo e a rápida retirada do mercado dos alimentos contaminados em momento de crise alimentar. Através desse sistema, é possível saber todo o percurso que o produto fez até chegar ao destino final, pois permite conhecer a precisa identificação de cada item, sua proveniência e localização. Com essas indicações, caso surja algum problema, é possível encontrar todo o lote contaminado e, se necessário, retirá-lo do mercado em tempo real, além de averiguar a responsabilidade dos envolvidos no processo.

As estatísticas também reforçam a importância de um acompanhamento preciso na área da saúde. Não há dados oficiais no Brasil, mas, segundo o Institute of Medicine dos Estados Unidos, mais de 7 mil pessoas morrem anualmente e 1,5 milhão sofre graves danos por erros de medicação no país norte-americano. O prejuízo financeiro chega a US$ 3,5 bilhões, de acordo com o estudo Preventing Medication Errors.

Por aqui, as notícias dão conta da gravidade dos fatos que podem decorrer da falta de controle. Do ano passado para cá, duas pessoas morreram no país vítimas de injeção acidental de vaselina em lugar de soro, devido à semelhança nas embalagens. Episódios como esses demonstram a necessidade de o sistema de saúde rastrear os medicamentos, garantindo a segurança do paciente tanto com relação à autenticidade dos remédios, evitando a pirataria, quanto com sua correta administração pelos agentes de saúde.

Os brasileiros, seguindo uma tendência mundial, estão cada vez mais exigentes quanto à qualidade e origem dos produtos. A tendência é que cada vez se cobre dos governos e das empresas um gerenciamento efetivo das cadeias produtivas e rastreabilidade dos produtos. Quem faz a lição de casa ganha duas vezes: conquista a confiança do consumidor e abre as portas para o comércio mundial, que também tem sido criterioso quanto ao controle de origem.

domingo, 18 de dezembro de 2011

SAÚDE SEM ESTRUTURA PARA QUEIMADOS


Meio século após tragédia, País ainda vive falta de estrutura para queimados. Em 17 de dezembro de 1961, na estreia do Fran Circo norte-americano em Niterói, um incêndio matou 503 pessoas; desde então, prática médica evoluiu, mas Brasil conta apenas com 45 hospitais públicos para atender vítimas - 18 de dezembro de 2011 | 3h 06. CLARISSA THOMÉ / RIO - O Estado de S.Paulo


Cinquenta anos atrás, o País registrava o pior acidente com queimados da sua história. A lona do Gran Circo Norte-Americano incendiou-se no espetáculo de estreia, em 17 de dezembro de 1961. O mastro veio abaixo, prendendo 2 mil espectadores entre as chamas. O fogo durou 10 minutos, matou 503 pessoas, pois a assistência ainda era precária, e deixou centenas de feridos.

Em cinco décadas, a prática médica evoluiu, novas técnicas foram desenvolvidas, o queimado passou a ser visto como paciente prioritário que precisa de intervenção precoce - no passado, era o último a ser operado, por exemplo, para evitar a contaminação do centro cirúrgico. Mas o atendimento ao queimado ainda precisa avançar no País. Não existe um só hospital destinado exclusivamente a esse tipo de paciente, como ocorre em outras especialidades, como câncer, cardiologia e ortopedia.

"A Organização Mundial de Saúde (OMS) preconiza um leito para queimado para cada 30 mil habitantes. Uma cidade como o Rio deveria ter 200 leitos e não tem um quarto disso", diz o cirurgião plástico Luiz Macieira Guimarães Júnior, chefe do Centro de Tratamento de Queimados (CTQ) do Hospital Federal do Andaraí, que faz cerca de mil procedimentos mensais, entre cirurgias, internações e atendimento ambulatorial.

Segundo o Ministério da Saúde, há apenas 45 hospitais habilitados pelo Sistema Único de Saúde (SUS) para o atendimento a queimados no País e mais da metade (27) está na Região Sudeste. São 188 leitos, o equivalente a uma vaga para cada 1 milhão de habitantes, bem abaixo do recomendado pela OMS.

As principais causas de queimaduras são os acidentes domésticos com líquidos aquecidos, a manipulação do álcool líquido e os incêndios com inalação de fumaça. A queimadura destrói o maior órgão de defesa: a pele. Composta por três camadas (epiderme, derme e hipoderme), ela impede que bactérias e germes ataquem o organismo. Sem essa barreira, o paciente está exposto a infecções. Por ser um extremamente frágil, ele precisa de ambiente isolado, esterilizado.

O CTQ do Hospital das Forças Aérea do Galeão (HFAG) é referência na América Latina. Lá, a maca que traz o paciente da rua não tem acesso ao hospital - transferido por uma passagem no setor de admissão, o ferido é imediatamente submerso em banheira com água morna e filtrada.

Uma tubulação especial joga ar puro sobre os leitos e o centro cirúrgico, para evitar a contaminação do paciente. Só profissionais com roupas especiais têm acesso ao CTQ. Nem mesmo visitas frequentam o lugar. As famílias têm contato com a pessoa internada pelo lado de fora do quarto, por uma janela de vidro, e conversam pelo interfone.

"Temos corredores de serviço e a manutenção é feita pelo lado de fora para garantir que o ambiente continue esterilizado", afirma o tenente-coronel médico Marcos Leiros, chefe do CTQ.

Para o HFAG vão apenas os pacientes graves - aqueles com queimaduras de terceiro grau em mais de 10% do corpo e queimaduras de segundo grau em mais de 25% do corpo; ou aqueles que tiveram queimaduras por agentes químicos, descarga elétrica ou radiação ionizante.

O centro recebe militares e tem um convênio com a Petrobrás, que manda para lá os feridos mais graves em plataformas e outras instalações. Mas o CTQ recebe ainda casos especiais, como Thamires Vallejo, que aos 7 anos teve 34% do corpo queimado no incêndio do estúdio Xuxa Park, em 2001; ou os policiais militares que estavam no helicóptero abatidos por traficantes no Morro dos Macacos, em outubro de 2009. O serviço, com 18 leitos não contabilizados na listagem do Ministério da Saúde, recebe entre 50 e 100 pacientes ao ano.

Investimento. O presidente da Sociedade Brasileira de Queimaduras, Dilmar Leornardi, defende a abertura de serviços especializados e de um hospital exclusivo para o tratamento de queimados. "A unidade que trabalho oferece tratamento na fase aguda. O paciente sobrevive, mas a terapia da sequela fica disseminado na rede básica e muitas vezes o ferido não tem atendimento."

Ele defende ainda a ampliação dos bancos que captam e tratam a pele de cadáver para o transplante de enxerto em pacientes queimados. "Só há três serviços no Brasil. Além de ter bancos e de o enxerto ser remunerado pelo SUS, é preciso que haja campanhas de esclarecimento da população", afirma Leonardi.

Outra dificuldade diz respeito às novas tecnologias. "Há substitutivos cutâneos importados já aprovados pela Anvisa usados para recobrir a queimadura, e curativos inteligentes, que liberam o princípio ativo de forma programada, mas o fornecimento deles para o SUS depende de cada prefeitura ou Estado. Os pacientes têm conseguido, muitas vezes, depois de recorrer à Justiça."

AS MORTES ANUNCIADAS

arte: João Luis Xavier


ROGÉRIO MENDELSKI, CORREIO DO POVO, 18/12/2011

Para cada morte de um brasileiro por falta de atendimento médico-hospitalar pelo SUS existe algum safado embolsando dinheiro mal-havido em alguma falcatrua nacional. Eis uma trágica relação que está presente, todos os dias, em nosso país. Há quem calcule que a corrupção nacional sangra nossas economias, todos os anos, em R$ 2 bilhões. Os mais realistas/pessimistas chegam a apostar em R$ 80 bilhões/ano. Exageros à parte, a corrupção é incalculável porque ninguém passa recibo ou declara no Imposto de Renda, mas suas consequências são visíveis no dia a dia.

O motorista Luciano Pedrotti, 26 anos, morreu no início da semana, depois de esperar 11 horas por um leito em alguma UTI, após sofrer um acidente na rodovia ERS 153, em Santa Cruz do Sul. Quem duvida que no mesmo momento que Luciano morria por falta de leito hospitalar, alguém estava contando dinheiro recebido (num saco plástico de supermercado?) por algum edital fraudulento feito sob medida num órgão público?

A falta de hospitais no Brasil está na razão inversa da fartura de mansões e carrões importados dos ladrões do dinheiro público. Já falamos aqui neste espaço que a reforma do estádio de futebol de Fortaleza para a Copa de 2014 daria para construir dois hospitais equipados com 250 leitos cada um e com todas as especialidades.

Os governos mostram-se eficientes nos gastos supérfluos e incompetentes naquilo que deveria ser seu objetivo principal. Anthony Burgess, escritor inglês (é dele "Laranja Mecânica"), já dizia que "o Estado nunca é tão eficiente como quando quer dinheiro".

Ele referia-se à ganância de qualquer governo em tomar mais dinheiro dos cidadãos. É importante, no entanto, estabelecer uma diferença, esta que nos deixa em posição de inferioridade.

Nenhum imposto é demasiado ou abusivo quando o que é cobrado dos contribuintes retorna em serviços públicos essenciais e com qualidade. Nosso dilema de contribuinte é saber antecipadamente que mortes nos corredores dos hospitais decorrem de maracutaias feitas com o nosso dinheiro.

O leito que faltou ao jovem motorista Luciano tem muito a ver com o imposto mal-aplicado, ou desviado, na saúde pública. Não há leitos no SUS, mas sobram suítes em Miami para quem adultera editais.

Má gestão

O economista Alexandre Schwartsman, ex-diretor do Banco Central, mostra os motivos das mortes anunciadas de muitos segurados do SUS. De cada R$ 100 arrecadados a mais em tributos, entre 1995 e 2010, somente R$ 8,60 foram destinados para investimentos oficiais na construção de escolas, hospitais, rodovias, portos e aeroportos

sábado, 17 de dezembro de 2011

OS MENOS IGUAIS

LÚCIO BARCELOS, MÉDICO SANITARISTA - ZERO HORA 17/12/2011

Para muitos, pode parecer insignificante. Afinal, são só 270 “loucos” asilados em um hospital psiquiátrico. Ou eram 270. Provavelmente, hoje, já sejam alguns a menos. No entanto, do meu ponto de vista, nesses 270 doentes mentais estão representados todos os cidadãos. Pelo simples e singular fato de que eles são seres humanos, tanto quanto qualquer outro indivíduo. Infelizmente, as coisas não funcionam desse modo. Uns são discriminados, por pobres, por deficiências físicas ou mentais, pela cor, pelo credo, pela orientação sexual, e por tantas outras (des)razões. Outros, nossos “iguais”, são tratados de forma diferenciada, respeitados e, muitas vezes, sem que saibamos, escondem “problemas” morais e/ou éticos, que os “loucos” são incapazes de sentir.

O preâmbulo serve para manifestar, mais uma vez, minha inconformidade com a maneira como são tratados os pacientes e os funcionários do Hospital Psiquiátrico São Pedro.

Como parte dessa preocupação, fiz um levantamento das causas de óbito entre os pacientes daquela instituição. Abaixo, detalho os principais aspectos desse levantamento.

Primeiro, e o mais importante, a principal causa de morte entre os pacientes são as doenças respiratórias. É o que nos mostram os 115 óbitos referentes ao período que vai de janeiro de 2006 a junho de 2011. 23,5% dos pacientes morreram de doenças respiratórias; 18,3% por doenças circulatórias e 12,2% de doenças endócrinas, nutricionais e metabólicas. Os dados foram obtidos do Sistema de Mortalidade (SIM), Núcleo de Informações em Saúde da Secretaria Estadual de Saúde/RS.

Na população geral, a principal causa de morte são as doenças circulatórias. 30,1% da população morre em função de alguma doença relacionada a esse sistema. Depois vêm os óbitos por neoplasias (tumores), que somam 21% e, em terceiro, os óbitos por doenças do aparelho respiratório, que totalizam 11,9%. Os dados referem-se aos óbitos ocorridos no Estado, no período de 2007 a 2010.

Tendo em conta as precárias condições de vida (moradia, principalmente) a que estão submetidos os pacientes do Hospital São Pedro, não é de estranhar que, diferentemente da população geral, lá as pessoas morram mais por doenças respiratórias. Não temos condição de dimensionar o número de mortes evitáveis, caso o governo adotasse as medidas necessárias para melhorar as condições de vida daquelas pessoas. Reforma da área física das unidades, instalação de sistemas de condicionamento de ar, pequenos elevadores nas unidades de dois andares, certamente reduziriam o número de óbitos que lá ocorrem.

Creio que a forma como um governo se relaciona com esses segmentos da população, que são os mais sofridos e que mais necessitam de um olhar atento e cuidadoso, diz tudo sobre o seu caráter. Nesse sentido, me parece que ao governo atual está faltando um tanto de sensibilidade e de humanidade na sua relação com os que mais necessitam de seus cuidados.

SAÚDE - 67% NÃO APROVAM DESEMPENHO GOVERNO DILMA


EDITORIAL ZERO HORA 17/12/2011

A avaliação recorde da presidente Dilma Rousseff, com 56% de entrevistados considerando bom e ótimo o seu governo na pesquisa encomendada ao Ibope pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), é um sinal inequívoco da confiança depositada na responsável pelo comando do país ao final de seu primeiro ano de governo. O desempenho revela-se ainda mais expressivo pelo fato de, em menos de 12 meses, a presidente já ter perdido seis ministros devido a denúncias de irregularidades e se encontrar às voltas com a desaceleração da atividade econômica. Ao mesmo tempo, o resultado chama a atenção para o aspecto de que, mesmo com a melhor avaliação obtida pelos últimos governantes na primeira etapa de gestão, a presidente tenha pela frente algumas questões pendentes para acertar com os brasileiros, para que a expectativa se mantenha.

De nove áreas sob a responsabilidade direta do governo, a população aprova apenas três – e, mesmo assim, com menor empolgação do que a revelada na enquete de setembro: o combate à fome e à pobreza, a luta contra o desemprego e a política ambiental. Nas outras seis áreas, os percentuais de desaprovação superaram os de aprovação. O pior desempenho, por razões óbvias, é o da área de saúde (67%), seguida por impostos (66%), segurança (60%), taxa de juros (56%), combate à inflação (52%) e educação (51%). É provável que, se não estivesse às voltas com tantas denúncias simultâneas de corrupção, o governo federal pudesse canalizar mais energia para conferir maior eficiência a áreas de sua responsabilidade.

Não por acaso, denúncias de corrupção e queda de ministros – dois temas muito próximos nesse ano de largada da atual administração – foram os assuntos mais relacionados ao atual governo pelos entrevistados. O caso mais citado foi o do ex-ministro do Trabalho Carlos Lupi, que insistiu em permanecer no cargo por um mês depois da intensificação das acusações envolvendo sua gestão. Nessas situações, que só interessam a quem quer se manter no cargo a qualquer custo, a sociedade perde pelo mau uso de recursos públicos e ainda enfrenta o prejuízo decorrente de uma descontinuidade nas rotinas da máquina administrativa. Em consequência, a percepção de áreas como saúde, já crítica, fica ainda mais prejudicada.

A crença em nível sem precedentes depositada no atual governo e a aposta de uma parcela majoritária dos brasileiros de dias melhores pela frente, apesar das adversidades atuais, são aspectos importantes num momento tão decisivo. Depois da brusca freada no crescimento, o país precisará de muito empenho por parte da população para garantir uma expansão consistente na atividade produtiva. Seria oportuno que, simultaneamente à retomada da atividade econômica, o governo pudesse aproveitar a reforma ministerial anunciada para o início do próximo ano como uma oportunidade para permitir um salto ao país sob o ponto de vista ético.

COMENTÁRIO DO BENGOCHEA - Apesar dos resultados totais, este blog não pode deixar de registrar as áreas de "pior desempenho" do Governo Dilma, que são as mesmas de todos os Governos anteriores: "é o da área de saúde (67%), seguida por impostos (66%), segurança (60%), taxa de juros (56%), combate à inflação (52%) e educação (51%). Para estas áreas: VOTO ZERO.

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

ACORDO COM A VIDA GANHA PRÊMIO INNOVARE


Acordo com a vida ganha também prêmio Innovare. Defensor público articula compromisso entre hospital e concessionária elétrica - O GLOBO, Alessandra Duarte - 15/12/11 - 23h56


RIO - Até para tomar banho, Maria do Socorro Barbalho Gomes, moradora de Fortaleza, tem de levar o aparelho de oxigênio de mais de meio metro de altura que fica ligado a seu nariz por um tubo 24 horas por dia. Com uma doença crônica que reduz a capacidade dos pulmões, Maria está entre os 53 pacientes beneficiados pelo compromisso de ajustamento de conduta assinado entre o Hospital de Messejana, em Fortaleza, onde ela se trata, e a concessionária de energia elétrica do Ceará, a Coelce. O compromisso foi articulado pelo defensor público Thiago Tozzi, ganhador do Innovare.

Pelo acordo, os chamados pacientes eletrodependentes, com doenças crônicas que os fazem depender de aparelhos continuamente em casa, não pagam mais pelo consumo de energia do aparelho. Para Maria, que não trabalha e cuja renda da família é só a aposentadoria do marido, isso significou deixar de pagar a conta de luz que era, em média, de R$ 200.

A ideia para o acordo surgiu com a descoberta, por assistentes sociais do hospital, de que, ao ver que iriam morrer deixando dívidas de contas de luz para a família, pacientes estavam desligando os aparelhos por alguns períodos para economizar - numa espécie de suicídio, já que isso encurtava a vida do paciente.

- Eram suicídios em parcelas. São famílias geralmente muito pobres, que estavam acumulando dívidas de R$ 15 mil, R$ 20 mil - lembra Tozzi, destacando a solução extrajudicial e a defesa de interesses coletivos do caso.

quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

SOCORRO TARDIO - ACIDENTADO MORRE ESPERANDO LEITO

Motorista morre à espera de leito. Vítima de um acidente de trânsito na segunda-feira, caminhoneiro de 29 anos passou 11 horas aguardando vaga em uma UTI - LUANE MAGALHÃES, ZERO HORA 14/12/2011

Vítima de um acidente na rodovia Santa Cruz do Sul-Sinimbu (ERS-153), o caminhoneiro Luciano Pedroti, 29 anos, morreu na madrugada de ontem após aguardar cerca de 11 horas por um leito de Unidade de Terapia Intensiva (UTI). O motorista morreu poucos minutos antes de ser transferido para Passo Fundo, distante 226 quilômetros de Vera Cruz, cidade onde estava internado.

Às 16h de segunda-feira, ele perdeu o controle do caminhão que dirigia e teve de saltar do veículo ainda em movimento, antes que este despencasse por cerca de cem metros em uma ribanceira na beira da estrada. Pedroti sofreu traumatismo craniano e chegou em estado grave ao Hospital Vera Cruz, em Vera Cruz, no Vale do Rio Pardo. No hospital, sem uma UTI, começou a luta por uma vaga em outro hospital.

Sem vagas nas UTIs adultas de Santa Cruz do Sul, cidade mais próxima, a Central de Regulação de Leitos do Estado tentou vaga em Cachoeira do Sul e em Lajeado, sem sucesso. Foi só no início da madrugada, à 1h, que a busca teve fim quando ficou disponível um leito para receber o caminhoneiro em Passo Fundo. Uma ambulância levaria o paciente até o Hospital São Vicente de Paulo, mas às 3h45min, 11 horas depois do acidente, o quadro clínico se agravou e Pedroti morreu.

No momento do acidente, Luciano transportava uma carga de pedras. Casado e pai de um menino de dois anos, Luciano, que sempre morou no campo, trabalhava como caminhoneiro havia pouco mais de seis meses. Enquanto a mulher administrava o armazém e a cancha de bocha na localidade de Pinhal Santo Antônio, interior de Sinimbu, onde moravam, ele decidiu arrumar um segundo emprego.

– Ele tinha tantos sonhos. Era um homem que amava a vida. Estamos abalados demais. Meu marido saiu para trabalhar e não voltou. Acho que um leito teria salvo a vida dele – emociona-se Rosicler da Silveira.

Conforme Givanildo Carlos da Silveira, cunhado de Luciano, o caminhoneiro conhecia a estrada, pois trabalhou na colocação do asfalto em 2010.

Hora a hora

- 16h20min – Pedroti sofre o acidente e minutos depois é socorrido e levado para o hospital pelos colegas de empresa que viajavam no mesmo comboio de caminhões;

- 17h30min – Em estado grave, Pedroti dá entrada na emergência do Hospital Vera Cruz e recebe atendimento;

- 18h30min – Equipe do hospital começa a ligar para outras instituições da região e Central de Regulação de Leitos do Estado em busca de um leito em UTI para transferir o paciente;

- 19h – Pedroti segue sendo acompanhado no setor de emergência do hospital enquanto aguarda um leito em UTI;

- 20h40min – A Central de Regulação de Leitos do Estado procura por leitos em UTI no Estado;

- 1h4min – Consegue-se o leito na UTI do Hospital São Vicente de Paulo, em Passo Fundo;

- 1h30min – Ambulância UTI Móvel parte de Lajeado, no Vale do Taquari, em direção a Vera Cruz. São 67 quilômetros que separam as duas cidades;

- 3h15min – Chega ao hospital em Vera Cruz a Ambulância UTI Móvel para levar Pedroti até Passo Fundo, distante 226 quilômetros;

- 3h45min – Pedroti não resiste a uma parada cardíaca e morre antes de ser levado pela ambulância.

Cremers investigará eventuais falhas

A morte do caminhoneiro será tema da 17ª sindicância aberta neste ano pelo Conselho Regional de Medicina (Cremers) para investigar eventuais falhas nas transferências de pacientes no Estado. Para o presidente do Cremers, Fernando Weber Matos, casos como o do caminhoneiro são cada vez mais comuns porque o Estado ainda não conseguiu organizar a Central de Regulação e nem disponibilizar ambulâncias do tipo UTI e equipes suficientes. Na opinião do presidente da entidade médica, a regionalização e uma melhor distribuição de leitos seria o caminho a seguir.

Ontem, o órgão abriu sindicância para investigar o caso e ouvir todos envolvidos. Esta será a 17ª deste ano para tratar de problemas na transferência de pacientes, número considerado alto pelo conselho.

De acordo com a Secretaria Estadual de Saúde, 106 hospitais no Rio Grande do Sul têm UTIs Adulto que oferecem no total 1.425 leitos, sendo 895 deles do Sistema Único de Saúde (SUS). Só no Vale do Rio Pardo, segundo dados do Sindicato Médico do RS (Simers), são 39 leitos de tratamento intensivo entre atendimento adulto e pediátrico. De acordo com o delegado da 13ª Coordenadoria Regional de Saúde do Estado, Paulo Augusto Gomes, para adultos são apenas 12 leitos. O número é considerado pequeno para atender os 340.712 habitantes dos 13 municípios que fazem parte da coordenadoria. Gomes calcula que o ideal seriam pelo menos 30 leitos em unidades de tratamento intensivo.

Em nota, a Secretaria da Saúde do Estado afirma que tem trabalhado para aumentar o numero de leitos de UTI. Neste ano foram abertos 10 novos leitos para adultos em Taquara, outros 10 em Canoas e ainda 10 leitos neonatais em Camaquã. Já na região do Vale do Rio Pardo há ainda em andamento a ampliação de dois leitos em Santa Cruz do Sul.

COMENTÁRIO DO BENGOCHEA - QUEM SERÁ RESPONSABILIZADO POR ESTE CRIME?

MOSTREMOS VALOR CONSTÂNCIA

Maira Caleffi, Presidente da Femama – Federação Brasileira de Instituições Filantrópicas de Apoio à Saúde da Mama e do Imama – Instituto da Mama do RS - zero hora 14/12/2011

O povo gaúcho é conhecido por ser aguerrido e bravo, qualidades essas que viraram hino e foram imortalizadas em letra e canção. As gaúchas, por sua vez, também herdaram essa sorte e, tanto na história quanto na ficção, sempre se mostraram fortes e guerreiras, apesar de conservarem traços belos e delicados. Entretanto, um dado parece não condizer com tudo isso. Como é que num Estado com um povo forte e destemido ainda podem morrer tantas mulheres por ano vítimas de câncer de mama?

Segundo as novas estimativas do Instituto Nacional de Câncer (Inca), o Rio Grande do Sul continua sendo o segundo Estado brasileiro com maior incidência de câncer de mama, com projeção de 81 casos a cada 100 mil mulheres no decorrer de 2012. Ainda, a capital gaúcha continua na liderança negativa desse ranking, com números elevados e a expectativa de que some 125 novos casos a cada 100 mil mulheres, no mesmo período, duas vezes e meia mais frequente que a média nacional. No Brasil, serão 52 novos casos da doença a cada 100 mil brasileiras ao longo dos 12 próximos meses.

Por esse motivo, a Femama – Federação Brasileira de Instituições Filantrópicas de Apoio à Saúde da Mama, em parceria com as entidades associadas, como o Imama – Instituto da Mama do RS, está dando continuidade à campanha “Faça por Mim”, iniciada durante a última edição do movimento Outubro Rosa. O objetivo é esclarecer para a comunidade o quanto é importante o diagnóstico precoce do câncer de mama. Além disso, a entidade não tem medido esforços para incentivar que as mulheres procurem seus médicos e façam o exame de mamografia, anualmente. Quando a paciente tem mais de 40 anos de idade (direito assegurado pela Lei Federal 11.664, desde 2009) ou mesmo antes, com indicação médica. O diagnóstico não basta, precisamos também de um tratamento de excelência, em tempo adequado, para todas as mulheres, não só para aquelas afortunadas que possuem um convênio ou seguro-saúde.

Isso porque, parafraseando o hino do Rio Grande do Sul, é preciso que “mostremos valor constância nesta ímpia e injusta guerra” contra o diagnóstico e tratamento tardio do câncer de mama. Porque não basta sermos fortes, aguerridos e bravos. Precisamos também ter atitude em favor da vida, praticar o autocuidado, realizar exames médicos periódicos e lutar pelo acesso para todas. Só assim, nossas façanhas poderão servir de modelo a toda terra.

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

CONSULTÓRIOS AMBULANTES

Paulo de Argollo Mendes, Médico e presidente do Sindicato Médico do Rio Grande do Sul (Simers)- ZERO HORA 13/12/2011

Em artigo recentemente publicado neste espaço, o superintendente do Grupo Hospitalar Conceição (GHC) reconhece que “há um conjunto de questões internas que precisam ser enfrentadas”. É muito pouco para descrever os descompassos administrativos que ali se evidenciam. Vivemos uma histórica confusão entre Estado, governo e administração. O GHC é exemplo cabal disso. A cada troca de partido – ou mudança na repartição de cargos entre as tendências internas da legenda –, altera-se até o chefe da bica de água, quebra-se a normalidade administrativa e introduzem-se correligionários que nunca antes pisaram no hospital, nem mesmo para uma consulta. O artigo cita números que os médicos, habituados ao dia a dia da instituição, desconhecem de onde foram tirados. A verdade é que qualquer um pode, a qualquer hora do dia ou da noite, ver com seus próprios olhos o amontoado de pacientes em que se transformou a emergência do Hospital Conceição, apesar do esforço desesperado dos médicos para salvar vidas, tentando compensar a falta de estrutura e de leitos.

A presidente da República ocupou bom tempo, em rede nacional de rádio e televisão, a fim de anunciar seu plano de governo na saúde, que pode ser sintetizado em poucas palavras: vou retirar recursos dos serviços em funcionamento e alocá-los em planos mirabolantes, mas com forte apelo midiático. Em nenhum momento, de todo aquele palavrório, a presidente comprometeu-se a sancionar a regulamentação da Emenda 29, essa, sim, capaz de trazer dinheiro novo para a saúde, o que só seria assegurado com a garantia de repasse de 10% da receita corrente bruta da União ao setor. A emenda acabou passando no Senado, com apoio de governistas, mas com a variação nominal do PIB como indexador, o que é flagrantemente insuficiente!

Algumas iniciativas, como consultórios ambulantes para atender viciados que vivem sob pontes e marquises, chegam a ser patéticas e não resistem à primeira pergunta: se o usuário concordar em internar-se para desintoxicação, onde iremos abrigá-lo? A carência de vagas é exasperante e faz com que mães acorrentem seus filhos para afastá-los dos traficantes.

Nos últimos 20 anos, o Estado perdeu 12.139 leitos do SUS, um recuo de 34,6%, enquanto a população cresceu 17% no mesmo período. Somos a unidade da federação que menos investe na assistência, e Porto Alegre é a campeã, entre os mais de 5 mil municípios brasileiros, em incidência de aids. Sobram promessas na saúde. Falta seriedade.

SAÚDE - GOVERNO DO RS RECEBE 1.388 PROPOSTAS EM 60 MIL MANIFESTAÇÕES POPULARES

Tarso Genro recebe 1.388 propostas para a saúde no Estado. Melhora no atendimento público no Interior pauta cobranças. Mais de 60 mil pessoas se manifestaram no “O governador pergunta” Alexandre Leboutte. PARTICIPAÇÃO. JORNAL DO COMÉRCIO, 13/12/2011

Um mês após o Gabinete Digital do governo do Estado ter lançado o programa "O governador pergunta", com o questionamento "Como o governo pode melhorar o atendimento e o acesso à saúde?", 1.388 propostas foram sistematizadas.

Os autores das 50 respostas mais votadas encontram-se amanhã no Palácio Piratini para discuti-las com o governador Tarso Genro (PT). O secretário da Saúde, Ciro Simoni (PDT), já tem um levantamento das proposições e apresentará alguns encaminhamentos no encontro.

A sugestão que recebeu a maior pontuação trata do sistema hospitalar gaúcho. "Gostaria que os hospitais do Interior fossem dotados de mais recursos para dar mais atenção aos pacientes, evitando lotação nos hospitais da Capital", propôs a cidadã Anelise Schena.

Mais de 60 mil pessoas teriam participado do processo, totalizando número superior a 120 mil votos, organizados pelo governo em cinco grandes temas: saúde da família; cuidado integral; urgência e emergência; acesso a medicamentos; e saúde na sua região.

A segunda proposta mais votada também sugere a ampliação do serviço de saúde no Interior, com a criação de centros regionais para exames. "Muitos pacientes pioram suas situações porque as doenças não são diagnosticadas corretamente devido à ausência de exames", justifica o proponente.

O coordenador do Gabinete Digital, Vinicius Wu (PT), reconhece que algumas das propostas podem reiterar antigas cobranças ou coincidir com as apresentadas através dos demais instrumentos que compõem o Sistema de Participação Popular, integrado pelo Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (Conselhão), a Consulta Popular, o Orçamento Participativo e os Conselhos Regionais de Desenvolvimento (Coredes).

"Mas sempre surgem questões novas, algumas de maneira bastante genérica, cabendo aos técnicos do governo transformá-las em políticas públicas", argumenta Wu. Segundo o chefe de gabinete de Tarso, é preciso articular e integrar as várias formas de participação.

Através do site www.gabinetedigital.rs.gov.br, os cidadãos encontram outras formas de contato virtual com o chefe do Executivo. "O governador responde" (às perguntas registradas e mais votadas no site), a "Agenda colaborativa" (recebe sugestões de agenda quando o governo faz interiorizações) e "O Governo escuta" (audiências públicas transmitidas pela internet) são ferramentas que vêm funcionando desde maio.

Wu não acredita que uma participação ostensiva da população possa gerar frustrações diante das limitações orçamentárias do Estado. "É uma questão que se coloca para a própria democracia. Nenhum estado consegue dar conta da totalidade das demandas dos cidadãos", justifica Wu.

O sistema "O governador pergunta" foi desenvolvido pela Companhia de Processamento de Dados do Estado (Procergs), em parceria com a Fundação Getulio Vargas (FGV).

É inspirado em um modelo criado na Universidade de Princeton (EUA), aplicado em Nova Iorque e em outras cidades.

A próxima etapa do programa deve iniciar em março com algum questionamento sobre violência de gênero. "O governador responde" retorna em fevereiro e a "Agenda colaborativa" está sendo reavaliada "para potencializar a participação da cidadania nas interiorizações", alega Wu.

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

A PRAGA DAS CONSULTAS A JATO



Atendimentos médicos que não duram mais do que 15 minutos tornam-se frequentes, o que provoca o erro no diagnóstico e na prescrição de remédios. O que você pode fazer se tiver sido vítima dessa prática. Monique Oliveira e Luciani Gomes - REVISTA ISTO É, N° Edição: 2196, 12.Dez.11 - 15:09

A cena é cotidiana nos consultórios médicos: entre o bom-dia e o até logo dados pelo profissional, passam-se apenas 20, 15 e, às vezes, inacreditáveis três minutos. Quando muito, dá tempo apenas para falar dos sintomas mais aparentes, pegar na mão uma lista de exames a ser feitos ou de remédios a ser tomados. Para que servem e quando mesmo devem ser tomados? Difícil lembrar, já que as explicações foram tão rápidas que nem deu para memorizá-las como se deveria. Também é evidente que o médico não teve tempo para avaliar com a precisão necessária o que foi prescrito. Trata-se de uma realidade cada vez mais frequente, tanto no Brasil quanto em outros lugares do mundo. Inclusive em consultórios particulares, essas consultas, que mais se parecem com um drive-thru de lanchonete, são registradas. E isso contribui para as estatísticas judiciais que mostram aumento nos casos de erros médicos.

A banalização das consultas a jato é tão grande que levou a uma distorção. Hoje, ser atendido em 15 minutos é considerado um privilégio. Um estudo da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Universidade de São Paulo, campus de Ribeirão Preto, em São Paulo, deixou isso claro. Os pesquisadores acompanharam 480 consultas na rede pública e mediram, de cronômetro na mão, o tempo que cada doente passava no consultório. Logo em seguida, perguntaram o nível de satisfação com a consulta. Quem foi atendido entre 11,4 e 15 minutos considerou o atendimento excelente. Os que ficaram de 7,6 a 11,3 minutos acharam a consulta boa. Já os que permaneceram com o médico de 3,8 a 7,5 minutos consideraram-na regular e apenas os que ficaram de 0,1 a 3,7 minutos – ou seja, nem quatro minutos – acharam que foram mal atendidos.

Apesar dos efeitos nocivos das consultas-relâmpago, não há no Brasil uma regulamentação que determine o tempo mínimo que uma consulta deve ter. Há apenas um consenso entre os bons médicos de que é impossível fazer uma avaliação correta do paciente em menos de 25 minutos. “Não se coloca o tempo de consulta no contrato porque se supõe que o médico agirá com consciência ética”, afirma Rogério Toledo, diretor do setor de Proteção ao Paciente da Associação Médica Brasileira (AMB). Mas como fazer isso na rede pública, por exemplo, na qual cada médico tem pelo menos 16 pacientes marcados para prestar atendimento em uma jornada de quatro horas? Ou seja, dedicar a cada doente escassos 15 minutos? Esse tempo, aliás, é usado como marcador de produtividade na rede pública, de acordo com o Manual de Auditoria de Atenção Básica do Ministério da Saúde. O documento serve para analisar o atendimento nas Unidades Básicas de Saúde e, segundo uma de suas fórmulas, serviço produtivo é aquele que atende em 15 minutos. Na rede conveniada, o parâmetro é que os profissionais atendam no máximo quatro pacientes por hora – ou seja, os mesmos 15 minutos para cada um.

O problema é que nem sequer a “regra” dos 15 minutos é respeitada. “Na rede pública há médicos que atendem em dois minutos, no corredor mesmo”, relata o médico Fernando Lucchese, diretor da Santa Casa de Porto Alegre. “Já ouvi colegas dizer que eram pressionados a atender em menos de dez minutos”, completa o proctologista aposentado Albino Sorbino, que durante anos trabalhou no Hospital do Servidor Público de São Paulo. A demanda na instituição pública comprometia o atendimento em seu consultório. “Eram, no mínimo, dois casos graves por dia”, lembra. “Não tinha como fazer essa consulta em 15 minutos e eu ficava sempre três horas além do meu horário.”

Pouco a pouco, começam a surgir indicativos dos danos causados pelas consultas rápidas. Um estudo feito pela Universidade de Ghent, na Bélgica, revelou um pouco das diferenças que ocorrem quando uma consulta é rápida demais ou acontece no tempo certo. Os cientistas analisaram 2.801 gravações de consultas realizadas em 183 hospitais da União Europeia e categorizaram as relações estabelecidas durante o encontro com o médico. Nos curtos, o tempo é dividido entre perguntas e instruções. Já nos longos, observou-se mais tempo gasto no levantamento de problemas psicológicos que podem estar relacionados aos sintomas e no fornecimento de orientações gerais ao doente. Este último, é claro, é o modelo mais ideal. “A consulta não é o momento de diagnóstico preciso”, explica o gastroenterologista Rogério Toledo, da AMB. “É o momento de se inteirar dos hábitos do paciente.”

Uma boa consulta envolve também a coleta do histórico do paciente, exame clínico completo, indicação detalhada de exames complementares, se necessários, e orientações terapêuticas baseadas em pelo menos mais de uma hipótese de diagnóstico. “Tarefa difícil para 15 minutos”, diz o infectologista David Uip, diretor do Instituto de Infectologia Emílio Ribas, em São Paulo.

Há outros prejuízos quando esse roteiro não é cumprido. O tempo mínimo compromete a relação com o paciente e pode levar o médico a somente atenuar os sintomas sem tratar a doença. “O profissional vira um grande fazedor de receitas”, diz Lucchese, de Porto Alegre. O atendimento rápido também compromete a interligação de sintomas com situações, já que o paciente apenas responde a perguntas ou é dirigido pelo médico. “E é só deixando o paciente falar que se podem fazer conexões com uma sintomatologia que inicialmente não estaria relacionada à doença”, diz o cardiologista Múcio Oliveira, diretor de emergência do Instituto do Coração, em São Paulo. “O atendimento rápido vai comprometer o diagnóstico”, diz Rogério Toledo.

Outros riscos são sair da consulta sem entender como tomar o remédio – e tomá-lo errado – ou receber uma prescrição incorreta. No Brasil, segundo a Organização Mundial da Saúde, 50% dos remédios comercializados são prescritos, dispensados ou usados de maneira errada. E, segundo especialistas, 49% dos erros são feitos pelo médico, na hora da prescrição. “O profissional faz um diagnóstico apressado, errôneo, e receita o remédio errado”, diz Fernando Lucchese. “O erro nas prescrições é uma consequência inevitável dessa consulta que não privilegia o olho clínico.” Além disso, a pressa eleva a chance de o paciente se submeter a exames desnecessários, sujeitando-se, por exemplo, a receber doses de radiação emitidas por aparelhos de imagem, sem que fosse preciso.

A falta de coleta de dados e um histórico mal tirado podem levar inclusive à morte. No ano passado, o Tribunal de Justiça de São Paulo indenizou uma família em R$ 30 mil por causa de um atendimento ruim em um hospital privado. Uma criança de 1 mês e 7 dias de vida, com pneumonia grave, voltou para casa apenas com uma prescrição de Novalgina. “Ela morreu de pneumonia porque o médico não coletou os dados suficientes na hora da consulta”, relata o advogado Vinicius de Abreu, representante da ONG Saúde Legal, entidade de defesa de pacientes.

Uma suposta falta de médicos poderia ser usada para justificar a pressa. Mas isso não é real no Brasil. Em outubro deste ano, os conselhos regionais de medicina registravam a existência de 371.788 médicos em atividade no País, um salto de 530% desde 1970, percentual cinco vezes maior que o crescimento da população. As razões apresentadas por entidades médicas para a disseminação da praga da consulta a jato repousam em outras esferas. Elas argumentam que a baixa remuneração dos profissionais é que provoca a necessidade de atender vários pacientes em um mesmo período. Isso fica mais evidente na rede pública, na qual os baixos salários não atraem muita gente. Como resultado, o número de médicos não seria suficiente para atender à demanda. “Não é novidade que faltam médicos nos serviços de urgência em hospitais públicos”, diz Aloísio Tibiriçá, vice-presidente do Conselho Federal de Medicina.

Na rede conveniada, que hoje já atende 9% da população brasileira, menos médicos se credenciam aos planos de saúde também por causa da baixa remuneração. Há planos que pagam menos de R$ 30 por consulta. A consequência: muitos profissionais atendem mais gente do que deveriam para conseguir um rendimento satisfatório. “O médico precisa manter o consultório, mas com os valores pagos só consegue isso aumentando os pacientes por hora ou cobrando no particular”, afirma Márcia Rosa de Araújo, presidente do Conselho Regional de Medicina do Estado do Rio de Janeiro.

Essa realidade vem merecendo reação dos próprios médicos. Recentemente, verificou-se uma onda de paralisações entre os profissionais vinculados a convênios. Em Campo Grande, em Mato Grosso do Sul, os médicos Marco Leite e João Botelho decidiram fazer o contrário. Para mostrar à população como deve ser um atendimento impecável, reforçaram o time de profissionais em uma das Unidades Básicas de Saúde da cidade em um dia de atendimento. “Tivemos um reforço de oito médicos onde antes havia quatro”, diz João Botelho. E os pacientes finalmente foram atendidos corretamente.

É direito do médico pleitear salários mais altos. Mas os governos, os profissionais e as entidades que os representam devem ficar em alerta para não permitir que a baixa remuneração e a ausência de infraestrutura continuem a ser motivos para justificar a proliferação da prática das consultas expressas e suas consequências danosas aos pacientes. As entidades médicas deveriam também – inclusive para proteger os próprios profissionais – exigir das autoridades de saúde melhorias nos sistemas de saúde público e privado.

No âmbito particular, não há muita explicação para o fato de um médico receber o que quiser por uma consulta e atender seu paciente rapidamente. Uma das argumentações dos profissionais é a de que muitos trabalham em hospitais públicos ou conveniados durante o dia e acabam ficando com pouco tempo para atender à noite no consultório. Mas o paciente não tem culpa disso.

O que também contribui para a armadilha das fast consultas é uma formação médica baseada mais na técnica do que em um atendimento mais humano. Além disso, muitos médicos são oriundos de faculdades de qualidade ruim, de onde saem às vezes sem saber sequer como realizar um exame clínico correto. Atualmente, o Ministério da Educação supervisiona 17 cursos de medicina que obtiveram conceitos 1 e 2, considerados baixos, no Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes. Entre elas estão quatro universidades federais.

Como não há, porém, uma determinação legal sobre o tempo mínimo de uma consulta, o paciente só poderá processar o médico quando houver um dano evidente e ficarem caracterizadas negligência, imprudência ou imperícia. “Não é porque a consulta foi rápida que o serviço foi mal prestado”, diz a advogada Joana Cruz, do Instituto de Defesa do Consumidor. No entanto, a curta duração da consulta pode ser um indício de que o médico agiu com negligência. “Nesse caso, o consumidor pode usar a curta duração como contextualização”, afirma o advogado Alexei Marqui, especializado em direito do consumidor.

Para isso é necessário que o paciente produza uma prova de que o tempo di­minuto resultou em negligência. “Ele pode pedir um comprovante da duração da consulta para o médico”, orienta Marqui. Mesmo na ausência de prova, dependendo do caso, o juiz pode determinar a inversão do ônus da prova. Nessas circunstâncias, como o paciente é considerado leigo, a Justiça entende que seria mais fácil o médico produzir uma prova que o defenda do que o paciente oferecer uma prova que acuse o médico.

Mesmo sem um erro evidente, no entanto, vale registrar a queixa nas operadoras de saúde (para usuários de planos) ou no Ministério Público e secretarias de Saúde (pacientes da rede pública). O doente atendido por médico particular pode resolver na hora. A advogada especializada em saúde Rosana Chiavassa orienta só pagar a consulta depois do atendimento. “Dessa forma, se a pessoa considerar que foi mal atendida ou atendida rapidamente, é só levantar e ir embora sem pagar”, diz. Os indivíduos também têm a opção de recorrer à Justiça quando considerarem que a consulta expressa deixou consequências danosas à saúde.

A denúncia aos órgãos competentes pode ser uma boa opção para detonar um movimento em massa por consultas mais extensas. Foi a partir da pressão popular, por exemplo, que a Agência Nacional Suplementar de Saúde decidiu diminuir o tempo de espera para a marcação de consultas e exames por usuários de planos de saúde.




sábado, 10 de dezembro de 2011

DESVIO DE REMÉDIOS ENVOLVE VEREADOR

Preso em Santa Maria do Herval vereador suspeito de desviar remédios do SUS. RBS Notícias - 8/12/2011

Centenas de medicamentos foram apreendidos em dois endereços, uma parte na casa do vereador .

CAOS NAS EMERGÊNCIAS E UM NOVO PARADIGMA

Carlos Eduardo Nery Paes, Superintendente do Grupo Hospitalar Conceição - JORNAL DO COMÉRCIO, 09/12/2011

Há décadas, as emergências dos grandes hospitais brasileiros, sejam eles públicos ou privados, têm produzido cenários desoladores, desumanos e inaceitáveis. O sofrimento dos pacientes e a incapacidade dos profissionais da saúde em realizar atendimentos com o mínimo de qualidade nos tornaram reféns de um sistema inoperante, desorganizado e cruel. O desafio assumido pelo Grupo Hospitalar Conceição (GHC) para enfrentar a superlotação da emergência do Hospital Conceição trouxe resultados fundamentais na busca de um novo modelo de atendimento. O conjunto das medidas adotadas pelo GHC nos últimos 100 dias resultou na queda de 47% na taxa de mortalidade nas primeiras 24 horas de internação, em comparação ao mesmo período anterior à campanha, e na redução do tempo de permanência dos pacientes e da ocupação dos leitos.

O Hospital Conceição é uma das 11 unidades hospitalares do País que está recebendo apoio do SOS Emergências, programa que será lançado nesta sexta-feira pelo Ministério da Saúde no GHC e que visa a qualificar a gestão e o atendimento em grandes hospitais que atendem pelo Sistema Único de Saúde (SUS). As ações do SOS Emergência terão o acompanhamento de um Núcleo de Acesso e Qualidade Hospitalar, com a participação da equipe do hospital, do Ministério da Saúde e do Hospital Samaritano de São Paulo, parceiro do GHC nesse projeto. O SOS Emergências trabalhará articulado com os demais serviços de urgência e emergência, constituindo-se num indutor de construção do Plano de Ação Regional da Urgência. Será um aprofundamento da campanha já realizada no Hospital Conceição. A iniciativa não pode ser vista apenas como uma ação isolada do Ministério da Saúde. O desafio de enfrentar o caos nas emergências dos hospitais brasileiros representa a quebra de um paradigma na área da saúde pública. O desafio do GHC em relação à Emergência do Conceição faz lembrar uma frase do escritor Eduardo Galeano: “Somos o que fazemos, mas somos, principalmente, o que fazemos para mudar o que somos”.

COMENTÁRIOS DE LEITORES:

João Paulo - 09/12/2011 - 01h23 - A saúde pública no Brasil A saúde pública no Brasil pede socorro. Os hospitais públicos não conseguem atender a demanda da população, e as filas nos corredores, só crescem a cada dia. O governo, porém, diz não ter verbas suficientes para investir na área. Enquanto isso, o problema continua exacerbadamente crescendo. O problema da saúde publica no Brasil, não é um mero problema, pois atinge a todo o país. É comum vermos na televisão, reportagens enfatizando as dificuldades enfrentadas pelos brasileiros acerca da saúde pública no Brasil. Fato este, que evidencia o problema e envergonhando a qualquer cidadão. Os hospitais públicos, na maioria das vezes, não suporta a demanda da população, que arrastam pelos corredores mendigando por um atendimento médico. Será que tantos impostos arrecadados no país, não são suficientes, pelo menos para amenizar um pouco o problema? Será que a saúde no país é menos importante que interesses privativos do governo? O Brasil estar entre um dos países da América Latina, que mais fatura com arrecadação de impostos. O governo, entretanto, diz não ter verbas suficientes para investir na saúde pública. Este mesmo governo, que nos nega o direito à saúde, investe ?milionáriamente? em projetos privados, como por exemplo, as obras do estádio do Corinthians, na cidade de são Paulo. Portanto, em virtude dos fatos, fica claro o descaso com a saúde pública, por parte do governo. É verídico que o Brasil tenha sim, verbas suficientemente para acabar com o problema da saúde no país, o que falta na verdade, são pessoas compromissadas com a democracia e com o respeito ao ser humano. O mais vergonhoso de tudo isso, é o fato de haver desvio de dinheiro público a empresas privadas, e que deveria estar sendo usado para solucionar problemas públicos, como estes da saúde pública no país.

Ana Rosa loyola - 09/12/2011 - 06h26 - Deus queira que, que realmente haja mais humanização nos hospitais, e não procedimentos automáticos, sem preparo, sem seus salários ser revistos pelo governo, que faz esses profissionais se desdobrarem para ter pelo menos, uma sobrevivência digna. Deveria ser também abrangente a formação desses profissionais, para que haja menos erros acometidos por eles, e o Ministério da Saúde, Secretaria de saúde, priorizar o ensinamentos nas escolas, curso etc, para que a população sinta-se mais segura , ao dar entrada em hospitais tanto privado , como Público. Os erros acontecem, por falta de atenção aos profissionais e a tarefa árdua, que é lidar com a vida dos pacientes, tanto comprometendo a deles também. O povo está clamando por Socorro, tratamento IGUALITÁRIO, não é isso que está na Constituição? então que se faça cumprir, e não visto com seriedade pelos nossos governantes. A SAÚDE É DIREITO DE TODOS. O povo Brasileiro, precisa ser melhor visto , principalmente, as pessoas mais carentes, essas , que vejo jogada em corredores de hospitais, parecendo indigentes , nada, morrendo, e ninguém se mexe. Eu fico super revoltada, impotente, de não poder fazer nada por eles. Chega, de corrupção. desvio de verbas, de tantas pessoas desonestas, que se preocupam com o seu EU, e que se dane todo mundo. Hoje, estamos de pé, com saúde, amanhã, não sabemos,o que nos espera. Quero sempre acreditar, que esse País irá mudar, colocaremos fé, em nossos governantes, e esperamos respostas, a atuação dos mesmos.QUEREMOS SAÚDE, E NÃO DOENÇA. PREVENÇÃO, é a chave para termos saúde, que envolve tantas coisas, para que não fiquemos doentes. A POPULAÇÃO, precisa alimentar-se melhor. A SAÚDE NÃO ENVOLVE TAMBÉM ISSO? porque se nos alimentarmos direito, não chegaremos com tanta facilidade aos hospitais, se as nossas crianças, fosse mais bem assistidas, os hospitais, não estariam superlotados. Isso é só um desabafo, se eu fosse me expressar, por tantas coisas que repudio, não pararia de escrever.

GESTÃO: RESSONÂNCIA E ECOGRAFIA

Ressonância magnética e ecografia na gestão da saúde - EDITORIAL JORNAL DO COMÉRCIO, 09/12/2011

O plenário do Senado aprovou a regulamentação da Emenda 29, determinando que a União deve investir em saúde o mesmo montante do ano anterior, acrescido da variação do Produto Interno Bruto (PIB) dos últimos dois anos. O relatório mantém, assim, o substitutivo da Câmara ao projeto de lei do Senado 121/2007. Foi vetada a Contribuição Social para a Saúde (CSS). Os estados e municípios terão que aplicar 12% e 15% da arrecadação de impostos, respectivamente. Ora, o povo diz que “saúde é o que interessa, o resto não tem pressa”. Sabiamente, essa é a aspiração máxima de todos nós. Desde que acabou a Contribuição Provisória sobre a Movimentação Financeira (CPMF), a qual arrecadou, no último ano de vigência, algo em torno de R$ 40 bilhões, que se pensa em recriar o instrumento. Mas a população tem repulsa generalizada contra mais impostos no País, uma vez que eles são direcionados a pagar a dívida pública e o custeio da máquina, que incha a cada ano na razão direta dos ministérios, autarquias e outras organizações oficiais e na razão inversa da qualidade dos serviços ao povo.

Que o Sistema Único de Saúde (SUS) não vai bem em quase todo o País é uma pauta diária de jornais, rádios e tevês. As fotos, frases e imagens feitas há semanas ou mesmo meses poderiam ser usadas agora. São extravagantemente atuais. É que a monótona repetição de emergências superlotadas é uma dedução lógica quando os postos avançados falham ou não temos Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) em número suficiente. A recente doença do ex-presidente Lula, que ainda está em tratamento, desencadeou uma quase raiva em milhares de pessoas que, tal e qual um castigo divino, queriam que ele também fosse para as intermináveis filas do SUS. Ele teve uma crise na faringe na sexta-feira, foi diagnosticado com câncer no final de semana e começou o tratamento na segunda-feira. Essa rapidez só existe para os que têm planos de saúde ou dinheiro no bolso. Mas não se pode rogar o pior, mesmo se entendendo a insatisfação das pessoas no seu dia a dia em relação ao que os abonados conseguem. Fazer alguém sofrer as vicissitudes de um atendimento pelo SUS não resolverá os problemas da saúde pública.

No caso de Porto Alegre, tivemos a defecção de dois hospitais da Ulbra, com menos 200 leitos pelo SUS e convênios. Com a reativação prometida para 2011, eles só devem entrar em funcionamento em 2012. A saúde pública precisa de uma ressonância magnética, ecografia ou densitometria do seu organismo interno de gestão. Ele está mal, embora a quantia de dinheiro que é gasta no setor. Felizmente temos uma boa estrutura na saúde suplementar, paga, que atende 40 milhões de brasileiros e tende a aumentar por causa da formalização do mercado de trabalho, com o ingresso de mais pessoas com carteira assinada. Medicamentos gratuitos para hipertensos e diabéticos na rede de farmácias conveniadas foi um ótimo avanço. Enfim, vamos auscultar esse paciente crônico, a saúde pública, e indicar-lhe um novo, moderno e saudável método de gestão. Sem qualquer contraindicação nem uso moderado. Pelo contrário, quanto mais gestão, mais saúde. O povo agradecerá qualquer iniciativa para melhorar a saúde pública. Como está, não dá para continuar.

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

REGRAS CLARAS


EDITORIAL ZERO HORA 09/12/2011

Sempre será insuficiente a destinação de recursos para a saúde num país de quase 200 milhões de habitantes e com um sistema de atendimento público ainda deficiente em várias áreas. Mas pelo menos o Senado concluiu de forma sensata o exame da Emenda 29, que disciplina os gastos obrigatórios da União, dos Estados e dos municípios com o setor. Tão importante quanto a fixação dos percentuais de investimentos de cada unidade federativa, foi a rejeição de um novo imposto, com a supressão da brecha espertamente incluída por parlamentares governistas com a intenção de ressuscitar a famigerada CPMF ou algo similar.

Para quem esperava a fixação das verbas federais em saúde em pelo menos 10% do orçamento, a votação da Emenda 29 representa uma frustração. Prevaleceu o entendimento de que o atual sistema de definição dos recursos, corrigidos anualmente com base na evolução do PIB, é o ideal, desde que as regras de destinação das verbas sejam mais claras. Aplicar em saúde o que está destinado ao setor, por previsão orçamentária, deve ser de fato o primeiro compromisso das três esferas de poder. Consagrou-se, em muitos Estados e municípios, a prática condenável de considerar outros gastos, destinados a atividades completamente alheias à saúde, como se fossem investimentos na área. O subterfúgio de maquiar verbas, usado também pela União, deve ser eliminado, ou a saúde pública continuará enfrentando os mesmos problemas. As regras agora definidas impedem desvios, mas somente serão efetivas se as irregularidades forem de fato punidas.

É consenso entre administradores de saúde e estudiosos que o sistema brasileiro enfrenta deficiências bem identificadas, nem todas por falta de recursos. A mais visível está nas emergências dos hospitais. Uma deficiência nem sempre percebida, porque tem impactos nos pacientes e seus familiares, é a das filas de espera por exames, tratamentos e cirurgias. É assim também que o SUS convive com contrastes, com algumas regiões atendidas por estruturas precárias, enquanto muitos hospitais oferecem atendimento de ponta. Serviços de reconhecida eficiência são exemplos de que a qualificação profissional e as tecnologias disponíveis pouco significariam sem melhorias na gestão. Nesse sentido, a administração integrada do sistema, com as atribuições de municípios, do Estado e da União, ainda desafia governantes e profissionais da saúde.

O modelo brasileiro de assistência universal tem sido visto, apesar das limitações, como referência mundial em algumas áreas. É pelo sistema público que a população se submete a procedimentos complexos e tem acesso a recursos e medicamentos de alto custo. Falta muito, no entanto, para que um sistema tão amplo, num país de tantas diferenças e desigualdades, possa ser considerado exemplar. Os avanços dependem de determinação política, da definição de prioridades, de racionalização dos investimentos e de aperfeiçoamentos na administração de todos os serviços. Assim, e não necessariamente com mais verbas, o SUS capaz de viabilizar um transplante de coração será ágil e eficiente também no atendimento cotidiano a quem recorre a uma emergência.

FALTA DE GESTÃO

DESAFIO NA SAÚDE. Economista aponta falta de gestão - zero hora 09/12/2011

Celebrada por muitos como a salvação do SUS, a Emenda 29 é alvo de críticas do economista Alfredo Meneghetti Neto, da Fundação de Economia e Estatística (FEE). Especialista em finanças públicas, ele afirma que a medida se concentra apenas na elevação do montante de recursos, enquanto a qualificação da gestão do serviço público sequer fez parte do debate.

– É uma discussão passada e simplista e que em nada pode melhorar a saúde brasileira. A saída do Brasil nos próximos anos é melhorar a qualidade do gasto – opina.

O economista afirma que metade da carga tributária do país é “desperdiçada” por falta de controle e de processos de qualidade. Ele acredita que, apesar das dificuldades financeiras, o Estado poderá atingir os 12% exigidos ao rever as renúncias de receita.

– Hoje, poderíamos ter uma arrecadação de ICMS 36% maior se não fossem concedidos os incentivos fiscais. Hoje são muitos, precisam ser revistos – afirma Meneghetti.

O secretário da Saúde, Ciro Simoni, garante que o Estado está buscando aprimorar a gestão em harmonia com as ações de elevação de orçamento. Ele diz que o planejamento é chegar aos 12% de investimentos no setor ao final do mandato, em 2014, com acréscimos anuais de receita de 1%.

COMENTÁRIO DO BENGOCHEA - Diria mais: FALTA DE PUNIÇÃO. Ou a lei existe só para inglês ver? Se a lei existe é para ser cumprida. O problema é que no Brasil impera a impunidade, especialmente se a ilicitude envolver governador, magistrado, deputado, senador, poderosos e bandidos. Os Governadores (de qualquer partido e qualquer governo) de Estado federativo brasileiro parecem blindados pois descumprem a constituição e as leis nas questões de saúde e prisionais e mesmo assim nunca são punidos pela justiça ou pedido o impeachment deles pelo Legislativo.

ALÉM DE DESCUMPRIR A LEI, DEFENDE ELEVAÇÃO DE TRIBUTOS FEDERAIS



DESAFIO NA SAÚDE. Falta R$ 1 bi para RS cumprir a lei. Governo Tarso defende a elevação de tributos federais já existentes para que seja possível financiar os custos com o setor - CARLOS ROLLSING

Sem dinheiro para investir 12% da receita líquida em saúde, o governo Tarso Genro defenderá a elevação de tributos federais já existentes e que financiem os custos com o setor. Com a regulamentação da Emenda 29 pelo Senado, na quarta-feira à noite, o governo gaúcho terá de lutar para cumprir mais uma norma constitucional hoje desrespeitada, assim como o piso nacional do magistério e o investimento de 35% do orçamento em educação.

Desde 2000, ano da aprovação da Emenda 29, nenhum governo conseguiu aplicar 12% no setor. O índice era inflado com a inclusão de outros tipos de gasto, como saneamento. A regulamentação ocorre em um momento em que o Piratini faz uma consulta pela internet, perguntando à população como melhorar a saúde.

– Há uma necessidade de bilhões de reais para todo o país. Só uma pactuação nacional em cima de novas fontes pode resolver o problema – diz o secretário do Planejamento, João Motta.

Pressionado por um abismo de R$ 945 milhões que irá separar o Estado dos 12% de investimentos em saúde em 2012, o governador Tarso Genro, assegura Motta, assumirá papel de protagonismo nas negociações com a presidente Dilma Rousseff para viabilizar a criação ou elevação de tributos que suplantem a nova demanda.

– Seremos parceiros para buscar soluções com os demais governadores. O imperativo é ampliar recursos – diz Motta.

Uma das tarefas de Tarso, além de discutir alternativas com Dilma e com o Ministério da Saúde, será convencer as bancadas gaúchas no Congresso de que a elevação de receitas é fundamental e evitar que a Emenda 29 se torne mais uma lei natimorta.

Avaliações nos bastidores praticamente sepultam o retorno da CPMF, que até 2007 financiava ações em saúde. Acredita-se que o desgaste político seria grande. Motta vê outra saída:

– Vi propostas que ampliam o imposto do álcool e do cigarro. Seriam medidas nesse nível.

A movimentação de Tarso terá início imediato. Hoje, às 11h, ele abordará o tema em reunião com o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, no Piratini.

COMENTÁRIO DO BENGOCHEA - De que adiantam leis para determinar a quantidade de recursos a serem investidos na saúde, se quem não cumpre não responde na justiça e no Legislativo pelos seus atos? É muito fácil defender a elevação de tributos e continuar arrecadando altos valores em impostos, sem ter a responsabilidade efetiva de empregar estes recursos como a lei determina.

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

NO SENADO, UNIÃO PERDE A CSS, MAS IMPEDE AUMENTO DE GASTO NA SAÚDE

Senado aprova Emenda 29 sem aumentar gastos da União. Em contrapartida, governo perdeu a possibilidade de criar a CSS - Cristiane Jungblut, Maria Lima E Adriana Vasconcelos - O GLOBO 7/12/11 - 23h40


BRASÍLIA - Na votação da regulamentação da Emenda 29, o governo conseguiu derrubar, de vez, a proposta do ex-senador Tião Viana (PT-AC), que destinava 10% da receita da União para a Saúde. Com isso, ficou mantida a atual base de cálculo do piso nacional de Saúde, sem um gasto maior para a União. Em contrapartida, a oposição conseguiu retirar do texto qualquer menção à criação de uma nova CPMF, a chamada Contribuição Social para a Saúde (CSS).

A menção a uma futura CSS foi retirada do texto por 65 votos a quatro. O governo queria manter a brecha para, no futuro, cobrar a CSS. O substitutivo da Câmara foi aprovado rapidamente, com a polêmica se concentrando nos destaques. Agora, o projeto de regulamentação da Emenda 29 vai à sanção da presidente Dilma Rousseff. Há 11 anos, a Emenda 29 aguarda uma regulamentação.

O Palácio do Planalto mobilizou ministros e operadores políticos do governo para negociar as demandas dos aliados no Senado e garantir a vitória na noite desta quarta. O governo se empenhou para manter o atual cálculo do piso nacional de Saúde, com promessas de atendimentos a pleitos de aliados.

A grande polêmica durante a discussão no plenário foi em torno da manutenção ou não do artigo que deixava uma brecha para uma eventual criação de uma nova CPMF. O substitutivo da Câmara previa a criação "simbólica” da CCS. Mas a CSS não valeria, na prática, porque foi retirada toda sua base de cálculo, inviabilizando sua cobrança. Com apoio do PMDB, o PSDB apresentou destaque para retirar a CSS do texto, e ele foi aprovado por 62 votos a favor e apenas nove contra.

O discurso mais inflamado contra um novo imposto para a Saúde foi feito pelo presidente do PP, senador Francisco Dorneles (RJ).

- Estão criando uma CPMF escondida. Está se abrindo caminho para se criar na calada da noite uma nova CPMF! - alertou Dorneles, encaminhando pela oposição, embora seja da base governista.

- Se não tirarmos esse esqueleto, vai pairar uma ameaça constante sobre todos os brasileiros - protestou o lider do PSDB, senador Álvaro Dias (PR).

O líder do PMDB, Renan Calheiros (AL), também apoiou a retirada das menções a CSS na Emenda 29. O lider do PT e relator da matéria, Humberto Costa encaminhou contra e admitiu a possibilidade de o mecanismo ser usado para se criar um novo imposto.

- Por que tirar esse mecanismo se em algum momento um imposto possa existir para financiar a saúde? - disse o petista. Dinheiro não dá em árvore, minha gente!.

- Governo rico e rio cheio ninguém segura - protestou o lider da frente parlamentar da Saúde no Congresso, deputado Darciso Perondi (PMDB-RS), que foi para o plenário do Senado.

Perondi se referia aos pedidos de aliados do governo por cargos, projetos de desenvolvimento e financiamentos para os estados, colocados na mesa de negociação com a ministra de Relações Institucionais, Ideli Salvatti, nos últimos dois dias. A aprovar a regulamentação da Emenda 29 como queria, o governo prometeu atender grande parte dessas demandas.

Jucá diz que governo foi vitorioso

Ao comentar a aprovação da regulamentação da Emenda 29, que vai agora à sanção da presidente Dilma Rousseff, o líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), disse que o governo conseguiu seu principal objetivo: derrubar, de vez, a proposta do ex-senador Tião Viana (PT-AC). Jucá disse ainda que não foi uma "derrota" a retirada do texto da criação da CSS, argumentando que ela não existia na prática, porque fora aprovada sem base de cálculo. Para ele, o governo pode retomar isso em outro momento.

- O importante para o governo era evitar um gasto a mais na Saúde de R$ 30 bilhões, R$ 35 bilhões em 2012. Aprovamos o substitutivo da Câmara, que era nossa principal intenção. Nâo teve derrota no caso da CSS, porque ela era inócua. Não é derrota para o governo. Não está no horizonte a criação de um imposto a médio prazo - disse Jucá.

Logo depois da votação, Ideli Salvatti, que estava no Senado, informou o resultado ao Palácio do Planalto. A avaliação foi de satisfação, porque o governo retirou o assunto da Emenda 29 da pauta de discussão, manteve o atual gasto e ainda abriu caminho para votar a chamada DRU nessa quinta-feira.

OS DESAFIOS DOS SOS EMERGÊNCIAS

CARLOS EDUARDO NERY PAES, DIRETOR-SUPERINTENDENTE DO GRUPO HOSPITALAR CONCEIÇÃO - ZERO HORA 08/12/2011


O Hospital Conceição é uma das 11 unidades hospitalares do Brasil que estão recebendo apoio do SOS Emergências, ação estratégica do Ministério da Saúde para a qualificação da gestão e da assistência em grandes hospitais que atendem pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Desde agosto, o Hospital Conceição realiza uma campanha de enfrentamento à superlotação da Emergência, que tem como objetivo melhorar o atendimento e aumentar a segurança dos pacientes.

O programa a ser lançado amanhã pelo ministro da Saúde, Alexandre Padilha, no Grupo Hospitalar Conceição (GHC), adotará medidas como a classificação de risco dos pacientes, já implantada pelo GHC em fevereiro, a organização da gestão dos leitos e do fluxo de internações e a implantação de protocolos clínico-assistenciais e administrativos. Todas as ações terão o acompanhamento de um Núcleo de Acesso e Qualidade Hospitalar, com a participação do Ministério da Saúde e do Hospital Samaritano de São Paulo, parceiro do Conceição nesse projeto.

O SOS Emergências faz parte da Rede Saúde Toda Hora e trabalhará articulado com os demais serviços de urgência e emergência, constituindo-se num indutor de construção do Plano de Ação Regional da Urgência. A iniciativa vai aprofundar a campanha realizada no Hospital Conceição, responsável pela redução em 12 horas na média de permanência na Emergência e pela queda de 47% na mortalidade nas primeiras 24 horas para pacientes críticos. Além de agilizar os diagnósticos, a campanha de enfrentamento à superlotação da Emergência possibilitou a inserção de mais pacientes no Programa de Atenção Domiciliar (PAD). Os resultados dessa iniciativa ousada e desafiadora são visíveis: pesquisa de satisfação realizada pela Ouvidoria do GHC durante os últimos três meses revela que 80% dos pacientes internados consideram o atendimento na Emergência ótimo e muito bom.

Todos sabemos que os leitos do SUS ainda são insuficientes e que é preciso avançar na organização das redes de atenção para minimizar a superlotação das emergências. Não há dúvida, também, de que são necessários mais recursos para a saúde pública no Brasil. No entanto, o objetivo dessas ações é verificar o que pode ser feito da porta para dentro do hospital, contribuindo para a solução de um problema que, de fato, não virá com uma ação isolada e de curta duração.

A experiência do GHC mostra que há um conjunto de questões internas que precisam ser enfrentadas e revela que é fundamental organizar as redes de atenção à saúde. A solução deve ser encarada de um ponto de vista global. Nossa expectativa é de que as emergências fiquem totalmente conectadas às redes de atenção, mas também que cada hospital olhe para dentro da sua estrutura e objetive permanentemente a qualificação dos seus procedimentos, para trazer mais benefícios aos usuários do SUS.

APROVADOS GASTOS FIXOS 16 ANOS DEPOIS

16 ANOS DEPOIS. Aprovados gastos fixos em saúde. A regulamentação da Emenda 29 pelo Congresso determina os tipos de despesa que devem ser realizados por governantes - ZERO HORA, 08/12/2011

Por 70 votos a um, os senadores aprovaram na noite de ontem o projeto de lei que regulamenta a Emenda 29 e fixa os valores mínimos a serem investidos na área da saúde. A regulamentação foi aprovada 16 anos depois de a emenda constitucional ter sido apresentada no Congresso. O projeto segue agora para a sanção da presidente Dilma Rousseff.

A proposta que obrigava a União a repassar pelo menos 10% de seus recursos para a área foi derrubada. Em seu lugar, foi aprovado que a União terá de investir o valor aplicado em um ano, corrigido pela variação nominal do Produto Interno Bruto (PIB) de dois anos anteriores.

Ou seja, em 2012 o Palácio do Planalto terá que destinar à saúde o valor gasto este ano corrigido em 7,5%, que foi a taxa de expansão da economia em 2010.

Além disso, ficou mantido o sistema atual de repasse de dinheiro por Estados e municípios. Os Estados são obrigados a destinar pelo menos 12% de suas receitas para a área. No caso dos municípios, o repasse mínimo é de 15%.

O projeto define o que pode ser considerado gasto com saúde e evita que investimentos em saneamento, por exemplo, sejam incluídos no cálculo. A mudança vai impedir que governadores e prefeitos “maquiem” os gastos em saúde pública. O presidente da Frente Parlamentar da Saúde, deputado Darcísio Perondi (PMDB-RS), lembra que alguns Estados aplicavam, por exemplo, o dinheiro em saneamento básico, sob o pretexto de que o investimento teria efeito sobre a saúde da população.

Senadores rejeitam imposto para o setor

Por 65 votos a quatro, foi excluído da proposta o dispositivo que criava a Contribuição Social para a Saúde (CSS), depois do alerta do senador Francisco Dornelles (PP-RJ) sobre a impossibilidade de criar um imposto por intermédio de um projeto de lei complementar. O correto seria por meio de uma proposta de emenda à Constituição (PEC).

– Está sendo criada de forma escondida, na calada da noite, uma nova CPMF – afirmou o senador.

O líder do PT e relator, Humberto Costa (PE), lembrou que na prática, a contribuição não existiria porque não dispõe de uma base de cálculo, mas a decisão do PMDB de rejeitá-la terminou se estendendo à maior parte dos senadores. O líder disse que futuramente, o governo fará um debate para definir “uma forma estável e permanente de financiamento para a área da saúde”. Costa retirou do projeto uma emenda que poderia diminuir os investimentos dos Estados.

Detalhe ZH - Por que 29?

A Emenda 29 foi aprovada em 13 de setembro de 2000 e, desde então, aguardava regulamentação. Ganhou esse nome porque as emendas à Constituição seguem uma ordem numérica crescente. A emenda 28, por exemplo, foi aprovada em 25 de maio daquele mesmo ano, e a 30, no mesmo dia da 29, porém na sequência.

DINHEIRO PARA A SAÚDE

UNIÃO - Deve investir na saúde o valor empenhado no ano anterior acrescido da variação nominal do Produto Interno Bruto (PIB) nos dois anos anteriores.

ESTADOS - Passarão a investir 12% de sua receita corrente bruta na saúde.

MUNICÍPIOS - Aplicarão 15% de sua receita corrente bruta na saúde.

A POLÊMICA - Para alcançar os 12% obrigatórios, os Estados passaram a declarar como gastos em saúde investimentos em áreas como saneamento, combate à fome e limpeza urbana. Por isso, a Emenda 29 necessitava de uma regulamentação.

A REGULAMENTAÇÃO - Pelo projeto, podem ser considerados investimento em saúde ações de vigilância sanitária, compra e distribuição de medicamentos, obras na rede física do SUS e remuneração de pessoal, entre outras despesas. Não podem ser consideradas ações de assistência social, pagamento de inativos, limpeza urbana e obras de infraestrutura.

A PUNIÇÃO - O Estado que, ao longo do ano, investir em saúde menos de 12% de sua receita sofrerá sanções. No ano seguinte, o governante deverá acrescentar às ações de saúde todo o dinheiro que faltou. A partir daí, a fatia tributária que a União repassa ao Estado ficará condicionada ao cumprimento da lei.Se for descumprida, a União aplicará os recursos que faltaram diretamente no fundo específico da saúde. O governante que violar as regras ainda estará sujeito a penas previstas na Lei de Responsabilidade Fiscal, processos por improbidade administrativa e perda dos direitos políticos por oito anos.

PORTO ALEGRE PROJETA MIL NOVOS LEITOS DO SUS

SAÚDE AMPLIADA. A ideia é aumentar o número de vagas nos próximos três anos, até a Copa - ANDRÉ MAGS, ZERO HORA 08/12/2011

Nos próximos três anos, um aumento no número de leitos do Sistema Único de Saúde (SUS) poderá dar fôlego para o atendimento de saúde na Capital. O anúncio das novas vagas deverá ser feito amanhã pela prefeitura, durante a visita do ministro da Saúde, Alexandre Padilha, a Porto Alegre.

Até a Copa do Mundo de 2014, a cidade poderá contar com mais de mil novos leitos para o SUS. Desde o início do ano, a Secretaria Municipal da Saúde trabalha em um projeto de ampliação do setor, que sofre com a superlotação, especialmente das emergências. Na metade de 2011, portarias do Ministério da Saúde impulsionaram o projeto ao prever o financiamento desses leitos, destacou o secretário adjunto da Saúde da Capital, Marcelo Bósio.

Os locais que receberão as novas vagas ainda não estão definidos. O assunto será debatido hoje, em uma reunião técnica com o ministério. Amanhã, poderá ser divulgado um cronograma de implantação. O secretário adjunto confirma que há espaço físico para a ampliação de vagas do SUS:

O Sindicato Médico do RS (Simers) considera a pressão da Copa do Mundo como um combustível do projeto.

– Uma pesquisa do comitê da Fifa apontou que Porto Alegre precisaria de pelo menos mais 1,4 mil leitos, incluindo UTIs. Esses mil leitos com certeza têm de ser saudados – disse Clarissa Bassin, diretora do Simers.

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

QUEREMOS TRANSPLANTAR MAIS!

MAURÍCIO GUIDI SAUERESSIG, PROFESSOR ADJUNTO DE CIRURGIA TORÁCICA (UFRGS) – GRUPO DE TRANSPLANTE PULMONAR (HCPA)- ZERO HORA 06/12/2011

Os avanços na técnica e na imunossupressão possibilitaram que o transplante de pulmão se firmasse como uma opção de tratamento para doenças pulmonares terminais; porém, menos de 20% dos pulmões doados são aproveitáveis, e sua oferta é menor que a demanda. Estas limitações ganham maior relevância em países com acesso insuficiente aos serviços de saúde e com baixíssima taxa de doação.

O número desses procedimentos e a infraestrutura para realizá-los no Brasil estão muito aquém de países de Primeiro Mundo: em 2010, segundo a Associação Brasileira de Transplante de Órgãos (ABTO), procedeu-se 0,3 implante de pulmão/milhão de habitantes, muito abaixo dos 5/milhão de habitantes da Espanha. Contribui para o desempenho espanhol, que é referência mundial, os seus sete centros hospitalares que oferecem esse tratamento, ou seja, um para cada 6,7 milhões de habitantes. Enquanto no Brasil existe um centro para cada 32 milhões de habitantes, isto é, somente seis hospitais capacitados, sendo que dois deles estão no Rio Grande do Sul. Todavia, esse privilégio gaúcho desmorona-se frente à persistente falta de doadores.

Faz tempo que nosso Estado deixou de ser exemplo nacional em doação. Conforme dados de 2011 (ABTO), Santa Catarina e São Paulo destacam-se, respectivamente, com 25,4 e 19,3 doadores efetivos/milhão de habitantes; contudo, nosso Estado apresenta apenas 15,1 doadores/milhão de habitantes/ano, inferior a outras regiões com menor histórico em transplantes, como Ceará e Rio Grande do Norte. Colabora para esse resultado ínfimo a alta taxa de negativa familiar, que atingiu 26,9% no Rio Grande do Sul em 2010 (ABTO); muito acima dos 17,6% de Minas Gerais.

No sentido de reverter esta realidade, é fundamental que as campanhas educativas sejam permanentes, ao contrário de seu predominante caráter esporádico. A partir do esclarecimento da população, deve-se derrubar os mitos sobre o processo de doação de órgãos, como, por exemplo, a segurança atual do diagnóstico da morte encefálica (pré-requisito para a doação) e suas diferenças da morte cardiopulmonar. Ao mesmo tempo, o poder público precisa definitivamente consolidar o transplante como um dos indicadores de qualidade do Sistema Único de Saúde, mas para esse avanço é imprescindível uma mudança de postura que passaria necessariamente pela ampliação do suporte logístico, político e financeiro dos hospitais, das equipes médicas e da Central de Transplantes do Estado, os quais se dedicam de maneira incansável a identificar, cuidar e captar doadores de órgãos. Se pudermos dessa forma devolver a “cultura da doação” ao povo gaúcho e sensibilizar nossos políticos, voltaremos a transplantar mais.

quarta-feira, 30 de novembro de 2011

AIDS - UM RANKING DESOLADOR

EDITORIAL ZERO HORA 30/11/2011 - Um ranking desolador

Exige bem mais do que suposições a rea-lidade mostrada pelas estatísticas do Ministério da Saúde, segundo as quais o Rio Grande do Sul tem a maior incidência de aids do país, e Porto Alegre lidera entre as capitais. Os números são impressionantes. Porto Alegre tem, por exemplo, uma taxa de incidência da doença, de 99,8 pessoas para cada 100 mil habitantes, quase três vezes superior à da cidade do Rio de Janeiro. Além disso, das cinco cidades com mais de 50 mil habitantes que lideram o ranking no país, quatro são do Estado. O ministério lida com hipóteses, mas não sabe ainda decifrar os fatores que levam a esses dados. As autoridades federais, estaduais e municipais devem se empenhar agora em compreender o cenário revelado pelos números, para que possam agir com urgência.

A situação do território gaúcho está no contexto dos dados desfavoráveis para toda a Região Sul, que mantém o índice mais alto de mortalidade por aids do país. No Brasil, no ano passado, a taxa foi de 6,3 mortes para cada grupo de 100 mil pessoas, enquanto na Região Sul chegou a nove casos. As estatísticas alarmam porque revelam que a aids continua ameaçando os jovens e cresce agora nas cidades do Interior. O próprio ministério reconhece que ainda é preciso investigar a presença da doença em algumas regiões, supondo que, no caso do Rio Grande do Sul, possa existir uma relação com o uso de drogas injetáveis alguns anos atrás. Somente agora estariam se manifestando algumas das consequências desse hábito entre dependentes químicos.

É preciso que os governos investiguem as causas da incidência da aids no Sul e ataquem suas origens. O Brasil desenvolveu, nos últimos anos, ações de combate à doença reconhecidas mundialmente, que inspiraram iniciativas em nações desenvolvidas. Essa consagrada tecnologia de saúde pública deve ser acionada de forma intensa, para que os fatores envolvidos nos altos índices dos Estados do Sul não sejam examinados apenas pela intuição. Um bom começo, já anunciado pelo ministério, é a priorização da informação dirigida aos jovens, mais expostos aos riscos que levam à aids por não terem convivido com o momento mais alarmante da incidência, nos anos 90.

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

PREVENIR NA SAÚDE EXIGE CIÊNCIA

César Augusto Ames, Médico de família e comunidade, auditor do SUS - ZERO HORA 24/11/2011

Prevenir é a ação de saúde que pretende evitar danos futuros com ações realizadas no presente. A atividade preventiva na área da saúde é muito diferente da atividade curativa. Quando um paciente busca a cura ou alívio de um sofrimento, se justificam muitas atividades, em que pese eventual efeito colateral. Para a prevenção, não deveria haver dúvida de que os benefícios superam em muito os prejuízos. Muitas vezes, se oferece a prevenção como uma aura salvadora para a população e para o paciente e muitos profissionais somente veem vantagens, sem considerar os inconvenientes.

Esta visão exagerada e quase cega sobre os benefícios da prevenção é enganosa e nem sempre inocente. Em geral, carecemos de informação científica suficiente para oferecer prevenção da maneira como se oferece atualmente. Convivemos com interesses na área da indústria farmacêutica (vacinas, por exemplo), indústria tecnológica (venda de equipamentos médicos), indústria da gestão em saúde (captação de pessoas saudáveis para as seguradoras). Também há interesses profissionais variados quando se obtém prestígio ao oferecer atividades preventivas. Há interesses políticos quando a prevenção é utilizada como promessa de resolução de problemas na área da saúde (oferecer mamografias para mulheres jovens).

A sociedade está deslumbrada com os avanços científicos e técnicos da medicina, de forma que as crenças milenares de uma juventude eterna pareçam ser possíveis, ao alcance da mão, basta adotar certas medidas preventivas e determinadas condutas sancionadas como saudáveis e ideais, passíveis de imposição frente ao bem comum: a ditadura da saúde obrigatória. Isto pode gerar uma sociedade que encontra na prevenção uma justificativa científica para estabelecer normas e pautas morais de conduta, desde alimentares até sexuais. Quando os danos se ignoram e a prevenção se expande sem limites, deve-se, no mínimo, duvidar de que os prejuízos compensam os benefícios. Sempre é bom lembrar que os recursos são finitos, podendo a prevenção sem resultado efetivo transferir recursos das atividades curativas e das próprias atividades preventivas com benefícios cientificamente demonstrados.

Recentemente, uma autoridade brasileira que fazia regularmente seu check-up, com a devida e ampla divulgação através dos meios de comunicação, teve um diagnóstico de câncer feito após uma manifestação clínica (alteração da voz) e não através dos inúmeros exames realizados “preventivamente”. Aliás, o conceito de check-up, que surgiu na década de 20, está há muito tempo aprimorado, para não dizer superado. Convém, pois, ter precaução com a prevenção.