quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

SOCORRO TARDIO - ACIDENTADO MORRE ESPERANDO LEITO

Motorista morre à espera de leito. Vítima de um acidente de trânsito na segunda-feira, caminhoneiro de 29 anos passou 11 horas aguardando vaga em uma UTI - LUANE MAGALHÃES, ZERO HORA 14/12/2011

Vítima de um acidente na rodovia Santa Cruz do Sul-Sinimbu (ERS-153), o caminhoneiro Luciano Pedroti, 29 anos, morreu na madrugada de ontem após aguardar cerca de 11 horas por um leito de Unidade de Terapia Intensiva (UTI). O motorista morreu poucos minutos antes de ser transferido para Passo Fundo, distante 226 quilômetros de Vera Cruz, cidade onde estava internado.

Às 16h de segunda-feira, ele perdeu o controle do caminhão que dirigia e teve de saltar do veículo ainda em movimento, antes que este despencasse por cerca de cem metros em uma ribanceira na beira da estrada. Pedroti sofreu traumatismo craniano e chegou em estado grave ao Hospital Vera Cruz, em Vera Cruz, no Vale do Rio Pardo. No hospital, sem uma UTI, começou a luta por uma vaga em outro hospital.

Sem vagas nas UTIs adultas de Santa Cruz do Sul, cidade mais próxima, a Central de Regulação de Leitos do Estado tentou vaga em Cachoeira do Sul e em Lajeado, sem sucesso. Foi só no início da madrugada, à 1h, que a busca teve fim quando ficou disponível um leito para receber o caminhoneiro em Passo Fundo. Uma ambulância levaria o paciente até o Hospital São Vicente de Paulo, mas às 3h45min, 11 horas depois do acidente, o quadro clínico se agravou e Pedroti morreu.

No momento do acidente, Luciano transportava uma carga de pedras. Casado e pai de um menino de dois anos, Luciano, que sempre morou no campo, trabalhava como caminhoneiro havia pouco mais de seis meses. Enquanto a mulher administrava o armazém e a cancha de bocha na localidade de Pinhal Santo Antônio, interior de Sinimbu, onde moravam, ele decidiu arrumar um segundo emprego.

– Ele tinha tantos sonhos. Era um homem que amava a vida. Estamos abalados demais. Meu marido saiu para trabalhar e não voltou. Acho que um leito teria salvo a vida dele – emociona-se Rosicler da Silveira.

Conforme Givanildo Carlos da Silveira, cunhado de Luciano, o caminhoneiro conhecia a estrada, pois trabalhou na colocação do asfalto em 2010.

Hora a hora

- 16h20min – Pedroti sofre o acidente e minutos depois é socorrido e levado para o hospital pelos colegas de empresa que viajavam no mesmo comboio de caminhões;

- 17h30min – Em estado grave, Pedroti dá entrada na emergência do Hospital Vera Cruz e recebe atendimento;

- 18h30min – Equipe do hospital começa a ligar para outras instituições da região e Central de Regulação de Leitos do Estado em busca de um leito em UTI para transferir o paciente;

- 19h – Pedroti segue sendo acompanhado no setor de emergência do hospital enquanto aguarda um leito em UTI;

- 20h40min – A Central de Regulação de Leitos do Estado procura por leitos em UTI no Estado;

- 1h4min – Consegue-se o leito na UTI do Hospital São Vicente de Paulo, em Passo Fundo;

- 1h30min – Ambulância UTI Móvel parte de Lajeado, no Vale do Taquari, em direção a Vera Cruz. São 67 quilômetros que separam as duas cidades;

- 3h15min – Chega ao hospital em Vera Cruz a Ambulância UTI Móvel para levar Pedroti até Passo Fundo, distante 226 quilômetros;

- 3h45min – Pedroti não resiste a uma parada cardíaca e morre antes de ser levado pela ambulância.

Cremers investigará eventuais falhas

A morte do caminhoneiro será tema da 17ª sindicância aberta neste ano pelo Conselho Regional de Medicina (Cremers) para investigar eventuais falhas nas transferências de pacientes no Estado. Para o presidente do Cremers, Fernando Weber Matos, casos como o do caminhoneiro são cada vez mais comuns porque o Estado ainda não conseguiu organizar a Central de Regulação e nem disponibilizar ambulâncias do tipo UTI e equipes suficientes. Na opinião do presidente da entidade médica, a regionalização e uma melhor distribuição de leitos seria o caminho a seguir.

Ontem, o órgão abriu sindicância para investigar o caso e ouvir todos envolvidos. Esta será a 17ª deste ano para tratar de problemas na transferência de pacientes, número considerado alto pelo conselho.

De acordo com a Secretaria Estadual de Saúde, 106 hospitais no Rio Grande do Sul têm UTIs Adulto que oferecem no total 1.425 leitos, sendo 895 deles do Sistema Único de Saúde (SUS). Só no Vale do Rio Pardo, segundo dados do Sindicato Médico do RS (Simers), são 39 leitos de tratamento intensivo entre atendimento adulto e pediátrico. De acordo com o delegado da 13ª Coordenadoria Regional de Saúde do Estado, Paulo Augusto Gomes, para adultos são apenas 12 leitos. O número é considerado pequeno para atender os 340.712 habitantes dos 13 municípios que fazem parte da coordenadoria. Gomes calcula que o ideal seriam pelo menos 30 leitos em unidades de tratamento intensivo.

Em nota, a Secretaria da Saúde do Estado afirma que tem trabalhado para aumentar o numero de leitos de UTI. Neste ano foram abertos 10 novos leitos para adultos em Taquara, outros 10 em Canoas e ainda 10 leitos neonatais em Camaquã. Já na região do Vale do Rio Pardo há ainda em andamento a ampliação de dois leitos em Santa Cruz do Sul.

COMENTÁRIO DO BENGOCHEA - QUEM SERÁ RESPONSABILIZADO POR ESTE CRIME?

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