sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

SEM CLÍNICO-GERAL, POSTOS FECHAM NAS FÉRIAS



ZERO HORA 25 de janeiro de 2013 | N° 17323

SAÚDE. DOIS POSTOS FICAM SEM CLÍNICO-GERAL NAS FÉRIAS

Secretaria Municipal de Saúde garante que pacientes serão remanejados, não comprometendo os atendimentos



O técnico em eletrônica e mecânica José Roberto Pedroso, morador do bairro São José, terá de andar mais de nove quilômetros para consultar um clínico-geral. O médico que atende no posto a três quadras de sua casa está em férias, e o morador teve seu atendimento transferido para a Unidade Básica de Saúde (UBS) Olaria.

A notícia pegou Pedroso de surpresa, mas o que o deixou mais atemorizado foi saber que não haveria substituto. A unidade segue aberta, recebendo consultas com pediatras e ginecologistas. Já os atendimentos com clínico-geral estão sendo feitos em outras UBS do município.

– Este posto sempre foi prejudicado nesse sentido. Tem posto no meu bairro, quero ser atendido aqui. Meus pais têm mais de 70 anos e precisam de medicamentos. Se precisarem de receita, quem vai dar? – questiona.

O caso se repete na unidade Nova Niterói, onde o clínico-geral também está em férias. A Secretaria Municipal de Saúde informa que não faltam vagas na rede. A justificativa é de que a medida de remanejar as consultas para outros postos foi tomada após ter sido verificada a diminuição no número de agendamentos neste período. O município tem, em média, 1,4 mil consultas realizadas por dia nas UBS durante o verão.

Segundo a secretaria, com o sistema de teleagendamento implantado há menos de um ano, é possível mapear os horários de atendimento disponíveis na rede. Assim, preferem transferir os pacientes para outra unidade a contratar novos médicos em caráter emergencial.

Canoas tem 26 unidades, sendo 14 no modelo de Estratégia de Saúde da Família – no qual os profissionais atendem diversas especialidades –, 12 com clínicos, ginecologistas, pediatras e dentistas. No total, há 70 médicos de carreira. Porém, a secretaria afirma que outros profissionais cooperativados cumprem jornadas adequadas à demanda da cidade.


TELEAGENDAMENTO

- Desde março de 2012, Canoas adota o sistema de marcação de consultas por telefone. Ele é a porta de entrada na rede do Sistema Único de Saúde (SUS)

- O morador pode marcar uma consulta com um médico de três especialidades – clínico-geral, ginecologista e pediatra – além de dentista, por meio de ligação telefônica gratuita para 0800-6470-156

- As ligações podem ser feitas de segunda a sexta-feira, das 7h às 19h, de qualquer aparelho telefônico. É preciso informar os dados do Cartão Canoas Saúde

- Uma mensagem de texto para um celular informado pelo paciente é enviada, na véspera, reforçando data, horário e local do atendimento

- A partir da consulta, o médico encaminhará o paciente, se necessário, para exames ou para um especialista em outra área

- Em caso de urgência, procurar uma Unidade de Pronto Atendimento ou um dos três hospitais da cidade

segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

A IMPORTÂNCIA DA PREVENÇÃO

ZERO HORA 21 de janeiro de 2013 | N° 17319

EDITORIAIS


As autoridades da área da saúde devem evitar que se repitam neste ano as controvérsias de 2012, que prosperaram em meio ao registro de vítimas do vírus H1N1. Enquanto médicos, gestores da saúde e outros profissionais da área denunciavam o aumento de mortes como decorrência da negligência do governo federal, um porta-voz do ministério defendia suas posições. A polêmica pode ser deixada de lado, diante das informações de que há um surto de gripe nos Estados Unidos, com outro vírus já identificado, e da possibilidade de o Estado ser mais uma vez atingido por uma epidemia no inverno.

Para relembrar, é importante estar atento a um dos aspectos do desentendimento entre autoridades federais e estaduais no ano passado. É o que diz respeito às declarações do secretário de Vigilância da Saúde em Brasília, para quem o aumento da vacinação não teria evitado os óbitos provocados no Rio Grande do Sul pela chamada gripe A. De acordo com essa visão, a prevenção em massa não seria o mais importante, e sim a intensificação do uso do medicamento Tamiflu, também envolvido em teses conflitantes quando do primeiro surto da gripe. Registre-se ainda que, conforme a mesma posição, as peculiaridades do Sul, em especial a questão climática, não exigiriam tratamento diferente da abordagem válida para as populações do Nordeste.

Há consenso no Estado, que só o Ministério da Saúde ignorou na época, de que a posição federal foi mais do que esdrúxula – foi um erro grave. A prevenção é a primeira providência a ser tomada diante dos riscos envolvidos. Rejeitar a ampliação da vacinação é negar uma prática consagrada de saúde pública. É correta, nesse sentido, a avaliação feita pela chefe da Divisão de Vigilância Epidemiológica do Estado, Marilina Bercini, para quem a aposta para enfrentar a ameaça está na vacinação, desde que se identifique com antecedência a real dimensão de um possível surto e as eventuais mutações do vírus. Declarações irresponsáveis, como as feitas pela autoridade que desqualificou a importância da imunização em 2012, não podem se repetir.

sábado, 19 de janeiro de 2013

TRANSPARÊNCIA NA SAÚDE

ZERO HORA 19 de janeiro de 2013 | N° 17317

EDITORIAIS


Se for cumprida com rigor, uma portaria publicada esta semana pelo governo federal poderá contribuir para a redução das embromações em torno dos recursos destinados à saúde pública. A portaria determina que União, Estados e municípios publiquem, sistematicamente, quanto de fato aplicam no setor. O Ministério da Saúde, responsável pela decisão, deve ser o primeiro a dar o exemplo. São frequentes os questionamentos a respeito do que a União investe no SUS, e não são poucas as dúvidas dos que, a partir da análise de dados oficiais, suspeitam de que a própria União descumpre historicamente o que manda a Constituição.

A portaria se baseia no dever constitucional das três esferas de poder, para exigir que todos ofereçam aos cidadãos informações completas sobre seus gastos. A saúde pública é a maior urgência brasileira, não só pelas alegadas deficiências de verbas, mas também pela falta de competência e de transparência. União, Estados e municípios sempre foram denunciados por manipular gastos de outras áreas que, na tentativa do cumprimento de normas legais, são atribuídos à saúde.

Mas esse não é o único problema. Está comprovado que, além de falsear informações, o setor público mantém, com as exceções, uma gestão incompetente, agravada por descontrole de gastos e pela corrupção. Fornecedores de produtos e serviços e maus servidores corrompem e são corrompidos, enquanto se amplia o caos nas emergências e milhões de pessoas aguardam meses nas filas de consultas, de exames e de cirurgias. A delinquência soma-se às carências causadas por ineficiência, omissões e delitos.

A verdade é que faltam racionalidade administrativa e moralidade à saúde pública brasileira. A racionalidade será conquistada com o profissionalismo – e não com o compadrio político –, a formação e a constante atualização dos gestores. A moralidade depende, para efeito imediato, do aperfeiçoamento de controles que ainda são muito frouxos.

Os dados exigidos pela portaria devem ser divulgados na internet, no Sistema de Informações sobre Orçamentos Públicos em Saúde (Siops). É lá que deverão estar, discriminados a cada gasto, os investimentos que o governo estadual promete, em orçamento, para a saúde este ano. O anunciado aumento de 50% nas verbas para o setor deve ser acompanhado por transparência e por austeridade, ou a dotação recorde terá efeito apenas parcial.

O cidadão, que tem a justa razão de criticar serviços precários de um sistema em degradação, é convidado a acompanhar o que União, Estados e municípios fazem realmente pela melhoria dos serviços. E exigir, como avisa o governo federal, que os administradores relapsos sejam punidos, e não só com o corte de recursos que acabam penalizando a própria população.

sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

SAÚDE DO RS TERÁ VERBA DETERMINADA EM LEI

ZERO HORA 18/01/2013 | 04h01

Em nome da lei

Secretaria Estadual da Saúde terá verba recorde em 2013. Pela primeira vez na história, governo do Estado deverá cumprir norma que determina aplicação de 12% do orçamento no setor


Projeto de Unidade de Pronto Atendimento de Bento Gonçalves que já está quase prontaFoto: Badermann e Architectura Privilegiata / Reprodução

Itamar Melo

O sistema público de saúde do Rio Grande do Sul está sendo irrigado, neste ano, por quantias de dinheiro nunca vistas — alimentando a esperança de que tenham fim problemas crônicos como emergências superlotadas ou longas esperas por consultas. Na comparação com o ano passado, o orçamento da Secretaria Estadual da Saúde deu um salto de 50%, um acréscimo de mais de R$ 700 milhões.

De dois anos para cá, a verba disponível para as autoridades estaduais aplicarem em hospitais ou exames dobrou. O secretário da área, Ciro Simoni, promete grandes mudanças para este ano e o próximo.

Essa transformação inédita foi obtida quase à força. De acordo com a Emenda Constitucional 29, do ano 2000, os Estados são obrigados a destinar à saúde 12% da sua receita líquida de impostos e transferências. Em lugar de aplicar a lei, o governo do Estado preferiu ao longo de uma década apelar para a malandragem: ano após ano, incluiu os gastos com saneamento na conta da saúde, atingindo artificialmente os 12%. Investiu, até 2011, no máximo 6% da receita. Das 27 unidades da federação, era a que gastava menos em saúde.

A maracutaia tornou-se impossível com a aprovação, em 2011, de uma regulamentação que impedia a manobra. O governador Tarso Genro assumiu pressionado a cumprir a emenda 29. No final do ano passado, depois de um acordo que cortou recursos de diferentes órgãos e poderes, a Assembleia aprovou um orçamento que destinava valores inéditos à saúde. O governo anunciou que os 12% haviam sido atingidos.

O investimento dobrou desde o governo Yeda Crusius, mas o Sindicato Médico do Rio Grande do Sul (Simers) afirma que a legislação ainda não está sendo cumprida. Segundo levantamento da entidade, dos R$ 2,7 bilhões apresentados como destinados à saúde no orçamento, R$ 477 milhões não poderiam ser computados. O percentual real aplicado seria de 10%.

— O Estado incluiu gastos com o IPE e o Hospital da Brigada, por exemplo, o que a lei não permite. Quase meio bilhão de reais foi excluído por meio dessa manobra — critica o presidente do sindicato, Paulo de Argollo Mendes.

Para Ciro Simoni, o investimento no Instituto de Previdência do Estado, que beneficia um milhão de pessoas, tem impacto no SUS, na medida em que desafoga o sistema público.

Entrevista: 

Ciro Simoni, secretário estadual da Saúde

Quando assumiu a Secretaria Estadual da Saúde, em janeiro de 2011, Ciro Simoni tinha em mãos um orçamento de R$ 1,1 bilhão. Neste ano, vai contar com o dobro para investir. Na entrevista a seguir, ele promete um serviço melhor à população:

Zero Hora — Com o novo nível de recursos, a saúde pública vai passar a outro patamar de qualidade?

Ciro Simoni — Vamos mudar o perfil da saúde no Estado. Esses recursos vão possibilitar ampliação e qualificação do atendimento.

ZH — A população vai ver esse dinheiro fazer diferença já em 2013?

Simoni – Tenho convicção de que sim. Esses recursos vão se transformar em atendimento melhor.

ZH — Até o fim do ano vamos ver alívio nas emergências e agendamento mais ágil de consultas?

Simoni – Com certeza. Esperamos chegar a 2014 com serviços que são gargalos, como otorrino, traumatologia e urologia, em todas as regiões do Estado. Estamos correndo atrás, por que isso praticamente não existia. Pegue o exemplo de São Jerônimo. Todas as pessoas da região vinham a Porto Alegre. Agora temos ali de otorrino, urologia à cirurgia geral.

ZH — Como será a estratégia para desafogar as emergências?

Simoni — Nas cidades maiores, a ideia é oferecer atendimento pré-hospitalar, que é o caso das UPAs. Vamos passar de oito para 20 até o final do ano. Outra coisa importante são os leitos de retaguarda. O paciente muitas vezes fica na emergência porque não há leito para ele ser deslocado.

ZH — O número de leitos crescerá?

Simoni — Com recursos ampliados, vamos investir nisso. Já estamos fazendo. No entorno de Porto Alegre, tínhamos hospitais em situação difícil, como em Taquara e Montenegro. Agora estão funcionando a pleno. Estamos com a ideia firme de construir um hospital na Região Metropolitana.­­­

As metas anunciadas pela secretário estadual da Saúde, Ciro Simoni:

Unidades de Pronto Atendimento: até o fim deste ano, o número de UPAs em funcionamento do Estado passaria de oito para 20. Sete estão em fase de conclusão: Cachoeira do Sul, Lajeado, Santo Ângelo, Bagé, Bento Gonçalves, Cruz Alta, Alegrete.

Atenção básica: até 2014, 70% da população estaria coberta pelo atendimento oferecido por equipes de saúde da família. Hoje o índice é de 40%. O aumento do valor repassado aos municípios: R$ 15 milhões (2010), R$ 40 milhões (2011), R$ 80 milhões (2012), R$ 100 milhões (2013)

Agilidade na oncologia: serviços voltados ao atendimento do câncer seriam ampliados para alcançar a meta de que o prazo máximo entre o diagnóstico do tumor e a cirurgia ou início da quimioterapia seja de 30 dias.

Novos hospitais: a secretaria construiria, até o ano que vem, um hospital com cerca de 350 leitos no norte da Região Metropolitana, entre os municípios de Cachoeirinha, Alvorada e Gravataí, e outro de 150 a 200 leitos no Sul, na região de Guaíba. Também está previsto um hospital de grande porte em Palmeira das Missões, para atender à região. Os incentivos para hospitais que atendem pelo SUS: R$ 73,1 milhões (2010), R$ 178,2 milhões (2011), R$ 308,1 milhões (2012), De R$ 418,4 milhões a R$ 500 milhões (2013)

Regionalização do atendimento: até 2014, o governo fortaleceria ou ampliaria hospitais em todas as 30 regiões em que o Estado foi dividido. Cada uma dessas regiões passaria a ter uma estrutura capaz de atender às suas necessidades. Apenas os casos de alta complexidade teriam de ser transferidos para cidades grandes, como Porto Alegre ou Passo Fundo.

Samu: até o final do ano que vem, a cobertura do serviço atingiria 100% do Estado.

A evolução

Os valores que foram destinados pelo governo do Rio Grande do Sul para a área da saúde, em conformidade com a Emenda Constitucional 29:

2005 - R$ 605 milhões

2006 - R$ 615 milhões

2007 - R$ 552 milhões

2008 - R$ 740 milhões

2009 - R$ 738 milhões

2010 - R$ 1,03 bilhão

2011 - R$ 1,14 bilhão

2012 - R$ 1,5 bilhão*

2013 - R$ 2,22 bilhões

*Dado fornecido pela Secretaria Estadual da Saúde
Fonte: Sindicato Médico do Rio Grande do Sul, a partir de dados do Tribunal de Contas do Estado

quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

EQUIPE AEROMÉDICA


ZERO HORA 10/01/2013 | 06h01

Avião adaptado para transportar pacientes é parceria inédita no Litoral. Menino mordido por cachorro em Torres, na terça-feira, foi transferido no Guapo 16 com agilidade para a Capital


Equipe de médico e enfermeiro integra tripulação de praças e oficiais para salvar vidas
Foto: Lauro Alves / Agencia RBS

Bruna Scirea

Os 20 policiais militares que desafiam o tempo e o ar para salvar vidas no Litoral Norte trazem novas companhias a bordo. Diariamente, uma equipe formada por médico integra a tripulação de praças e oficiais que, no céu, são como anjos.

Devido ao convênio firmado neste verão entre a Brigada Militar, por intermédio do Batalhão de Aviação (BAv) e o Serviço de Atendimento Médico de Urgência (Samu), pacientes como Pietro Jobim Pastorini de Sousa Borges, quatro anos, mordido por um cachorro em Torres na última terça, puderam ser deslocados ou atendidos com agilidade — característica determinante em alguns casos.

— Torcemos para não ser acionados, pois, quando somos, é porque a situação é realmente grave. Então, nesses momentos, é fundamental poder contar com a novidade de termos uma equipe médica conosco — avalia o comandante do Batalhão de Aviação da Brigada, tenente-coronel Carlos Alberto Selistre.

A parceria, que já tem força em Etados como São Paulo e Santa Catarina, ainda está em fase de teste no Rio Grande do Sul. E para que este primeiro passo fosse possível, uma aeronave teve ser adaptada. Com assentos subtraídos e equipamentos especiais adicionados, o Guapo 16 ganhou ares de UTI no céu. Nele, é possível transportar pacientes do Litoral Norte para a Capital, desde que a família concorde e não haja prejuízo ao paciente, uma vez que a aeronave não é pressurizada.

— O espaço é pequeno. Por isso, o atendimento tem de ser resolutivo e feito com um número reduzido de materiais. No entanto, temos a chance de remover rapidamente e salvar vidas que poderiam ter fim com a demora — explica a médica Rossana de Carli.

VELOCIDADE COMO ALIADA

Além da remoção por meio do Guapo 16, os profissionais estão aptos para atuar com a tripulação em casos de afogamento, acidentes em rodovias ou em qualquer situação em que a velocidade seja a maior aliada. Para isso, o grupo ainda conta com outras duas aeronaves: um avião monomotor e um helicóptero.

A ideia é de que este projeto-piloto seja qualificado com formação e capacitação de novas equipes médicas, compra de equipamentos e, até mesmo, aquisição de uma aeronave-UTI. De acordo com Maicon Vargas, coordenador geral do Samu no Estado, o objetivo final é oferecer o atendimento aeromédico durante todo o ano e em todas as regiões gaúchas.

Desde o início da Operação Golfinho, em 15 de dezembro, o batalhão já foi acionado 11 vezes para agir em salvamentos no mar e águas internas e nas rodovias com os médicos e enfermeiros da SAMU. Com orgulho de quem vê os esforços valerem a pena, eles não contabilizam nenhuma morte. Todas as intervenções desta nova parceria foram de sucesso.

USO DE CADA AERONAVE

> Multimotor Embraer 810 Sêneca (Guapo 16)

Utilizado para a realização de eventuais missões de misericórdia, ou seja, transportar pacientes do Litoral Norte para a Capital, desde que a família concorde e não haja prejuízo ao paciente, uma vez que a aeronave não é pressurizada.

> Monomotor Cessna Centurion

Empregado em missões de patrulhamento na orla, sobre rodovias e, principalmente na rápida localização de vítimas à deriva no mar ou em lagoas.

> Helicóptero Schweizer

Usado em atividades de salvamento aquático. No entanto, por ser de apenas dois lugares, permite que apenas um tripulante operacional seja lançado à água de cada vez para fazer o salvamento. Os helicópteros multimissão do BAv (Esquilo), ideais para esta situação, estão em manutenção em Minas Gerais, sem uma exata previsão de retorno.

SERVIÇO

A ajuda da equipe aeromédica pode ser solicitada pelos telefones 3665-2813, 190 e 192.

segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

AGONIA DE UMA PROFISSÃO

Artigo no Alerta Total –Segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

Carta aos Médicos Brasileiros

Por Milton Pires

Permitam-me os colegas fazer uso no presente artigo dos dois discursos que mais encantam o "meio intelectual brasileiro" – o marxista e o psicanalítico. Esqueçam, por alguns instantes, aquilo que ambos dizem do mérito e da caridade humanos. Espero que minhas conclusões não os choquem e sugiro ainda que, em caso de indignação, adotem como saída elegante afirmar que não gosto de ser médico; passa a impressão de profissionalismo e pena profundos de alguém como eu....rss

Tenho visto profissionais, às vezes de sessenta ou setenta anos, fazendo plantão nas emergências do Sistema Único de Saúde (SUS). Comem mal, não dormem (ou o fazem em quartos imundos), são ameaçados ou agredidos pelos próprios pacientes, alguns roubam medicações controladas para uso próprio,e muitos acabam como notícia no Jornal Nacional.

Seu instrumento de trabalho mais importante é um carimbo e seu chefe é uma enfermeira. Eles assistem pacientes morrerem por falta de medicamentos, leitos, cirurgias, e métodos diagnósticos. Dia após dia, independente de posição política ou tempo de formatura, são representantes legítimos de um delírio cujo início remonta a década de setenta. Naquela época, um médico brasileiro, ex-assessor para saúde na Nicarágua, e que depois viria se eleger deputado por um partido comunista, pensou ser possível trazer à terUma opinião abalizada ra aquilo que nem Jesus Cristo imaginou: um sistema de saúde com livre demanda, cobertura completa de custos, e acesso imediato aos serviços. Sim, meus amigos, o Brasil deve ao Dr.Sérgio Arouca e aos seus "companheiros" o fato de homens maravilhosos como Fernandinho Beira-Mar e Marcola terem o mesmo direito a um leito de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) que qualquer trabalhador. Certamente, se vivo, o Dr. Arouca ficaria exultante ao ver como nossas UTI são numerosas e estão bem equipadas e eu gostaria de saber como ele explicaria o fato de Lula não tratar seu câncer no SUS.

Uma década antes, no governo Castelo Branco, o Brasil assistia ao início de uma proliferação de faculdades que nos lembra que nem só de futebol somos campeões. Daqueles bancos saíram médicos, e continuam saindo, que vêem no futuro a possibilidade de uma prática liberal que a muito deixou de existir. A verdade é que nos tornamos empregados! O estereótipo do médico recém-formado que vai para o interior casar com a filha de um latifundiário e depois disputar algum cargo municipal é cada vez mais difícil de ser encontrado.

Ao que nos parece, em 1964 os militares viram na classe médica uma ameaça política e trataram de tomar providências. A primeira delas, em silêncio garantido pelas paredes da Escola Superior de Guerra, foi determinar que saúde era uma questão de segurança nacional. A segunda, bem mais simples, foi submeter os médicos a mais elementar lei de mercado: oferta e procura.

E o que houve daí em diante? Tornamo-nos muitos, empobrecemos, nos sindicalizamos, e acima de tudo passamos a crer, como bons marxistas, que tínhamos um poder de transformação social até então adormecido. Era preciso ser um “trabalhador da saúde”. Médicos ligados à saúde pública começaram a despontar na cena política, mas desta vez ligados aquilo que se chamava na época de “esquerda”.

O país assistia então ao nascimento do Partido dos Trabalhadores e quem não lutava por eleições diretas não tinha coração. Enquanto isso, em silêncio mas de forma contínua, o sistema que fazia diferença entre aqueles que trabalhavam e contribuíam ou não para os gastos com a saúde nacional extinguia-se aos poucos.

Alheios a tudo, os antigos mestres das Escolas de Medicina, consagrados pelo tempo e saber, continuavam ensinando que o importante era a relação médico-paciente, que a medicina não podia se desumanizar e conseguiram com isso contribuir para a visão maniqueísta que passou a nos dividir entre "técnicos-frios" ou preocupados "com o paciente como um todo". Orientaram nossos acadêmicos a fazer estágio nos Estados Unidos. Para lá partiram aos comboios, quase sempre financiados pelos pais, lembrando os adolescentes brasileiros que visitam a Disneylandia.

Mas a mim me parece que o sonho está acabando. Voltamos de lá e estamos de plantão. O que poderia ter saído errado? Nossos pacientes já não nos respeitam e querem apenas atendimento de graça. Não nos esqueçamos dos famosos exames – quem não os pede não pode ser bom médico!

Será generalizada entre os colegas esta minha sensação? Medicação antidepressiva, menos trabalho e um salário melhor não resolveriam meu caso? Estas respostas ficam por conta de quem até aqui gastou seu tempo a me ler.

Uma vez Freud escreveu que a capacidade do indivíduo ser feliz está relacionada à realização no amor e no trabalho. Da vida pessoal de meus colegas pouco sei, mas tenho visto em pequenas salas (chamadas pelos otimistas de estar médico), em que se toma cafezinho frio, uma verdadeira legião de gente triste.

Isso mesmo, meus colegas, tristes é como estamos em função do que fazemos para sustentar nossas famílias. Aos dezoito anos de idade, com todas as alegrias desta época da vida, estávamos, muitos de nós, em frente a cadáveres. Quantas noites sem dormir por causa dos exames da faculdade? E o que dizer então da disputa por uma vaga na residência?

Somos médicos, mas antes de tudo somos humanos e é nesta última condição que a natureza e a doença vem cobrar seu preço. Aumenta cada vez mais o número de colegas com problemas por causa do álcool e das drogas. Patologias mentais entre nós avançam em número e gravidade. Frieza, discussões, insensibilidade com a dor, e raiva das queixas frívolas dos nossos pacientes são cada vez mais comuns nas emergências em que trabalhamos com condições quase veterinárias.

Pobre do país cujos médicos estão doentes! Era neles que se depositava a esperança de alívio de um povo que agora percebe que ele, povo, cuidou muito mal dos seus próprios médicos. Estamos pedindo socorro a pessoas comuns, sem treinamento, mas nem por isso sem coração e vontade de ajudar. Alguém há que nos possa e queira ajudar?

Uma vez aquele que foi considerado o maior escritor de todos os tempos – James Joyce – disse que achava impossível escrever sem ofender as pessoas. Termino aqui. Longe de mim ofendê-los por mais tempo ou ter a audácia de pensar que Joyce pudesse estar errado.

Milton Pires é Médico em Porto Alegre.

quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

A SAÚDE COMO OBSESSÃO


ZERO HORA 03 de janeiro de 2013 | N° 17301

EDITORIAIS


A declaração do prefeito de Porto Alegre, no dia da posse, de que a melhoria dos serviços de saúde passa a ser uma obsessão, tem coerência com intenções manifestadas pelos governos federal e estadual. Há uma convergência de propósitos nas três esferas do Poder Executivo, com um detalhe que poderá diferenciar as promessas para 2013 de outras formuladas, por diferentes governantes, em anos anteriores. Todos, da União à prefeitura de Porto Alegre, formalizaram a prioridade em orçamento. O documento com as previsões de receitas e a discriminação de despesas não é garantia absoluta de que tudo o que foi decidido será de fato cumprido. Mas há, além da peça orçamentária, cuja execução pode ser cobrada, o reconhecimento público de que o atendimento à saúde chegou a um nível degradante.

Na área federal, a previsão orçamentária é de aumento de 10,7% nas verbas para o setor. No Estado, o governador Tarso Genro destaca a destinação de 12% do orçamento, e a prefeitura de Porto Alegre prevê 21% da receita à área. Com os números apresentados, cria-se finalmente um cenário promissor para um serviço essencial, menosprezado pelos governos. No caso do prefeito José Fortunati, a prioridade passa a ser a eliminação das filas nos postos de saúde. É deprimente que um problema antigo, enfrentado apenas parcialmente, continue a maltratar as populações mais pobres, que dependem de serviços públicos para consultas e exames.

Para o Estado, o desafio é a racionalização de recursos e de gestão, pois o Rio Grande do Sul ainda é um dos mais atrasados na municipalização da saúde. A histórica omissão dos prefeitos, que alegam não ter recursos para cumprir a exigência constitucional, transfere para Porto Alegre grande parte do atendimento que poderia ser prestado no Interior. O governo estadual passa a gerir o improviso, a emergência e a escassez, e a Capital defronta-se com a sobrecarga de pacientes em busca não só da assistência mais complexa, mas de serviços básicos sonegados por seus municípios. A área federal, que deveria articular as ações de Estados e municípios, é desafiada por sua vez pela carência de recursos, pelas deficiências de gestão e, o que é pior, pelo desperdício representado não só pela incompetência, mas pela corrupção.

É tarefa dos municípios ampliar as ações preventivas e assegurar atendimento de qualidade nos postos, para que as emergências dos hospitais não continuem acolhendo pacientes que não deveriam estar ali. Estados e União precisam melhorar os suportes das urgências nos hospitais, das consultas especializadas e dos procedimentos seletivos. O mais importante, no entanto, é a transformação de discursos em atitudes substantivas, a partir de ações decididas dos prefeitos. Esgotaram-se as desculpas que até aqui transferiram responsabilidades e camuflaram omissões. Os administradores que agora assumem terão de fazer pela saúde o que, por deficiência gerencial e falta de arrojo político, muitos de seus antecessores não fizeram.

quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

OBSESSÃO PELA SAÚDE, PROMETE PREFEITO DE POA

ZERO HORA 02 de janeiro de 2013 | N° 17300

FORTUNATI PROMETE - “Obsessão pela saúde”

Prefeito reeleito da Capital também tem as obras da Copa e o transporte público como prioridades


Os três meses de preparação se encerraram ontem. Eleitos em outubro, os novos prefeitos e vereadores tomaram posse em cerimônias realizadas em todo o país. Nos 497 municípios gaúchos, nem todos são novidade. Cerca de 30% dos prefeitos gaúchos foram reeleitos e chegam ao segundo mandato.

Agora, eles e os novatos têm quatro anos para cumprir as promessas de campanha. A julgar pelos primeiros discursos, a saúde dominará as reuniões nos gabinetes.

Em Porto Alegre, Canoas, São Leopoldo e Santa Maria, por exemplo, os prefeitos citaram melhorias no setor como prioridade.

Nas próximas páginas, confira as posses e os primeiros anúncios dos prefeitos dos maiores colégios eleitorais do Estado e das maiores cidades do país.

Ao tomar posse no fim da tarde de ontem, em Porto Alegre, o prefeito reeleito José Fortunati (PDT) assumiu o compromisso de acabar com as filas nos postos de atendimento da Capital.

Disposto a “elevar o conceito do SUS” na maior cidade do Rio Grande do Sul, Fortunati prometeu fazer da saúde pública uma “obsessão” em seu governo.

Mais de uma centena de pessoas se espremeram no salão nobre do Paço para ouvi-lo falar. Ao lado da mulher, Regina Becker, e do vice-prefeito, Sebastião Melo (PMDB), fez um balanço de seu trabalho e reconheceu que ainda há muito o que fazer. Os desafios começam pelas obras da Copa e pelos planos de modernização urbana. Citou o metrô, a revitalização da orla do Guaíba, as ciclovias e os BRTs. Prometeu concluir cada um dos projetos e disse que está preparado para ser cobrado por isso.

Mas deixou claro que a maior de todas as preocupações é mesmo a saúde – não por acaso, o ponto mais criticado por seus adversários nas últimas eleições. Fortunati quer acabar com um dos problemas que mais atormentam a população de baixa renda:

– Não descansaremos enquanto não terminarmos com as filas.

Rodeado por duas dezenas de jornalistas, foi ainda mais enfático ao falar sobre seus planos para a área.

– Aperfeiçoar a saúde pública é uma obsessão. Será nossa prioridade absoluta. Não vamos sossegar enquanto não resolvermos isso – garantiu.

Observado pelos 35 integrantes do primeiro escalão – que serão obrigados a cumprir metas, como se fossem funcionários de uma empresa privada –, o prefeito disse que os porto-alegrenses têm razão em querer mais da administração pública. E fez uma última promessa:

– Vamos trabalhar muito para não decepcionar ninguém.

Se depender do tamanho da base do pedetista na Câmara, apoio não faltará. De 36 vereadores, Fortunati deve ter amparo de 27.