sábado, 28 de junho de 2014

MATERNIDADES APRIMORAM PROCEDIMENTOS PARA EVITAR SEQUESTROS DE BEBÊS

DIÁRIO GAÚCHO 27/06/2014 | 05h01

Medidas são tomadas após rapto de recém-nascida na última terça-feira, na Santa Casa da Capital



Mulher saiu do hospital com o bebê no coloFoto: Divulgação / Polícia Civil


Nilson Mariano



O sequestro da pequena Bárbara do Complexo Hospitalar Santa Casa de Misericórdia, na terça-feira, em Porto Alegre, acionou o alerta em maternidades do Estado. A subtração de bebês é rara, mas, quando acontece, traumatiza mães e pais, alvoroça hospitais e mobiliza até o último policial de plantão.

O episódio da nenê Bárbara, levada ao completar dois dias de vida, teve um desfecho feliz. Foi devolvida no dia seguinte aos braços da mãe, Viviane Beatriz Casagrande, enquanto a mulher suspeita do crime era presa. No entanto, diretores de maternidades trataram de apertar a vigilância.


O Hospital Moinhos de Vento (HMV) afirma que procura se aperfeiçoar constantemente, e reconferiram se os procedimentos. A superintendente assistencial da entidade, Vania Röhsig, diz que foi para se prevenir de uma possível organização para roubos em série. A presença de estrangeiros na cidade, em função da Copa do Mundo, também foi considerada, porque bebês são alvos do tráfico internacional.

A preocupação é permanente. Vania informa que o HMV investiu R$ 1 milhão num circuito interno de TV. Todas as mães e todos os bebês são identificados por pulseiras. Ninguém entra no hospital sem passar por catracas e seguranças treinados. Cada porta de maternidade está guardada por um vigilante, 24 horas.

Periodicamente, o HMV simula um rapto de bebê, utilizando uma boneca e pessoas fora do quadro de funcionários. É para testar a reação do esquema de segurança diante da emergência.

– Felizmente, (o sequestrador) nunca conseguiu sair do hospital – destaca Vania.

Os cuidados são rotineiros, porque nenhum hospital estaria livre de um sequestrador. A própria Santa Casa tem um protocolo de identificação das pessoas, e a entrada e a saída da maternidade ocorrem no mesmo local. Nenhuma mãe pode deixar o prédio com o filho sem apresentar a nota de alta. Após o ocorrido, a instituição investigar o que ocorreu.

Cada instituição tem suas regras, de acordo com as características do prédio. O Hospital Fêmina dispõe de um cartório dentro da sede, o que permite registrar a criança logo após o nascimento. O gerente de administração, Leandro Barcellos, diz que o Fêmina oferece apenas uma porta de acesso, o que facilita o controle de visitantes.

– Já houve caso em que os pais ficaram furiosos, porque queriam ir embora com o recém-nascido e não tinham os documentos. É constrangedor, mas foram barrados até esclarecerem a situação – comenta Barcellos.

Na maternidade do Hospital Conceição, que realiza 360 partos por mês, a identificação das pessoas, o controle das portarias e o olho das câmeras são intensos. O gerente de administração, Alexander Lopes da Cunha, diz que estuda implantar catracas, roletas e portas com sistema eletrônico.

– Nunca houve furto de criança no Conceição – garante Cunha.

Na Santa Casa

Como foi o sequestro

> Vestindo um guarda-pó branco, a mulher entrou no quarto onde estava o bebê e se identificou como uma profissional da saúde que levaria Bárbara para um procedimento.

> A mãe, Viviane Beatriz Casagrande, entregou a criança. Mas, como ficou desconfiada, foi à porta e viu a mulher saindo do ambiente dos quartos.

> Viviane procurou os enfermeiros, que informaram que não havia nenhum procedimento previsto. Neste momento, iniciou-se a busca.

> Enquanto transitava por um corredor interno, a mulher foi abordada por funcionários do hospital e informou que estava em tratamento com a filha. A possibilidade de ela ser a responsável por levar o bebê foi afastada, já que usava roupa diferente da de quando foi ao quarto.

> Ao ser questionada sobre seus documentos, ela informou que os tinha deixado com o marido no carro.

> Pela cor do cobertor, a equipe do hospital percebeu que o bebê que ela levava era Bárbara. No entanto, a sequestradora já havia entrado no táxi.

Protocolo de segurança

> A Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre comunicou, no fim da manhã de quarta-feira, que apurava o sequestro da menina recém-nascida. Em nota, a instituição também pediu desculpas à família de Bárbara.
> Apesar de haver um funcionário na portaria da maternidade 24 horas, as visitas não são todas identificadas. A sequestradora se aproveitou disso para acessar o quarto.

> É obrigatório, por todos os funcionários, o uso de crachá de identificação, que tem foto e logotipo da instituição. A mulher não usava crachá.

> Protocolos de segurança são elaborados por cada instituição, não por uma determinação geral.

> Os funcionários da maternidade não têm um uniforme personalizado no Hospital Santa Clara. São usados jalecos brancos. A identificação fica por conta do crachá.

> Para sair com uma criança, a mãe tem de apresentar nota de alta na portaria. A Santa Casa apura se a sequestradora saiu junto de outras pessoas e não foi notada.



quinta-feira, 26 de junho de 2014

INSEGURANÇA NA MATERNIDADE

ZERO HORA 26 de junho de 2014 | N° 17841


ADRIANA IRION E HUMBERTO TREZZI


FINAL FELIZ NOS BRAÇOS DOS PAIS. BÁRBARA JÁ ESTÁ EM CASA

POLÍCIA RESGATA RECÉM-NASCIDA 10 horas depois de ser levada de maternidade em Porto Alegre. A sequestradora, mãe de cinco filhos, foi denunciada por pessoa que a conhecia e viu na internet imagens dela fugindo do hospital com o bebê



Porto Alegre foi cenário, entre a terça e a quarta-feira, de um celebrado final feliz para um crime que começou de forma hedionda. É que a maternidade há muito acalentada por Viviane Beatriz Casagrande, 35 anos, virou pesadelo quando ela teve a filha recém-nascida, Bárbara, arrancada dos braços por uma mulher desconhecida.

O crime ocorreu na maternidade do Hospital Santa Clara, no Complexo Santa Casa. E o que poderia ter terminado em tragédia culminou com choros de alívio quase 10 horas depois, quando a Polícia Civil encontrou a sequestradora – e a menina, ilesa. Médicos, enfermeiros e policiais se abraçaram nos pais da criança e choraram juntos, emocionados.

Foi por volta das 16h de terça-feira que a sequestradora, Luciana Soares de Brito, 39 anos, levou o bebê. Ela entrou com uma roupa e depois a trocou, vestindo um jaleco branco, para simular ser funcionária do hospital. Disse à mãe do bebê que levaria a criança para um exame, que duraria de 20 a 25 minutos. O drama só teve fim pouco antes das 2h da madrugada de quarta, quando a menina foi encontrada na casa de um filho de Luciana, em um casebre no Lami, bairro da zona sul.

O delegado Hilton Müller Rodrigues, que esclareceu o caso, diz que a mídia teve papel fundamental, ao divulgar vídeos da suspeita levando a criança. Uma pessoa viu as imagens de Luciana e passou informações sobre a sua localização. Policiais da 17ª Delegacia de Polícia, comandados por Müller, localizaram familiares da sequestradora no bairro Glória e, dali, foram ao Lami, onde encontraram o bebê e prenderam a mulher.

Voz infantilizada, chorando muito, Luciana Brito deu uma explicação confusa para ter sequestrado a filha de outra mulher.

– Eu queria cuidar ela, que eu também tinha um nenê na minha barriga. É Gabrieli, o nome dela – declarou Luciana ao ser presa.

PAI AGRADECE A QUEM DEU PISTAS

Luciana disse que ia cuidar de Bárbara (a quem chamava permanentemente de Gabrieli) junto com o bebê que traz na barriga – embora não seja perceptível qualquer gravidez nela. Diz que chegou a comprar “um monte de coisa bonita para o bebê”.

– Sei que a mãezinha ia ficar triste, mas eu ia devolver. Quando viesse o sol eu ia devolver. Eu só ia cuidar dela, das duas Gabrieli. Botar sapato nela, para ela ficar bem bonita. Mas me arrependo, porque a mãezinha dela ficou triste. Se pegassem meu bebê e levassem eu também ia ficar triste. Não sei quem é ela, mas sei que ficou triste. Mas agora ela não vai mais chorar – declarou Luciana, entre crises de choro, ao ser presa.

Luciana, que trabalha numa clínica psiquiátrica, tem cinco filhos: um de 23 anos, dois de 20, uma de 15 e uma de 10 anos. Zero Hora falou com dois deles. Eles admitem que a mãe falou, há quatro meses, que estava grávida, mas não aparentava ter barriga de gestante. Na terça-feira, para surpresa deles, apareceu com o bebê no Lami.

– Tive de esquentar leite para o bebê, cuidamos dele. Estranhamos, porque ela está em tratamento psíquico desde que meu pai (foragido que já morreu) tentou matar ela, há três anos. Aí, vi na TV reportagem sobre uma criança sumida e desconfiei. Até brinquei: mãe, não é essa menina? Ela negou – relata Bruno, o filho de 20 anos.

Ontem, ele foi o primeiro a visitar a mãe, na Penitenciária Feminina Madre Pelletier, onde está Luciana, com prisão preventiva decretada pela Justiça, por sequestro e cárcere privado.

Jorge Santos, gerente comercial da clínica São José, confirma que Luciana é funcionária desde 2011 como copeira, mas esteve afastada por cerca de dois anos por problemas de saúde. Ela retornou ao serviço em abril passado. Segundo Santos, era uma boa funcionária.

Na terça-feira, dia do sequestro, Luciana deveria ter trabalhado no turno da tarde, mas não apareceu para o expediente.

Os policiais analisam as ligações feitas no celular dela, para verificar se agiu sozinha (o que consideram mais provável) ou se foi um crime planejado por quadrilha. Serão feitos também exames psiquiátricos e físicos, para ver se a gravidez dela é imaginária.

Recobrados do susto, os familiares do bebê ainda tentam entender o ocorrido. O pai, o vendedor Magnum Lefa, faz questão de agradecer a quem fez a denúncia do paradeiro da criança:

– Não sei quem é, mas sou eternamente grato.

A mãe, Viviane, traça uma parábola para o destino da filha:

– Ela já nasce como Santa Bárbara, uma guerreira. Essa foi a intenção do nome dela e ela está aqui. Nasceu de novo, graças a Deus.


Tropeço na segurança e no início das buscas

Enquanto tenta desvendar o que está por trás da ação da mulher que sequestrou uma recém-nascida na Santa Casa de Misericórdia na terça-feira – se foi movida por transtorno mental ou visando a interesses financeiros, envolvendo uma eventual venda do bebê –, a Polícia Civil também questiona falhas na segurança do hospital e na atuação da Brigada Militar (BM).

A criança com um dia de vida foi tomada da mãe dentro do quarto do hospital por Luciana Soares Brito, 39 anos, presa cerca de 10 horas depois do sequestro, no bairro Lami, zona sul de Porto Alegre. A partir de imagens captadas pelas câmeras do hospital, o delegado Hilton Müller Rodrigues, que conduz a investigação na 17ª Delegacia da Polícia Civil, fala de “falhas graves” na segurança da instituição. As gravações flagraram o momento em que Luciana se encaminhava para o portão, com o bebê no colo, sendo acompanhada por uma funcionária durante o trajeto até perto da saída.

A funcionária contou em depoimento que a mulher dizia que não era para tocar nela, que ela havia ido a uma consulta e que pegaria os documentos da recém-nascida com o marido, que a estaria esperando no carro. Com isso, conseguiu sair do hospital sem ser impedida pelos funcionários.

– Todos os dias, recebo casos de seguranças de supermercado que trazem aqui pessoas que pegaram um pacote de bala de goma. E a segurança do hospital não reteve uma pessoa suspeita que levava uma criança sem documentos – ressalta Müller.

Em nota oficial assinada pelo diretor-geral e administrativo, Carlos Alberto Fuhrmeister, e publicada no site do hospital, a Santa Casa informou que “está apurando as responsabilidades técnicas e administrativas na execução do protocolo de segurança existente naquele local e, em eventuais inadequações, adotará as medidas necessárias e cabíveis ao caso e, notadamente, não medirá esforços para que tal situação não volte a ocorrer”.


HOSPITAL PEDE DESCULPAS À FAMÍLIA

O complexo hospitalar também pediu desculpas pelo ocorrido: “A Santa Casa de Misericórdia expressa publicamente suas desculpas à família da pequena Bárbara e se solidariza pelos momentos difíceis enfrentados pelos pais da recém-nascida, seus familiares e amigos”.

O delegado Müller ainda questionou ontem a atuação da BM no caso. O sequestro foi informado pelo hospital por meio do fone 190 às 16h50min da terça-feira. Segundo Müller, o policial militar que recebeu o chamado e registrou o caso como “rapto de uma criança” não teria difundido a ocorrência para os demais órgãos de segurança, entre os quais, a Polícia Civil.

Em razão dessa falha, a polícia só soube do caso e começou o trabalho de buscas cerca de uma hora e meia depois do sequestro. A criança foi encontrada em um casabre no bairro Lami, quase na zona rural da cidade.

A suposta falha de comunicação está sendo apurada pela Secretaria de Segurança Pública (SSP). Até o fechamento desta edição, a SSP não havia se manifestado sobre o caso.


ENTREVISTA

“Vão ter de me provar que não foi complô”



VIVIANE CASAGRANDE, Mãe de Bárbara


A mãe da pequena Bárbara, Viviane Casagrande, teve poucos instantes de descanso ontem. Todos os celulares e também o telefone fixo da casa de dois andares, na zona norte de Porto Alegre, tocaram o dia inteiro. Eram amigos, confortando, e a mídia, em busca de informações. Como paciência é uma das virtudes que tem de ser cultivada no seu emprego, uma auto-escola, Viviane tentou atender a todos, sem conseguir. Dedicou-se, sobretudo, a mimar a filhota, agora segura em seus braços.

Em um intervalo das mamadas no peito, a mãe de segunda viagem – tem outra filha, de 13 anos – falou com Zero Hora.

A senhora deconfiou da situação, quando a mulher se apresentou para levar sua filha?

Desde o primeiro minuto. Vi que ela não tinha jeito de enfermeira, apesar de se vestir como uma. Ela disse que levaria minha filha para um procedimento. Quando perguntei qual, ela saiu depressa. Aí chamei os funcionários. Me desesperei.

A senhora estava sozinha no quarto?

Não. Apesar de ser convênio, estávamos em três gestantes e três bebês. É possível que ela tenha escolhido a criança de forma aleatória. Mas vão ter de me provar que não foi complô. Ainda tenho a impressão de que ela planejou tudo, talvez para ganhar dinheiro passando o bebê adiante, Deus me livre... Tomara que eu esteja errada, mas ela pode ter se fingido de louca. Peço que o hospital não deixe nenhuma mãe passar pelo que passei, isso não existe, roubar um filho de uma mãe... Que mude o sistema de segurança, que sirva de alerta.

terça-feira, 24 de junho de 2014

GANHADOR DA MEGA-SENA FAZ DOAÇÃO A HOSPITAIS QUE TRATAM DO CÂNCER



CORREIO DO POVO 23/06/2014 17:44


Dinheiro do prêmio foi liberado agora e parte ele já doou a amigos, parentes e hospitais que tratam do câncer



Um agricultor de 70 anos ganhou sozinho na Mega-Sena, mas resolveu continuar levando uma vida simples no sítio onde mora, sem carro ou muito conforto, na zona rural de Figueirão, cidade de Mato Grosso do Sul com menos de 3 mil habitantes. Dos R$ 37.626.306,90 que ganhou com uma aposta no final de abril, o dinheiro foi liberado agora e parte ele já doou a amigos, parentes e hospitais que tratam do câncer, como o de Barretos (SP).

O ganhador, que pediu para não ser identificado, conta que doar dinheiro para o tratamento contra o câncer foi uma promessa que fez para o seu pai, que morreu vítima dessa doença, assim como outro familiar. Por isso, há 30 anos ele jogava na loteria e sempre os mesmos números. Sem carro, ele caminhava quase 10 quilômetros a pé toda semana para fazer uma única aposta.

Segundo ele, dessa vez abriu uma exceção e fez outras duas apostas, ambas com números aleatórios gerados pelo próprio caixa, sendo uma delas a contemplada. Por sinal, o primeiro presente foi para a casa lotérica, que ganhou um climatizador de mais de R$ 8 mil. O motivo é que, segundo o apostador, os funcionários enfrentavam muito calor no trabalho.

Para os hospitais ele doou R$ 3,7 milhões neste domingo, sendo R$ 1 milhão para o Hospital do Câncer de Barretos (SP), R$ 1 milhão para o Hospital de Câncer Alfredo Abrão (Campo Grande-MS) e R$ 1,7 milhão para o Hospital Municipal de Figueirão (MS).

O doador não descarta novas ajudas, pois diz que vai manter sua vida simples de morador da roça.

Importância

De acordo com o presidente do Hospital Alfredo Abrão, Carlos Alberto Coimbra, o valor recebido é muito significativo, pois no total por mês as doações recebidas não chegam a R$ 170 mil. Com esse dinheiro da loteria a instituição vai construir um local adequado para instalar o serviço de radioterapia.

Já o hospital da cidade onde mora o agricultor usará o dinheiro para adquirir um aparelho de raio X digital de última geração. O Hospital do Câncer de Barretos ainda está definindo os equipamentos a serem comprados. Diretores da instituição contaram que toda doação é muito comemorada, uma vez que a unidade opera com déficit mensal de R$ 8 milhões.

Rotina

O novo milionário não quer aparecer por motivos de segurança e porque garante que não quer ser obrigado a mudar muito sua vida. Por enquanto, pretende apenas melhorar um pouco a propriedade rural onde reside, talvez com a construção de uma piscina e uma represa para criar peixes.

O agricultor não quer contratar seguranças e alega não saber ainda o que fará com o restante do prêmio. "Deus vai cuidar", afirma. Separado da mulher e com os dois filhos morando longe há anos - um deles na Costa Rica -, ele segue usando o tradicional chapéu de palha e a botina.

Indagado se ficou mesmo muito feliz por ganhar na Mega-Sena, ele garante que sim. E diz que a prova foi o ato que fez pouco depois. Como lembrança, correu na lotérica e comprou a caixa registradora que imprimiu o volante sorteado.

sexta-feira, 20 de junho de 2014

ASMA, UMA DOENÇA NEGLIGENCIADA NO BRASIL




Álvaro A. Cruz

Presidente da Comissão Organizadora da 9a. Reunião Anual da GARD. Organização Mundial da Saúde




As doenças respiratórias crônicas estão entre as prioridades globais propostas pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e aprovadas pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 2011. A ASMA é a doença respiratória crônica mais frequente, acometendo 234 milhões de pessoas em todo mundo, das quais cerca de 20 milhões estão no Brasil. É a enfermidade crônica mais comum entre crianças e adultos jovens, uma das principais causas de hospitalizações no Brasil, traz enorme sofrimento e resulta em custos elevados para as famílias e para o sistema de saúde. Lamentavelmente ainda mata mais de 2 mil brasileiros a cada ano. Mortes prematuras e passíveis de prevenção. A despeito disso tudo, não há no país nenhum plano de ação para o controle da asma em âmbito nacional. Existe maior acesso a medicamentos essenciais, há uma séries de normas do Ministério da Saúde, várias iniciativas bem sucedidas em instituições ou cidades, mas isso não basta. É preciso capacitar os médicos de família de todo Brasil para o diagnóstico e o tratamento da ASMA, já.



Um dos principais resultados da negligência para com a ASMA é o subdiagnóstico, situação em que o paciente tem asma mas a doença não é identificada, e, por conseguinte não é tratada. O subdiagnóstico da ASMA resulta da negligência de todos e todas: indivíduos, familiares, profissionais de saúde, mídia e das políticas de saúde, num contexto de banalização irresponsável da doença, ainda considerada um problema episódico sem risco de consequências graves, que resulta também em má adesão ao tratamento.



Na Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar de 2012, realizada pelo IBGE e Ministério da Saúde com uma amostra de mais de 100 mil escolares de todo o país, havia sintomas de ASMA em 23,2% dos adolescentes, mas relato de diagnóstico de ASMA em apenas 12,4%. Esta observação confirma estudo que publicamos também em 2012 em colaboração com vários experts internacionais em ASMA, partindo de dados de uma amostra de quase 5 mil adultos de todo o país avaliados por inquérito da OMS e encontramos os mesmos 12,4% de ASMA diagnosticada por médico, mas 22,6% de pessoas com sintomas de ASMA. A diferença de mais de 10% entre a proporção de pessoas que têm sintomas sugestivos de ASMA e as que têm diagnóstico indica que o subdiagnóstico pode ser um problema muito grande.



A principal barreira para o adequado diagnóstico e tratamento da ASMA é certamente a desinformação. As lideranças de organizações profissionais e da Iniciativa Global contra a ASMA (GINA) não se cansam de chamar a atenção para o problema. A falta de diagnóstico da doença pode provocar sérias consequências, tais como o tratamento equivocado. A falta de tratamento adequado pode permitir o agravamento da doença, com risco de morte e de perda irreversível da capacidade pulmonar do doente.



A discussão de ações para a prevenção e o controle das doenças respiratórias crônicas no Brasil é imprescindível e urgente. É crucial encorajar a formulação de políticas públicas voltadas para a otimização do controle da ASMA de forma sustentável, a partir da capacitação dos médicos de família e demais profissionais da atenção básica. As lideranças da GINA no Brasil promoveram recentemente a “Conversa Compartilhada em Asma”, evento que de forma inédita reuniu, 40 especialistas – entre médicos, enfermeiros e farmacêuticos – para discutir como instaurar, gerir e manter centros de tratamento da ASMA, além de compartilhar experiências bem sucedidas. O debate servirá como base para a confecção de um manual prático, com informações sobre o tratamento em centros de referência em ASMA, imprescindíveis para dar apoio aos médicos de família nos casos mais graves ou de difícil diagnóstico.



A Organização Mundial da Saúde promoverá em Salvador, na Bahia, de 14 e 16 de agosto de 2014, a 9a. Reunião Anual da Aliança Global contra Doenças Respiratórias Crônicas (GARD) (www.gardbraSil.org), pela primeira vez na América Latina. A reunião da GARD contará com a presença de autoridades da OMS e do Ministério da Saúde do Brasil e representação de dezenas de experts em ASMA e Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC) do Brasil e de todos os continentes, representando organizações membro da GARD e iniciativas nacionais de dezenas de países. O tema principal a ser discutido é a capacitação de profissionais da atenção básica para o tratamento das enfermidades mais comuns, incluindo a ASMA e a DPOC, dentro do Plano de Ação da OMS para as Doenças Crônicas Não Transmissíveis 2013 – 2020.



Esperamos que as experiências brasileiras bem sucedidas no controle da ASMA recebam maior reconhecimento dos gestores do Sistema Único de Saúde brasileiro para que possam dar o apoio necessário à atenção básica, e que práticas de capacitação comprovadamente eficientes, avaliadas em outros países, sirvam de base para revisão das políticas e práticas atuais que mantêm a negligência à ASMA no Brasil.



*GARD (Aliança Global contra Doenças Respiratórias Crônicas – www.who.int/gard/en) uma rede de instituições lideradas pela Organização Mundial da Saúde.


Artigo enviado por Mariana Nascimento



QUASE 200 MIL PACIENTES ESPERAM POR CONSULTA PELO SUS

ZERO HORA 20/06/2014 | 11h54
por Micheli Aguiar


Pelo SUS. Mais de 176 mil pacientes do Interior esperam por uma consulta com especialistas na Capital. Ortopedia, proctologia e reumatologia lideram a fila de espera que pode chegar a dois anos; Para o TCU, regulação dos atendimentos é falha




Eliane esperou por 25 meses para conseguir consulta com ortopedista na Capital, enquanto isso, viu sua situação se agravarFoto: Charles Dias / Especial


Mesmo informatizado desde 2011, a Central Estadual de Regulação Ambulatorial ainda não eliminou filas de espera por consultas de média complexidade oferecidas pelo Sistema Único de Saúde (SUS). De janeiro a março, segundo último levantamento da Secretaria Estadual de Saúde (SES), houve um aumento de 2,3% na demanda de pacientes do Interior para atendimento em hospitais da Capital. No início do ano, havia 172 mil pessoas na fila de espera. Três meses depois, o número superava os 176 mil.

A demora para atendimento em Porto Alegre chega a dois anos, sobretudo em especialidades como ortopedia, proctologia e reumatologia. A dona de casa Eliane de Souza Pinto, 50 anos, de Campo Bom, no Vale do Sinos, esperou por 25 meses até conseguir, em maio deste ano, uma consulta com ortopedista em Porto Alegre _ referência para o município na especialidade.

Com problemas na coluna, nos joelhos e nos pés, que dificultam sua locomoção, e sem tratamento adequado, ela precisou abandonar o trabalho.

– Nesse período de espera eu só vi a minha situação piorar. Estou com osteoporose, bursite, escoliose e esporão calcâneo, e ainda tive de deixar o trabalho porque não tinha mais condições – lamenta.

O aumento na demanda e a redução da oferta estão entre as explicações para a longa fila. A SES afirma que desde a informatização do sistema, e consequente cruzamento de dados, 4 mil consultas foram disponibilizadas a mais em hospitais de Porto Alegre – onde 55% dos atendimentos são para residentes.

A secretaria admite, porém, desconhecer a demanda reprimida que busca atendimento em outros centros de referência no Estado, já que só faz a regulação dos atendimentos oferecidos a não residentes da Capital. Nas demais cidades é responsabilidade de cada município gerenciar a sua demanda local, inclusive, com preenchimento das agendas via sistema do Complexo Regulador Estadual.

De acordo com um levantamento feito pelo Tribunal de Contas da União(TCU) a pedido do Ministério da Saúde, a explicação para as longas filas está justamente na regulação fragmentada, pois cada uma das 19 Coordenadorias Regionais de Saúde têm regras próprias. A ausência ou a deficiência do atendimento ambulatorial da rede básica (consulta com clínico geral ou mesmo com algumas especialidades) também é problemático.

Para a entidade, a estruturação dos hospitais regionais, conforme o perfil epidemiológico de cada região, seria uma das maneiras para sanar o problema da longa fila de espera.

"Não há investimento pesado", diz Simers

Para a vice-presidente do Sindicato Médico do Rio Grande do Sul (Simers), Maria Rita de Assis Brasil, o gargalo da média complexidade se explica devido ao baixo investimento na área. Segundo Maria Rita, a atenção básica é sanada pelos municípios com as unidades de saúde básica e saúde da família, mesmo que ainda hajam problemas. Já a alta complexidade é bem remunerada e, portanto, tem médicos e hospitais que disputam as verbas.

– Já a média complexidade fica em um limbo. Não há investimento pesado e médicos que aceitem trabalhar por pouco. Sem falar que esses especialistas precisam de exames que exigem tecnologia – explica Maria Rita.

O governo afirma que o orçamento estadual tem crescido. Saiu de R$ 2 bilhões em 2010 para R$ 3,3 bilhões em 2013. E este ano a previsão é de R$ 3,7 bilhões.

Veja seis razões pelas quais a fila é tão longa

1. Redução da oferta  - De acordo com a SES, os profissionais de saúde terceirizados comunicam mensalmente a capacidade de atendimento, que pode variar de acordo com a quantidade de reconsultas que cada paciente exige.

2. Regulação fragmentada  - O Estado é divido em 19 Coordenadorias de Saúde e cada uma tem autonomia. Segundo o TCU, esse é um gargalo que deve ser unificado já que as listas de espera de cada uma está sujeita a alterações aleatórias.


3. Saúde Básica deficiente - A deficiência no atendimento da saúde básica e a falta de médicos especialistas nos municípios contribuem para a superlotação dos hospitais e para as filas de espera, de acordo com o TCU.

4. Pouco especialista no Interior  - Segundo dados do Simers, pouco mais de 12.300 médicos dos 25.540 atendem no Interior. A entidade defende maior remuneração e descentralização do atendimento em centros de referência.

5. Pouco ortopedista - A longa espera por ortopedista é explicada em parte pela quantidade reduzida de ortopedista no Estado. Em todo o RS há 816 especialistas na área;

6 . Redução de leitos - Em duas décadas o Rio Grande do Sul reduziu em 33,9% os leitos hospitalares pelo SUS. Em 1993 o Estado tinha 35.061 leitos contra 23.487 em 2013. Na Capital o percentual de redução é maior, chegando a 35,7%. Ano passado era 5.590 leitos ante 8.698, em 1993.


http://infogr.am/consultas-pelo-sus?src=web




terça-feira, 17 de junho de 2014

FARMACÊUTICAS BRASILEIRAS SE INSTALANDO EM CUBA?


REVISTA VEJA 16/06/2014 às 19:00


BLOG REINALDO AZEVEDO


Por Reinaldo Azevedo


Alô, oposicionistas brasileiros! Jornal do Partido Comunista de Cuba confirma que Dilma quer forçar empresas farmacêuticas brasileiras a produzir em Cuba. PT quer cortar empregos aqui e gerar empregos lá; trata-se de mais uma ameaça aos genéricos



Vocês se lembram que denunciei aqui, no dia 4 de junho, que o governo Dilma está pressionando a indústria farmacêutica brasileira a abrir fábricas em Cuba para a produção de biossimilares, que seriam exportados para a América Latina e Caribe, inclusive o Brasil? Sim, brasileiras e brasileiros, a petezada que comanda o país quer gerar empregos em Cuba, o que certamente desempregará brasileiros; quer gerar divisas para Cuba, o que certamente será ruim para a balança comercial brasileira; quer dar velocidade, em suma, ao PAC, o Programa de Aceleração de… Cuba!

A repórter Talita Fernandes, da VEJA.com, foi atrás da história. O Planalto, claro!, nega que esteja fazendo essa ursada com os brasileiros, mas, oh surpresa!, o Granma, o jornal do Partido Comunista — é aquele cujo endereço na Internet é “Granma.cu” (sem querer ofender petistas, é claro!) — confirma. Vejam trecho do artigo.



Retomo

Em “comunistês”, tudo é uma maravilha, e os dois países sairão ganhando. Em “verdadês”, o governo petista pressiona a indústria farmacêutica brasileira a transferir parte de suas plantas industriais para Cuba. Chegou a hora de a oposição convocar o sr. Arthur Chioro, ministro da Saúde, e os representantes da indústria farmacêutica para falar no Congresso. Segue a reportagem da VEJA.com. Volto para encerrar.
*
O governo brasileiro mostra-se incansável quando o assunto é colocar-se em maus lençóis em nome de sua simpatia pelo regime dos irmãos Castro, em Cuba. Não bastasse a utilização de quase 700 milhões de dólares em recursos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para financiar a construção do Porto de Mariel, a 45 quilômetros de Havana, a nova empreitada que vem sendo orquestrada pela alta cúpula prevê, conforme revelou o colunista do site de VEJA Reinaldo Azevedo, a ida de empresas farmacêuticas brasileiras para produzir medicamentos em solo cubano. A estratégia é tentar rentabilizar a zona portuária por meio da exportação de remédios produzidos em parceria entre estatais cubanas e empresas brasileiras — em especial fabricantes de genéricos e biossimilares. Desde a inauguração da primeira fase do terminal de contêineres do porto, em janeiro, o governo vem travando uma ofensiva velada para levar executivos a Cuba para participar de grupos de trabalho. O alto escalão da República tem atuado, por assim dizer, como lobista de primeira linha dos irmãos Castro, sem que qualquer contrapartida benéfica para o Brasil seja posta na mesa. Mas a estratégia tem encontrado resistência: o alto custo de instalação de indústrias na ilha e as dificuldades de exportação de produtos, devido ao embargo econômico, tornam a empreitada economicamente inviável. Além disso, a razão de o governo demandar investimentos em Cuba, e não no Brasil, está cercada de pontos nebulosos. Afinal, costurar acordos com outros países com o objetivo de estimular a indústria nacional é agenda mais que bem-vinda para o país. Contudo, não há lógica que justifique lançar mão do mesmo expediente para criar (mais um) pacote de bondades para Cuba.

Em janeiro, a presidente Dilma Rousseff, o então ministro da Saúde, Alexandre Padilha, e seu sucessor, Arthur Chioro — que está à frente da pasta desde que Padilha saiu para candidatar-se ao governo paulista pelo PT — convidaram empresários do setor farmacêutico, que ouviram da própria presidente a intenção do governo de levar empresas brasileiras para se instalar na Zona Especial do Porto de Mariel e desenvolver a economia local. A estratégia é construída com base no argumento das vantagens tributárias e alfandegárias da Zona Especial. Contudo, mesmo com todos os incentivos, empresários ouvidos pelo site de VEJA se mostraram céticos.

Inviabilidade econômica

Os convites vêm confundindo o empresariado porque contrariam o próprio plano que o governo brasileiro tem para o setor farmacêutico. “Não faz o menor sentido, pois o Brasil já tem uma estratégia bem desenhada para o setor, que é de estimular a indústria nacional por meio das próprias compras governamentais. O plano para Cuba vai contra a própria política industrial”, diz Dante Alário Junior, sócio e responsável pela área de pesquisa e desenvolvimento e inovação da Biolab. Sua empresa já recebeu vários convites para participar de eventos promovidos pelo governo brasileiro em Cuba e investir na ilha — o último deles ocorreu no início de junho — mas não tem interesse na empreitada porque já investe num projeto de internacionalização nos Estados Unidos. “Cuba foi descartada porque não temos condições de investir também lá. Não faz sentido para a empresa”, afirma.

Outro executivo do setor ouvido pelo site de VEJA, que prefere não ter seu nome revelado, afirmou que os empresários se mantêm descrentes em relação à viabilidade dos investimentos. “O setor farmacêutico sempre foi cético com a possibilidade de Cuba suprir um negócio que exige alta tecnologia”, disse. Parte do pessimismo deve-se também ao fato de as empresas brasileiras já estarem firmando acordo com multinacionais de outros países para produzir medicamentos (em especial os biossimilares), sobretudo americanas e europeias. O embargo econômico a Cuba anula a viabilidade, diz o executivo, porque impede que tais empresas consigam exportar os medicamentos produzidos na ilha para mercados consumidores importantes, como Estados Unidos e México, que têm proximidade geográfica.

As farmacêuticas vêm sendo procuradas há mais de um ano para realizar investimentos em Cuba. Num primeiro momento, o contato foi estabelecido por intermédio da Odebrecht, responsável pela construção do porto cubano. Em 2014, o governo passou a fazer os convites, excluindo da lista as empresas associadas à Interfarma, que são essencialmente estrangeiras. Procurada pela reportagem, a Odebrecht disse que “apoia o acordo bilateral entre Brasil e Cuba no desenvolvimento de medicamentos”. A companhia, inclusive, assinou um Memorando de Entendimentos com a farmacêutica cubana Cimab para a criação de uma joint-venture na ilha. Contudo, o acordo nunca saiu do papel.

Mesmo sem um interesse claro em investir na ilha, as empresas são alvo de tamanha insistência do governo — em especial do Ministério da Saúde e do Desenvolvimento — que não ousam declinar totalmente as ofertas de negócios. “As que foram a Cuba quiseram atender a um pedido da Presidência. É muito difícil não ir”, disse o médico e deputado federal Eleuses Paiva (PSD-SP), que está ciente das conversas no Ministério da Saúde. “Agora, se as indústrias forem se instalar, é porque o governo está montando situações econômicas fantásticas”, disse o deputado. “A indústria de genéricos acabou de construir um parque nacional. É tudo recente demais para ir a Cuba”, disse.

De Brasília a Havana

A última reunião realizada em Cuba ocorreu nos dias 5 e 6 de junho, liderada pelo Secretário de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos do Ministério da Saúde, Carlos Gadelha. O encontro contou também com a participação de executivos da Eurofarma, da PróGenéricos (Associação dos produtores de medicamentos genéricos) e de representantes da Fiocruz e da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Procuradas, as empresas participantes negaram que o encontro tenha sido realizado com o objetivo de levar as farmacêuticas a se instalarem em Cuba. Contudo, a pauta do encontro, à qual o site de VEJA teve acesso, mencionava a discussão de “investimentos no Porto de Mariel”.

Comandante da missão, Carlos Gadelha é um dos nomes do Ministério da Saúde citados nos escândalos da Operação Lava-Jato. Conduzida pela Polícia Federal, a Operação desmontou um esquema bilionário de lavagem de dinheiro orquestrado pelo doleiro Alberto Youssef, preso desde março e pivô dos escândalos. O laboratório comandado pelo doleiro, o Labogen, é apontado pela Polícia Federal como o carro-chefe do esquema de lavagem de dinheiro. Durante as investigações, a PF interceptou conversa telefônica entre o empresário Pedro Argese e Youssef, relacionadas à assinatura de parcerias entre o Ministério da Saúde e empresas privadas. Em um dos trechos, Argese comenta ter conversado com Gadelha. De acordo com a transcrição, divulgada pelo jornal O Estado de S. Paulo, o secretário teria prometido dar todo o apoio possível para a retomada do Labogen.

O Ministério da Saúde nega que o governo brasileiro queira incentivar a instalação de empresas farmacêuticas em Cuba. Afirmou que o encontro de junho teve “por objetivo o monitoramento e avaliação das prioridades científicas, tecnológicas e de saúde pública para os respectivos países em áreas como terapia e controle de câncer, terapia celular e neurociências”. Em nota, afirmou ainda que o país tem cerca de vinte projetos em andamento entre laboratórios públicos e privados brasileiros com instituições cubanas. “Em nenhum dos projetos aprovados pelo Comitê, cabe ressaltar, está prevista a instalação de fábricas brasileiras em Cuba.”

A pasta, contudo, não combinou a resposta com os cubanos. Artigo extenso do jornal castrista Granma aponta o Brasil como principal parceiro de Cuba no setor farmacêutico. Diz o texto que uma nova etapa na cooperação entre os dois países iniciou-se após a visita a Havana da presidente Dilma, em janeiro deste ano. E que a criação de empresas mistas (brasileiras e cubanas) colocadas na Zona Especial do Porto de Mariel, “utilizando tecnologia cubana e capital brasileiro”, servirá para incentivar a produção de biossimilares para “satisfazer as necessidades dos sistemas de saúde de ambos os países e permitir a exportação conjunta a outros mercados”. O que ainda não está claro — e o governo se negou a explicar — é a razão de se investir capital dos contribuintes brasileiros para desenvolver a indústria de outro país. Trata-se, mais uma vez, de um presente generosíssimo do Brasil ao regime cubano.
*
Encerro

Na sexta, José Serra, criador do programa de genéricos no Brasil, escreveu um artigo na Folha demonstrando como o atual governo ameaça o programa. O que vai acima é outro atentado.

Talvez um dia saibamos direito a natureza das relações dos petistas com Cuba, além das afinidades ideológicas. A ilha da tirania virou uma espécie de caixa preta do governo brasileiro. Como não existe transparência mínima, as informações, o trânsito de dinheiro brasileiro para Cuba — haverá também o contrário? — se dá sem nenhum controle. Já houve o financiamento do Porto de Mariel; há a bolada mensal derivada do “Mais Médicos” e, agora, a pressão do governo para fazer um setor da indústria brasileira migrar para a ilha. A troco de quê?

sábado, 14 de junho de 2014

INSEGURANÇA NO HOSPITAL. PACIENTE É MORTO A TIROS NO QUARTO


ZERO HORA 14 de junh
o de 2014 | N° 17828


EDUARDO TORRES


Paciente é morto a tiros no quarto. SUSPEITO TERIA ENTRADO por uma janela do Centenário, em São Leopoldo, segundo polícia



A Polícia Civil já tem um suspeito de ter executado Saul de Almeida Gonçalves, 30 anos, no Hospital Centenário, em São Leopoldo, no início da noite de quinta-feira. O atirador, apontou a investigação, teria pulado a janela que dava acesso direto ao quarto onde a vítima se recuperava de uma cirurgia.

Antes de chegar até lá, o suposto atirador teria conseguido se esgueirar por baixo de uma grade a cerca de cinco metros de distância dali. O delegado Vinícius do Vale explica que a polícia ainda investiga se houve favorecimento, por algum funcionário, para que o matador tivesse localizado o quarto da vítima com tanta precisão.

Ontem, agentes da Delegacia de Homicídios de São Leopoldo continuaram analisando imagens das câmeras de segurança na tentativa de identificar o suspeito. Ele conseguiu entrar na unidade cirúrgica e, pouco antes das 20h, atirou três vezes contra Gonçalves – que, em 2012, fora preso por tráfico.

O crime teria relação direta com a tentativa de homicídio sofrida por ele na noite de quarta-feira. Na ocasião, o homem foi atingido por quatro disparos no Loteamento Chácara dos Leões, localizado no bairro Santos Dumont.

Levado ao hospital, recuperava-se de uma cirurgia quando foi atacado. Um Palio com placas clonadas foi apreendido nas proximidades do hospital logo após o episódio. A polícia investiga se o veículo tem relação com o assassinato. Essa é a terceira vez que um paciente foi morto a tiros no mesmo setor do Hospital Centenário.

Em nota, a direção do hospital afirmou que normas de segurança contra incêndios não permitem que sejam colocadas grades nas janelas. Ainda assim, a instituição anunciou que a segurança será reforçada nos arredores e nas vias de acesso ao Centenário.

FUNCIONÁRIOS RECLAMAM DE FALTA DE SEGURANÇA

Diante da execução, quem trabalha no local afirma se sentir inseguro. Funcionários reclamam da facilidade de acesso pelo estacionamento dos fundos, onde não há cercas nem iluminação noturna. Uma enfermeira, que trabalha há mais de 20 anos na instituição e pediu para não se identificar, afirmou que os problemas de segurança preocupam:

– Qualquer um pode entrar aqui. Roubam nossas coisas dos vestiários, produtos de limpeza, e ainda corremos o risco de, na madrugada, acontecer coisa pior. *Colaborou Micheli Aguiar

quinta-feira, 12 de junho de 2014

VAQUINHAS QUE SALVAM VIDAS


ZERO HORA 12 de junho de 2014 | N° 17826
Jaqueline Sordi


Cada vez mais, o crowdfunding ajuda a romper barreiras para custear tratamentos de saúde


Foi com uma rosa na mão e ansiedade em grau máximo que Pedro, quatro anos, conheceu sua irmã Beatriz. E não foi em um hospital. O encontro com a caçula da família ocorreu em uma movimentada tarde no aeroporto Salgado Filho, em Porto Alegre, mais de 40 dias depois do nascimento da mana. E tudo graças a uma vaquinha feita na internet, que arrecadou o dinheiro para salvá-la.

Meses antes, ainda na barriga da mãe, a enfermeira Tatiane Batschauer, 35 anos, Beatriz havia sido diagnosticada com truncus arteriosus tipo 1, uma má formação no coração. Se não realizasse um procedimento cirúrgico logo após o parto, a menina não sobreviveria. A melhor opção era ganhar o bebê na Espanha e permanecer por lá até a recém-nascida se recuperar da cirurgia, mas o custo de tudo isso era alto. Depois de pensar em vender a casa, o carro e pedir um empréstimo, veio a ideia de fazer um financiamento coletivo.

Vaquinhas para salvar vidas não são novidade. Seja pelo boca a boca, por meio de cartazes colados em postes ou folderes distribuídos nas ruas, a arrecadação de recursos para a saúde há tempo mobiliza parentes, amigos e até desconhecidos. Mas só recentemente ganhou um novo rumo: quando a tecnologia veio ao encontro da solidariedade.

O mecanismo de financiamento coletivo online é uma daquelas boas ideias que só prosperaram graças ao potencial ilimitado da internet. Popularizado no início dos anos 2000, o crowdfunding, em sua modalidade clássica, atende pessoas, grupos e empresas que divulgam um projeto à rede e solicitam doações para colocá-lo em prática.

Sites organizam as arrecadações

Nos últimos cinco anos, a utilização do serviço para questões de saúde vem conquistando espaço. Organizações não governamentais (ONGs), entidades e famílias passaram a realizar as vaquinhas online, seja por sites especializados ou pelas redes sociais, para salvar crianças, captar recursos para campanhas de doações e até para financiar pesquisas científicas.

Conforme Fabrício Milesi, sócio-fundador do site vakinha.com.br, um dos maiores portais de financiamento coletivo do Brasil, as vaquinhas voltadas à saúde representam mais de 30% dos projetos do site e são os que movimentam as maiores quantias de dinheiro:

– Muitas pessoas ficam sabendo da necessidade das famílias pelas redes sociais e se solidarizam, se comovem com as histórias e acabam doando mesmo sem conhecê-las pessoalmente.

A família da pequena guerreira Sophia, cinco meses, já conseguiu a metade dos R$ 2 milhões que precisa para realizar um transplante de três órgãos nos Estados Unidos. Isso graças a uma campanha na internet.

– Me informaram que o governo pagaria a cirurgia, mas tive de entrar na Justiça e ainda não tenho resposta. Entrei em contato com uma tia para pedir ajuda. Ela me indicou a possibilidade de financiamento coletivo – conta a mãe, a paulista Patrícia de Lacerda, 27 anos.

Dias após nascer, Sophia foi diagnosticada com uma síndrome rara que impossibilita o funcionamento normal do estômago, intestino e bexiga. Até realizar o transplante, vive sob risco de morte e sem poder comer. Angustiados mas esperançosos, os pais aguardam um final feliz como o de Beatriz e sua família.

ZERO HORA

LEITE COMPENSADO IMPRÓPRIO PARA CONSUMO


ZERO HORA 12 de junho de 2014 | N° 17826


JOANA COLUSSI | SÃO MARTINHO


FRAUDADORES SEM FRONTEIRA




Amais recente ação do Ministério Público Estadual (MPE) contra a adulteração de leite descobriu a atuação conjunta de fraudadores gaúchos e paranaenses. Receptora de cerca de 6,5 milhões de litros produzidos por mês no Rio Grande do Sul, uma das maiores indústrias de laticínios do Paraná é alvo da sexta fase da Operação Leite Compen$ado – que resultou ontem na prisão de quatro pessoas e na apreensão de caminhões em 11 municípios do noroeste gaúcho e dois paranaenses – Londrina e Pato Branco.

Com sede em Londrina, a Confepar Agro-Industrial Cooperativa Central mantinha há um ano e meio dois postos de resfriamento no Estado: em Selbach e São Martinho. O primeiro foi fechado em maio do ano passado, quando amostras de leite adulterado com ureia foram identificadas pela fiscalização. Desde então, a unidade em São Martinho passou a concentrar o recebimento do produto encaminhado para a Confepar, fabricante de leite UHT e derivados da marca Polly.

A partir de escutas telefônicas e do depoimento do investigado Antenor Signor, que optou por delação premiada, o MPE conseguiu constatar a participação da cooperativa na fraude. Conforme as investigações, responsáveis pela captação de leite no Rio Grande do Sul e no Paraná sabiam da má qualidade do produto recebido e ainda incentivavam a fraude para garantir matéria-prima.

– A cooperativa paranaense sabia que aquele leite era impróprio para consumo e mesmo assim recebia as cargas – afirmou o promotor de Justiça Mauro Rockenbach, responsável pelas investigações da operação, deflagrada em maio de 2013.

Fernando Júnior Lebens, um dos responsáveis pela captação do leite no Estado, foi preso ontem no posto de resfriamento da cooperativa, em São Martinho. No local, foram coletadas amostras de leite cru nos dias 12 de março e 3 de abril. Mais de 60 laudos apontaram alteração da composição em 192 mil litros, sinal da deterioração do produto.

– Era leite velho ou estragado que não poderia ser processado pela indústria – explicou Milene Cristina Cé, fiscal federal agropecuária.

UM PRESO JÁ RESPONDE PORIRREGULARIDADE SEMELHANTE

Diferentemente das outras fases, a sexta operação não detectou a presença de substâncias químicas no leite – como ureia com formol ou soda cáustica. A prisão decretada no Paraná é do responsável pela captação de leite da Confepar, Marildo Galon. Até ontem à noite, o investigado não havia sido localizado pela polícia.

– O leite captado pela Confepar não é vendido no Rio Grande do Sul. A decisão sobre recall é dos órgãos paranaenses competentes – explica Alcindo Luz Bastos Filho, promotor de Justiça.

Além das prisões, foram cumpridos mandados de busca e apreensão de 24 caminhões em Ijuí, Taquaruçu do Sul, Ibirubá, Campina das Missões, Alegria, Boa Vista do Buricá, Crissiumal, São Valério do Sul, São Martinho, Cruz Alta e Coronel Barros.

Denunciado na primeira fase da Operação Leite Compen$ado, em maio do ano passado, o empresário Cleomar Canal, um dos sócios da Transportes Três C, de Ibirubá, parece não ter se intimidado com as investigações. Canal, que respondia o processo em liberdade, foi preso ontem. Conforme as investigações, o transportador passou a entregar leite adulterado à Confepar.

Também foi detido o presidente da Cooagrisul, Alcenor Azevedo dos Santos, de Taquaruçu do Sul. Alcenor é apontado como comprador de ureia no mesmo período em que entregou leite adulterado no posto da cooperativa paranaense. A quarta pessoa detida foi Diego André Reichert, transportador de leite em Campina das Missões.

COOPERATIVA SABIA que estava comprando produto deteriorado, aponta comunicação interceptada pelo Ministério Público Estadual


Denúncia chegou em envelope pardo

CARLOS WAGNER

No fim de abril, um envelope de cor parda, sem remetente, fazia parte da volumosa correspondência do promotor Mauro Rockenbach, da Promotoria Especializada Criminal. Dentro do envelope havia evidências que ajudariam a montar a fase seis da operação, concretizada ontem em São Martinho. O conteúdo informava sobre a existência de um resfriador de leite – onde o produto é armazenado depois de recolhido por transportadores nas propriedades rurais – clandestino, no interior de Taquaruçu do Sul, pequeno município agrícola no norte do Estado. Fotos e relatos detalhados do que ocorria no resfriador convenceram os promotores que valia apurar.

Com uma equipe enviada à região, foram 48 horas de investigação. A primeira dificuldade foi localizar o resfriador. O trabalho precisa ser feito de maneira discreta – o objetivo é preservar as provas e a identidade do denunciado. Não é fácil ser discreto, porque qualquer veículo ou pessoa estranha chama atenção.

A equipe voltou a Porto Alegre com as informações básicas sobre o caso. Depois, houve cruzamento da investigação com dados dos envolvidos em fraudes. Foi descoberto que os responsáveis pelo resfriador clandestino tinham ligações com o veterinário Daniel Riet Villanova, preso na primeira operação.

Também foi constatado que haviam comprado ureia – usada para disfarçar a mistura de água no leite. Por último, a investigação observou que o leite era vendido para um posto de recolhimento pertencente à Confepar, uma cooperativa do Paraná sob suspeita de receber alimento adulterado.

Cooperativa atua no RS há dois anos


Com forte participação no norte do Paraná, a união de cooperativas paranaenses Confepar é velha conhecida dos produtores gaúchos, já que pelo menos há dois anos vinha ao Rio Grande do Sul em busca de leite.

A estratégia, considerada incomum no setor, porque cooperativas costumam comprar produtos apenas de associados, não agradou fabricantes gaúchos, que reclamavam de aumento de preço do produto com a entrada do competidor.

A Confepar processa cerca de 1 milhão de litros de leite por dia, o que a coloca em oitavo lugar no ranking de maiores laticínios do país. Com sede em Londrina e com 32 anos de atuação, a cooperativa foi citada na segunda fase da Operação Leite Compen$ado, em maio de 2013.

Presidente do Conseleite do Paraná, Ronei Volpi, afirmou ontem que “fraude é caso de polícia”:

– É preciso apurar, e caso seja confirmada a participação, a punição deve ser exemplar. Uma notícia dessas deixa os consumidores desconfiados e prejudica o setor – pondera.

Em nota, a Confepar reiterou que é “terminantemente contra qualquer tipo de adulteração no leite”. A cooperativa destacou também que sempre colaborou com as investigações do Ministério Público.

CADU CALDAS


OPERAÇÕES ANTERIORES

-1ª - 8/5/2013, Ibirubá, Ronda Alta, Boa Vista do Buricá, Horizontina e Guaporé
-2ª - 22/5, Rondinha, Boa Vista do Buricá e Horizontina
-3ª - 7/11, Três de Maio
-4ª - 14/3/2014, Tupanciretã, Panambi, Santo Augusto, Ijuí, Entre-Ijuís e outros municípíos
-5ª - 8/5, Paverama, Imigrante, Teutônia, Arroio do Meio, Encantado e outros municípíos.


CONTRAPONTOS

O QUE DIZEM AS DEFESAS DOS ACUSADOS DE ENVOLVIMENTO COM A FRAUDE

Fernando Júnior Lebens - O advogado Clóvis Willms informou que a defesa irá tomar conhecimento do processo antes de se pronunciar.

Alcenor Azevedo dos Santos - O advogado Marcos Lazaroto afirmou que seu cliente “é um pequeno produtor de leite que desconhece os motivos da acusação”.

As defesas de Diego André Reichert e de Cleomar Canal não foram localizadas até as 19h de ontem.



quarta-feira, 11 de junho de 2014

MULHER MORRE EM UPA E TESTEMUNHAS ALEGAM OMISSÃO DE SOCORRO

JORNAL EXTRA 11/06/2014 09:21:43

ATHOS MOURA

Mulher morre na UPA de Madureira e testemunhas alegam omissão de socorro. Delegada adjunta da 29ª DP instaurou inquérito por desacato e homicídio culposo, para investigar uma possível responsabilidade do médico na morte da vítima



Luiza da Penha Cabral Baptista, de 68 anos, morreu na noite de terça na UPA de Madureira. A família alega que houve omissão de socorro dos médicos da unidadeFoto: Uanderson Fernandes / Agência O Dia

Rio - Uma idosa de 68 anos morreu na noite desta terça-feira, na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) de Madureira, na Zona Norte. Familiares e testemunhas acusam um médico da unidade de omissão de socorro, após Luiza da Penha Cabral Baptista sofrer um enfarto dentro de um ônibus. O grupo alega que o médico de plantão apenas observou a paciente e disse que ela não iria resistir. Eles registram uma ocorrência na 29ªDP (Madureira) por desacato e omissão culposa. Há 36 dias, o marido da vítima também havia morrido na mesma unidade de saúde.

Luiza estava num ônibus com uma amiga, indo para Vila Valqueire, onde morava, quando se sentiu mal. De acordo com a cuidadora de idosos Regina Moraes do Nascimento, de 60 anos, a senhora lhe pediu ajuda. "Ela disse para eu ajudá-la, senão iria morrer", recordou.

Regina foi a primeira a ligar para o Samu para pedir socorro. Segundo contou, o trânsito na região estava engarrafado e pediu ajuda aos outros moradores da rua para ajudarem a abrir caminho para que a ambulância passasse. A jornalista Cristiane Pepe, que estava em outro ônibus, desceu e ajudou no socorro. Elas contaram que um dos bombeiros chegou a pé ao local onde Luiza estava porque a ambulância não conseguia chegar.

"Ele fez os primeiros socorros e reanimou a senhora. Eu senti o pulso dela pelo pescoço e ela disse que sentiu pela virilha", contou a jornalista.

A equipe, formada por dois enfermeiros, encaminhou a Luiza para a UPA de Madureira, a unidade de saúde mais próxima. Segundo um dos bombeiros, eles entraram pelos fundos e se encaminharam para a sala vermelha, que é para emergências graves. O bombeiro disse ainda que o médico não prestou socorro, então lhe pediu autorização para lhe aplicar adrenalina, um medicamento que acelera os batimentos cardíacos.

"Ele disse que eu poderia fazer, mas que não adiantaria porque ela não iria resistir. Ele mesmo sequer calçou luvas", disse o bombeiro.

Cristiane Pepe também entrou na sala vermelha, mas saiu a pedido do médico. De acordo com ela, menos de dois minutos depois dela sair da sala, o médico saiu e alegou que Luiza tinha entrado em óbito. Após questionar sobre os procedimentos, por causa do tempo, ela ficou sem resposta. Apenas o ouviu xingando o bombeiro.

Marido também morreu na UPA

O filho de Luiza, o mecânico de manutenção Marcos Aurélio Cabral dos Santos, de 51 anos, contou que ainda não sabe o que aconteceu. Ele disse que os bombeiros fazem uma alegação enquanto o médico diz outra versão. Marcos e as duas irmãs não tiveram tempo de se recuperar da morte do marido de Luiza, o aposentado Damião Teixeira da Costa, de 63 anos, que também faleceu de enfarto na mesma UPA há 36 dias, e se veem novamente na mesma situação.

"Os bombeiros falaram que o médico não quis atender. O médico conversou comigo e disse que ela já chegou aqui morta", contou.
O marido de Luiza da Penha Cabral Baptista também morreu neste ano na mesma unidade de saúdeFoto: Uanderson Fernandes / Agência O Dia

Segundo Marcos contou, o marido de sua mãe passou mal em casa e foi socorrido por um genro. Ele chegou com vida a UPA, mas não resistiu. Porém, ele alega que Damião recebeu atendimento. "Ele foi atendido. Mas os dois morrerem na mesma UPA e do mesmo problema é muito estranho".

Um dos bombeiros e o médico de plantão já haviam se desentendido. O militar trabalhou por pouco mais de três anos na unidade e foi demitido por justa causa. Segundo contou, ele fez denúncias sobre o mau funcionamento da UPA e irregularidades, e por isso acabou sendo afastado. O cabo contou que médicos eram buscados em casa de ambulância enquanto pacientes esperavam por remoções, por exemplo. Já o médico, disse a família de Luiza, que o bombeiro queria prejudicá-lo.

A delegada adjunta da 29ªDP, Ana Carolina Medeiros, contou que instaurou um inquérito por desacato e homicídio culposo, para investigar uma possível responsabilidade do médico na morte da vítima. Ela contou que todos os envolvidos já foram ouvidos. O médico prestou depoimento informal na UPA e irá à delegacia prestar uma declaração.

Segundo a delegada, a escala de plantão já está na delegacia e todos os funcionários também serão intimados a prestar depoimento. Ela também irá pedir as imagens do circuito de segurança da sala vermelha para pode averiguar o que de fato aconteceu e ver se o médico dedicou algum tempo hábil ao socorro de Luiza.

segunda-feira, 9 de junho de 2014

A OMISSÃO QUE MATA E DESTRÓI UMA FAMÍLIA

TV GLOBO, FANTÁSTICO Edição do dia 08/06/2014


Imagens mostram mulher pedindo ajuda para salvar fotógrafo em hospital. Luiz Cláudio infartou há cerca de 100 metros do Instituto Nacional de Cardiologia, um hospital referência em cirurgias cardíacas e transplantes.





Um homem passa mal dentro de um ônibus, no Rio, e morre na porta de um hospital, sem atendimento. O Fantástico reconstitui os últimos momentos do fotógrafo Luiz Cláudio Marigo e investiga a omissão inacreditável da qual ele foi vítima.

“É isso, é paciência, é dedicar tempo, procurar o bicho”, disse o fotografo Luiz Cláudio em uma gravação de 2011.

“Sentimento de vazio, de perda, de coisa irreparável, de tristeza”, desabafa Cecília Marigo, viúva de Luiz Cláudio.

“Essas câmeras não são nada se não fossem com ele segurando. O importante não é o equipamento, o importante é o fotógrafo que está olhando através das lentes”, afirma Vítor Marigo, filho de Luiz Cláudio.

As declarações revelam a dor de uma família que perdeu a referência.

“E era uma paixão, a gente completamente conectado com essas expedições dele”, conta Gustavo Marigo, filho de Luiz Cláudio.

Em mais de 40 anos de profissão, o fotógrafo Luiz Cláudio Marigo desvendou a natureza brasileira. São dezenas de livros publicados.

Com um olhar privilegiado fez registros premiados no mundo. Entre as fotos raras, a ararinha azul. O ofício do profissional sensível, obstinado, está nos versos de Carlos Drummond de Andrade, num poema escrito especialmente para ele.

O coração do fotógrafo, de 63 anos, parou de bater na última segunda-feira dentro do ônibus em que voltava para casa, depois de fazer uma caminhada no Aterro do Flamengo, no Rio.

Luiz Cláudio enfartou há cerca de 100 metros do Instituto Nacional de Cardiologia, um hospital público, referência em cirurgias cardíacas e transplantes. Diante da situação, isso parecia ser um ponto a favor. O motorista estacionou o ônibus em frente ao instituto, e saiu em busca de socorro. Mas não conseguiu. Uma investigação da polícia mostrou que enquanto pessoas tentavam ressuscitar o fotógrafo do lado de fora, 13 médicos estavam na escala de trabalho do hospital naquela segunda-feira.

Amarildo Gomes, motorista: Eu entrei dentro do hospital. Em frente a banca de jornal, mas não tive sucesso.
Fantástico: O que eles falaram pro senhor?
Motorista: Ligar pro 192.

Em seguida, outros passageiros também pediram ajuda ao hospital e da mesma forma foram orientados a ligar para o 192, pedindo uma ambulância do Samu.

Bruno estava sentado no banco de trás, bem perto do fotógrafo.

“No hospital falaram que não havia emergência, que ali não havia emergência no local, e não era a primeira vez que acontecia aquilo ali. Voltei para o ônibus indignado, e daí eu comecei a gravar o vídeo”, conta Bruno Gonçalves Py, analista de processamento.

“O rapaz acabou de ter um infarto no ônibus, em frente ao Hospital do Coração, e o pessoal diz que não pode fazer nada”, diz Bruno no vídeo.

O Instituto Nacional de Cardiologia tem três entradas. O hospital entregou a polícia a gravação de uma câmera, instalada na recepção.

Imagens que o Fantástico conseguiu com exclusividade mostram o momento em que uma mulher de blusa branca, passageira do ônibus, entra com pressa, e pede ajuda a um dos seguranças. Ele olha na direção da rua e balança a cabeça negativamente. Ela olha para os lados, usa o telefone e sai. A conversa dura 30 segundos.

“As imagens deixam claro que existiam servidores do hospital ali na frente do atendimento, juntamente com a atendente, juntamente com o vigilante, são pessoas que estavam de jaleco, de crachá”, disse o delegado Roberto Nunes.

Em seguida, chegou a ambulância do Samu. As testemunhas dizem que, ao todo, Luiz Cláudio ficou quase uma hora na porta do hospital até ser declarado morto.

“Para uma pessoa que era saudável, não fumava nem bebia, fazia exercício, fazia ioga, meditação, comia bem, sendo atendido que fosse dois, três minutos depois, eu imagino que tivesse grandes chances de ter uma sobrevida, de ter saído dessa”, destaca Vítor Marigo.

Em entrevista ao Bom Dia Rio, na quarta-feira, a diretora médica do Instituto Nacional de Cardiologia, Cynthia Magalhães, disse que a equipe médica não foi informada que um homem estava enfartando em frente ao hospital.

Cynthia Magalhães, diretora-médica do Instituto Nacional de Cardiologia: Uma senhora se reportou ao segurança da portaria, dizendo que tinha uma pessoa passando mal na rua, nem sequer citou a existência do ônibus parado. Eu acho que houve uma má informação da gravidade do que estava acontecendo dentro do ônibus. Na nossa avaliação não, não houve omissão de socorro e não houve erro.

Reinaldo dos Santos, cobrador: Juntou muita gente. Não é possível que alguém tenha se comunicado com eles, com os médicos que estavam lá em cima.

A polícia está ouvindo as testemunhas. Para o delegado a punição não pode ser apenas por omissão de socorro.

“E as ordens do hospital têm que ser bem claras no sentido de que no balcão de atendimento tem que ter alguém que possa fazer uma triagem mínima ali, com qualificação. Se não fizerem, eles podem responder pelo resultado que advier pra vítima. Se for morte, vai responder por homicídio’, disse o delegado.

A família do fotógrafo acha que a triagem feita por seguranças dos hospitais deve ser mudada.

“Elas são orientadas para agir assim, para barrar, no caso as pessoas que barraram. Mas eu acho que o que tem que ser mudado é o sistema. Isso é urgente mudar”, ressalta Cecília Marigo.

Luiz Cláudio Marigo também era conhecido por combater as injustiças e as desigualdades, e foi assim que ele se mostrou em um documentário de 2011: “É tanta notícia ruim, tanta miséria, que a gente perde a sensibilidade, a pele vai ficando dura, a gente vai ficando sensível como um rinoceronte. Eu sou fotógrafo, eu fotografo. E eu mostro. Eu quero que as pessoas vejam o que existe e o que a gente está perdendo. E eu acho que isso vai mexer com as pessoas”.

sábado, 7 de junho de 2014

A VERGONHA DE HIPÓCRATES

O fotógrafo Luiz Cláudio Marigo: vida dedicada à natureza Foto: Arquivo Pessoal

FOLHA.COM, 07/06/2014


CRISTINA GRILLO



RIO DE JANEIRO - A morte do fotógrafo Luiz Cláudio Marigo, de infarto, na porta do Instituto Nacional de Cardiologia, infelizmente, é mais uma na rotina de descaso com aqueles que buscam atendimento em hospitais públicos.

Marigo sentiu-se mal dentro de um ônibus e foi levado pelo motorista Amarildo Gomes para o hospital, em greve. Apesar dos pedidos do motorista e de passageiros, não recebeu nenhuma atenção dos funcionários do hospital. Segundo testemunhas, sob a alegação de que lá não há emergência. Morreu uma hora depois, estirado no corredor do ônibus.

Em entrevista à TV Globo, a diretora médica do hospital, Cynthia Magalhães, disse não ter havido negligência, já que, segundo ela, médicos e enfermeiros não foram avisados da situação de Marigo. "Não foi passado para o segurança a gravidade do que estava acontecendo", disse.

Entende-se, então, que a responsabilidade pela morte do fotógrafo foi de quem tentava ajudá-lo, o motorista Gomes e os passageiros.

Seguindo nessa linha de raciocínio, também seria culpado o segurança que, na porta do hospital, faz a triagem de quem deve ser atendido ou não, cena comum em hospitais públicos do Rio.

Não se pode fugir à responsabilidade pela morte de Marigo jogando-a sobre um segurança que, sem formação para isso, tem a incumbência de avaliar a gravidade de um caso. Menos ainda jogando-a sobre o motorista e os passageiros que, em um gesto de solidariedade e compaixão a cada dia mais raros, tentaram ajudar de todas as formas um desconhecido que passava mal.

"Prometo solenemente consagrar a minha vida ao serviço da humanidade" e "exercerei minha arte com consciência e dignidade" são duas frases do juramento prestado por todo médico ao se formar.

Hipócrates, o autor do juramento, deve ter ficado envergonhado.

NÃO ATENDO EMERGÊNCIA


REVISTA ÉPOCA 06/06/2014 21h24 




A morte do fotógrafo Marigo na frente de um hospital em greve é uma história do "padrão Brasil"

RUTH DE AQUINO


É possível que se conte nos dedos de uma mão o número de países em que um paciente morre do coração em frente a um Instituto Nacional de Cardiologia (INC), sem receber socorro de nenhum médico ou enfermeiro do hospital. O INC está em greve, como muita gente nesta fase de amistosos pré-Copa das Copas.

A omissão de atendimento imediato a Luiz Cláudio Marigo, de 63 anos, é falta para cartão vermelho. Marigo, fotógrafo premiado de Natureza, embarcou num ônibus, no Rio de Janeiro. Começou a passar mal pouco depois. O motorista, Amarildo Gomes, desviou seu percurso por estar perto do INC, em Laranjeiras, único hospital público no Rio que faz transplantes de coração em crianças e adultos, referência em ensino e pesquisa.

O ônibus foi estacionado em frente ao hospital, e Marigo, deitado no chão do veículo, com dores no peito. Amarildo e passageiros estavam solidários com o drama do anônimo. Ele não levava documentos, apenas uma bolsa com chaves, moedas e R$ 42. Não sabiam que era um homem das florestas. Naquele momento, o povo do ônibus acreditava que poderia salvá-lo. Qualquer um sabe que os primeiros minutos após um infarto são cruciais.

Começava ali uma história padrão Brasil. Seguranças do hospital disseram que o INC não atende emergência e que seria melhor chamar os bombeiros ou uma ambulância do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu). Assim agiu o motorista Amarildo, mas a contragosto: “Achei um absurdo, um pouco-caso com a vida humana”. Quando uma ambulância chegou ao hospital levando outro paciente, o paramédico prestou os primeiros socorros. Mais tarde, chegaram os bombeiros.

Mesmo em greve, havia no hospital um leito, alguns médicos e plantonistas na Unidade Coronariana. O sargento dos bombeiros Alves afirmou: “Se viesse um médico na hora, já era muita coisa. Isso aí é omissão de socorro”.

Dá dor no coração. Nem falo do Juramento de Hipócrates. Nele, um médico formando jura, por todos os deuses e deusas, aliviar o sofrimento humano. Quantas vezes ouvimos num avião o comandante pedir ajuda: “Se houver um médico neste voo, favor atender um passageiro que está passando mal”. Já pensou o médico se omitir por achar que ganha pouco, ou que não é função dele trabalhar de graça? Já pensou ele dizer: “Não atendo emergência”?

O hospital tem sua versão. A nota do INC diz, e é verdade, que o hospital não tem emergência aberta ao público geral. E daí? A direção diz que o INC nunca fez primeiro atendimento e que sua especialidade são procedimentos de alta complexidade. Sim, e quando se trata de um caso de vida ou morte na frente do hospital?

A diretora do INC, Cynthia Magalhães, afirmou: “Não houve omissão de socorro e não houve erro (...). Nenhum membro da equipe médica foi notificado de que havia um paciente passando mal dentro de um ônibus (...), e sim um paciente passando mal na rua”. Então, médico não sai para socorrer na rua? Cynthia disse que os seguranças do hospital não entenderam a gravidade do caso. Como poderiam? Quem entende de gravidade é médico.

“O que houve foi uma omissão de socorro generalizada, uma falta de integração na rede”, disse Lúcia Pádua, diretora do Sindsprev, ao elogiar o INC como uma “ilha de excelência”. O que não pode, afirmou Lúcia, é “o paciente chegar a um hospital e ser recepcionado por seguranças”. Apela-se a quem? Ao Bom-Senso Medicina Clube?

Então, quem faz a triagem na porta de hospitais, públicos e privados, não são profissionais de Saúde. São seguranças, vigilantes. Na semana passada, um vídeo na recepção de um hospital mostrou seguranças arrastando pelo chão, para fora do hospital, um paciente em cadeira de rodas. Acompanhantes levaram socos e gravatas. O paciente estava sem documentos e “agressivo”, disse Geraldo Medeiros, diretor do Hospital de Trauma de Campina Grande, na Paraíba. Entendi. O hospital deixa os pacientes com trauma.

A morte do fotógrafo Luiz Cláudio Marigo, que trabalhou diversas vezes para ÉPOCA, expõe nossa vulnerabilidade à humilhação, à frieza e à incompetência das recepções hospitalares. Entre no site http://www.lcmarigo.com.br e perceba como era talentoso: “A conservação da biodiversidade depende do conhecimento e do amor. O papel dos fotógrafos de Natureza é despertar a consciência do homem para a incrível riqueza da vida na Terra, sua beleza e valor espiritual. (…) Espero que meu trabalho transmita a mesma alegria e emoção que sinto nos ambientes selvagens e que minhas fotografias não se transformem apenas em mais um documento do passado”.

Se depender do filho dele, Vítor Marigo, que processa União e hospital, sua vontade será respeitada: “Queremos conseguir uma indenização para abrir uma fundação. O importante é manter viva a obra de meu pai”. Porque “selvagem” é a vida aqui fora.

sexta-feira, 6 de junho de 2014

CUSTOU MAS SAIU


ZERO HORA 6 de junho de 2014 | N° 17820


ARTIGO

por Luiz Carlos Corrêa da Silva*




Finalmente, o ministro da Saúde, atendendo ao clamor de organizações que defendem incondicionalmente a saúde da população, anunciou a tão aguardada regulamentação da Lei Antifumo (Lei Federal 12.546/2011), assinada pela presidente no dia 31 de maio. Assim, foi dado mais um grande passo para o controle do tabagismo no país. Doravante, será proibido fumar em ambientes fechados e nas suas cercanias, não haverá fumódromo, serão proibidos a propaganda nos pontos de venda e o uso de aditivos e aumentará o preço dos cigarros.

Em se tratando de controle do tabaco e do tabagismo, o Brasil tem políticas avançadas que já possibilitaram resultados expressivos traduzidos pela queda do número de fumantes. Há três décadas, 35% dos brasileiros adultos fumava, atualmente são 14%, devendo-se isto principalmente às políticas públicas.

Os principais efeitos desta lei se farão sentir na prevenção, pois os pontos de venda não mais serão usados para aliciar os jovens a iniciar o consumo de cigarros e os aditivos não serão mais uma armadilha de atratividade por disfarçar o tabaco com agradáveis aroma e sabor. Haverá redução do consumo proporcional ao aumento de preços. E, não havendo fumódromo, todos serão mais protegidos do tabagismo passivo.

É comum ouvir manifestações de inconformidade com leis públicas de caráter proibitivo para usos e costumes populares, alegando-se excessiva interferência do Estado na vida das pessoas e no seu livre arbítrio. Estas alegações não têm fundamento quando se trata de uma doença de dependência relacionada a 6 milhões de mortes a cada ano, como é o caso do tabagismo. Nesta situação, todos precisam ser protegidos e isto só se consegue com o peso da lei.

A vida é o maior bem da humanidade e todos os esforços devem ser feitos para preservá-la, mesmo que haja redução dos lucros e necessidade de adaptações e busca de novas alternativas. O mundo precisa de alimentos e produtos que ajudem a preservar a vida. Tudo que for prejudicial precisa ser controlado e, se possível, banido.

Com esta ação, os líderes políticos reafirmaram que vida não tem preço!


*MÉDICO DA SANTA CASA DE PORTO ALEGRE

domingo, 1 de junho de 2014

ESTRESSE, O MAIOR GATILHO PARA AS SÍNDROMES DA VIDA MODERNA


Estresse, o maior gatilho para as síndromes da vida moderna. Impor limites, fazer exercícios e dormir bem são as dicas para evitar doenças

POR FLÁVIA MOLHORANCE
O GLOBO 01/06/2014 6:00 

Síndrome de burnout. Profissional do ramo de seguros acabou se dedicando exageradamente ao trabalho e descobriu-se com a síndrome, que provoca exaustão e sintomas físicos - Fernando Donasci



Lidar com as exigências de uma sociedade contemporânea com o imperativo da pressa e das incertezas, sem falar na quase obrigação de estar sempre conectado, ligado e produtivo, não é fácil. Não raro, esse pacote provoca um desequilíbrio do ritmo biológico, levando ao desenvolvimento de uma série de distúrbios igualmente contemporâneos. Até a Justiça já começa a se preocupar com eles. Recentemente, uma decisão favoreceu uma jovem atendente de telemarketing que teve uma crise nervosa e xingou um cliente. Demitida por justa causa, teve o desligamento revertido ao ser constatado que sofria da síndrome de burnout. Acabou ganhando o direito a uma indenização da empresa.

Profissionais que vivem sob pressão extrema até que se sintam exauridos e incapazes de lidar com a rotina, muitas vezes desenvolvendo comportamentos agressivos e crises de ansiedade são candidatos clássicos ao diagnóstico de burnout (algo como apagado, em tradução livre). Mas essa não é, nem de longe, o único problema do tipo. Por trás deles está, geralmente, uma condição conhecida da maioria: o estresse, que atinge, em diferentes níveis, 70% dos trabalhadores brasileiros, segundo estudo da ISMA-BR, uma organização para pesquisa e prevenção da estafa no Brasil. Só o burnout afetaria 30% da população economicamente ativa do país.

— O estresse em si não é uma doença, mas pode ser o gatilho, e é preciso estar alerta — explicou a psicóloga Ana Maria Rossi, presidente da ISMA-BR.

O truque, segundo Ana Maria, é manter o ritmo. Não aquele imposto pelos fatores externos, mas o do corpo. Enxergar a alimentação saudável, a atividade física, o lazer e o sono de qualidade como prioridades, e não meros coadjuvantes. Isso significa estabelecer objetivos e impor limites, mesmo que, para isso, às vezes seja necessário reduzir expectativas.

Insônia e depressão

Foi o que precisou aprender um profissional de 36 anos do ramo de seguros. Ele conta que adorava o cargo de coordenador, era produtivo, considerava-se um dos melhores do setor. Doava-se quase que integralmente, esquecia de almoçar e até de ir ao banheiro. Por mais de uma década, sua rotina era de dez a 18 horas de trabalho diárias.

— Não percebi que estava me deixando levar demais — lembra-se. — Há três anos, notei que algo estava estranho; num relatório que levava 30 minutos para fazer, comecei a gastar dois dias. Passei a ter dificuldade de me concentrar e comunicar, gaguejava, estava exausto e, ainda assim, passava noites inteiras sem dormir; tinha crises de choro sem motivo, dores de cabeça, gastrite... Cheguei a não conseguir nem tomar banho...

Levado pela esposa, começou o tratamento psicológico e, logo, precisou se afastar do trabalho. Nesse período, chegou a pensar em suicídio. Voltou, depois de um tempo, para a mesma função. Porém, passado o ano seguinte no cargo — garantido pelo direito de estabilidade —, foi demitido. Ele alega que até conseguia realizar os projetos, mas não na velocidade ou da forma requeridas pela empresa.

Autoconhecimento é um fator-chave nesse processo, defende a psiquiatra Deborah Duwe, especialista em tratamento de estresse:

— É preciso se conhecer e ter a qualidade de vida como um valor. Essas pessoas, quando chegam a uma situação perigosa, param. É bom também ter alguém próximo que possa levantar o cartão amarelo.

O chamado jetlag social, por exemplo, é uma sensação de cansaço permanente de quem tem muitos compromissos e não consegue acompanhá-los. A qualidade de sono é a primeira a ser afetada. Há um total descompasso entre rotina e relógio biológico. A referência, não à toa, é à fadiga provocada por viagens a lugares com o fuso horário diferente.

A doença da pressa é um sentimento ininterrupto de urgência, de fissura na contagem do tempo.

— É a sensação de que não vai dar tempo para nada. Daí surge a hostilidade a qualquer coisa ou pessoa que retarde o desenvolvimento das tarefas. Por exemplo, alguém que venha querer conversar — explicou pesquisadora do Instituto de Psicologia e Controle do Estresse, Marilda Lipp,

Dependência tecnológica

Numa sociedade cada vez mais conectada, a dependência da tecnologia também virou síndrome. Atinge cerca de 10% dos brasileiros, segundo estudos. Viciadas em internet e redes sociais ou incapazes de desligar o celular, as vítimas têm até setor especializado para tratamento no Hospital das Clínicas de São Paulo.

— Está explodindo o número de dependentes do Facebook, do WhatsApp... Há pessoas que simplesmente não conseguem se desligar hora nenhuma — comenta Deborah Duwe.

Por isso algumas iniciativas tentam ir no sentido contrário. Movimento internacional chamado Slow (lento) prega uma desaceleração radical. Em alguns momentos, adeptos se encontram para não fazer absolutamente nada. E sem culpa.


NASCE UM HOSPITAL NA RESTINGA EM POA


ZERO HORA 01 de junho de 2014 | N° 17815


HUMBERTO TREZZI


COM AS OBRAS em fase final e previsão de ser inaugurada nos próximos dias, unidade localizada na Zona Sul é a primeira construída nas últimas quatro décadas em Porto Alegre, que terá atendimento 100% pelo SUS



O barulho de furadeiras e martelos é música para os ouvidos dos moradores que passam ao lado de um prédio de três andares em processo de acabamento, no coração do bairro Restinga, um dos mais populosos de Porto Alegre. Está por nascer ali o Hospital da Restinga, sonho acalentado há décadas por mais de 100 mil habitantes da zona sul da Capital. A inauguração deve ocorrer no dia 6, e depende apenas de detalhes: um deles é espaço na agenda da presidente Dilma Rousseff, que faz questão de estar presente. Apesar da cerimônia, o atendimento ao público começará mais tarde, provavelmente depois do dia 20.

A construção não é obra do governo. O hospital foi erguido, mediante programa de isenções fiscais, pela Associação Hospitalar Moinhos de Vento, responsável pela unidade de mesmo nome no bairro Moinhos de Vento. Mas o governo federal será responsável por 50% das verbas para manutenção. O Estado arcará com 25% e o município, com os 25% restantes. A estimativa é de que sejam investidos na unidade, por mês, entre R$ 3,8 milhões e R$ 4,1 milhões.

O Hospital da Restinga está todo pintado em tons claros. Na ala das crianças, em cores vivas, também deve haverá decoração com personagens de histórias infantis, para alegrar os pequenos. Em nada lembra os estabelecimentos de saúde do início do século 20, que eram cinzentos, lúgubres e tristes.

O início da construção foi dado em 2010. A inauguração estava prevista para o fim do ano passado, mas atrasos na obra e indefinições sobre o modelo de gestão adiaram o término para maio e, agora, junho. Há quatro décadas que um hospital com atendimento gratuito não é construído na Capital – embora dois que chegaram a fechar tenham sido reabertos recentemente, o Independência e a Unidade Álvaro Alvim (ambos ex-Ulbra).

A diferença em nascer do zero é que o hospital pretende ter equipamentos modernos e novos conceitos de atendimento. A unidade integra o Sistema Regional de Saúde Restinga e Extremo Sul, que prevê atendimento da atenção básica até especialidades.

Isso inclui equipes de estratégia da saúde (para serviço de atenção básica), de família (com visitas a pacientes em casa), emergência e um centro de especialidades médicas.



Meta é contratar funcionários criados na própria comunidade


Prestigiar a prata da casa deve ser mantra no Hospital da Restinga. Tanto que 110 técnicos de enfermagem oriundos do bairro e já treinados pela Escola de Gestão do grupo Moinhos de Vento serão deslocados para atuar no hospital, perto de casa.

– Nossa ideia é trabalhar para a comunidade e também pela comunidade, contratando prioritariamente gente da Restinga – resume o médico Luiz Antonio Mattia, do grupo Moinhos.

Além desses 110 profissionais, estão em andamento oito turmas de técnicos de enfermagem e de formados em outras disciplinas, como nutricionistas, camareiros e cuidadores – pessoas especializadas em tomar conta de idosos doentes, algo muito requisitado na Restinga. Os estudantes são transportados em ônibus custeados pelo grupo Moinhos.

A Escola de Gestão funciona no colégio Bom Conselho, no mesmo quarteirão do hospital. O auxiliar de cozinha Maurício dos Santos Duarte, 29 anos, é um dos que se formou ali e agora trabalha no hospital Moinhos. Por pouco tempo. Assim que inaugurarem a unidade da Restinga, ele será transferido para o bairro onde vive há 20 anos:

– Melhor, impossível. Moro a um quarteirão do hospital.

Duarte pega hoje um ônibus e percorre 30 quilômetros de distância, na ida e na volta, para chegar ao hospital Moinhos. Agora, trabalhará “praticamente sem sair de casa”. Ele diz que não pretende ficar a vida toda cuidando da comida dos pacientes. Ainda neste ano, quer começar, na Escola de Gestão, o curso de técnico em enfermagem. Fará isso assim que conseguir o diploma de Ensino Médio, pré-requisito para essa função.

– E, quem sabe, um dia ser médico? – cogita.




Diagnóstico compartilhado via internet e respeito ao ambiente



O equipamento de raios X e o tomógrafo do Hospital da Restinga são digitais, como a maioria dos aparelhos disponíveis na recém-criada estrutura.

A grande vantagem disso é que os exames feitos pelos pacientes poderão ser transmitidos via internet para verificação de especialistas situados a quilômetros de distância. Alguns deles estarão no Hospital Moinhos de Vento, localizado a 30 quilômetros da Restinga. Outros poderão estar ainda mais distantes, em outros Estados ou até diferentes países. Um conforto que nasce junto com o hospital.

A diretoria promete também cuidados especiais com o ambiente. O estabelecimento terá estação de tratamento de esgoto (ETE), sistema de coleta de água da chuva para uso nos sanitários e energia solar captada por painéis. O telhado, aliás, deverá ser no estilo ecológico, com cobertura feita de plantas.



ESTRUTURA E FUNCIONAMENTO

-O que: Hospital da Restinga, administrado pela Associação Hospitalar Moinhos de Vento.
-Endereço: Avenida João Antonio da Silveira, 3.330, na Restinga.
- Atendimento: 100% pelo SUS.
-Capacidade: 168 leitos (nem todos abrirão agora). Deve começar com 24 leitos de observação e 30 de internação (20 adultos e 10 pediátricos).
-Especialidades: a meta é oferecer de imediato serviços de emergência e médicos de família. Depois, há previsão de começar a oferta de outros atendimentos, de obstetrícia, cirurgia e odontologia.