quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

INSEGURANÇA ALIMENTAR ATINGE 52 MILHÕES DE BRASILEIROS



CORREIO DO POVO 18/12/2014


Insegurança alimentar atinge 52 milhões no País, mostra IBGE. Dados apontam que 22,6% domicílios enfrentam falta de comida




O número de domicílios em situação de insegurança alimentar no Brasil continua caindo, mas ainda existem cerca de 52 milhões de brasileiros sem acesso diário à comida de qualidade e na quantidade satisfatória. Segundo o suplemento de Segurança Alimentar da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) 2013, divulgado nesta quinta-feira pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), dos 65,3 milhões de domicílios registrados, 22,6% estavam em situação de insegurança alimentar. Esse percentual era 29,5% em 2009 e 34,8% em 2004, anos anteriores da pesquisa.

Dos 14,7 milhões de domicílios com algum tipo de insegurança (22,6%), em 9,6 milhões (14,8%) viviam 34,5 milhões de pessoas (17,1%) da população residente em domicílios particulares em situação de segurança alimentar leve. Nesses lares havia a preocupação quanto ao acesso aos alimentos no futuro. Os domicílios com moradores vivendo em situação de insegurança alimentar moderada representavam 4,6% do total. Ao todo 10,3 milhões de pessoas nessa situação ou 5,1% conviviam com limitação de acesso quantitativo aos alimentos.

A prevalência de domicílios com pessoas em situação de insegurança alimentar grave era 3,2%. Em números absolutos, 7,2 milhões de pessoas ou 3,6% dos moradores de domicílios particulares reportaram alguma experiência de fome no período investigado. Em 2009, esse percentual era 5% e em 2004, 6,9%.

O estudo mostra também que a prevalência dos três níveis de insegurança alimentar caíram entre 2009 e 2013. O número de famílias em situação de segurança alimentar aumentou cerca de oito pontos percentuais em quatro anos ao alcançar 77,4% dos domicílios em 2013. Aproximadamente 150 milhões de pessoas tinham acesso regular e permanente a alimentos de qualidade em quantidade suficiente, segundo o estudo.

De acordo com a pesquisa, a área rural concentrava o maior número de domicílios com indivíduos em situação de insegurança alimentar: 35,3% (13,9% moderada ou grave). Na área urbana esse percentual era 20,5% (6,8% moderada ou grave) . Em 2009, o índice foi 43,7% e 29,3% respectivamente. Nos domicílios particulares urbanos em situação de insegurança alimentar moderada ou grave viviam 7,4% da população urbana, enquanto nos domicílios rurais moravam 15,8% da população.

Em relação às regiões do território nacional, o Norte e o Nordeste tinham o maior número de domicílios com pessoas em situação de insegurança alimentar (36,1% e 38,1% respectivamente) no ano passado. Nas demais regiões esse percentual não chegou a 20%. O Sudeste apresentou o menor índice, 14,5%. Norte e Nordeste também concentravam os maiores percentuais de domicílios com pessoas em situação de insegurança alimentar grave (6,7% e 5,6%). No Sul e Sudeste a prevalência ficou em 1,9% e 2,3%. Por outro lado, entre 2004 e 2013, o incremento mais expressivo do percentual de domicílios com pessoas comendo bem foi identificado no Nordeste (15,5 pontos percentual), com aumento de 46,4% para 61,9%.

O Espírito Santo foi o estado com o maior índice de segurança alimentar (89,65%), seguido por Santa Catarina (88,9%) e São Paulo (88,4%). As unidades da federação com as menores prevalências foram: Maranhão (39,1%) e Piauí (39,1%), onde menos da metade dos domicílios particulares tinham alimentação assegurada, apesar do aumento de 3,6 e 3,3 pontos percentuais. No Nordeste, todos os estados apresentaram taxas inferiores à média nacional (77,4%). Na Região Norte, apenas Rondônia registrou prevalência de segurança alimentar acima da média nacional, 78,4%.

segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

FONTE QUE FINANCIOU A SAÚDE SECOU



ZERO HORA 07 de dezembro de 2014 | N° 18006

TAÍS SEIBT


DIAGNÓSTICO DO ESTADO

Até o fim do ano, série de reportagens vai examinar os desafios do governo Sartori. Nesta página, ZH apresenta carências no atendimento médico e uma equação ainda sem resposta: como aplicar 12% no setor sem contar com socorro que ajudou Tarso


N a saúde, um índice de dois dígitos resume as preocupações do futuro governo José Ivo Sartori: 12%. Esse é o percentual da arrecadação de impostos que precisa ser destinado ao setor ao longo do ano. Tarso Genro só conseguiu cumprir a meta porque contou com um socorro que não estará à disposição de seu sucessor.

Para financiar a saúde, o atual governo recorreu aos depósitos judiciais – recursos recolhidos por terceiros em conta bancária judicial como garantia de pagamento em processos que dependem de decisão da Justiça. Uma lei de 2004 autoriza o Estado a “pegar emprestado” parte dos depósitos. Como Tarso fez saques até o limite permitido, a fonte secou, e Sartori terá de buscar alternativas. Em 2013, o Estado conseguiu aplicar 12,39% na saúde.

A pressão sobre o Palácio Piratini foi imposta pela lei complementar 141, que regulamentou, em 2012, a obrigação de destinar 12% da receita a ações em serviços públicos de saúde. Para o presidente do Sindicato Médico (Simers), Paulo de Argollo Mendes, a lei federal abre caminho para o governo enfrentar gargalos históricos. Na campanha, o Simers entregou carta com 12 propostas para a área.

O presidente da Federação das Santas Casas e Hospitais Beneficentes, Religiosos e Filantrópicos, Julio Dornelles de Matos, destaca a recuperação do financiamento do setor na gestão Tarso e espera que sejam cumpridas as metas já previstas para os próximos anos para custeio de atendimentos pelo Sistema Único de Saúde (SUS):

– É necessário criar um plano de melhorias físicas e tecnológicas para garantir um atendimento com mais segurança e qualidade.

O presidente do Conselho das Secretarias Municipais de Saúde (Cosem), Luís Carlos Bolzan, ressalta que a recuperação da dívida do Estado com os filantrópicos favorece a regionalização do atendimento, e frisa que é preciso avançar nesse quesito para reduzir a ambulancioterapia.


domingo, 7 de dezembro de 2014

SARTORI TERÁ QUE BUSCAR ALTERNATIVAS PARA FINANCIAR A SAÚDE

ZERO HORA 07/12/2014 | 07h02

Até o fim do ano, série de reportagens vai examinar os desafios do governo Sartori. Nesta reportagem, ZH apresenta carências no atendimento médico e uma equação ainda sem resposta: como aplicar 12% no setor sem contar com socorro que ajudou Tarso

por Taís Seibt



Na saúde mental, o Hospital São Pedro deveria receber melhorias, segundo avaliação do Simers Foto: Diego Vara / Agencia RBS


Na saúde, um índice de dois dígitos resume as preocupações do futuro governo José Ivo Sartori: 12%. Esse é o percentual da arrecadação de impostos que precisa ser destinado ao setor ao longo do ano. Tarso Genro só conseguiu cumprir a meta porque contou com um socorro que não estará à disposição de seu sucessor.

Para financiar a saúde, o atual governo recorreu aos depósitos judiciais – recursos recolhidos por terceiros em conta bancária judicial como garantia de pagamento em processos que dependem de decisão da Justiça. Uma lei de 2004 autoriza o Estado a "pegar emprestado" parte dos depósitos. Como Tarso fez saques até o limite permitido, a fonte secou, e Sartori terá de buscar alternativas. Em 2013, o Estado conseguiu aplicar 12,39% na saúde.


A pressão sobre o Palácio Piratini foi imposta pela lei complementar 141, que regulamentou, em 2012, a obrigação de destinar 12% da receita a ações em serviços públicos de saúde. Para o presidente do Sindicato Médico (Simers), Paulo de Argollo Mendes, a lei federal abre caminho para o governo enfrentar gargalos históricos. Na campanha, o Simers entregou carta com 12 propostas para a área.

O presidente da Federação das Santas Casas e Hospitais Beneficentes, Religiosos e Filantrópicos, Julio Dornelles de Matos, destaca a recuperação do financiamento do setor na gestão Tarso e espera que sejam cumpridas as metas já previstas para os próximos anos para custeio de atendimentos pelo Sistema Único de Saúde (SUS):

– É necessário criar um plano de melhorias físicas e tecnológicas para garantir um atendimento com mais segurança e qualidade.

O presidente do Conselho das Secretarias Municipais de Saúde (Cosem), Luís Carlos Bolzan, ressalta que a recuperação da dívida do Estado com os filantrópicos favorece a regionalização do atendimento, e frisa que é preciso avançar nesse quesito para reduzir a ambulancioterapia.

Quatro desafios para o próximo mandato

Hospitais filantrópicos
Mais de 70% dos atendimentos pelo SUS no Estado são prestados na rede de hospitais filantrópicos e beneficentes. São 239 unidades, responsáveis por 550 mil internações por ano. O presidente da Federação das Santas Casas, Julio Dornelles de Matos, reconhece que houve avanços no financiamento via Estado nos últimos anos e destaca que há um acerto para repasses no valor de R$ 300 milhões, em 2015, e de R$ 400 milhões, em 2016. Segundo o dirigente, há um déficit acumulado de R$ 410 milhões referente ao custeio de atendimentos pelo SUS na rede filantrópica.

Médicos no Interior
Prefeituras que tinham dificuldades para contratar médicos dispostos a trabalhar 40 horas semanais em postos comemoram o programa Mais Médicos, principal instrumento do governo Dilma Rousseff para aumentar a assistência no Interior. Por meio do programa, o RS recebeu mais de mil profissionais, muitos estrangeiros, distribuídos em 380 municípios. Para avançar na interiorização do atendimento, o Simers sugere criar carreira específica de médico no funcionalismo do Estado. No quadro atual, médicos estão incluídos na carreira de técnicos científicos.

Regionalização do atendimento
Melhorias na estrutura da rede filantrópica, segundo o presidente do Conselho das Secretarias Municipais de Saúde (Cosem), Luís Carlos Bolzan, seriam bem-vindas até mesmo para ampliar a regionalização da assistência e reduzir a necessidade de longas viagens para atendimento especializado. Cirurgias eletivas, por exemplo, poderiam ser feitas em cidades de médio porte que funcionariam como polos. O desafio do Estado seria atuar como mediador na formatação de consórcios entre pequenos municípios, que compartilhariam os investimentos.

Saúde mental
Na avaliação do presidente do Conselho das Secretarias Municipais de Saúde (Cosem), Luís Carlos Bolzan, o atendimento psiquiátrico no SUS é uma reforma ainda inconclusa. Houve evoluções, como a transferência de leitos de manicômios para hospitais gerais e a ampliação de Centros de Atenção Psicossocial (Caps), mas é preciso avançar, especialmente diante do aumento de casos de dependência química e da epidemia de crack. Ainda na saúde mental, outra sugestão do Simers seria equipar estruturas próprias do Estado, como o Hospital São Pedro.

segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

PORTO ALEGRE LIDERA O NÚMERO DE CASOS DE AIDS NO BRASIL

ZERO HORA 01/12/2014


Porto Alegre desponta como a cidade campeã em número de casos de aids. Ministério da Saúde deve divulgar hoje os índices que revelam o crescimento da epidemia na capital do Rio Grande do Sul. Entre as 20 cidades brasileiras com mais de 100 mil habitantes e maior incidência, sete estão na região metropolitana

por Nilson Mariano




Foto: sxc.hu / sxc.hu

Haverá duas notícias preocupantes para os gaúchos no boletim epidemiológico que o Ministério da Saúde deverá divulgar na tarde desta segunda-feira, em Brasília. A primeira: o Rio Grande do Sul continua a registrar a maior incidência de casos de aids no país. A segunda: Porto Alegre é a cidade campeã.

Os números não podem ser divulgados antes que o Ministério da Saúde autorize, o que deve ocorrer às 14h desta segunda. Em um artigo analisando a situação, o professor de epidemiologia da UFRGS Ricardo Kuchenbecker avisa que o Estado já é considerado um "local crítico" pelo Programa das Nações Unidas para HIV/aids.

— Dados sugerem uma epidemia elevada na população em geral, através da transmissão heterossexual, mas igualmente alta nas populações mais vulneráveis, como gays e usuários de drogas injetáveis — alerta Kuchenbecker.



No artigo (produzido em parceria com Gerson Winckler, da Secretaria Municipal da Saúde de Porto Alegre), o epidemiologista dimensiona o avanço da aids entre os gaúchos. Destaca que, entre as 20 cidades brasileiras com mais de 100 mil habitantes e maior incidência, sete estão na Região Metropolitana de Porto Alegre.

Há quase duas décadas que o Estado apresenta as taxas mais elevadas de aids. Sobre a região metropolitana, Kuchenbecker constata escassez de dados e insuficiência nas ações preventivas. Observa que aspectos econômicos, sociais e de mobilidade urbana precisam ser considerados. As pessoas dormem numa cidade, trabalham em outra e se divertem numa terceira.



A secretária Estadual da Saúde (SES), Sandra Fagundes, confirma que a incidência de aids voltou a crescer no Estado. Diz que há programas em andamento, mas os resultados podem demorar. Lamenta que o Estado só tenha instalado o teste rápido para detecção do vírus HIV nos postos de saúde em 2013, com quatro anos de atraso. No passado, houve argumentos de que o Estado liderava o ranking por dispor de um sistema de notificação mais avançado do que os demais. A própria Sandra esclarece que a hipótese não se sustenta.



— Há várias causas, a principal ainda não conseguimos identificar. Tomamos medidas para reduzir, mas os índices ainda são altos — diz a secretária.

CASOS DE AIDS ENTRE JOVENS AUMENTAM NO BRASIL

TV GLOBO FANTÁSTICO Edição do dia 30/11/2014


Casos de Aids entre jovens aumentam mais de 50% em 6 anos no Brasil. Fantástico acompanhou jovens soropositivos no país. Nos Estados Unidos, médicos desenvolvem comprimido que previne contaminação em até 92%




Segunda-feira (1º) é o Dia Mundial de Luta Contra a Aids, uma doença que infelizmente ainda precisa ser lembrada. O doutor Dráuzio Varella explica porque a Aids voltou a assustar e preocupar: “Houve um aumento absurdo dos casos de Aids entre os jovens nos últimos anos. Neste sentido, o Brasil vai na contramão do que acontece em outras partes do mundo”, afirma.

O aumento é de mais de 50% em seis anos. “O principal motivo é o comportamento sexual dos jovens. Acham que hoje ninguém mais morre de Aids, que se pegar o vírus é só tomar remédio e está tudo bem. Está tudo bem, não. É uma doença grave. Vai ter que tomar remédio a vida inteira. A Aids é uma doença grave, que causa sofrimento e não tem cura”, alerta.



“Quando eu saio à noite eu quero me divertir, me alegrar, distrair a mente um pouco”, conta um jovem.

Sábado à noite, Ivan, Guilherme e Edson saem para a balada. A cena é comum em qualquer cidade do Brasil e do mundo. Ruas, bares e boates lotadas de jovens. “Noitada perfeita é isso: bebida, amigos e mulher”, diz um jovem.

“Curtir, beijar na boca”, conta outro jovem.

“Conhecer alguém e ficar”, afirma outro jovem.

“É, hoje eu espero que tenha muita azaração, beijo na boca. Isso”, diz Ivan.

Ivan, Guilherme, Edson. Olhando para eles, você conseguiria dizer quem é portador do HIV?

“Eu sou soropositivo e descobri que tenho HIV com 23 anos. Eu tinha um relacionamento. A gente morava junto e tal. Ele sentou no sofá comigo e falou: ‘Olha, eu fiz o exame e o exame deu positivo’. Eu perguntei qual era o exame. Ele falou para mim e falou: ‘Fiz o exame de HIV’”, lembra.

Mesmo estando em um relacionamento estável, Ivan contraiu o vírus da Aids. Foi contaminado pela pessoa em quem mais confiava. “Hoje eu tenho certeza que a Aids não tem cara. Certeza absoluta”, conta.

Ivan faz parte de uma estatística preocupante. “A taxa de detecção de Aids entre jovens de 15 a 24 anos vem crescendo em uma velocidade bem maior que da população em geral”, diz Jarbas Barbosa, secretário de Vigilância e Saúde do Ministério da Saúde.

Desde 2006, os casos de Aids nos jovens entre 15 e 24 anos aumentaram mais de 50%, o que quer dizer mais jovens soropositivos. No resto do mundo, o número de novos casos de HIV entre os jovens caiu 32% em uma década. Por que estamos indo na contramão?

“A gente não deixa de transar porque não tem camisinha”, conta um jovem.

“A rapaziada de hoje em dia, não pensa muito nisso”, diz outro jovem.

Hoje é possível saber em menos de 20 minutos se você está ou não infectado com o HIV. Um teste rápido, que pode ser feito de graça na rede pública de saúde, disponível para qualquer um. Não precisa marcar hora: é chegar e fazer.

Rafaela transou sem camisinha, há um mês, e agora veio se testar. “Estava solteira, acabei conhecendo pela internet, a gente se envolveu. Fui na casa dele, chegou lá, não tinha, desprevenido. Acabou acontecendo. No dia seguinte fiquei naquela neurose, estou aqui hoje para fazer o teste”, diz Rafaela Pessoa de Araújo, de 19 anos.

Rafaela tem motivo para se preocupar. Ela já viu de perto como é viver com o HIV. “Minha mãe faleceu. Ela era portadora do vírus. Ela tinha muito cuidado para não contaminar os filhos. Cuidado redobrado”, conta.

Mesmo vendo o sofrimento da mãe, ela se descuidou. A médica traz o resultado: “Você não tem o vírus do HIV. Como você está se sentindo?”, pergunta.

“Aliviada. Acho que vai me conscientizar mais a me cuidar, a ter a postura de levar a camisinha”, responde.

Ela teve sorte dessa vez. Uma segunda chance que nem todo mundo tem. Na última década, 34 mil jovens contraíram o vírus da Aids. Basta um deslize, uma única vez sem preservativo para se contaminar.

Mas se transar sem camisinha, como Rafaela, você sabe o que fazer? Não adianta você esquecer de usar camisinha e sair correndo para fazer o teste. O exame leva 3 a 4 semanas para ficar positivo. Em vez disso, procure a rede pública para receber o tratamento preventivo, os remédios que vão evitar que o HIV penetre o organismo. Não é para fazer isso todo fim de semana. É uma medida de emergência, que deve ser tomada no máximo 72 horas depois do contato sexual. Passou de 72 horas é tarde demais. O tratamento dura um mês, e os remédios devem ser tomados todos os dias, rigorosamente. Falhou, perdeu o efeito.

Esses remédios de emergência, chamados de profilaxia pós-exposição, ou PEP, estão disponíveis da rede pública, mas pouca gente sabe. No ano passado, foram usados pouco mais de 20 mil kits de PEP em todo o país.

“Existe hoje uma falsa sensação de que a Aids está controlada. Que a Aids não existe mais. Porque não estamos mais vendo na mídia grandes ícones falecendo com essa doença”, diz Fernando Ferry, clínico geral especializado em Aids do Hospital Gaffrée Guinle, no Rio de Janeiro.

No início dos anos 90, Cazuza expôs ao público a luta pessoal contra a doença. Depois dele, em 1996, foi Renato Russo quem morreu de complicações da Aids.

Drauzio Varella: O Renato Russo foi talvez a última pessoa muito conhecida que morreu de Aids, não é, Dado?
Dado Villa-Lobos: Acho que sim. Contrariamente ao Cazuza, ele preferiu o sigilo, o segredo.

Dado Villa-Lobos tocava com Renato Russo no grupo Legião Urbana. Ney Matogrosso foi amigo e namorado de Cazuza. Eles lembram bem como era naquela época, quando a Aids matava em poucos meses.

“Houve uma semana que eu fui três vezes ao cemitério porque as pessoas morriam assim uma por dia”, conta Ney Matogrosso.

“Quem se criou e cresceu depois não acredita nessa doença. Então as pessoas não estão nem aí para essa doença. É como se a doença não existisse no mundo”, diz Ney Matogrosso.

Mas morrem 11 mil por ano no país. É muita gente.

“O remédio que existe é um remédio maravilhoso porque as pessoas não morrem e não se acabam do jeito que se acabavam, mas não é a cura. Não tem a cura ainda”, lamenta Ney Matogrosso.

Cazuza e Renato Russo morreram antes que o coquetel de remédios, os chamados antirretrovirais, que ajudam a controlar o HIV, se tornassem realidade, a partir de 1996. Os remédios fazem com que o vírus pare de se multiplicar e entre em um estado de ‘dormência’. A pessoa não desenvolve mais a Aids.

O número de mortes diminuiu drasticamente, e permitiu aos portadores do HIV viverem uma vida quase normal.

Ivan toma os medicamentos do coquetel diariamente. “Eu tomo seis comprimidos, de 12 em 12 horas. Tomo há três anos, todos os dias”, conta.

Além da obrigação de ter que tomar esse monte de remédios todos os dias para o resto da vida, os pacientes também sofrem efeitos colaterais. “Meu primeiro efeito colateral foi tontura, a náusea e, no caso, eu na hora de dormir tinha muito pesadelo. Eu tenho essa percepção de que eu preciso da medicação para viver. Mas eu posso parar de tomar a medicação agora e daqui a um mês, dois meses, uma semana, eu cair doente dentro de um hospital”, diz.

Um em cada cinco jovens não aguenta essa rotina e abandona o tratamento.

Marvin Jerônimo Teixeira: Eu descobri que estava doente ano passado.
Drauzio Varella: Você tratou e parou no meio do tratamento?
Marvin: Isso. Tinha dia que eu tomava, tinha dia que eu não tomava. Eu achava que um dia não vai me matar. Ficar um dia sem tomar meu remédio.

A Aids se desenvolveu. Resultado? “Eu estou perdendo a visão”, conta Marvin.

“A visão dele tem sido afetada por um vírus chamado citomegalovírus. Esse citomegalovírus destrói a retina. Vai ficar cego do olho direito e nós estamos tentando salvar o olho esquerdo”, explica o médico.

Marvin era pintor de paredes. Sem a visão, não tem mais como trabalhar. “Eu achava que eu não ia pegar isso, que não ia chegar a encontrar isso”, conta.

Como ele, um terço dos jovens diz não usar preservativo quase nunca ou nunca, de acordo com uma pesquisa da Unifesp.

“Eu achava que era de homossexuais”, afirma Marvin.

“O que tem nos preocupado muito é que uma grande quantidade de meninos de 20, 21, 22 anos, estão comparecendo ao nosso hospital já com Aids avançada e com doenças graves”, diz o doutor Fernando Ferry.

“Entre os jovens de 15 a 24 ela vem crescendo, principalmente entre os jovens do sexo masculino. É um crescimento importante. Em uma década cresceu praticamente 68%”, diz Jarbas Barbosa, secretário de Vigilância e Saúde do Ministério da Saúde.

Na população geral, quatro em cada mil pessoas são portadoras do HIV. Mas entre os jovens gays, esse número é 20 vezes maior: 100 em cada 1.000. Hoje, 150 mil pessoas no Brasil não sabem que têm a doença.

Ainda não existe cura para quem tem HIV, mas a esperança pode estar em quem não tem o vírus. Um único comprimido, que, tomado rigorosamente todos os dias, previne a contaminação em até 92%. A profilaxia pré-exposição, ou PREP, já é uma realidade nos Estados Unidos. Uma revolução na prevenção da Aids.

"É a primeira vez em 30 anos que descobrimos uma alternativa para prevenir o HIV além da camisinha. Isso muda tudo. É maravilhoso", diz Howard Grossman, médico e pesquisador especializado em HIV.

Esse remédio já fazia parte do coquetel para o tratamento dos portadores do vírus, mas os cientistas descobriram que ele também funcionava em quem não tinha o vírus, mas de forma diferente: criando uma barreira de proteção e impedindo o HIV de se instalar nas células da pessoa.

Damon é um dos que resolveram aderir ao PREP. "Alguns médicos acham que, por tomar esse remédio, as pessoas vão parar de usar camisinha. Mas não é isso. O remédio é para reduzir o risco de contaminação", diz o paciente Damon Jacobs.

No Brasil, uma pesquisa da Universidade de São Paulo e da Fiocruz, no Rio de Janeiro, ainda está na fase inicial de testes para esse remédio. Só deve estar disponível para os brasileiros daqui a dois anos.

O remédio só consegue evitar a transmissão do HIV, e mesmo assim não é 100% seguro. Por isso, é fundamental continuar usando camisinha. Até porque existem outras doenças tão graves quanto a Aids que também são sexualmente transmissíveis. É o caso da Hepatite B, por exemplo, que pode ser fatal. Tem que usar a camisinha, sempre. A ciência faz a parte dela. Mas para controlar a epidemia, você também tem que fazer a sua parte.

“Desde dezembro, quem testa positivo para o HIV já começa o tratamento imediatamente. E isso a gente espera que em 4, 5 anos já produza uma redução muito importante na transmissão do HIV no Brasil”, diz Jarbas Barbosa.

“As campanhas só ‘Use Camisinha' não terão a repercussão necessária. É preciso mudar. Sem educação não há mudança de cultura”, diz Regina Bueno, coordenadora do grupo de jovens Vivendo e Convivendo com HIV e Aids.

Depois de um mês internado, Marvin volta para casa. Sem a visão, os pincéis e a tinta agora são apenas uma lembrança da profissão que teve desde menino.

“Sem a visão vai ser difícil. Não sei o que eu vou fazer. Eu só acho que eu estou muito novo para morrer agora. Uma coisa eu sei: eu não desejo o que eu estou passando para ninguém, não. Peço que as pessoas se cuidem melhor, pensem direitinho. Se eu soubesse que ia ficar assim, eu tinha me prevenido. Tinha me cuidado, usado preservativos. Cuidado melhor de mim”, lamenta Marvin.

sábado, 22 de novembro de 2014

O ESTADO DA SAÚDE PÚBLICA, ESTADO POR ESTADO



BLOG SANATÓRIO DA NOTICIA
"A noticia está nas entrelinhas".


21/11/2014



Hospital de Rio Branco - Acre

Hospital  de Maceió -  Alagoas

Hospital de Manaus - Amazonas

Hospital de Macapá - Amapá

Hospital de Salvador - Bahia

Hospital de Fortaleza - Ceará

Hospital de Base - Brasília DF


Hospital de Vitória - Espírito Santo

Hospital de Goiânia - Goiás

Hospital de São Luís - Maranhão

Hospital de Cuiabá -  Mato Grosso

Hospital de Campo Grande -  Mato Grosso do Sul

Hospital de Belo Horizonte - Minas Gerais

Hospital de Belém - Pará

Hospital de João Pessoa - Paraíba

Hospital de Curitiba - Paraná

Hospital de Teresina - Piauí

Hospital  de Natal - Rio Grande do Norte

Hospital de Porto Alegre - Rio Grande do Sul

Hospital do Rio de Janeiro - Rio de Janeiro

Hospital de Porto Velho - Rondônia

Hospital de Boa Vista - Roraima

Hospital de Florianópolis - Santa Catarina

Hospital do SUS em São Paulo - São Paulo

Hospital de Aracaju - Sergipe

Hospital de Palmas - Tocantins

IMPRENSA NUA E CRUA

Se você teve tempo e paciência para olhar cada uma dessas imagens do atendimento prestado pelo governo à saúde do povo que suporta a mais alta carga de impostos do mundo, diga pra gente agora se você conseguiu identificar a figura de um único político, um só governante num desses corredores da morte. 

Ah, você não viu?... Então, mais do que saber o que é saúde pública, você já ficou entendendo mais ou menos o que é igualdade e justiça social. Já sabe que o Brasil é um país povoado por duas espécies de habitantes: pessoas e políticos.

Hospital Sírio-Libanês / Banco de Sangue - São Paulo

Posto de Enfermagem 
Gente fina é outra coisa.


Matéria enviada por email

Jose Aparecida de Castro Macedo




Vendo isto revolta-me o estômago. A republiqueta petista, roubam bilhões e a saúde, educação e segurança... Ó. Mais os milhões doados a outros países... E ganharam a eleição! Mídia? Que mídia? Partidos políticos? Que partidos? Vereadores, deputados estaduais e federais e senadores onde se encontram. No Brasil não têm nenhum... Mídia e parlamentares são figuras raras neste país! Macedo  

terça-feira, 4 de novembro de 2014

PARA OPORTUNISTAS, NADA É FEITO PELO EXECUTIVO



JORNAL DO COMÉRCIO 04/11/2014



Carlos Henrique Casartelli



O Executivo é o poder que realiza as obras, executa os serviços, administra com todas as dificuldades inerentes a recursos finitos os serviços que são prestados ao cidadão e que são da sua competência. O Poder Executivo municipal é, entre os executivos, o que está mais próximo do cidadão e o que recebe mais diretamente suas reivindicações. Não casualmente é entre os poderes executivos o que menos arrecada. As mensagens oportunistas de alguns afirmam que tudo que o Poder Executivo municipal realiza não é por sua vontade. Estes se apoderam de todo o planejamento que é do Executivo para obter vantagens pessoais que não lhe são devidas. Assim é na saúde. A verdade precisa ser restabelecida. Podem apenas ser classificadas como oportunistas as atitudes de indivíduos que utilizam sua representação para serem os que tudo realizam ou os que “determinam” a sua realização.

A Emergência Pediátrica do Hospital Materno-Infantil Pres. Vargas - Hmipv, que jamais fechou - mas funcionou de forma referenciada por algumas semanas -, já tinha sua reabertura definida. E quando esta é reaberta a todos, oportunistas vão para a mídia, como se tal já não estivesse estabelecido, e trazem para si o mérito do que já estava planejado. Assim, é em outras conquistas, como a arriscada e difícil reabertura do Hospital Parque Belém. Há aqueles que julgam que os recursos públicos devem ser investidos em estruturas que não se ajudam. Foi assim com o Hospital Parque Belém, uma bela estrutura que não se ajuda. Uma estrutura que pretende se utilizar de recursos públicos para, no futuro, atender sua meta de gestão, que é priorizar o setor privado da saúde.

Em relação ao Hospital de Clínicas de Porto Alegre, oportunistas dizem que a prefeitura nada fez para que sua ampliação fosse possível. Por óbvio, algumas providências cabiam ao Legislativo. Por outro lado, apropriar-se de todo o resultado em nada ajuda a construir a relação entre os poderes. As responsabilidades em geral são compartilhadas, e cabe a quem não é oportunista reconhecer os méritos e responsabilidades de cada um. É importante referir que a gestão da Secretaria Municipal de Saúde é feita predominantemente por servidores públicos, e estes sabem o seu papel. Não precisam ser sensibilizados por oportunistas.

Secretário de Saúde de Porto Alegre

sexta-feira, 31 de outubro de 2014

SEGURANÇA E SAÚDE NA PAUTA



ZH 31 de outubro de 2014 | N° 17969


EDITORIAL



Foram vagas na campanha eleitoral as abordagens da maioria dos candidatos a cargos executivos aos planos capazes de viabilizar mudanças em duas áreas essenciais, mas precarizadas pelo descaso oficial ao longo de décadas. Saúde e segurança são setores enredados no emaranhado de atribuições de União, Estados e municípios. É repetitivo o argumento utilizado pela União de que o SUS, consagrado pela Constituição como serviço universal, igualitário a todos os brasileiros, não avança por deficiências das instituições estaduais e dos municípios.

A acusação se inverte quando a União é apontada como culpada pela escassez de verbas e pela falta de apoio a programas de prevenção, serviços de emergência, hospitais, tratamento especializado e cirurgias. A presidente reeleita deve trabalhar para que a saúde deixe de ser a maior de todas as vergonhas nacionais. A realidade e pesquisas entre usuários apontam essa como a área mais deficiente do país. Não há desculpas para o colapso que transformou doentes e familiares em protagonistas de um drama permanente, sem atendimento ágil, sem vagas em hospitais e sem acesso a consultas em muitas cidades.

Programas como o Mais Médicos podem ter contribuído para amenizar deficiências, mas há muito mais a fazer para combater carências, desperdícios e corrupção em estruturas completamente degradadas. É vergonhoso que uma demanda por cirurgia provoque espera de mais de ano, e que em alguns Estados os doentes sejam amontoados em espaços sem a mínima condição de serem aceitos como ambiente hospitalar.

A área da segurança passa pelos mesmos conflitos de competência, porque a maioria das tarefas é atribuição dos Estados. Essa desculpa predominou nos debates, com algumas ressalvas que devem se transformar em atitude concreta, como a promessa da presidente reeleita de que pretende manter a experiência bem-sucedida da Copa de unificação operacional das polícias.

O certo é que os Estados não dispõem de recursos para enfrentar o crescimento da criminalidade. E que a União precisa aperfeiçoar os mecanismos de controle de entrada de armas e drogas no país, ou tudo que for feito pelos governadores não terá o efeito esperado. A segurança deve ser tratada de forma integrada, com a racionalização de quadros e recursos, sem a desculpa de que essa é essencialmente uma tarefa constitucional dos Estados.


COMENTÁRIO DO BENGOCHEA - Não concordo. De novo o editorial de ZH confunde o direito á segurança com forças de segurança, e de novo acolhe a ideia de centralizar e politizar uma área técnica de justiça criminal. É preciso consolidar a responsabilidade federativa e sistematizar a justiça criminal envolvendo o judiciário, o mp, a defensoria e as forças policiais e prisionais na garantia do direito da população à justiça e segurança, amparado por leis duras contra o crime e pleno cumprimento da lei de execuções penais. Caso contrário, as forças de segurança se transformarão de exércitos dos governadores em exércitos da União.

sábado, 25 de outubro de 2014

PERDA DE LEITOS HOSPITALARES




O Estado de S.Paulo 24 Outubro 2014 | 02h 06


OPINIÃO



Mais um estudo - desta vez do Conselho Federal de Medicina (CFM) - coloca em evidência a grave crise por que passa a rede pública de saúde. Ele mostra, com base em dados do Ministério da Saúde, que de julho de 2010 a julho de 2014 houve uma redução considerável de leitos de internação colocados à disposição da população pelo Sistema Único de Saúde (SUS). O trabalho vem corroborar as conclusões de outros semelhantes, realizados recentemente, sobre essa tendência.

O número de leitos do SUS caiu de 336,2 mil para 321,6 mil naquele período - uma redução de 14.671 -, e o Rio de Janeiro foi o Estado mais afetado. Ele perdeu 5.977 leitos, ou 40,7% do total, como mostra reportagem do jornal O Globo. O Ministério da Saúde não nega seus próprios números, como não poderia deixar de ser, mas tem uma visão muito diferente da do CFM sobre a questão. Alega que a necessidade de internação hospitalar diminuiu nos últimos anos, como consequência, entre outras coisas, de programas de prevenção de doenças e do Saúde da Família, e que ao mesmo tempo cresceu muito o número de outros tipos de leitos.

Em ocasiões anteriores em que o problema foi levantado, as autoridades da área de saúde observaram que se deve levar em conta também a redução de leitos no setor de psiquiatria, justificada por terem surgido novas formas de tratamento que dispensam a internação.

De fato, como o próprio CFM reconhece, os chamados leitos complementares saltaram de 24.244 para 27.148 nos quatro anos do estudo. Os leitos de observação passaram de 80.742 para 91.710 no período e, como faz questão de ressaltar o Ministério, os leitos de UTI, ditos de maior complexidade, aumentaram de 15.509 para 19.394, um crescimento de 25% nos últimos três anos.

Uma coisa, porém, não exclui a outra. Do fato de a criação desses leitos ser uma necessidade não se deduz que ela justifique a eliminação de leitos de internação, e menos ainda na grande quantidade registrada. Tem razão, por isso, o vice-presidente do CFM, Mauro Ribeiro, quando recomenda não confundir as duas coisas. "Usam-se afirmações verdadeiras e justificativas falsas. Quando se coloca que há um aumento da tecnologia, medicações mais eficientes e tempo de internação menor do que há 20 anos, isso é verdadeiro. Mas usar isso para fechar leitos é justificativa falaciosa. Há filas para cirurgias eletivas e superlotação nos prontos-socorros", afirma.

Não são apenas a simples constatação que qualquer um pode fazer pessoalmente e as frequentes reportagens de jornais e televisões, estas com cenas particularmente chocantes, que comprovam a superlotação dos hospitais, com doentes atendidos nos corredores. Trabalhos técnicos de inegável seriedade fazem o mesmo.

Um estudo do Tribunal de Contas da União, feito em 2013, em 116 hospitais distribuídos por todos os Estados e o Distrito Federal, que constitui uma amostra representativa do sistema público de saúde, mostrou que nele faltam leitos, profissionais de saúde, medicamentos e equipamentos. A maioria dos dirigentes das unidades avaliadas, 64%, disse existir superlotação nos setores de emergência. Não foram poucos os casos constatados de pacientes atendidos em corredores, em macas e até em cadeiras.

A conclusões quase idênticas - algumas até mais chocantes - chegou um estudo posterior, feito por deputados da Comissão de Direitos Humanos da Câmara, representantes do Conselho Federal de Medicina e do Ministério Público Federal em oito unidades de atendimento de urgência espalhadas pelo País. "Existem casos que são verdadeiros acampamentos de guerra. As pessoas são depositadas ali", denunciou um dos membros do grupo, deputado Arnaldo Jordy (PPS-PA).

É grave e preocupante, sim, a eliminação de 14.671 leitos hospitalares em quatro anos, porque, se eles pudessem ser compensados pelos milhares de outros criados corretamente, como pretende o Ministério da Saúde, a situação não seria essa mostrada por tais estudos.


 

A SAÚDE PÚBLICA ESQUECIDA



O Estado de S.Paulo 25 Outubro 2014 | 02h 04


OPINIÃO



Durante os 12 anos em que o PT está no poder, o Ministério da Saúde deixou de aplicar cerca de R$ 131 bilhões no Sistema Único de Saúde (SUS), conforme dados do Conselho Federal de Medicina (CFM). Diante dessa realidade, não é de estranhar que a saúde pública continue recebendo notas de avaliação tão baixas pelos brasileiros. A prioridade da população não é a prioridade do governo.

De 2003 até 2014, o Orçamento-Geral da União autorizou um pouco mais de R$ 1 trilhão para o Ministério da Saúde. Os valores efetivamente gastos totalizam, no entanto, R$ 891 bilhões. Resultado: R$ 131 bilhões deixaram de ser aplicados na saúde pública. O CFM traduz essa cifra da seguinte forma: com esse valor seria possível, por exemplo, construir 320 mil Unidades Básicas de Saúde de porte I, ou edificar 93 mil unidades de pronto atendimento de porte III - com capacidade para atender até 450 pacientes por dia -, ou aumentar em quase 3 mil o número de hospitais públicos de médio porte.

As consequências de um corte desse vulto são evidentes. Segundo relatório do Tribunal de Contas da União, do início do ano, o SUS enfrenta "problemas graves, complexos e recorrentes": falta de leitos, profissionais, medicamentos e insumos hospitalares, equipamentos e instalações adequadas. Neste ano, a situação é idêntica: dos R$ 107,4 bilhões autorizados, foram gastos apenas R$ 80 bilhões. "A população brasileira tem o direito de saber onde, como e se os recursos que confiamos aos governos estão sendo bem aplicados. No caso da saúde, isso é ainda mais proeminente, tendo em vista as dificuldades de infraestrutura que milhares de pacientes, médicos e outros profissionais de saúde enfrentam todos os dias", afirmou Carlos Vital, presidente do CFM.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) já havia alertado para o fato de que, entre os países que possuem um sistema universal de saúde - como o SUS -, o Brasil tem o menor porcentual de participação do setor público (União, Estados e municípios) no investimento per capita em saúde. Segundo a entidade não governamental Contas Abertas, na Inglaterra o investimento público em saúde é cinco vezes maior do que o brasileiro.

Ainda que em tese o Brasil conte com o SUS, o brasileiro cada vez mais tem de recorrer ao sistema privado de saúde - ou seja, paga duas vezes pela saúde, nos impostos e nas mensalidades dos planos. Esse fenômeno de busca por um plano de saúde complementar se reflete nos números. Atualmente, o gasto público com saúde representa 45,7% do total aplicado em saúde. Em países cujo sistema é semelhante ao brasileiro, no qual se oferece um sistema universal, os gastos públicos giram em torno de 70% do total gasto com saúde no país. E se essa realidade é amarga para o brasileiro que tem de pagar duas vezes pela saúde, mais amarga ainda é para aqueles que - não tendo como pagar um plano de saúde privado - ficam dependentes de uma saúde pública tão mal gerida.

Essa má gestão fica evidente, por exemplo, ao olhar os investimentos do governo federal na saúde pública. Segundo informa o CFM, durante os 12 anos de PT no poder federal, foram autorizados R$ 81 bilhões para investimentos em saúde. No entanto, foram efetivamente gastos apenas R$ 30,1 bilhões. E o ano de 2014 vai se mostrando como mais um exemplo de que a saúde não é uma prioridade no orçamento deste governo. O Ministério da Saúde conta com uma dotação orçamentária para investimentos neste ano de quase R$ 10 bilhões. Porém, até setembro, apenas R$ 3,5 bilhões haviam sido efetivamente investidos. Isso faz com que o Ministério da Saúde esteja, no item investimentos, atrás dos Ministérios dos Transportes, da Defesa, da Educação e do Desenvolvimento Agrário.

O diagnóstico é claro: a saúde pública não é prioridade orçamentária do governo do PT. Há outras coisas que atraem mais a atenção da administração petista, como vai se descobrindo a cada dia que passa. Seria de esperar que a população fosse mais bem atendida nessa área, que - como há muito se constata - é sua prioridade.

terça-feira, 21 de outubro de 2014

FRAUDE NA REVALIDAÇÃO DE DIPLOMAS PARA PROGRAMA MAIS MÉDICOS



Do G1 MT  18/10/2013 12h37

Esquema de revalidação de diploma de medicina é desarticulado pela PF. Pessoas que não teriam diploma se inscreveram para revalidação. Esquema foi descoberto após denúncia da UFMT para a Polícia Federal.

Denise Soares



A Polícia Federal realiza nesta sexta-feira (18) a operação "Esculápio" contra um esquema de uso de diplomas e documentos falsos de medicina em Mato Grosso e outros 13 estados brasileiros. Segundo informações da PF, as investigações começaram após a Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) identificar 41 pessoas que se inscreveram para revalidar o diploma de medicina e que alegaram ter estudado em instituições bolivianas. No entanto, essas pessoas não teriam concluído o curso de medicina ou nunca foram alunos daquelas instituições.

O objetivo era concluir os estudos em universidades federais ou ingressar no Programa Mais Médicos do governo federal. A PF informou ao G1 que pessoas que trabalham nas próprias universidades bolivianas forneciam documentos para esse grupo. O falso diploma tinha a marca da instituição e detalhes específicos da universidade.

A PF afirmou que a operação ocorre contra fraudes na revalidação de diplomas, sendo que a UFMT possui um programa próprio de revalidação para estrangeiros e não participa do Programa Revalida do Ministério da Educação (MEC). As pessoas que foram citadas na investigação não eram bolivianos, mas brasileiros que buscavam exercer a medicina no país.

Ministro defende investigação

O ministro da Saúde, Alexandre Padilha, afirmou que a operação não tem relação com o Mais Médicos, mas defendeu a investigação para evitar fraudes no Revalida. "É uma operação da Polícia Federal que não tem nada a ver com o Mais Médicos. É em cima de estudantes que falsificavam diplomas para poder participar do Revalida", disse o ministro em entrevista na manhã desta sexta-feira ao visitar um centro de saúde na cidade de Samambaia, a 30 km de Brasília.

O ministro ressaltou que a operação partiu de denúncias da UFMT, em Mato Grosso, mas que a investigação acabou atingindo outros estados. "O Ministério da Saúde tem uma grande cooperação com a Polícia Federal também no programa Mais Médicos. É uma ação importante da Polícia Federal para evitar fraudes no programa Revalida".

Padilha disse também que o governo faz uma checagem sobre registros e antecedentes criminais de estrangeiros inscritos no Programa Mais Médicos. "É feita uma checagem antes com a Polícia Federal, que faz todo o acompanhamento. Inclusive se tem algum problema é excluído ou não aceito qualquer tipo de documentação desses profissionais", ponderou.

Segundo o ministro, a operação pode contribuir fortemente para que não exista qualquer tipo de fraude ou tentativa de inscrição no programa de profissionais que não sejam médicos. ''Nós estamos sendo muito rigorosos. O registro agora é feito pelo Ministério da Saúde com a parceria com a Polícia Federal e poderá irá excluir qualquer tentativa como essa também", completou.

Em nota, o MEC afirmou que a operação não tem qualquer relação com o Exame Nacional de Revalidação de Diplomas Médicos, que faz parte da Instituição de Educação Superior Estrangeira (Revalida), do Inep.

Mandados em diversos estados

Os mandados de busca e apreensão contra as 41 pessoas identificadas foram expedidos pela 7ª Vara Criminal da Justiça Federal de Mato Grosso. As buscas devem ser feitas em Alagoas, Acre, Amazonas, Bahia, Ceará, Maranhão, Mato Grosso do Sul, Paraná, Paraíba, Pernambuco, Rondônia, Rio Grande do Sul e São Paulo. Conforme a PF, a UFMT fez contato com três universidades da Bolívia, que confirmaram que entre os inscritos no programa de revalidação, 41 pessoas nunca foram alunos ou não concluíram o curso nessas instituições.

Operação Esculápio, deflagrada pela Polícia Federal em Mato Grosso. (Foto: Reprodução/TVCA)

A PF analisou documentos encaminhados pela UFMT e constatou que, dos investigados que se inscreveram no programa de revalidação, 29 foram representados por cinco advogados ou despachantes, que teriam subrogado outras pessoas para realizar a inscrição dos supostos médicos.

Em Cuiabá, a PF procura por duas pessoas citadas no esquema e uma terceira em Tangará da Serra, a 242 quilômetros de Cuiabá. Os policiais também cumprem o mandado em Barra do Garças e Jaciara. Os suspeitos podem responder pelos crimes de uso de documento falso e falsidade ideológica.

O nome da operação, Esculápio, remete ao deus da medicina e da cura na mitologia greco-romana.


Entenda o esquema

- 41 pessoas investigadas conseguiam diplomas falsos de medicina em universidades na Bolívia;

- Através de procuradores e intermediários, o grupo tentava ingressar na UFMT;

- O objetivo dos investigados era, então, fazer prova de revalidação;

- Após ter a situação regularizada através da fraude, os investigados queriam ingressar no programa Mais Médicos.

sábado, 18 de outubro de 2014

O MÉDICO E AS PROMESSAS NA SAÚDE



ZH 18 de outubro de 2014 | N° 17956


FERNANDO WEBER MATOS*



Se boa parte das promessas feitas nos palanques fosse cumprida, a saúde pública no Brasil seria mesmo de “excelência”, para usar o termo ufanista empregado pelo ex-presidente Lula em 2006, numa de suas visitas ao Rio Grande do Sul

Com mais dinheiro injetado na saúde, a assistência seria de melhor qualidade e os médicos trabalhariam em condições dignas. O governo poderia implantar um plano de carreira no sistema público de saúde, a exemplo do que existe no Judiciário, para promover a interiorização dos médicos e demais profissionais da saúde.

Sim, o médico sozinho nos lugares mais afastados pouco pode fazer em termos de resolutividade se não tiver estrutura e uma equipe de trabalho. Só assim, ele pode prestar o atendimento que o cidadão brasileiro merece, diminuindo a necessidade de encaminhamento do paciente para outros centros.

Neste 18 de outubro, Dia do Médico, diante das dificuldades impostas ao trabalho médico em função do investimento insuficiente e da má gestão da saúde em todos os níveis, queremos reiterar que estamos e sempre estaremos ao lado do médico que, mesmo com dificuldades, trabalha por dias melhores na saúde e não mede esforços para atender seus pacientes.

Por isso, repudiamos com veemência qualquer tentativa de atribuir mazelas do sistema público de saúde aos médicos.

Lamentavelmente, a saúde dos palanques e dos horários políticos no rádio e na TV é muito diferente daquela que encontra o cidadão comum – não aquele que pode recorrer a hospitais particulares de ponta – quando necessita atendimento em situação de emergência, seja portador de um plano de saúde privado ou dependente do SUS.

Então, estamos diante de ações equivocadas, que não atendem aos interesses e clamores da sociedade. Como pode estar no caminho certo uma política que só tem feito menosprezar o médico registrado nos Conselhos de Medicina? Personagem central de qualquer programa sério de saúde, o médico não é valorizado adequadamente, diferente dos profissionais importados para o programa Mais Médicos.

Não podemos ficar calados, de braços cruzados, diante de ações que atingem o médico e toda uma sociedade que sempre soube valorizar a nobre atividade daqueles a quem todos recorrem – inclusive seus maiores detratores – e que têm como objetivo de vida curar, salvar e amenizar sofrimento.

Presidente do Cremers

domingo, 5 de outubro de 2014

ROBÔS CIRÚRGICOS E MÉDICOS SEM PACIENTES



ZERO HORA 05 de outubro de 2014 | N° 17943


NELSON MATTOS*

Na última semana, tive a oportunidade de falar sobre as transformações causadas pela revolução digital na área de saúde em uma conferência de Medicina em Gramado. Como saúde é uma área de interesse de todos, achei oportuno compartilhar alguns dos pontos da minha palestra na coluna deste mês.

Possibilitada pela popularização dos computadores, mas realmente criada pelo desenvolvimento da internet, a adoção de tecnologias baseadas na web, inteligência artificial, robótica e várias outras áreas da computação, a revolução digital está transformando a medicina.

A digitalização de registros médicos progrediu muito nos últimos anos devido ao acesso remoto e ao processamento na nuvem que a internet permite. Vários hospitais no mundo praticamente já não usam mais papel, pois quase tudo é digitalizado imediatamente: dados pessoais dos pacientes, seu histórico médico, resumo de todas as consultas e os pareceres médicos, resultado de exames, e assim por diante. Com essa digitalização e a coleta e transmissão de dados remotamente, a internet está sendo usada para telemedicina, ou seja, a prestação de serviços médicos a distância através de videoconferência. Ela é amplamente utilizada não só para prestar serviços médicos às áreas remotas da África, sem médicos, mas também para pacientes no mundo desenvolvido. Um número crescente de hospitais rurais nos Estados Unidos está usando a telemedicina para prestar cuidados especializados. Vários Estados americanos já aprovaram legislação que obriga as empresas de seguro de saúde a prestar serviços de telemedicina.

A digitalização de dados médicos e a comunicação entre aparelhos eletrônicos estão sendo combinadas com robótica para a criação de máquinas para melhorar vários procedimentos cirúrgicos. Os resultados são impressionantes, superando o dos médicos que operam sem tais aparelhos. Hoje em dia, minúsculos braços robóticos conseguem operar a parte interna do coração sem a necessidade de abrir o peito do paciente, pois são introduzidos por uma pequena incisão entre as costelas.

Membros artificiais, isto é, braços e pernas biônicas, já estão sendo implantados no corpo humano com um desempenho melhor do que as partes do corpo que estão substituindo. Para ter uma ideia de quão sofisticados esses membros artificiais podem ser, veja a palestra do senhor Hugh Herr do MIT Media Lab no YouTube. Busque por “Hugh Herr Zeitgeist” e clique no link da palestra “The World We Dream – Hugh Herr Zeitgeist Americas 2012”. Mesmo que você não consiga entender o inglês, a palestra vale a pena para se verem as pernas biônicas.

E, apesar do impacto incrível que a revolução digital já está tendo na área de medicina, eu acredito que estamos recém no comecinho de tais transformações. Nos próximos anos, vamos ver avanços extraordinários implementados cada vez mais rápido, uma vez que agora também empresas de tecnologia estão focando na área de saúde e investindo no uso de tecnologias da revolução digital para melhorar a medicina e a saúde. Google anunciou no ano passado um novo empreendimento na área de saúde – Calico, que é uma tentativa de prolongar a vida das pessoas desacelerando o envelhecimento e as doenças relacionadas ao envelhecimento. Também recentemente, Google anunciou a Smart Contact Lens: uma lente de contato com um chip que lê o nível de glicose na lágrima. Esse chip faz uma leitura por segundo e, através de uma antena embutida, transmite os dados da leitura para um smartphone, médico, ou outro computador para ser analisada. No futuro, sensores como esse serão colocados dentro do corpo humano para coletar constantemente todos os dados vitais, como pressão, temperatura, glicose… Ao longo do tempo, esses dados permitirão uma análise muito mais detalhada da saúde do corpo humano.

O implante médico de tais sensores já é comum para uso a curto prazo. Por exemplo, quando alguém tem um ataque epilético, pode ter eletrodos colocados na superfície do cérebro para detectar a origem do ataque. O sistema é atualmente utilizado apenas por poucos dias, mas, no futuro, posso imaginar um monitoramento a longo prazo. Um chip desenvolvido no início deste ano monitora os níveis de proteína e ácidos no sangue. É perfeito para situações de emergência quando o acompanhamento constante de tais níveis são de extrema importância. O próximo passo será permitir que esses dispositivos administrem doses de remédio para corrigir os problemas. Já posso imaginar a combinação de sensores dentro da corrente sanguínea, do coração e do cérebro alertando problemas de saúde, como ataques cardíacos, antes que eles aconteçam e administrando doses certas de remédios para evitar tais problemas. Um outro exemplo é o que está sendo desenvolvido em Cambridge: um sistema de pâncreas artificial que irá ligar um medidor de glicose implantado sob a pele a uma bomba de insulina, criando um sistema autônomo que monitora e corrige o nível de açúcar no sangue. Tudo sem nenhuma intervenção humana. O teste em pessoas começará ainda neste ano.

O que ainda evita o implante de tais sensores em grande escala é o fato de eles terem uma vida útil muito curta e por isso terem que ser substituídos em pouco tempo. Claro que isso não é desejável, mas é um bom começo. E eu tenho certeza de que logo vamos descobrir materiais que durarão muito mais tempo dentro do corpo humano. E, uma vez que isso aconteça, milhões de novos aplicativos para telefones celulares serão desenvolvidos para executar muitas das tarefas que os médicos e enfermeiras fazem hoje em dia. Assim, muitos médicos não vão mais lidar com os pacientes diretamente, mas passarão o tempo todo trabalhando com equipes de informatas desenvolvendo tais aplicativos. E nós, não médicos, vamos usar os aplicativos sem precisar de orientação médica. Para ilustrar isso, veja no YouTube o vídeo da Scanadu – uma empresa norte-americana que está desenvolvendo o que eles chamam de médico móvel. Busque por “scanadu” e clique no link com o título “Scanadu Trailer”. Quando isso acontecer, seremos muito mais autossuficientes!


*DOUTOR EM CIÊNCIAS DA COMPUTAÇÃO, GAÚCHO, RESIDENTE NO SILICON VALLEY, CALIFÓRNIA

sexta-feira, 3 de outubro de 2014

MOBILIZAÇÃO COM MUITA FORÇA NA PERUCA



ZERO HORA 03 de outubro de 2014 | N° 17941


CIDADANIA PASSO A PASSO DA SOLIDARIEDADE



Febre nas redes sociais, campanhas para doação de fios a crianças e mulheres com câncer é a primeira etapa de um processo que envolve um trabalho de quatro dias. ZH mostra o caminho percorrido pelas madeixas até chegar às novas donas. O sonho de Eduarda Moro, 10 anos, depende da doação de cabelo de pelo menos duas pessoas e de um trabalho de quatro dias. Em recuperação após um transplante de medula, a menina aguarda para este mês uma peruca na Casa de Apoio do Instituto do Câncer Infantil (ICI), em Porto Alegre. As madeixas que cobrirão a cabeça raspada há quatro meses serão doadas pela ONG Cabelaço, que promove a confecção de perucas para crianças em tratamento com quimioterapia.

– Estou com muita saudade do meu cabelo, porque eu adorava usar tiaras, fazer tranças – relembra a garota.

Para que Duda volte a utilizar os adereços coloridos, são necessários 120 gramas de cabelos. Na perucaria, as mechas são separadas de acordo com a textura e a cor. Foi o que aconteceu com o cabelo doado por Laísa Castro, 24 anos: unido a outros fios castanhos lisos, formou a peruca que Genessi Mendes, 59 anos, recebeu na última quarta-feira. Diagnosticada com câncer de mama em julho, a dona de casa fez a primeira quimioterapia há dois meses – quando teve de raspar o cabelo, que já caía em grande quantidade.

O encontro entre as duas foi marcado por sorrisos emocionados e sentimento de gratidão.

– Ver que a dona Genessi está feliz é uma realização para mim. Um ato corriqueiro de uma pessoa pode mudar a vida de quem precisa – afirma a estudante de nutrição.

LETÍCIA RECEBEU DE VOLTA OS CACHOS

Estagiária do Instituto da Mama do Rio Grande do Sul (Imama), Laísa começou a trabalhar com a causa já com a intenção de doar cabelo. Como ainda não tinha os 15 centímetros mínimos necessários, esperou um mês para fazer o corte. Em poucas semanas, seus fios já estavam na vitrine do banco de perucas da instituição esperando por alguma mulher que quisesse cobrir a cabeça com um penteado chanel.

– Foi amor à primeira vista. Experimentei e adorei na hora – contou Genessi.

O cuidado das cerca de 200 perucas do Imama fica a cargo de Sandra Masiero, proprietária da estética Cabelo Mais. Ela financia a higienização e a manutenção dos adereços, além de transformar as mechas doadas em perucas – Sandra diz precisar de duas a três doações para fazer uma peruca. No local, lenços e chapéus também podem ser retirados por tempo indeterminado.

Supervisora de projetos do Imama, Rita de Cássia da Cunha ressalta que todo o cabelo é proveniente de doações espontâneas, não de campanhas. A cada semana são emprestadas de 10 a 15 perucas para mulheres que tratam do câncer de mama no Sistema Único de Saúde (SUS).

Há cinco meses morando na Casa de Apoio do ICI, Débora Letícia Tavares, 13 anos, teve uma surpresa há cerca de um mês. O cabelo cacheado, cortado no início do tratamento de quimioterapia, virou uma peruca e foi devolvido à menina de Vale do Sol, na região central do Estado.

– Já estava com medo de não ver mais as minhas molinhas – contou, enrolando um dos cachinhos que cobrem novamente sua cabeça.

sábado, 27 de setembro de 2014

DOAÇÃO DE ÓRGÃOS E TRANSPLANTES



ZH 27 de setembro de 2014 | N° 17935


ROBERTO CERATTI MANFRO




Em 28 de setembro, comemoramos o Dia Nacional de Doação de Órgãos. Nesse dia, ações são realizadas para esclarecer a população sobre a importância da doação. Os transplantes tornaram-se procedimentos eficazes, salvando ou melhorando as vidas de centenas de milhares de pessoas. Atualmente, transplantes de órgãos e tecidos são rotineiros em todos os países minimamente desenvolvidos. Pessoas cujos rins, fígados, corações, pulmões e pâncreas deixam de funcionar são salvas pelos transplantes. Várias doenças graves são tratadas por transplantes de medula óssea, e milhares de indivíduos voltam a ver o mundo graças às córneas doadas. Todos esses transplantes só são possíveis devido às doações, autorizadas por familiares, após a morte de uma pessoa querida.

O Brasil detém o segundo maior programa de transplantes do mundo. No entanto, corrigindo para o tamanho da população, nossas taxas de doação e de transplantes ainda têm muito espaço para crescer. No ano de 2013, o Brasil registrou 13,2 doadores por milhão de habitantes, e embora essa taxa tenha dobrado nos últimos seis anos, ela ainda está muito aquém do que se precisa para atender, com eficiência, às necessidades da população. Pode-se comparar esses números com os apresentados por países líderes em doação, com taxas na ordem de 25 a 35 doadores por milhão de habitantes. Por outro lado, o Estado do Rio Grande do Sul, um dos líderes nacionais em transplantes, apresenta taxas de captação de órgãos em crescimento inferior ao observado nos outros Estados brasileiros líderes.

Dessa forma, especialmente no dia dedicado à causa das doações, devemos reconhecer e manifestar o nosso profundo respeito e admiração aos doadores e a seus familiares, que, no momento de grande dor, consentem a doação dos órgãos e tecidos, permitindo a celebração da vida por pessoas desconhecidas. Lembramos que a doação é um ato altruísta, esclarecido e cidadão, e, por fim, chamamos a atenção para o fato de que as políticas de saúde devem contemplar enfaticamente as doações, pois, sem elas, não há transplantes, e sem transplantes, para muitos, não há mais nada.

Médico, vice-presidente da Associação Brasileira de Transplante de Órgãos (ABTO)

segunda-feira, 22 de setembro de 2014

DESCASO COM O SERVIÇO DE EMERGÊNCIA DO SUS



JORNAL DO COMÉRCIO 22/09/2014


João Ladislau Rosa



O Conselho Federal de Medicina (CFM) publicou, em 16 de setembro, duas importantes resoluções no Diário Oficial. Ambas trazem à tona um problema cada vez mais preocupante e que requer resolução imediata: a situação caótica da urgência e emergência no Sistema Único de Saúde (SUS). Com tal iniciativa, busca-se diminuir o sofrimento dos brasileiros que precisam desses serviços. Para tanto, novas normativas do CFM estabelecem que o tempo de espera do paciente para atendimento em uma unidade de pronto-socorro não pode ser superior a duas horas.

Essa mudança vem ao encontro de antigo pleito do Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp). Ao longo dos anos, temos fiscalizado e acompanhado o declínio dos prontos-socorros de nosso estado. Assim como no restante do Brasil, o quadro é de fato alarmante. In loco, atestamos o que o usuário já sabe: as unidades possuem péssimas instalações, tanto em termos de infraestrutura quanto de equipamentos em geral; faltam profissionais da saúde; e o volume de demandas é muito superior à capacidade de atendimento.

Diariamente, os médicos e pacientes sofrem com a fragilidade do SUS. Os médicos, por estarem de “mãos atadas”, sem os recursos básicos para fornecer a assistência adequada, trabalhando em péssimas condições e com salários baixíssimos. E os pacientes, por terem de enfrentar horas de espera e complicações na transferência para especialidades, caso o diagnóstico indique internação, cirurgia ou acompanhamento específico. Na prática, infelizmente, o que acaba acontecendo é que muitos pacientes ficam represados em pronto-socorro, agravando ainda mais a superlotação. Aliás, vale ressaltar que a internação na unidade de emergência, fato recorrente no País, é proibida por determinações do CFM e do Ministério da Saúde. O motivo para tanta precariedade é um só: o descaso das autoridades. Desde a sua instalação, em 1988, o SUS evoluiu muito, mas, de todos os setores, o serviço de urgência e emergência é o que permanece mais estagnado.

Nos últimos 13 anos, a União deixou de gastar R$ 112 bilhões disponíveis para a saúde. Para agravar, em um movimento contrário à necessidade popular, o número de leitos sofreu absurda redução: entre 2010 e 2013, foram fechados cerca de 13 mil em todo o País. Isso que significa, segundo dados do Ministério da Saúde, menos 340 vagas para a área de cirurgia; 3.431 para obstetrícia; 5.992 para pediatria; 7.449 para psiquiatria; e 7.150 para as demais especialidades. Com as resoluções, o CFM tenta chamar a atenção dos nossos governantes para a saúde dos brasileiros, que já é, há tanto tempo, menosprezada e ignorada. São medidas construídas no sentido de organizar melhor os serviços de saúde e subsidiar o SUS para viabilizar uma atenção mais ágil. Sabemos que as novas resoluções não transformarão a realidade da noite para o dia, mas são um norte para melhorias futuras do sistema.

Presidente do Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo

sexta-feira, 19 de setembro de 2014

A SAÚDE DESAFIADA



ZH 19 de setembro de 2014 | N° 17927


EDITORIAL




Ao estabelecer condições para o atendimento de urgência, o Conselho de Medicina pode contribuir, apesar dos conflitos, para a solução dos problemas da saúde.

As carências da saúde no Brasil não serão resolvidas apenas pela boa intenção dos que tentam melhorar serviços públicos e privados pela força de normas e decretos. Mas é preciso reconhecer o mérito da resolução do Conselho Federal de Medicina sobre atendimentos de urgência e emergência, com o objetivo de melhor administrar pes- soas e recursos e esclarecer responsabilidades. Diz a resolução que pacientes em situação de risco devem ser atendidos em no máximo duas horas em hospitais, postos de saúde e unidades de pronto atendimento. Numa análise apressada e superficial, pode- se enquadrar a resolução entre os atos que, apesar dos objetivos nobres, apenas formalizam uma exigência de difícil cumprimento.

De fato, pode acontecer, na maioria dos casos, que a medida não surtirá os efeitos esperados, considerando-se que a solução das deficiências depende de atitudes que vão além das formalidades legais. As estruturas de saúde pública foram precarizadas pelos mais variados motivos, e a gestão certamente está entre os principais. Faltam profissionais, equipamentos, instalações e recursos, por ausência de racionalidade em muitos dos atendimentos que não conseguem dar conta da demanda diária. Este é um dos maiores desafios às autoridades, conforme evidência da realidade e resultados de pesquisas sobre as principais queixas da população. O brasileiro já não suporta as filas de espera nas emergências ou para consultas especializadas, cirurgias, tratamentos oncológicos e internações.

Uma das consequências disso é a saturação também da estrutura privada, com a tentativa de expressiva parcela da população de buscar proteção em planos de saúde. Multiplicam-se os casos que repetem, em serviços particulares, do simples atendimento ambulatorial à cirurgia mais complexa, os mesmos transtornos da rede pública. Este é o contexto que a resolução do Conselho procura enfrentar, por abranger tanto os serviços do SUS quanto os prestados via planos e convênios.

A determinação que trata do prazo de atendimento é complementada com uma orientação: profissionais que prestam os serviços devem se dirigir aos gestores, quando de situações que envolvem superlotação, falta de condições e deficiência de quadros nas equipes especializadas. A resolução tem o poder de confrontar a saúde com suas limitações crônicas, que punem especialmente as populações dependentes do SUS. Os próprios conflitos criados pela medida podem inspirar a reação em favor de uma saúde menos seletiva.