quarta-feira, 26 de outubro de 2011

MELHOR GESTÃO NA SAÚDE

EDITORIAL ZERO HORA 26/10/2011


É verdade que o Brasil investe em saúde pública menos do que países desenvolvidos, mas muitas mazelas do nosso sistema não dependem de mais recursos, nem da criação de um tributo especial para financiá-lo. Dependem, isso sim, de gestão eficiente e responsável. É o que demonstra, no Rio Grande do Sul, o caso relacionado a uma gestante de gêmeos prematuros que precisou viajar 530 quilômetros para receber atendimento num hospital com UTI neonatal. Também é o caso da menina catarinense que morreu devido a uma complicação de varicela, depois de ter sido transferida de um hospital de Florianópolis por falta de UTI pediátrica. Um sistema de saúde pública sem capacidade e competência para atender a ocorrências simples, como parto e catapora, está mais doente do que seus pacientes. Essa doença pode ser classificada por vários nomes: descaso, desorganização, insensibilidade e, a que melhor resume o diagnóstico, incompetência gerencial.

Sob o ponto de vista dos pacientes, a perversa combinação de fatores resulta acima de tudo na dificuldade – em alguns casos, até mesmo impossibilidade – de marcação de consulta ambulatorial com especialista e obtenção de vaga para internação de emergência. Essa fonte permanente de sofrimento para pacientes e de inquietação para familiares é consequência direta de fatores como uma redução consistente na oferta de leitos para o Sistema Único de Saúde (SUS) no país, ao mesmo tempo em que a população continuou aumentando. Grave em todas as áreas, a situação preocupa particularmente no que diz respeito ao atendimento à infância e, mais ainda, na faixa neonatal. De maneira geral, os leitos existentes em UTIs estão sempre ocupados e, quando há vagas disponíveis, quem se candidata a uma delas precisa percorrer quilômetros.

Diante da repercussão registrada pelos casos mais recentes de deficiências no atendimento à criança, o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, garantiu que parte das soluções serão encaminhadas com a implantação do programa Rede Cegonha, lançado este ano pelo governo federal em diferentes Estados. A intenção do plano é propiciar atenção permanente à gestante, além de prever investimentos importantes em maternidades de alto risco e em UTIs para a fase neonatal, eliminando a necessidade de a mãe ter que peregrinar quilômetros de um hospital para outro. Mas, como costuma ocorrer num setor público de maneira geral marcado pelo empreguismo e pela ineficiência, continua havendo uma enorme distância entre as pretensões e a prática. Os episódios mais recentes precisam motivar as autoridades da área de saúde a encurtá-la de vez, com uma aposta maior em prevenção e em programas bem-sucedidos também em outros países, como o Saúde da Família.

Enquanto não puder garantir atendimento a todos os necessitados, o SUS precisa se esforçar pelo menos para administrar com mais eficiência os recursos disponíveis. O que não pode persistir é essa crônica situação na qual os enfermos ficam vagando em busca do atendimento que, muitas vezes, acaba surgindo tarde demais.

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