quarta-feira, 26 de outubro de 2011

BUROCRACIA DEIXA UTI FECHADA


LEITOS SEM USO. Socorro a gestante que percorreu mais de 500 km por vagas estaria mais perto se unidade equipada estivesse em funcionamento - JOICE BACELO, ZERO HORA, 26/10/2011

A história da funcionária pública que teve de esperar dois dias e viajar cerca de 530 quilômetros para dar à luz os gêmeos expôs um entrave burocrático que já dura quase nove meses. No sul do Estado, uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI) neonatal equipada está fechada porque o credenciamento para abrir as 10 vagas vinculadas ao SUS ainda não foi liberado. Se estivesse ativa, poderia ter mudado o destino de Elisiane San Martins e dos dois filhos, de acordo como o Sindicato Médico do Rio Grande do Sul (Simers).

Foram investidos cerca de R$ 1,2 milhão na unidade do Hospital de Caridade de Canguçu, que fica a 280 quilômetros de Santa Vitória do Palmar, cidade onde Elisiane aguardava por um leito em hospitais do Estado. A UTI neonatal está equipada desde dezembro do ano passado e pronta para funcionar desde 1º de fevereiro, mesma data em que o pedido de credenciamento foi encaminhado para a Secretaria Estadual de Saúde (SES).

Assim que o credenciamento for aprovado, a UTI neonatal do Hospital de Caridade de Canguçu dará início aos atendimentos. O superintendente da instituição, Fernando Gomes, afirma, inclusive, que já existe equipe médica própria para trabalhar na unidade. Com a aprovação, a Região Sul passará dos atuais 6% para 9% do total de leitos disponíveis no Estado.

– Enquanto isso, permanecemos de mãos atadas. O bom mesmo é nem entrar aqui (UTI neonatal), porque está tudo pronto, equipado, mas sem utilidade. Crianças estão morrendo e vão continuar morrendo enquanto casos como esse não forem solucionados – desabafa Gomes.

A demora por atendimento é responsável por sindicâncias abertas pelo Conselho Regional de Medicina do Estado (Cremers). Nos últimos 45 dias, seis casos começaram a ser investigados – o último deles, o de Elisiane. Conforme o presidente do Simers, Paulo de Argollo Mendes, se as 10 vagas da UTI já estivessem em funcionamento, o drama de Elisiane, que ontem permanecia internada em estado grave, poderia ter sido evitado:

– Apenas dois leitos atenderiam à demanda de Canguçu. Sobrariam oito vagas para absorver pacientes da região. A gestante teria conseguido leito em Pelotas ou Rio Grande, que estavam ocupados com toda a demanda, e não precisaria ter viajado até Novo Hamburgo.

Lento processo

- A aprovação do credenciamento no Estado ocorreu somente em 22 de agosto. Conforme a SES, a demora é explicada por uma exigência da Vigilância Sanitária, que, em abril, teria solicitado documentos – apresentados em junho.

- O Secretário estadual da Saúde, Ciro Simoni, diz que o encaminhamento do pedido ao Ministério da Saúde foi feito logo após a aprovação e afirma que, caso o credenciamento não seja efetivado até o final do ano, o Estado irá bancar a UTI neonatal do hospital de Canguçu até o governo federal assumir os custos.

- No dia 17 de outubro, os documentos chegaram ao setor de credenciamento do governo federal. Segundo o Ministério da Saúde, dois dias depois o pedido foi aprovado e, até ontem, os documentos estariam sendo avaliados no setor de orçamento. Sem prever uma data para a publicação do credenciamento no Diário Oficial da União, o Ministério da Saúde afirmou que o processo ocorre dentro da normalidade desde o encaminhamento feito pelo governo do Estado.

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