terça-feira, 25 de outubro de 2011

BUROCRACIA E CONCENTRAÇÃO DE UTIs AGRAVAM O RISCO


CONCENTRAÇÃO DE UTIs AGRAVA O RISCO. MARCELO GONZATTO. Colaborou Joice Bacelo. zero hora 25/10/2011

A viagem de Lisiane por cerca de 530 quilômetros em busca de leitos em UTI neonatal para receber seus gêmeos prematuros escancara um drama que se repete no Estado: a falta de leitos disponíveis e a concentração dos existentes na Região Metropolitana

O atendimento a gestantes no Estado é agravado pela falta de investimentos em Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) neonatais nos últimos anos, o que resultou em uma rede precária e concentrada na Região Metropolitana.

A escassez de vagas em hospitais fez com que uma grávida de gêmeos tivesse de esperar dois dias e viajar 530 quilômetros para dar à luz, no domingo. Ontem, a mãe e os dois bebês seguiam internados em estado grave.

Há dois anos, ZH relatou dramas semelhantes ao da gestante de Santa Vitória do Palmar Elisiane San Martins, 34 anos. Em 2009, uma mulher teve de esperar durante dois dias com a bolsa rompida até que fosse transportada por 600 quilômetros de São Borja também para Novo Hamburgo.

Desde então, houve poucos avanços. Naquele período, o Estado contava com 350 leitos neonatais do SUS. Em dois anos, o sistema cresceu apenas 5,7% e chegou a 370 vagas para atender a todo o Rio Grande do Sul. O Sindicato Médico do Rio Grande do Sul (Simers) considera que ainda são necessários pelos menos mais 32 leitos.

Além de a estrutura ser insuficiente, na opinião de especialistas, ela é mal distribuída. O presidente do Comitê de Neonatologia da Sociedade de Pediatria do RS, Marcelo Porto, afirma que a dificuldade é constante.

– As UTIs neonatais funcionam sempre no limite. O número de leitos que temos não é adequado e é mal distribuído. Temos muitos leitos na Região Metropolitana, e muito poucos no resto do Estado – avalia.

A Região Metropolitana concentra 57% da infraestrutura. Conforme a assessoria de imprensa da Secretaria Estadual da Saúde (SES), o indicador mais utilizado para avaliar a quantidade de UTIS neonatais foi criado pela Academia Americana de Pediatria e estabelece a necessidade de um a três leitos para mil nascidos vivos. No Estado a média é de 3,7 para mil nascimentos. Porém, isso não significa uma cobertura adequada.

Em primeiro lugar, o indicador foi calculado para a realidade norte-americana, onde uma melhor qualidade no pré-natal leva a um menor índice de prematuros em relação ao Brasil, e a menos tempo de internação.

O presidente do Simers, Paulo de Argollo Mendes, considera que deveria haver ao menos quatro vagas por mil nascimentos no Estado – parâmetro citado pelo Ministério da Saúde.

– A proporção de leitos, principalmente no sul do Estado, deveria ser maior porque é uma região com de deficiências no atendimento pré-natal que se reflete em maior risco no parto. A situação reflete o descaso do poder público – afirma Argollo.

A SES emitiu nota, ontem, reafirmando o esforço para ampliar o número de leitos. ZH tentou, sem êxito, ouvir o secretário Ciro Simoni.

UTI pronta à espera da burocracia

Enquanto especialistas reclamam a abertura de mais leitos de UTI neonatal, uma unidade intensiva equipada e pronta para funcionar se encontra com as portas fechadas na zona sul do Estado. Desde dezembro passado, o Hospital de Caridade de Canguçu, a 280 quilômetros de Santa Vitória do Palmar (cidade da gestante) espera credenciamento para abrir 10 vagas vinculadas ao SUS.

A instituição tenta conseguir autorização para receber recém-nascidos em situação de risco. O administrador do hospital, Adão Renato Casarin, diz que aguarda o credenciamento no Ministério da Saúde para oferecer os leitos pelo SUS. A abertura ajudaria a desafogar a demanda na região.

Dois municípios próximos de Santa Vitória do Palmar procurados por Elisiane San Martins não tinham condição de recebê-la. Em Pelotas, há 10 leitos no Hospital Universitário São Francisco de Paula e seis no Hospital da FAU. A secretária de saúde do município, Arita Bergmann, afirma que todas as vagas estavam ocupadas.

Em Rio Grande, o Hospital Universitário Miguel Riet Correa Júnior tem nove leitos. O diretor, Tomás Dalcin, afirma que seis leitos estavam ocupados, e havia previsão de parto de uma gestante de gêmeos. No sábado, havia um disponível, mas seriam necessárias duas vagas para os bebês de Elisiane.

O Ministério da Saúde não respondeu sobre a situação do hospital de Canguçu.

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