quinta-feira, 12 de julho de 2012

SUPERLOTAÇÃO DAS EMERGÊNCIAS


ZERO HORA 12 de julho de 2012 | N° 17128. ARTIGOS

Fernando Weber Matos
Vice-presidente do Cremers


Os médicos costumam dizer que, uma vez feito o diagnóstico, é possível fazer o tratamento. O diagnóstico das causas da superlotação das emergências já está feito por todos os gestores, conforme se constata seguidamente nos meios de comunicação. Segundo eles, a população deve mudar sua cultura e procurar atendimento nos serviços de medicina de família, postos de saúde e pronto-atendimentos (UPAs).

O problema é que existem poucas equipes de medicina de família concursadas e trabalhando efetivamente em todo o Estado. Os postos de saúde em geral funcionam apenas durante o dia e aqueles que têm plantão não apresentam, na maioria das vezes, clínicos e pediatras com as condições adequadas para tratamento e investigação básica de exames de laboratório e raio X.

A sabedoria popular percebe esta realidade. Não é uma questão cultural, é a necessidade. Enquanto esse quadro não for alterado, as pessoas doentes irão para as emergências dos hospitais.

Os gestores asseguram que 80% dos pacientes que superlotam as emergências apresentam doenças sem maior gravidade e sem risco de vida, sendo triados e colocados em salas de espera em que aguardarão durante muitas horas por um atendimento médico. É fundamental dizer que, para um paciente, a doença – sua ou de um familiar – sempre deve ser tratada com prioridade e rapidamente, não importando se a classificação é de baixa gravidade.

A espera angustiante aumentará sua ansiedade e agressividade. Quando vamos ao banco, com filas enormes e caixas fechados, diagnosticamos de imediato que há falta de pessoal. Eventualmente cobramos dos atendentes, mas acabamos reclamando mesmo é do gerente do banco. De maneira similar, de nada adianta brigar ou agredir quem está atendendo, médico ou outro profissional da saúde, mas sim procurar os verdadeiros responsáveis por essa situação.

Essa demora no atendimento de pacientes sem maior gravidade deve-se à falta de médicos e da disponibilização dos resultados de exames básicos, que fariam o médico orientar, medicar e prescrever, dando alta e indicando, é claro, a reconsulta para acompanhamento até a cura.

Outro aspecto é a falta de locais para encaminhamento desses pacientes, o que explica por que muitas vezes ficam “baixados” nas emergências, em observação. A verdade é que as doenças sem maior gravidade, que são a maioria, necessitariam de um número maior de médicos para o atendimento. No entanto, o pagamento feito pelo SUS por procedimentos simples é insignificante – por que não dizer, simbólico –, razão pela qual os hospitais não contratam médicos e outros profissionais para esse serviço.

O Cremers, em resolução específica baseada nas determinações do Ministério da Saúde, estabeleceu a relação mínima entre número de médicos e pacientes com ou sem gravidade. Os gestores hospitalares municipais e estaduais e órgãos de fiscalização ignoram essa determinação técnica. De um lado, os hospitais lutam por melhor remuneração dos procedimentos; de outro, os gestores públicos, para não pagar; e quem deveria fiscalizar e exigir não enfrenta o problema.

O diagnóstico da crise está feito. As soluções para a superlotação das emergências dependem de financiamento civilizado e digno, passando por muita vontade política e um mínimo de visão técnica.


COMENTÁRIO DO BENGOCHEA  - Também é questão de "cultura" os hospitais reservarem pouco espaço, médicos e leitos para as emergências. Esta na hora de exigir hospitais públicos com amplo espaço para tratamento de emergência, postos de saúde fixo e móveis funcionando 24 horas e ampliação do programa saúde da família.

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