domingo, 20 de julho de 2014

ONDE ERRAMOS?

REVISTA ISTO É N° Edição: 2330 | 18.Jul.14 - 20:50


O Brasil, que já foi referência no tratamento da Aids, vê aumentar o número de casos, enquanto a média mundial diminui. Mas é possível reverter esse quadro

Wilson Aquino


A culpa pelo crescimento do número de novos infectados com o vírus HIV no Brasil pode ser dividida entre a diminuição das campanhas de prevenção e testagem, feitas pelo governo e pelos movimentos sociais, e a negligência das pessoas que passaram a acreditar que a Aids, doença causada pelo vírus, deixou de ser letal graças aos novos tratamentos e remédios. Relatório divulgado na quarta-feira 16 pelo Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV e Aids (Unaids) revelou a triste novidade: no Brasil, que já foi referência global no tratamento da doença, o número de novos casos aumentou enquanto a média mundial diminuiu (leia quadro).


GRUPO
O maior número de novos casos é entre jovens gays
masculinos, que não viram as mortes do passado

O Ministério da Saúde (MS) alega que o crescimento apresentado pelo Brasil é semelhante ao dos Estados Unidos e países da Europa, que tiveram aumento médio de 8%. E frisa que o País é o que mais compra e distribui camisinhas no mundo – 625 milhões de unidades, em 2013. O maior número de novos casos é entre jovens homossexuais masculinos, uma geração que cresceu sem presenciar a morte em massa de pessoas infectadas nos anos 1980. O presidente do Grupo Pela Vidda (Valorização, Integração e Dignidade do Doente de Aids) do Rio de Janeiro, o psicanalista George Gouvea contesta a afirmação do MS. “O programa brasileiro sempre deu certo, mas tem claudicado nos últimos oito anos.” Para ele, as pessoas se tornaram displicentes. “O tratamento avançou e o soropositivo hoje consegue viver com qualidade de vida. Mas isso não significa que a doença não continue matando.”



A principal aposta dos cientistas brasileiros para conter o avanço do HIV no País é a Profilaxia pré-exposição (PrEP), tratamento que consiste no uso diário de antirretrovirais em grupos vulneráveis para reduzir o risco de transmissão caso sejam expostos ao HIV. Os medicamentos antirretrovirais já são usados no tratamento de pessoas portadoras do vírus. Desde março, pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) acompanham 400 voluntários que estão tomando o antirretroviral Truvada e mantendo a rotina sexual. Segundo a pesquisadora Brenda Hoagland, os voluntários serão acompanhados por um ano. O estudo poderá fornecer informações importantes ao Ministério da Saúde sobre quais seriam as necessidades estruturais para a implementação desse método de prevenção, “que ainda não está disponível aos brasileiros, por carecer de registro do medicamento Truvada”, diz Brenda.

Foto: TIZIANA FABI/AFP/Getty Images

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