sábado, 26 de julho de 2014

SAÚDE PARA TODOS


|REVISTA ISTO É   N° Edição: 2331
| 25.Jul.14 - 20:50




EDITORIAL

Mário Simas Filho, diretor de redação



Na última semana, a Santa Casa de São Paulo, maior hospital filantrópico da América Latina, fechou as portas de seu pronto-socorro por 30 horas. A medida radical tomada pela direção da entidade deixou sem atendimento emergencial quase dez mil pessoas, expôs a penúria financeira em que se encontram os mais de dois mil hospitais beneficentes do País e deflagrou uma irascível briga entre os governos federal e estadual. Além dos desdobramentos rotineiros de casos como esse, o episódio permite uma inadiável reflexão. O fechamento de um dos principais prontos-socorros do Brasil aconteceu dias antes de a campanha pela sucessão presidencial e nos Estados ocupar o horário nobre nas rádios e tevês. E esse é o momento oportuno para que os candidatos consigam expor com clareza aos cidadãos o que realmente planejam para que a saúde do brasileiro seja tratada com um mínimo de decência. Até aqui, nesse período de pré-campanha que se instalou há pelo menos um ano, quase nada foi dito. A pauta que norteou os principais candidatos se resumiu ao programa Mais Médicos, colocado em prática pela gestão de Dilma Rousseff. Trata-se de um projeto que merece respeito e que, por sua abrangência e necessidade, já ganhou elogio nas páginas de ISTOÉ. No entanto, é muito pouco para fazer frente aos enormes desafios do setor.

O SUS (Sistema Único de Saúde) surgiu com a Constituição de 1988. Veio com a nobre missão de garantir saúde de qualidade a todos os brasileiros. Passados 26 anos, o que se constata é que estamos muito longe de cumprir a meta constitucional. Aqueles que dependem da rede pública ou dos convênios médicos já perceberam isso há muito tempo. A sociedade como um todo já se manifestou ocupando em junho do ano passado as ruas das principais capitais. Parece, no entanto, que aqueles que se colocam como postulantes aos postos de presidente e governadores ainda não perceberam a dimensão do problema.

A campanha eleitoral é um momento privilegiado para debater e propor reformas que efetivamente venham a assegurar, entre outras coisas, saúde de qualidade para todos. É o momento de obter o aval do eleitor para implantar o projeto que receber o apoio da maior parte da população. Mas, até aqui, a campanha vem se pautando mais por troca de farpas entre os candidatos do que pelo embate de projetos concretos. Tomara que o fechamento por 30 horas do pronto-socorro da Santa Casa tenha a força de sensibilizar os políticos e que a partir do início do horário eleitoral surjam as ideias que possam realmente transformar o Brasil em um país mais saudável.

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