segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

TERROR NA UTI

ZERO HORA 25 de fevereiro de 2013


EDITORIAL

As denúncias de que uma médica intensivista vinha apressando a morte de pacientes internados na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) de um hospital de Curitiba chocam por desvendar sem rodeios os riscos enfrentados por quem não tem qualquer meio para se defender _ no caso, evidentemente, de uma anomalia como essa. Por isso, as providências a serem tomadas a partir de agora diante desse episódio macabro não devem se limitar às investigações policiais e a uma eventual abertura de processo por parte do Conselho Federal de Medicina, que tem o poder inclusive de cassar o exercício profissional da acusada, se for o caso. 

É preciso que não apenas o hospital de Curitiba, mas todos os demais do país com alas de tratamento intensivo revisem suas rotinas, sejam transparentes e procurem evitar que decisões sobre o futuro de pacientes na fronteira entre a vida e a morte continuem a ser tomadas por uma única pessoa.

No caso específico, chama a atenção a elevada quantidade de suspeições sobre a responsável pela UTI que, mesmo assim, não se mostraram suficientes para sustar de imediato ações hoje sob questionamento. Só a partir do momento em que uma paciente conseguiu redigir um bilhete à filha pedindo sua retirada do local para não ser morta é que as investigações tiveram início. Desde então, multiplicaram-se os depoimentos de enfermeiros denunciando o mau uso de recursos como ventilação mecânica e medicamentos no hospital. Ao mesmo tempo, vieram à tona declarações atemorizantes da profissional, como "Quero desentulhar a UTI, que está me dando coceira".

Por razões históricas, que incluem sempre falta de disposição política para tratar a saúde pública no Brasil como questão prioritária, pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS) estão longe de receber, como regra, o tratamento humanitário a que têm direito. Quando a esses problemas se somam deformações absurdas como as denunciadas em Curitiba, é mais do que hora de se proceder a uma revisão geral de procedimentos nesta área. A vida de seres humanos não pode ficar na dependência de profissionais que manifestem desequilíbrio emocional ou mental. Ainda que ninguém deva ser prejulgado, são tantos os indícios de irregularidade grave na UTI curitibana que o próprio sigilo do inquérito policial deveria ser suspenso, para que mais pessoas se encoragem a depor e para que um episódio tão horroroso amplie a transparência dos procedimentos hospitalares em todo o país.

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