segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

MAIS MÉDICOS, MAIS ERROS

JORNAL DO COMÉRCIO 10/02/2014


Sérgio Peixoto Mendes



Seja por simpatia, seja por empatia, a maioria dos brasileiros, especialmente aqueles que não se deixam iludir pelos programas de governo cujo pano de fundo é conquistar eleitores, tende a apoiar a causa da médica cubana Ramona Matos Rodríguez. Alegando ter exercido seu trabalho em “situação humana desigual”, ela abandonou o programa Mais Médicos e expôs a fratura ética desta iniciativa do governo, que tem num de seus pilares a parceria com os Castro. Tratar os iguais como desiguais para corrigir uma desigualdade: eis o erro do programa que, para corrigir um problema epidêmico da saúde no Brasil, submete outras pessoas ao martírio de um trabalho sem as condições mínimas necessárias e por salários desumanos não compatíveis com a função. O confisco é brutal, os médicos cubanos que estão trabalhando no Brasil estão recebendo apenas US$ 400,00 do valor pago à Cuba pelo Brasil que é US$ 4.200,00, e para exercerem as mesmas funções dos demais médicos estrangeiros que se engajaram ao programa.

A boa ética, respaldada no imperativo categórico de agir de forma tal que nossas ações possam se transformar em leis universais, recusa-se a admitir a desigualdade e o disparate imposto aos médicos de Cuba. É na ressonância de nossa natureza humana que nascerá o afeto necessário para nos aliarmos à causa dos dissidentes do regime castrista, pois, o que está em pauta é a liberdade, um bem tão precioso para aqueles que vivem sob um regime democrático. Por isso, é previsível que a decisão da cubana Ramona obterá a simpatia dos brasileiros.

A dita linha dura castrista põe em risco um programa que poderia se transformar numa boa iniciativa para a área da saúde no Brasil . É no detalhe que se comete os grandes erros, por isso, o programa Mais Médicos, seja com uma enxurrada de processos na justiça, seja por conter na sua essência o tratamento de iguais como desiguais, corre o risco de trazer mais problemas do que soluções para o Brasil e para a própria sociedade que paga a conta.

Filósofo e escritor

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